Os dons do
Espírito Santo |
Introdução |
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O apóstolo Paulo diz aos
Coríntios: "Acerca dos dons espirituais, não
quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios,
levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto vos quero fazer
compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema!
e ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! senão pelo Espírito Santo. Ora, há
diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o
mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a
cada um, para o que for útil. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra de
sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de ciência; a outro, pelo
mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a
outro a operação de milagres; e a outro a profecia; e a outro o dom de
discernir os espíritos; e a outro a diversidade de línguas; e a outro a
interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas
coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer" (1 Cor.
12:1-11). Como podeis ver Paulo desejava que os crentes (não só os de
Corinto) não estivessem na ignorância acerca dos dons espirituais. Ora, de
qual ignorância fala neste caso? Da que ignora a existência dos dons
espirituais ou da que ignora as suas funções no corpo de Cristo e o seu
correcto uso? Considerando que aos Coríntios não faltava algum dom, porque
isso o diz Paulo no início da sua epístola, e no meio deles havia quem falava
em outra língua e quem profetizava (porque isso se evidência pelo discurso
que Paulo faz a seguir), Paulo não queria que os Coríntios estivessem na
ignorância acerca do uso dos dons. É claro porém que se crentes ignoram a
existência dos dons espirituais (nada de admirar, se se considerar que ao
tempo de Paulo haviam até crentes que por um certo tempo não sabiam da
existência do Espírito Santo) é necessário instruí-los para que esta
ignorância cesse de existir, sendo que os dons são para a Igreja, para a sua
edificação e não para a sua destruição. Paulo o diz claramente: a cada um é
dada a manifestação do Espírito para o que for útil. Se notem bem estas
palavras "para o que for útil"
porque elas anulam todos aqueles raciocínios que querem fazer crer que os
dons do Espírito Santo hoje não são mais necessários. De facto se naquele
tempo a manifestação do Espírito era útil à Igreja, consequentemente ela tem
de ser útil também agora à distância de mais de mil e novecentos anos. Se o
Espírito edificava a Igreja pelos seus dons, de certo Ele continuará a
edificá-la mediante aqueles mesmos dons ainda hoje. Se o Espírito naquele
tempo desejava edificar a Igreja de Deus por meio dos seus dons, de certo
desejará edificá-la ainda hoje. Ou porventura alguém pode demonstrar que este
não é o sentimento do Espírito? Não, não há ninguém que possa demonstrar que
o sentimento e o operar do Espírito tenham mudado, e não há ninguém que possa
mudar o seu sentimento e o seu operar. Ele ainda hoje distribui os seus dons
como Ele quer, e não há ninguém que o possa impedir. Ora, como vimos o
Espírito é um, mas os dons são variados. Em outras palavras o Espírito Santo
concede manifestações diversas no seio da Igreja de Deus. E isto porque as necessidades
são variadas na Igreja; um pouco em suma como no corpo humano, em que há
diversos membros com diversas funções com base nas necessidades. Os olhos
capacitam ver, os ouvidos ouvir, os pés caminhar, a boca comer, o estômago e
o figado digerir o que se comeu, etc. Assim também no corpo de Cristo, dado
que as necessidades são variadas o Espírito dá a cada um capacidades
diferentes para suprir às diversas necessidades presentes no seio da
irmandade. Ele não dá a todos a mesma manifestação do Espírito, mas a todos
Ele dá uma manifestação de acordo com a vontade de Deus. Vontade de Deus
porém que não exclui de modo algum o desejar por parte do crente estes dons,
de facto Paulo diz várias vezes para ambicionar os dons espirituais:
"Desejai ardentemente os maiores dons" (1 Cor. 12:31),
"procurai abundar neles, para edificação da igreja" (1 Cor. 14:12),
diz Paulo. A coisa é clara, estes
dons devem ser objecto de busca por parte de todos nós, ninguém excluído. Não
há uma categoria de crentes que está excluída desta busca. Todos devem estar
envolvidos nela. Quem não os deseja na realidade não quer que a Igreja seja
edificada pela manifestação do Espírito. Ele não quer que a Igreja de
hoje seja edificada por meio dos dons, como o era a igreja antiga. Mas
vejamos de perto estes dons de que fala Paulo, a fim de compreender o porquê
de eles serem dados para a edificação da igreja, a fim de compreender a sua utilidade. |
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A palavra de
sabedoria |
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Este dom é a revelação de um
facto que deve acontecer. Revelação que pode ser dada por meio de uma visão,
de um sonho, ou por meio de uma voz escutada. Alguns exemplos da palavra de
sabedoria na Escritura são os seguintes. Em Antioquia um certo profeta de
nome Ágabo levantando-se "dava a entender pelo Espírito, que haveria uma
grande fome em todo o mundo; e isso aconteceu no tempo de Cláudio César"
(Actos 11:28). Ainda Ágabo, alguns anos depois, desceu a casa de Filipe
"tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos,
disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o
varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios" (Actos
21:11). Também neste caso a predição de Ágabo se cumpriu. |
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A palavra de
ciência |
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Este dom é a revelação de um facto que está acontecendo ou que já
aconteceu. Também esta revelação pode ser dada em visão ou em sonho ou
mediante uma voz. Alguns exemplos bíblicos em que encontramos a manifestação
deste dom são os seguintes. Jesus disse à mulher samaritana: "Vai, chama o teu marido e vem cá. A mulher respondeu, e
disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;
porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isso
disseste com verdade. Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta" (João 4:16-19). A mulher compreendeu por
esta palavra de ciência que quem lhe falava era um profeta. O apóstolo Pedro
através de uma palavra de ciência veio a saber que Ananias e Safira tinham
vendido a propriedade deles por um preço superior ao dinheiro que Ananias depois
levou aos pés dos apóstolos de facto lhe disse: "Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para
que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? e vendido, não estava o
preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu coração? Não
mentiste aos homens, mas a Deus" (Actos 5:3-4). E por esta sua
mentira foi morto por Deus, juntamente com sua mulher que mentiu depois dele. |
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Fé |
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A fé de que Paulo fala como
dom, não é a fé que vem pelo ouvir a Palavra de Deus e pela qual se é salvo e
se recebe o Espírito Santo. É uma fé especial concedida pelo Espírito Santo a
alguns em certas ocasiões para fazer alguma coisa de particular. Por exemplo
Jesus mediante este dom matou a fome a milhares de pessoas por bem duas vezes
com poucos pães e poucos peixes (cfr. Mateus 14:15-21; Mar. 6:30-44; João
6:1-15, e Mat. 15:32-37; Mar. 8:1-9), caminhou sobre as águas do mar da
Galileia (cfr. Mat. 14:25; Mar. 6:48), e fez secar num instante uma figueira
(cfr. Mat. 21:18-19). |
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Dons de curar |
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Os dons de curar são dons que capacitam quem os recebe de curar os
doentes. Como no caso de Jesus, o poder do Senhor estava com ele para
fazer curas (cfr. Lucas 5:17). Jesus deu o poder de curar os enfermos aos
seus doze discípulos conforme está escrito: "E, chamando os seus doze
discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e
para curarem toda a enfermidade e todo o mal" (Mat. 10:1; cfr. Lucas
9:1-2). E eles curavam os doentes, vivendo Jesus, conforme está escrito:
"E, saindo eles,
percorreram todas as aldeias, anuncinado o evangelho, e fazendo curas por
toda a parte" (Lucas 9:6). Também o apóstolo Paulo tinha dons de curar
de facto em Malta está dito: "Aconteceu estar
de cama, enfermo de febre e disenteria, o pai de Públio; Paulo foi visitá-lo,
e havendo orado, impôs-lhe as mãos, e o curou. Feito pois isto, vieram também
ter com ele os demais que na ilha tinham enfermidades, e eram curados"
(Actos 28:8-9). Se cuide bem porém para evitar pensar que quem tem os dons de
curar pode curar indiscriminadamente quem quer porque a cura para que possa
acontecer necessita da fé por parte do doente (recordai-vos que em Nazaré
Jesus não pôde fazer muitas obras poderosas por causa da incredulidade que
havia naquela cidade) e também da permissão de Deus, ou seja, que a cura do
indivíduo entre no querer de Deus para com ele naquele tempo. A respeito
disso façamos presente que Paulo quando escreveu a Timóteo a primeira
epístola ainda não tinha curado Timóteo das suas frequentes enfermidades
(cfr. 1 Tim. 5:23), e quando lhe escreveu a segunda epístola disse a Timóteo
de ter deixado Trófimo doente em Mileto (cfr. 2 Tim. 4:20). Isto nos ensina que quem recebe os dons de curar
se deve também ele submeter à vontade de Deus. Uma outra coisa a dizer a
respeito das curas é que quando também um crente não tenha os dons de curar
ele deve orar pelos irmãos doentes para que Deus os cure: Tiago diz de facto:
"Orai uns pelos outros, para serdes curados"
(Tiago 5:16). Note-se que é uma ordem e não algo de facultativo. A
cura acontece pelo poder de Deus, mediante a fé por parte do doente no nome
do Senhor Jesus. Para descrever isto não há melhores palavras do que aquelas
que Pedro dirigiu aos Judeus depois de ter curado o coxo à porta do templo
dita ‘Formosa’: "E pela fé no seu nome fez o
seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem
por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde"
(Actos 3:16). Estas palavras as
pode dizer todo aquele que recebeu os dons de curar depois de ter curado um
doente. Se desejem ardentemente pois os dons de curar, e quem os recebe os
ponha ao serviço dos homens sem pedir compensações de nenhum género e
mantendo-se humilde e puro. Que o nome do nosso grande Deus seja glorificado
através das curas feitas em nome de Cristo; e as obras do diabo destruidas. Que
se reconheça ainda hoje que no meio da Igreja há um Deus que cura toda a
doença, que pode fazer e faz o que nenhum médico pode fazer. A Ele
seja a glória em Cristo Jesus. Amen. |
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Poder de
operar milagres |
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Como se pode bem ver este dom é
distinto dos dons de curar, porque enquanto os dons de curar dizem respeito a
curas de um mal o dom de poder de operar milagres diz respeito à operação de
sinais e prodígios vários. Aquilo
que se deve ter presente é que este dom é um poder de fazer determinadas
coisas por ordem de Deus. Para explicar este dom com as Escrituras citarei os
exemplos de Moisés e o das duas testemunhas que devem aparecer antes da vinda
de Cristo. De Moisés é dito que quando Deus lhe apareceu na chama de uma
sarça ardente lhe ordenou de descer ao Egipto para libertar o seu povo da mão
de Faraó. Deu-lhe o poder para fazer sinais e prodígios diante de Faraó, de
facto lhe disse: "Quando voltares ao Egipto, atenta que faças diante de
Faraó todas as maravilhas que tenho posto na tua mão; mas eu endurecerei o
seu coração, para que não deixe ir o povo" (Ex. 4:21). No caso dos dois
ungidos que devem aparecer está dito no livro do Apocalipse: "Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova
durante os dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las
em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes
quiserem" (Ap. 11:4-6). Como se pode bem ver a autoridade
recebida por Moisés e a que receberão os dois ungidos diz respeito a fazer
coisas que não estão relacionadas com curas físicas. |
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O
discernimento dos espíritos |
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Mediante este dom o Espírito
Santo capacita o crente de discernir a presença de espíritos malignos em pessoas
ou próximo de pessoas ou ver os espíritos enquanto operam malvadamente. Existem espíritos de vários géneros,
isto é, ocupados a fazer várias formas de mal. Existem espíritos que provocam
mudez e surdez como aquele expulso daquele menino epiléptico por Jesus, de
facto Jesus lhe disse: "Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele, e
não entres mais nele" (Mar. 9:25). De modo que nestes casos para que a
cura se faça é necessário discernir o espírito ou os espíritos que provocam
as doenças para depois expulsá-lo ou expulsá-los em nome de Cristo Jesus. Existem
espíritos enganadores que estão ocupados a enganar; Paulo diz de facto que em
dias vindouros "alguns apostatarão da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores…." (1 Tim. 4:1). Destes
espíritos os há muitos no seio do povo de Deus; mediante eles toda a sorte de
falsa doutrina é feita crer a certos crentes. Existem espíritos que fazem
sinais e prodígios; João viu alguns deles em visão de facto diz: "E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso
profeta, vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Porque são
espíritos de demônios, que operam sinais; os quais vão ao encontro dos reis
de todo o mundo, para os congregar para a batalha do grande dia do Deus
Todo-Poderoso" (Ap. 16:13-14). Note-se que neste caso João diz ao
que se assemelhavam estes espíritos, porque todos os espíritos têm uma
semelhança. Há espíritos que se assemelham a macacos, outros a rãs, outros a
crocodilos, outros a serpentes, outros a cabras, a porcos, etc. |
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A profecia,
a diversidade das línguas e a interpretação das línguas |
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Examinaremos estes três dons à luz do quanto Paulo diz no capítulo 14 da primeira epístola aos Coríntios. O apóstolo Paulo diz qual o dom espiritual os crentes devem buscar primeiro, a saber, o de profecia de facto diz desejar "principalmente o de profetizar" (1 Cor. 14:1). Porquê exactamente este e não o dom da diversidade das línguas (ou seja a capacidade de falar várias línguas estrangeiras) por exemplo? Paulo o explica pouco depois. "Porque o que fala em outra língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação. O que fala em outra língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja. Ora, quero que todos vós faleis em outras línguas, mas muito mais que profetizeis, porque quem profetiza é maior do que o que fala em outras línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação" (1 Cor. 14:2-5). Eis explicado então porque é a profecia preferível às línguas (como dom naturalmente). Porque enquanto quem fala em outra língua fala a Deus (obviamente quem também fala em uma só língua estrangeira porque não tem o dom da diversidade das línguas, fala a Deus) porque ninguém o percebe e fala mistérios, e para que a igreja entenda o que ele disse e receba edificação é necessário alguém que tenha o dom de interpretação que interprete o seu falar estrangeiro; quem profetiza fala aos homens uma linguagem de edificação, consolação e exortação que como é falado na língua percebida por todos assim não tem necessidade de ser interpretado e edifica a igreja. Como vimos Paulo diz que queria que todos falassem em outras línguas, mas muito mais que todos profetizassem porque quem profetiza é superior a quem fala em outras línguas (pela razão adoptada antes). Mas esta superioridade cessa de existir se quem fala em outras línguas também interpreta, de facto Paulo diz: "A não ser que também interprete para que a igreja receba edificação". Porquê aquele "a não ser que"? Porque no caso de quem fala em outras línguas interpretar, também a igreja entenderá o que o Espírito disse em outras línguas através dele a Deus, e receberá edificação. Façamos um exemplo explicativo: ponhamos o caso de no meio da assembleia um irmão orar em outra língua a Deus pedindo-lhe para libertar o irmão Fulano na Costa do Marfim de homens malvados que se preparam para matá-lo por causa da sua fé, e que depois de assim ter orado interprete a oração dirigida a Deus em outra língua. Que acontecerá na assembleia? Acontecerá que os crentes poderão dizer ‘Amen’ àquela oração porque terão percebido no que ela consistia. E naturalmente eles todos receberão grande edificação em saber que o Espírito pela boca daquele crente intercedeu por um filho de Deus a eles desconhecido que se encontra numa nação de um outro continente. No caso o falar em outras línguas antes consistisse num cântico a Deus então a igreja perceberá as palavras daquele cântico espiritual. Eis pois porque a igreja receberá edificação pela interpretação das línguas. Não é como alguns crêem, por falta de conhecimento, que as línguas mais interpretação é uma profecia, ou seja, um falar aos homens, e por isso a igreja receberá edificação. Porque a edificação não se recebe exclusivamente ouvindo falar uma mensagem de exortação, consolação e edificação dirigida aos homens, mas também ouvindo uma oração ou um cântico (neste caso interpretado de uma outra língua). Isto está fora de dúvida. Ora, Paulo depois de ter dito a não ser que ele interprete para que a igreja receba edificação diz: "Se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar. Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significado. Se, pois, eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim. Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja. Por isso, o que fala em outra língua, ore para que possa interpretar. Porque se eu orar em outra língua, bem ora o meu espírito, mas o meu entendimento fica infrutífero. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento" (1 Cor. 14:9-15). Estas palavras do apóstolo têm o evidente objectivo de fazer perceber aos crentes que o falar em outra língua no meio da assembleia não será de alguma utilidade aos outros se não for acompanhado pela interpretação. Em outras palavras, o falar em outra língua privado da interpretação é como uma trombeta que dá um som desconhecido; é como alguém que fala uma língua bárbara da qual não se percebe nada. Aproveita sim a quem fala em outra língua porque o edifica (o edifica não porque percebe aquilo que diz, mas porque fala pelo Espírito), mas não aproveita à igreja porque ela não entende o que é dito. Eis porque Paulo diz: "Por isso, o que fala em outra língua, ore para que possa interpretar" (a fim de poder edificar a igreja, além de a si mesmo). Porque se eu oro em outra língua ora o meu espírito mas o meu entendimento fica infrutífero. Então que devo fazer, eu que oro em outra língua? pergunta Paulo. Orarei em outra língua (com o espírito) mas também interpretarei (orarei também com o entendimento); cantarei em outra língua (com o espírito) mas também interpretarei o meu cantar (cantarei com o entendimento). Isto para que a igreja receba edificação. E logo depois Paulo diz: "De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o amém sobre a tua ação de graças aquele que ocupa o lugar de indouto, visto que não sabe o que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado. Dou graças a Deus, que falo em outras línguas mais do que vós todos. Todavia na igreja eu antes quero falar cinco palavras inteligíveis, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida" (1 Cor. 14:16-19). Paulo em outras palavras diz: em caso contrário se tu não fazes como eu te digo, isto é, no caso de tu orares ou cantares em outra língua sem dar a interpretação como poderá quem te ouve dizer ‘amen’ à tua acção de graças (note-se que Paulo, falando assim, confirma que o crente quando fala em outra língua se dirige a Deus também quando se encontra junto a outros crentes)? Não poderá; sim realmente tu farás uma bela acção de graças mas o outro não será edificado. Eu dou graças a Deus que falo em outras línguas mais que todos vós, isso não obstante na igreja prefiro dizer cinco palavras compreensíveis que dez mil em outra língua. E depois ele diz: "Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento" (1 Cor. 14:20). Como dizer, na simplicidade sede como as crianças, mas não sejais crianças quanto à inteligência, sede antes adultos quanto à inteligência. A este ponto Paulo cita estas palavras pronunciadas por Deus por meio de Isaías: "Está escrito na lei: Por gente de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor" (1 Cor. 14:21). E depois diz: "De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes. Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar, e todos falarem em outras línguas, e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos? Mas, se todos profetizarem, e algum incrédulo ou indouto entrar, por todos é convencido, por todos é julgado; os segredos do seu coração se tornam manifestos; e assim, prostrando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, proclamando que Deus está verdadeiramente entre vós" (1 Cor. 14:22-25). Aquele "De modo que" depois daquelas palavras de Isaías estão confirmar que com base no que Deus disse através de Isaías as línguas são sinal para os incrédulos e não para os crentes, enquanto a profecia é sinal para os crentes. Eis porque Paulo diz que se entra algum não crente e se ouve todos falar em línguas dirá que somos loucos, enquanto se todos profetizam o não crente terá os pensamentos do seu coração manifestos e reconhecerá que Deus está no meio de nós. Mas então o que se deve fazer? Paulo responde: "Quando vos congregais, tendo cada um de vós um salmo, ou um ensinamento, ou uma revelação, ou um falar em outra língua, ou uma interpretação, faça-se tudo para edificação. Se há quem fala em outra língua, sejam dois, ou quando muito três a fazê-lo; e cada um por sua vez, e haja alguém que interprete. Mas, se não houver intérprete, estejam calados na igreja, e falem para si mesmos, e para Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas se a outro, que estiver sentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos, um a um, podereis profetizar; para que todos aprendam e todos sejam consolados; e os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas; porque Deus não é Deus de confusão, mas de paz" (1 Cor. 14:26-33). Em relação às línguas dizemos que, se há quem fala em outra língua devem falar em línguas apenas dois ou no máximo três, e um depois do outro, e alguém deve interpretar; mas se não há quem interprete, os que falam em outras línguas devem fazê-lo em voz baixa e não como uma trombeta. Os profetas, os quais têm o dom de profecia, falem; também aqui porém dois ou três no máximo, e os outros examinem as profecias. No caso porém se for dada uma revelação a um profeta que está sentado o precedente deve-se calar. A conclusão do discurso de Paulo é esta: "Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém quer ignorar isto, que ignore. Portanto, irmãos, desejai profetizar, e não proibais falar em outras línguas; mas faça-se tudo decentemente e com ordem" (1 Cor. 14:37-40). As coisas são claras, as palavras de Paulo são mandamentos do Senhor. Então, o profetizar deve ser desejado ardentemente, o falar outras línguas não deve ser impedido, mas tudo deve ser feito decentemente e com ordem. |