6. Poderias fazer-me um estudo sobre os escândalos e sobre como nos comportarmos com os irmãos que escandalizam?


O escândalo é um comportamento ou um discurso errado que provoca uma perturbação no ânimo alheio e que tem a capacidade de induzir o próximo a pecar.

Entre a gente do mundo acontecem escândalos frequentemente e muitos por parte das pessoas mais variadas (autoridades civis como ministros, presidentes de câmara, etc.; autoridades religiosas como cardeais, bispos, padres etc.); são escândalos de todo o género e toda a vez que são anunciados pelos mass media logo os demais reagem com grande desdém condenando o acto escandaloso que pode ser uma fraude, um abuso sexual feito a crianças, uma frase injuriosa, etc. Jesus disse que é impossível que não aconteçam escândalos neste mundo quando afirmou: "Porque é mister que venham escândalos" (Mat. 18:7) e também: "É impossível que não venham escândalos" (Lucas 17:1), e destas suas palavras vemos o cumprimento delas com os nossos olhos, mas ele também disse: "Mas ai daquele por quem vierem!" (Lucas 17:1). Portanto escandalizar o próximo é grave aos olhos do Senhor; a propósito daquele que escandalizar um dos pequeninos que crê nele Jesus disse: "Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar" (Mat. 18:6).

Escândalos porém aparecem também alguns deles no seio da irmandade, ou seja, no meio da Igreja. Há quem rouba, quem engana, há quem se aproveita dos irmãos, há quem usa um falar grosseiro e vulgar diante dos irmãos, quem levanta as mãos sobre os irmãos ou sobre os filhos dos irmãos, há quem se contamina com a mulher do seu irmão, quem se dá a vícios contrários à natureza, quem se torna avarento, quem se embriaga, etc. Aqui estou falando de crentes que tomam prazer em fazer o mal, que não têm nenhuma intensão de se santificarem, que se corromperam até ao ponto de o seu coração se ter tornado duro e insensível de maneira que zombam de qualquer repreensão e admoestação, e entre estes estão também muitos pastores, isto é, crentes que estão numa posição particular na Igreja, isto é, na posição daqueles que são chamados a apascentar o rebanho do Senhor os quais são um ponto de referência contínuo para as ovelhas pelo que eles devem dar-lhes o bom exemplo tanto com as suas palavras como com os seus actos conforme está escrito: "….Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós…. e não como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho" (1 Ped. 5:2,3). A sua conduta deve pois ser irrepreensível; um pastor deveria ser capaz de dizer: 'Eu não dou motivo de escândalo em coisa alguma para o ministério não ser censurado…..'; isto porém muitos pastores não o podem dizer porque a sua conduta teimosa e rebelde testemunha de maneira eloquente contra eles.

Como nos comportarmos com aqueles que fomentam escândalos no seio da Igreja? Isso o diz a apóstolo Paulo: "E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples. Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal" (Rom. 16:17-19). Queria fazer notar a propósito destas palavras que os que tomam prazer em fazer escândalos, isto é, em escandalizar são os mesmos que contrastam a sã doutrina, e depois que destes Paulo diz que eles não servem o Senhor, ainda que na aparência a alguns poderá parecer que servem o Senhor, mas o seu ventre porque são cobiçosos de torpe ganância. Deles Paulo diz que enganam com o seu falar o coração dos simples, falar que quero que noteis é suave e lisonjeiro; não é um falar duro, escorbútico, áspero ou outro, mas suave e lisonjeiro. Portanto as suas palavras são doces, são lisonjeiras, e têm como intuito enganar e o conseguem com os simples, com os ingénuos; são palavras fingidas, como diz bem o apóstolo Pedro: " Por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas" (2 Ped. 2:3).

Ora, Paulo diz aos Romanos que destes contenciosos e operadores de escândalos é preciso desviarmo-nos, portanto separarmo-nos; coisa que ele confirma aos Coríntios quando diz: "Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem sequer comais" (1 Cor. 5:11).

Mas porquê? Antes de tudo porque a Escritura diz que as más companhias corrompem os bons costumes (cfr. 1 Cor. 15:33) e que "o companheiro dos tolos será destruído" (Prov. 13:20), pelo que pormo-nos a andar com estes significaria nos corrompermos, nos arruinarmos para dano da nossa alma. Ninguém se iluda, é impossível para quem teme a Deus andar com gente que não tem temor de Deus e permanecer íntegro nos seus caminhos; mais cedo ou mais tarde, se ele não decide deixar rapidamente de andar com estes, também ele será levado para longe dos caminhos santos de Deus.

E depois porque a conduta desta gente sendo insensata leva os outros a blasfemar a verdade e a doutrina de Deus; diz Pedro que "por causa deles será blasfemado o caminho da verdade" (2 Ped. 2:2), a fazer pois uma coisa má, uma coisa que é o oposto do quanto nós devemos fazer com que os outros façam com a nossa conduta. Nós discípulos de Cristo, com efeito, somos chamados a honrar a Palavra de Deus, a fazer com que as pessoas vendo a nossa conduta santa e justa sejam levadas a glorificar o nosso Deus (cfr. Mat. 5:16) e a honrar a Palavra de Deus; e não a desonrá-la e a fazer com que seja blasfemada. E nós não podemos nos associar com gente que de honrar a Palavra de Deus com as suas boas obras e com a renúncia às funestas concupiscências mundanas, não querem ouvir falar, o repito, não querem ouvir falar. Para estes vale o princípio: 'O fim justifica os meios'; e posso-vos dizer que usam verdadeiramente qualquer meio para alcançar o seu fim, que é o de se tornarem ricos e poderosos. Mas vem o dia em que todo o mal feito pelas suas mãos e pela sua boca cairá sobre eles, e então todos verão que Deus é justo e que nele não há injustiça.

Porque os operadores de escândalos, com a sua conduta iníqua, são um tropeço para aqueles que se evangelizam, isto é, eles impedem às pessoas do mundo crer no Evangelho. Se portanto nós nos misturamos com crentes que escandalizam até não poderem mais, quando evangelizarmos as pessoas as encontraremos mais surdas do que nunca à nossa mensagem. Muitas vezes pessoas do mundo fazem notar que não vão a um certo lugar de culto ouvir a Palavra de Deus porque é frequentado por crentes - conhecidos pessoalmente por eles - que roubam, que são violentos, maltratam a sua mulher, são adúlteros, avarentos, etc. 'Dizem-se Cristãos e depois fazem isto e aquilo!', são palavras que estão continuamente na boca destas pessoas. Palavras que devo dizer são irrefutáveis porque pude constatar pessoalmente que não poucos evangelizam e escandalizam ao mesmo tempo pondo grandes obstáculos diante do caminho destas pessoas. Eis por que Paulo diz: "Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, …" (1 Cor. 10:32), porque ele sabia que com uma conduta escandalosa se podia impedir as pessoas do mundo de se aproximarem do Senhor. Mas eu digo: 'Como se pode colaborar com estes e ver as almas aproximarem-se do Senhor? Porventura não serão incentivadas estas pessoas a manterem-se longe de nós?' E depois, vi que se tu que amas e temes o Senhor colaboras com estes irá sempre por acabar que tu darás muito de ti para edificar mas verás bem cedo a tua obra destruída e inutilizada pela conduta escandalosa destes irmãos insubordinados que pontualmente escandalizarão estas almas que tu evangelizaste!! Estes são verdadeiramente um cancro na Igreja.

Termino dizendo isto: nós devemos procurar não escandalizar os irmãos como também os incrédulos, porque dando o mau exemplo lhes serviremos de tropeço. Aos crentes os feriremos e os induziremos a abandonar a fé, aos incrédulos os impediremos de aceitar a Palavra de Deus. Procuremos ter o mesmo sentimento de Paulo que tinha um tão intenso amor pelos irmãos que chegou a dizer: "Por isso, se a comida escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se escandalize" (1 Cor. 8:13). Considerai o amor deste servo do Senhor pelos santos; era um amor que o levava a renunciar até a comer carne para não servir de escândalo aos irmãos cuja consciência era fraca. Paulo não queria que pelo seu conhecimento o irmão fraco, aquele pelo qual Cristo tinha morrido, perecesse; e estava pronto a renunciar também à carne para não afastar o irmão da fé. Mas Paulo nutria amor também pelas pessoas do mundo a quem anunciava a palavra da cruz, amor que o levou a fazer muitas renúncias para não escandalizá-las (ou servir-lhes de tropeço) e assim ganhá-las para Cristo.

Em verdade Paulo é um exemplo a seguir para todos nós. Quando se lê a sua vida e se lê aquilo que escreveu não se pode não notar que ele era animado pelo forte desejo de honrar a qualquer custo tanto a Palavra de Deus que ele anunciava como o ministério por ele recebido do Senhor. E este forte desejo, que para ele constituía um dos seus principais propósitos, o levou a viver uma vida temperada, justa e pia. E ainda hoje aqueles que têm o mesmo desejo de Paulo seguem as suas pisadas. Quem porém não tem o desejo de honrar a Palavra de Deus que o salvou do pecado, não cuidará de modo nenhum da sua conduta e fomentará escândalos sem fim, proporcionando o mal não só a si mesmo mas também a muitos outros.



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