5. Quais são as origens da festa da Epifania?


Antes de tudo digo-te alguma coisa sobre o significado da palavra epifania: o termo português epifania deriva do grego epiphaneia que significa ‘aparição’; no Novo Testamento este termo está presente, o encontramos por exemplo nesta passagem: "..graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos, e que é manifesta agora pela aparição (epiphaneia) de nosso Salvador Jesus Cristo" (2 Tim. 1:9,10).

Agora digo-te brevemente como teve origem a festa da epifania. Inicialmente os seguidores do gnóstico Basilide, que viveu no século II, festejavam o batismo de Cristo a 6 de Janeiro. Eles porém, fazendo distinção entre o Cristo e Jesus, sustentavam que o Cristo tinha aparecido pela primeira vez sobre a terra no batismo de Jesus, pelo que a epifania (a aparição) de Cristo para eles coincidia com o batismo de Jesus.

Mas por que é que eles faziam esta distinção entre o Cristo e Jesus? Porque para os Gnósticos (não confundir com os agnósticos que são os que dizem que Deus não se pode conhecer), que tomavam o nome da palavra grega gnosis que significa ‘conhecimento’, a matéria se identificava com o mal e o espírito com o bem, e como Cristo era absoluto bem espiritual ele não podia revestir um corpo humano; em outras palavras ele não podia unir-se à matéria. Para eles portanto o Cristo entrou no corpo de Jesus só pelo período que decorreu entre o seu batismo e o início do seu sofrimento na cruz, deixando morrer na cruz o homem Jesus. Em outras palavras para eles Jesus não era o Cristo. Para eles depois este Cristo que habitou em Jesus por um pouco de tempo teria ensinado uma especial gnose ou conhecimento que ajudaria o homem a salvar-se mediante um processo intelectual. Esta mesma heresia que não reconhece em Jesus o Cristo é ensinada ainda hoje no seio de muitas seitas que se baseiam na teosofia. Há pouco tempo atrás me escreveu um teósofo dizendo-me: ‘…. Em teosofia se afirma que Cristo e Jesus são duas coisas diferentes. Diz-se que Cristo tenha "ensombrado" Jesus, que é um dos muitos salvadores. Digo-te estas coisas com o máximo respeito pela tua fé, que é justa e que não encontra, acredita, opositores na Teosofia verdadeira. Cristo é a expressão do amor universal. Fala-se de "princípio crístico" e do "Cristo cósmico" encarnado. ….’. A estas suas afirmações respondi dizendo: ‘Esta distinção não existe porque Jesus e o Cristo são a mesma pessoa e não duas coisas diferentes. O apóstolo João, que te recordo viu e tocou a Palavra da vida, disse de maneira muito clara: "Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade. Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai" (1 João 2:21-23). Como podes bem ver Jesus é o Cristo, e não alguém sobre quem teria descido ou em quem encarnou uma entidade de nome Cristo. A palavra Cristo significa ‘Ungido’ pelo que Jesus é o Ungido de Deus. Além disso a Escritura ensina que Jesus não é um dos salvadores, mas o Salvador e que portanto fora dele não há salvação’.

Depois deste breve mas necessário parêntesis sobre a doutrina dos Gnósticos, voltemos à origem da festa da epifania; mas por que razão os seguidores de Basilide escolheram festejar a Epifania de Cristo a 6 de Janeiro? Porque em Alexandria (Basilide era alexandrino) festejava-se nesse dia o nascimento de Eone da virgem Kore e esse dia era também consagrado a Osiride (ou Osíris). Assim os seguidores de Basilide escolheram essa data para proclamar diante dos pagãos que Cristo era o verdadeiro Ser divino aparecido sobre a terra. Com o passar do tempo porém acabou por a igreja do Oriente assumir dos heréticos, por ela combatidos, o costume de celebrar a epifania, e assim encontramos que ela na primeira metade do século IV celebrava a epifania a 6 de Janeiro, ligando entre si, em tal festa, o batismo e o nascimento de Cristo, porque para a Igreja - à diferença dos heréticos denominados Gnósticos - a aparição de Cristo sobre a terra tinha tido lugar no nascimento de Jesus; sendo Jesus o Cristo de Deus.

Portanto também a origem da Epifania – como a do Natal - afunda as raízes no paganismo.



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