3. Mas Jesus não morreu porque foi morto pelos Hebreus por mão dos romanos? Como é que pois está dito que ele morreu pelos nossos pecados? Como pode ser considerada a sua morte uma morte ocorrida por amor de nós?


Para responder a esta pergunta devo antes de tudo explicar algo que concerne ao ritual do dia da expiação, ou seja, daquele dia do calendário hebraico em que o sumo sacerdote devia fazer a expiação dos seus pecados e dos do povo.

Ora, está escrito a propósito desse dia quanto segue: "Falou o Senhor a Moisés, depois da morte dos dois filhos de Arão, que morreram quando se chegaram diante do Senhor. Disse, pois, o Senhor a Moisés: Dize a Arão, teu irmão, que não entre em todo tempo no lugar santo, para dentro do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não morra; porque aparecerei na nuvem sobre o propiciatório.Com isto entrará Arão no lugar santo: com um novilho, para oferta pelo pecado, e um carneiro para holocausto. Vestirá ele a túnica sagrada de linho, e terá as calças de linho sobre a sua carne, e cingir-se-á com o cinto de linho, e porá na cabeça a mitra de linho; essas são as vestes sagradas; por isso banhará o seu corpo em água, e as vestirá. E da congregação dos filhos de Israel tomará dois bodes para oferta pelo pecado e um carneiro para holocausto. Depois Arão oferecerá o novilho da oferta pelo pecado, o qual será para ele, e fará expiação por si e pela sua casa. Também tomará os dois bodes, e os porá perante o Senhor, à porta da tenda da revelação. E Arão lançará sortes sobre os dois bodes: uma pelo Senhor, e a outra por Azazel. Então apresentará o bode sobre o qual cair a sorte pelo Senhor, e o oferecerá como oferta pelo pecado; mas o bode sobre que cair a sorte para Azazel será posto vivo perante o Senhor, para fazer expiação com ele a fim de enviá-lo ao deserto para Azazel. Arão, pois, apresentará o novilho da oferta pelo pecado, que é por ele, e fará expiação por si e pela sua casa; e imolará o novilho que é a sua oferta pelo pecado. Então tomará um incensário cheio de brasas de fogo de sobre o altar, diante do Senhor, e dois punhados de incenso aromático bem moído, e os trará para dentro do véu; e porá o incenso sobre o fogo perante o Senhor, a fim de que a nuvem o incenso cubra o propiciatório, que está sobre o testemunho, para que não morra. Tomará do sangue do novilho, e o espargirá com o dedo sobre o propiciatório ao lado oriental; e perante o propiciatório espargirá do sangue sete vezes com o dedo. Depois imolará o bode da oferta pelo pecado, que é pelo povo, e trará o sangue o bode para dentro do véu; e fará com ele como fez com o sangue do novilho, espargindo-o sobre o propiciatório, e perante o propiciatório; e fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, sim, de todos os seus pecados. Assim também fará pela tenda da revelação, que permanece com eles no meio das suas imundícias. Nenhum homem estará na tenda da revelação quando Arão entrar para fazer expiação no lugar santo, até que ele saia, depois de ter feito expiação por si mesmo, e pela sua casa, e por toda a congregação de Israel. Então sairá ao altar, que está perante o Senhor, e fará expiação pelo altar; tomará do sangue do novilho, e do sangue do bode, e o porá sobre as pontas do altar ao redor. E do sangue espargirá com o dedo sete vezes sobre o altar, purificando-o e santificando-o das imundícias dos filhos de Israel. Quando Arão houver acabado de fazer expiação pelo lugar santo, pela tenda da revelação, e pelo altar, apresentará o bode vivo; e, pondo as mãos sobre a cabeça do bode vivo, confessará sobre ele todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, sim, todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á para o deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles para uma região solitária; e esse homem soltará o bode no deserto. Depois Arão entrará na tenda da revelação, e despirá as vestes de linho, que havia vestido quando entrara no lugar santo, e ali as deixará. E banhará o seu corpo em água num lugar santo, e vestirá as suas próprias vestes; então sairá e oferecerá o seu holocausto, e o holocausto do povo, e fará expiação por si e pelo povo. Também queimará sobre o altar a gordura da oferta pelo pecado. E aquele que tiver soltado o bode para Azazel lavará as suas vestes, e banhará o seu corpo em água, e depois entrará no arraial. Mas o novilho da oferta pelo pecado e o bode da oferta pelo pecado, cujo sangue foi trazido para fazer expiação no lugar santo, serão levados para fora do arraial; e lhes queimarão no fogo as peles, a carne e o excremento. Aquele que os queimar lavará as suas vestes, banhara o seu corpo em água, e depois entrará no arraial. Também isto vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e não fareis trabalho algum, nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós; porque nesse dia se fará expiação por vós, para purificar-vos; de todos os vossos pecados sereis purificados perante o Senhor. Será sábado de descanso solene para vós, e afligireis as vossas almas; é estatuto perpétuo. E o sacerdote que for ungido e que for sagrado para administrar o sacerdócio no lugar de seu pai, fará a expiação, havendo vestido as vestes de linho, isto é, as vestes sagradas; assim fará expiação pelo santuário; também fará expiação pela tenda da revelação e pelo altar; igualmente fará expiação e pelos sacerdotes e por todo o povo da congregação. Isto vos será por estatuto perpétuo, para fazer expiação uma vez no ano pelos filhos de Israel por causa de todos os seus pecados. E fez Arão como o Senhor ordenara a Moisés " (Lev. cap. 16). Como podeis ver está escrito várias vezes que o sumo sacerdote devia imolar animais cujo sangue devia servir para fazer a expiação pelos pecados, mais precisamente devia imolar um novilho pelos seus pecados e da sua casa, e um bode pelos pecados do povo. Estes animais pois constituíam diante de Deus vítimas inocentes que imoladas por ordem de Deus por uma pessoa, mais precisamente pelo sumo sacerdote, serviam para expiar os pecados dos sacerdotes e do povo. Esses animais não se imolavam a si, mas eram imolados. Sendo pois assim o ritual a observar nesse dia, e dado que ele era uma sombra do verdadeiro sacrifício propiciatório que um dia se cumpriria em Cristo Jesus é evidente que também Jesus devia ser imolado por alguém para fazer com o seu sangue a expiação dos nossos pecados. Mas por que foi precisamente Jesus a vítima designada por Deus para fazer a propiciação dos nossos pecados? Porque ele era o cordeiro de Deus sem defeito e sem mancha preordenado antes da fundação do mundo a ser oferecido pelos nossos pecados na plenitude dos tempos (cfr. 1 Ped. 1:19-20). Obviamente quando se diz que Jesus era sem mancha e sem defeito, não se quer dizer só que ele fisicamente não tinha nenhum defeito físico, mas sobretudo que ele não tinha cometido algum pecado, nenhuma violência, nenhuma falsidade. Em outras palavras que Ele era puro de toda a culpa, quer da culpa debaixo da qual nascem todos os homens, e isto porque ele foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de sua mãe, quer porque durante a sua vida nunca cometeu pecado, embora tivesse sido tentado como cada um de nós. Ele portanto podia carregar-se de todas as nossas iniquidades e expiá-las mediante a sua morte. O que aconteceu pois a Jesus Cristo? Aconteceu que ele tendo atraído o ódio dos principais sacerdotes, dos escribas e dos Fariseus, e tendo sido preso e condenado pelo Sinédrio hebraico, foi entregue aos Gentios que o crucificaram. Naturalmente foi Deus a converter os corações dos Hebreus e dos Gentios para que odiassem Jesus Cristo e o condenassem à morte; este ódio, ainda que injusto e injustificado, não foi algo devido ao acaso, mas algo preordenado por Deus para a nossa salvação. Desta maneira Deus cumpriu o seu benévolo desígnio de redenção, porque fez imolar o Cristo de Deus por mão dos Judeus e dos Romanos. Porquê também dos Judeus? Porque eles foram os que primeiro condenaram Jesus à morte e depois levaram Pilatos, o governador, a crucificá-lo. Que tudo isto, ainda que tenha custado a Jesus muitas dores, era da vontade de Deus ou em outras palavras que foi Deus a fazê-lo suceder é confirmado por estas palavras de Pedro: " A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus , prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos" (Actos 2:23), e por estas outras palavras dos crentes de Jerusalém que dirigiram a Deus: "Porque verdadeiramente contra o teu Santo Servo Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer" (Actos 4:27-28). 

Naturalmente tudo isto não absolve de modo nenhum nem os Judeus que condenaram Jesus na sua ignorância, e nem tampouco os Gentios que ainda na sua ignorância o crucificaram. De facto, a Escritura nos ensina que também quando Deus se usa de alguém para matar, exterminar, odiar, no fim quem se faz culpado de homicídio, de extermínio, de ódio em relação a outros seres humanos, é julgado por ele como merece. Permanece o facto incontrovertível porém que Deus se usou dos Judeus e dos Gentios para cumprir o seu plano de salvação.

Eis pois por que nós cremos e pregamos que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados; eis por que a sua morte foi uma morte ocorrida por amor de nós, para a propiciação dos nossos pecados. Glória ao seu nome agora e eternamente. Amen.

 

 

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