Um bando de vendilhões se introduziu entre nós |
João escreveu: "Estando próxima a páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas ali sentados; e tendo feito um azorrague de cordas, lançou todos fora do templo, bem como as ovelhas e os bois; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e virou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. Lembraram-se então os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me devorará" (João 2:13-17; Sal. 69:9). |
Irmãos, "tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito" (Rom. 15:4), portanto, também este episódio que se verificou durante o ministério de Jesus, foi escrito para nos ensinar algo. É impossível que Deus tenha querido que ele fosse transcrito sem uma razão porque a Escritura diz que "o Senhor fez tudo para um fim" (Prov. 16:4). Ora, Deus quis que fosse conservada a memória deste episódio no curso dos séculos no seio da sua casa. Mas que ensinamento tiramos da leitura destas palavras? Este: que durante a vida terrena de Jesus haviam aqueles que tinham transformado a casa de Deus numa casa de negócio e que o Filho de Deus, movido pelo zelo pela casa de Deus, a purificou, porque não suportou a vista daquele comércio que era feito na casa de Deus que era destinada ao culto do Senhor. Uma coisa em torno deste episódio nos deveria fazer reflectir, a saber, que aqueles comerciantes não se puseram a praticar o seu comércio nas proximidades do templo que estava em Jerusalém ou num lugar apropriado para o negócio; não, mas precisamente dentro do templo, e assim fazendo profanaram aquele santo lugar que era santificado por Aquele que o habitava. |
Ora, para o templo se deviam dirigir os sacerdotes
levitas para nele fazerem os serviços sagrados prescritos da lei.
Mas para o templo se dirigiam também os Judeus, os quais, segundo a
lei, deviam oferecer a Deus sacrifícios, e entre os animais que deviam
ser sacrificados estavam os bois, as ovelhas e as pombas e Jesus encontrou
no templo precisamente aqueles que os vendiam. É suficiente ir a um
mercado de animais para se dar conta de quanta confusão e sujidade
e de quanto fedor há nele; pensai pois na confusão e na imundícia que
havia no templo! Os bois, as ovelhas e as pombas que eram vendidos no
templo eram necessários aos Judeus, os quais os compravam para oferecê-los
depois a Deus; Jesus sabia tudo isto, mas que fez? Permaneceu indiferente
diante daquela compra e venda que se praticava na casa do seu Pai?
Porventura fingiu não ver e não ouvir nada? Não, mas fez
um azorrague de cordas
e lançou fora do templo os bois e as ovelhas, derribou com as
suas mãos as mesas dos cambistas
e as cadeiras dos que vendiam pombas, "e não consentia que ninguém
atravessasse o templo levando qualquer utensílio" (Mar. 11:16). Além
disso, Jesus naquele templo pronunciou palavras duras, com efeito,
disse no seu ensinamento: Não está escrito: A minha casa será chamada,
por todas as nações, casa de oração? Mas vós a tendes feito covil
de ladrões" (Mar. 11:17; Is. 56:7; Jer. 7:10); eis como chamou Jesus
os que se tinham posto a fazer comércio no templo, ‘ladrões’. Os vendedores
daqueles animais teriam podido dizer: ‘Mas nós não somos ladrões,
mas honestos comerciantes, que viemos aqui para o templo vender aos
nossos irmãos, a um preço justo, as coisas de que necessitam!’, e ainda:
‘Mas nós também servimos o Senhor desta maneira; por que pois nos chamas
ladrões?’. Eu não sei se essas pessoas proferiram essas palavras; uma
coisa sei: Jesus os chamou ladrões, e disse que a casa de Deus tinha sido
transformada num covil de ladrões. Portanto, essa casa que tinha sido
transformada numa casa de negócio era ao mesmo tempo um covil de ladrões;
sei, Jesus usou palavras duras, mas Ele sabia bem o que dizia; Ele não
dizia uma coisa por uma outra. Jesus nos seus ensinamentos disse que
"o ladrão não vem senão para roubar, matar, e destruir" (João 10:10),
e isto o confirmou dizendo que na terra "os ladrões minam e roubam" (Mat.
6:19). Nós sabemos portanto que o ladrão tem um fim malvado e não um fim
bom (isto o ensinou Jesus, também quando na parábola do bom samaritano
disse que "descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos de
ladrões, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o
meio morto" [Lucas 10:30]); mas sabemos também que ele não se apresenta
só com o rosto coberto por um passa-montanhas e com uma arma na mão,
mas por vezes também de rosto descoberto, com uma face luzente, vestido
elegantemente e com produtos para te vender. Quem é ladrão excogita
toda espécie de maquinações e faz uso de qualquer pretexto para roubar
o seu próximo. |
Hoje, no seio da casa de Deus, de homens sem escrúpulos,
que fazem profissão de conhecer a Deus e de crer em Deus, mas na
realidade são ladrões, deles não faltam. Se te apresentam sorridentes,
cordiais, vestidos elegantemente, mas no seu coração maquinam extorquir-te
dinheiro. E como? Oferecendo-te os seus produtos custosos e belos
de se ver com os olhos; e não poderia ser doutra forma, porque eles
devem suscitar em ti o desejo de comprá-los. Mas não vedes que muitos
locais de culto tornaram-se mercados? Mas não vedes que muitas reuniões
de evangelização foram transformadas em verdadeiros mercados, onde
quem busca o seu próprio interesse se apresenta com a sua banca personalizada?
De graça apenas podes ver o que vendem, porque eles não te oferecem
nada, e se alguma coisa é oferecida em homenagem é oferecida na condição
que tu compres alguma coisa deles, ou porque querem engodar-te e fazer-te
tornar cliente deles. Tem de se reconhecer que muitos especuladores
plantaram as suas tendas no meio do arraial de Deus, e isto o vê também
a gente do mundo. Para os quais, depois, nós crentes devíamos ser um exemplo;
mas infelizmente, no nosso meio muitos dos que um dia creram, em vez
de serem um exemplo para os do mundo não são mais do que uma sua ‘fotocópia’.
A diferença que há entre os stands e as bancas de mercado que há em muitos
locais de culto, sob as tendas de evangelização, nos auditórios alugados
para evangelizar, e os stands e as bancas de mercado que os católicos
romanos instalam nos lugares onde eles se reúnem e nos lugares aonde vão
fazer as suas peregrinações (como Lourdes, Fátima, Assis), está no facto
daquilo que se vende no nosso meio não estar contaminado pela tradição
católica romana que anula a Palavra de Deus; mas de resto, o comércio
é o mesmo e as técnicas usadas na venda são as mesmas, com efeito, também
no nosso meio a publicidade está muito difundida, também entre nós há
os experts de ‘Marketing’, também no nosso meio ‘compras três, pagas
dois’; também no nosso meio se vêem respeitadas escrupulosamente as
regras que
impõe
um verdadeiro comércio. Comércio, sim, esta é a palavra que
descreve perfeitamente o que acontece no nosso meio. |
Mas vamos agora descrever um pouco mais de perto este comércio que tomou pé no meio dos fiéis. Considerando a maior parte dos livros postos à venda apercebemo-nos que as suas capas são fascinantes, quero dizer que são capas que não têm nada a invejar às capas dos livros da gente do mundo, com efeito, há livros que têm fotografias estampadas na sua frente que são muito sugestivas, tanto que logo que se avistam ficam gravadas na mente de quem as olha. Aliás vós sabeis bem que no comércio em todos os produtos, quem os fabrica, põe neles uma foto ou um particular desenho para com isto fazer nascer o desejo de comprá-los em quem os vê. Para quem comercializa um produto é de suprema importância dar-lhe uma ‘fachada’ que seja a mais apresentável, sedutora e única possível porque sabe que o sucesso comercial do produto dependerá também do símbolo, da foto ou do desenho que nele se porá em cima. Falai com os publicitários que estudam continuamente como atrair as pessoas a um produto e vos darão as suas sugestões para vender muitíssimo um livro, entre as quais justamente o como deve ser uma capa. Mas para marcar, o livro deve também ter um título sugestivo, e eis então que os autores inventam títulos particulares para fazer nascer em quem o lê o desejo de comprá-lo. Há livros cristãos que têm títulos verdadeiramente únicos e verdadeiramente sedutores; também por isto se percebe que por detrás deles se esconde a astúcia. E que dizer depois da publicidade que é feita dos livros? Também ela está muito difundida entre nós e não pode ser doutra forma, porque todo o produto comercial necessita de ser publicitado para ser vendido e feito conhecer ao público. No fim de cada livro está a publicidade a outros livros feita com ou sem fotografias. A maneira em que são apresentados os livros cristãos assemelha-se muito à maneira em que são publicitados os livros de política, de filosofia e os romances de amor. |
Mas vale a pena depois comprar estes livros de títulos e capas sugestivas? Devo dizer-vos que em muitos casos não, porque não servem de edificação para a alma com sede de justiça. Mas o facto é que muitos livros cristãos que são vendidos não se atêm também à sã doutrina em muitos pontos. Muitos livros sobre o matrimónio por exemplo falam a favor do impedir a concepção; falam também a favor do matrimónio com pessoas divorciadas; neles estão escritas também coisas íntimas que dizem respeito ao casal de que não se deve falar mas de que certos autores têm prazer em falar porque sabem que quase todos desejam ouvir falar destas coisas. Alguns deles, se se tirarem os versículos das Escrituras, são iguais aos que escrevem os escritores do mundo sobre o mesmo assunto; outros ainda encorajam os jovens namorados a darem-se à impureza! Há também os livros que encorajam os homens a ambicionar coisas altas e as mulheres a adornarem-se com jóias de ouro e a vestirem-se luxuosamente; em suma aqueles livros escritos por aqueles doutores que não suportam a sã doutrina, que vão atrás dos seus desejos e desviaram os ouvidos da verdade. Se depois se vai aos livros sobre a vinda do Senhor e sobre o fim do mundo e sobre o anticristo então nos apercebemos que cada um tem as suas peculiares opiniões sobre este ou aquele outro evento (tempos e modos em que acontecerá) e que cada um dá as suas particulares interpretações aos versículos que falam destes assuntos; o tempo não chegaria se me pusesse a dizer quantos especulam sobre estes assuntos e como eles se enriqueceram com as suas especulações. Mas aliás aos comerciantes destes livros pouco importa o conteúdo dos livros que vendem ou que fazem imprimir porque para eles o que importa é vender. Como confirmação disto, basta considerar que em muitas livrarias evangélicas agora estão postas à venda também Bíblias Católicas, vale dizer, aquelas com o Imprimatur do Estado Pontifício; as quais além de não serem traduções fiéis, contêm os livros apócrifos que não são canónicos porque não são inspirados por Deus e contêm também nas margens as arbitrárias e perversas interpretações que a organização católica romana deu no curso dos séculos a muitas passagens das Escrituras para sustentar as suas heresias de perdição. |
Mas o comércio não se limita aos livros porque numa livraria cristã evangélica se pode encontrar de tudo nestes dias; podes encontrar cassetes musicais com música moderna gravada nelas que quando alguém as ouve lhe parece estar numa discoteca ou num daqueles concertos onde os jovens vão drogados e bêbados ouvir os seus cantores preferidos. Parece não crer nos próprios olhos quando se vêem as capas destes discos e destas audiocassetes, porque são ‘mundanas’; podes encontrar também t-shirts com versículos escritos sobre elas; podes encontrar canetas, alfinetes luzentes e porta-chaves com o escrito: Jesus te ama, Deus é amor, etc...; podes encontrar uma longa fila de videocassetes com as reuniões registadas destes pregadores que adoram ser filmados enquanto pregam, ou melhor, enquanto lisonjeiam e entretêm com as suas piadas o seu auditório e enquanto oram sobre os doentes; podes encontrar videocassetes de cantores que cantam canções não espirituais ao som de música moderna; em suma podes encontrar e levar para casa de tudo, basta que peças o que te interessa e o pagues a pronto. Mas dizei-me: ‘Se isto não é comércio o que é?’ |
Ah! que vergonha! O povo de Deus que deveria dar luz a este mundo se encontra a imitar os caminhos da gente do mundo. Nós não somos contra o escrever livros de ensinamentos, ou livros de testemunhos, antes somos a favor disso; mas somos contra o vergonhoso comércio e a inaudita especulação que há no nosso meio. Jesus disse: "De graça recebestes, de graça dai" (Mat. 10:8); isto significa andar na luz; é fazendo assim que se serve de exemplo a este mundo de trevas que não te dá nada se tu não lhe dás dinheiro. Mas se também nós nos pomos a fazer comércio da Palavra de Deus, das revelações que Ele nos dá, dos milagres que ele faz no nosso meio, do testemunho da nossa conversão, não nos poremos a fazer certamente o que é justo diante de Deus. Eu sei, este discurso dá fastio aos comerciantes que acharam uma fonte inesgotável de lucro em vender aos crentes Bíblias, livros de doutrina e de testemunhos, mas é hora que se faça. É chegada a hora de ser reprovado este vergonhoso comércio que há no nosso meio. |
Nós estamos prontos a reprovar o comércio das relíquias, das estátuas que figuram Maria, Pedro, Paulo; o facto de os padres quererem ser pagos para celebrarem as suas missas em favor dos mortos; estamos também prontos a lembrar e a reprovar o facto de alguns séculos atrás o perdão dos pecados ser oferecido pela organização católica romana aos homens em troca de dinheiro, e fazemos bem; esta prontidão a devemos conservar porque é coisa justa reprovar todas estas coisas. Mas que dizer do comércio que há no nosso meio? Não é também ele reprovável? Certo, não se vendem estátuas e nem absolvições dos pecados e nem relíquias, mas todavia é ainda um comércio. "Tornei-me acaso vosso inimigo, porque vos disse a verdade?" (Gal. 4:16) Irmãos, é hora de acordardes do sono; é hora de não fingirdes mais que nada se passa diante de tudo isto; até agora estivestes a ver; caí em vós mesmos e começai também vós a reprovar este desgostoso comércio. |
O objectivo destes abutres é só o de vender para ganhar; estão dispostos a colaborar com todos, para fazer novos clientes prontos a comprar as suas mercadorias. São sócios dos ladrões e dos adúlteros; a eles não importa absolutamente nada se aquele com quem colaboram tem um mau testemunho dos de fora porque é roubador, adúltero, amante do dinheiro, e isto porque entre eles se concertaram de modo a dividir ‘o despojo’. Falam muito de colaboração entre igrejas e pastores; mas se vais a ver de perto em que se baseia esta aparente colaboração e comunhão que há entre eles que estão juntos, te darás logo conta que ela gira à volta dos seus interesses financeiros que são enormes e irrenunciáveis para eles, porque são cobiçosos de torpe ganância. Não fazem nada por nada, não te dão nada por nada; fazem tudo por dinheiro! Estou falando de gente que serve a Mamom e que diz conhecer a Deus. Mas o nosso Deus é amor e nos deu e nos continua a dar tudo de graça, sem nos vender nada por dinheiro. O nosso Deus disse: "Vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite" (Is. 55:1). Mas então a qual deus servem estes comerciantes? Qual deus estes conhecem? O seu deus é o seu ventre; sim, porque é o que eles servem. Deus, na sua bondade nos deu e nos dá tudo sem nos fazer pagar! Ele nos deu a vida eterna de graça, a sua Palavra de graça, a sabedoria e o conhecimento de graça, os dons de ministério e os dons do Espírito Santo de graça e todos os outros bens também de graça. Mas dizei-me: ‘Porventura alguma vez pagastes a Deus por aquilo que vos dá? Alguma vez vos fez conhecer alguma tarifa, inerente a algum dos seus bons produtos? Deus nunca nos deu um catálogo de venda com ao lado de cada um dos seus produtos escrito o relativo preço de venda; porém isto é precisamente o que acontece hoje no nosso meio. De vez em quando vemos chegar às nossas mãos e às nossas casas, catálogos muito longos onde estão escritos os livros à venda e os seus preços. ‘Tudo normal’, alguém dirá. Mas que vos pondes a fazer agora? A chamar ‘normal’ o que é anormal? Mas não é porventura hora de investigardes as Escrituras para ver se as coisas são mesmo assim? Ao ensinamento e ao testemunho! Voltemo-nos para as sagradas Escrituras para ver como agiram os que escreveram livros na antiguidade como os profetas e os apóstolos. |
Comecemos por Moisés que escreveu a lei; está escrito:
"E Moisés escreveu esta lei, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi,
que levavam a arca da aliança do Senhor, e a todos os anciãos de Israel.
E ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo
determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos, quando todo
o Israel vier a comparecer perante o Senhor teu Deus, no lugar que
ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos..."
(Deut. 31:9-11). Ora, Moisés escreveu o livro da lei; certamente, também
ele gastou tempo a escrevê-lo, também ele teve que empregar material
para escrevê-lo, mas que fez com este precioso livro? O pôs à venda
porventura, ainda porém para a edificação e instrução do povo de Israel?
De modo nenhum, ele o deu de graça aos sacerdotes Levitas e aos anciãos
para que eles o lessem diante do povo, no tempo determinado. Pensai
nisto por um momento; Moisés no fim de contas poderia ter posto à venda
o livro da lei; ele era o autor dele, poderia reivindicar o direito de
venda, ou melhor, os direitos de autor. O facto porém é, que Moisés, antes
de tudo "era homem mui manso" (Num. 12:3), e não um homem arrogante; depois
era também um fiel servo do Senhor em toda a casa de Deus (conforme disse
Deus dele: "É fiel em toda a minha casa" [Num. 12:7]) que procurava andar
honestamente; mas depois é necessário dizer que ele não tinha o direito
de vender o que Deus lhe tinha dado de graça, isto é, o conhecimento de
como foram criadas todas as coisas no princípio e a ordem em que foram criadas,
o conhecimento das histórias de Noé, de Abraão, de Isaque, de Jacó e de
José. Do êxodo dos filhos de Israel, dos tremendos juízos de Deus sobre
os Egípcios, e das poderosas obras que Deus operou no deserto por Israel
Moisés foi uma testemunha ocular delas; poderia ter escrito um ‘livro de
testemunhos’, encarregar os escribas de fazer muitas cópias dele e depois
pô-las à venda. E quem não as compraria? Mas quero que mediteis também sobre
isto: "E deu [o Senhor] a Moisés, quando acabou de falar com ele no monte
Sinai, as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo
de Deus" (Ex. 31:18); como podeis ver foi Deus a escrever os dez mandamentos
sobre aquelas tábuas de pedra, e isto é confirmado pela Escritura que diz
pouco depois: "E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era
a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas" (Ex. 32:16). Ora, Deus
tirou da pedra duas tábuas de pedra e sobre elas escreveu os dez mandamentos
com o seu dedo, e depois as deu a Moisés de graça; Deus fez um trabalho
para o seu povo, mas o fez de graça; não quis dinheiro em troca, porque
não pediu dinheiro nem a Moisés e nem ao seu povo. Portanto, como poderia
Moisés depois, quando escreveu com a sua mão o livro da lei para o povo de
Deus, pô-lo à venda? Ele sabia que uma eventual venda do livro da lei seria
abominável para Deus, por isso não ousou fazer uma tal coisa. Paulo disse:
"Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados" (Ef. 5:1); não pensais
que seja bom imitar Deus também nisto? Ou pensais que Deus nos deixou um
exemplo que nós não podemos seguir nesta geração de grande consumismo? Vejamos
agora outros profetas, os quais também eles escreveram, para ver como agiram
também eles. |
De Samuel está escrito: "E declarou Samuel ao povo
a lei do reino, e a escreveu num livro, e pô-lo perante o Senhor"
(1 Sam. 10:25); também o profeta Samuel escreveu um livro e também
ele não o pôs à venda. Ele agiu sempre honestamente para com o povo,
tanto que um dia os Judeus lhe disseram publicamente: "Em nada nos defraudaste,
nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém" (1 Sam.
12:4). Se Samuel tivesse procurado enriquecer com o livro que tinha
escrito ou tivesse procurado fazer pagar as chamadas ‘despesas de produção’,
vos asseguro que o povo não daria esse testemunho dele. |
Vejamos agora o profeta Isaías; Deus lhe disse:
"Vai, pois, agora, escreve isto numa tábua perante eles e registra-o num
livro; para que fique até ao último dia, para sempre e perpetuamente" (Is.
30:8). Porventura Isaías pôs à venda o livro que tem o nome dele e do qual
ele foi o autor? De modo nenhum! E como poderia pô-lo à venda e depois dizer
ao povo: Assim diz o Senhor: "Vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho
e leite" (Is. 55:1)? |
Também o profeta Jeremias escreveu um livro por
ordem de Deus. Está escrito: "Sucedeu pois no ano quarto de Jeoiaquim, filho
de Josias, rei de Judá, que da parte do Senhor veio esta palavra a Jeremias,
dizendo: Toma o rolo dum livro, e escreve nele todas as palavras
que te hei falado contra Israel, contra Judá e contra todas as nações,
desde o dia em que eu te falei, desde os dias de Josias até o dia de
hoje. Ouvirão talvez os da casa de Judá todo o mal que eu intento fazer-lhes;
para que cada qual se converta do seu mau caminho, a fim de que eu perdoe
a sua iniqüidade e o seu pecado. Então Jeremias chamou a Baruque, filho
de Nerias; e escreveu Baruque, no rolo dum livro, enquanto Jeremias
lhas ditava, todas as palavras que o Senhor lhe havia falado. E Jeremias
deu ordem a Banique, dizendo: Eu estou impedido; não posso entrar na
casa do Senhor. Entra pois tu e, pelo rolo que escreveste enquanto eu
ditava, lê as palavras do Senhor aos ouvidos do povo, na casa do Senhor,
no dia de jejum..." (Jer. 36:1-6). Neste caso, quer o ditado do livro
feito por Jeremias, quer a feitura do livro e a sua leitura pública feita
por Baruque foi feito de graça. |
Também os apóstolos escreveram; vejamos como agiram
o apóstolo João e o apóstolo Paulo com os seus escritos. |
O apóstolo João pôs por escrito diversas coisas
que Jesus fez e ensinou; ele também escreveu três epístolas, e o livro da
revelação. Quero brevemente deter-me sobre a feitura do livro da revelação.
João estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho
de Jesus, e num dia de domingo foi arrebatado em espírito, e ouviu por detrás
dele uma grande voz, como de uma trombeta, que lhe disse: "O que vês, escreve-o
num livro, e envia-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo,
a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia" (Ap. 1:11). Ele escreveu
num livro tudo o que o Senhor lhe fez ver e o enviou às sete igrejas
da Ásia. João deu de graça às igrejas o que o Senhor lhe tinha dado de
graça; também ele não ousou pôr à venda nenhum dos seus escritos porque
não cuidou que a piedade seja ganho. |
O apóstolo Paulo é o apóstolo a quem Deus deu a
graça de escrever a maior parte das epístolas que temos. Ele escreveu muitas
epístolas que contêm muitos ensinamentos e muitas exortações que são de grande
utilidade para a Igreja de Deus; ora, eu vos pergunto: ‘Paulo, pôs alguma
vez à venda as suas epístolas? Também ele teve ‘despesas de produção’ a sustentar;
com efeito também ele despendeu tempo e usou papel (o pergaminho) e tinta
para escrevê-las. Mas que fez ele? Porventura no fim de cada uma delas, pôs
por escrito a soma de dinheiro que ele requeria para cobrir as despesas de
produção que tinha tido? No entanto Paulo poderia ter posto à venda as suas
epístolas, e seguramente logo acharia compradores no seio das igrejas, mas
ele considerava que valia mais ter um bom nome do que muitas riquezas e ser
estimado melhor do que a prata e o ouro. As epístolas de Paulo pelo menos
teriam valido a pena comprá-las mesmo a um preço muito alto, porque eram
palavra de Deus! Paulo poderia se tornar um homem muito rico no seio das
igrejas se tivesse posto è venda os seus escritos, ou tivesse posto de pé
‘uma casa editora’ com os seus cooperadores para pôr à venda as suas epístolas.
Poderia pagar a tradutores e a escribas os quais tratariam de escrever as
suas epístolas nas línguas estrangeiras e de fazer muitas cópias delas e
depois enviá-las aos crentes que haviam nas nações estrangeiras. Depois poderia
justificar a venda dos seus escritos dizendo: ‘Eu tenho o direito de viver
do Evangelho, por isso ponho à venda as minhas epístolas, para ter dinheiro
para comer e beber e para pagar as frequentes viagens que faço juntamente
com os meus cooperadores por causa do Evangelho, e depois há muitas despesas
a fazer face para traduzir as minhas epístolas e escrevê-las!’; mas ele não
agiu assim e não falou assim. Alguém dirá: ‘Mas Paulo escreveu só uma cópia
para cada epístola!’; sim isso é verdade, mas é também verdade que mesmo
se tivesse tido que escrever milhares de exemplares para cada epístola não
as teria igualmente posto à venda, porque Paulo tinha recebido do Senhor
a graça de ser fiel, e Jesus disse que "quem é fiel no pouco, também é fiel
no muito" (Lucas 16:10). Jesus disse também que "quem é injusto no pouco,
também é injusto no muito" (Lucas 16:10); por isso aqueles que põem à venda
pequenas quantidades de Bíblias ou de outros livros cristãos procuram ganhar
também nas grandes quantidades. Lembrai-vos que quem é cobiçoso de torpe
ganância procura ganhar tanto com as pequenas quantidades de ‘mercadoria’
como com as grandes. |
O repito: Nós não somos contra a feitura de livros
de doutrina ou de testemunhos e nem contra a sua tradução e a sua
divulgação, mas somos contra o pedir dinheiro por eles e a sua colocação
à venda para ganhar com eles, porque a Escritura nos ensina que não
é justo fazê-lo. Se Paulo renunciou a agir e a falar como fazem muitos
pregadores hoje, o fez porque ele procurava ter uma consciência pura
tanto diante de Deus como diante dos homens. Esta é a razão pela qual
muitos se põem a regatear com as coisas santas de Deus, porque para eles
ter uma boa consciência não importa absolutamente nada; mas também ter
um bom testemunho não importa nada; eles querem ter apenas uma bela aparência,
mas a sua hipocrisia será manifesta a todos um dia. Hoje, são muitas e
variadas as justificações que são dadas a esta vergonhosa venda de pregações
e de ensinamentos, e do testemunho pessoal, mas elas não podem ser confirmadas
pelas Escrituras. A verdade é que na base deste lucrativo negócio que
há no meio do povo de Deus, está o amor pelo dinheiro, a falta de fé
em Deus e a falta de temor de Deus, tudo coisas que são habilmente cobertas
com palavras fingidas. |
A este ponto alguém dirá: ‘Mas então o que deve
fazer alguém que quer escrever um livro de testemunhos ou de ensinamentos?’
Deve escrevê-lo às suas custas, publicá-lo às suas custas, e dá-lo de graça
aos que o querem ler (firme permanecendo o direito de aceitar as ofertas
voluntárias que os irmãos tiverem no coração fazer-lhe). Alguém dirá: ‘Mas
olha que as despesas são muitas!’ Então? Que pensais? Que Deus não as conheça
ou não seja mais capaz de prover o dinheiro necessário, os apetrechos necessários
ou os cooperadores necessários? Quando a obra é de Deus, Deus faz
chegar todo o dinheiro que é necessário, os apetrechos necessários
e os cooperadores necessários; é suficiente orar e pedir a ele todas
as coisas. Porventura agora me dirás: ‘Mas para fazer assim é preciso
fé!’ Certamente, que é preciso fé; porém lembra-te que ela "vem pelo ouvir,
e o ouvir pela palavra de Deus" (Rom. 10:17). A fé não vem ouvindo falar
os servos de Mamom, ou os vendilhões ou os comerciantes que querem ter
dinheiro não confiando em Deus mas seguindo os seus caminhos tortuosos,
mas pelo ouvir a Palavra de Deus. Hoje alguns dizem ter fé em Deus,
e depois mandam a conta corrente postal para lembrar de pagar a subscrição;
dizem ter fé em Deus e depois se escrevem alguma coisa a põem logo à
venda, sem pensar minimamente em dar de graça os seus escritos (eles
dizem: ‘Mas quem mo obriga a fazer?’); exactamente como faz a gente do
mundo, nem mais, nem menos, antes, algumas vezes pior. É raro encontrar
os que decidiram renunciar às coisas ocultas e vergonhosas para se conduzirem
como se conduziram os profetas e os apóstolos antes de nós. Mas porventura
estou falando de algo que ninguém pode fazer nestes tempos tão maus? Não
creio; porventura seria melhor dizer que estou dizendo algo que quase ninguém
está disposto a fazer, porque tem medo que Deus não consiga suprir as despesas
às quais se têm que fazer face, e porque quase ninguém hoje está disposto
a renunciar ao ganho ilícito que se pode tirar também das coisas de Deus
que os santos desejam ler e ouvir. |
Alguém mais, ouvindo dizer estas coisas, dirá: ‘Mas
mesmo se são postas à venda as Escrituras ou partes delas, por meio
delas as pessoas do mundo são salvas na mesma e os crentes edificados
na mesma!’ Certamente, que a Palavra de Deus não muda, mesmo se é
vendida; é verdade que o Evangelho de Deus permanece "poder de Deus
para salvação de todo aquele que crê" (Rom. 1:16) mesmo se é posto
à venda; é verdade também que nós crentes somos edificados também quando
lemos os Escritos sagrados que são postos à venda, e não pode ser doutra
forma, porém isto não justifica a maneira em que é divulgada a Palavra
de Deus. Mesmo se o próprio Jesus tivesse posto à venda as suas pregações,
a eficácia da Palavra dele transmitida não mudaria, porém neste caso
cometeria um pecado, e daria motivo de escândalo, e isto constituiria
um obstáculo ao Evangelho. Mesmo se Paulo tivesse posto à venda as suas
epístolas por uma qualquer razão, mesmo se para ganhar para viver, a eficácia
das suas palavras não mudaria e nós continuaríamos a ser edificados ao
lê-las; mas ele não ousou pô-las à venda para não dar motivo de escândalo
e para não criar algum obstáculo ao Evangelho de Deus. Paulo disse: "Não
vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, nem à igreja
de Deus" (1 Cor. 10:32), e ainda: "Bom é não comer carne, nem beber vinho,
nem fazer outra coisa em que teu irmão tropece" (Rom. 14:21), mas estas
coisas não as disse somente mas também as aplicou a si mesmo para não escandalizar
o seu próximo. Considerai o que vos digo agora: Se Paulo, que era um
apóstolo de Cristo chamado para ser apóstolo por vontade de Deus, embora
tendo o direito de não trabalhar como ministro do Evangelho, renunciou
a fazer uso deste direito em Corinto (para não criar algum obstáculo
ao Evangelho de Cristo, e para não dar alguma ocasião aos que buscam ocasião),
e em Tessalónica (porque quis mostrar pessoalmente aos crentes a maneira
como deviam andar), e se pôs a trabalhar (embora tendo o direito de não
trabalhar), é impensável que ele pusesse à venda as suas epístolas porque
isso forneceria uma ocasião de maledicência aos seus adversários, faria
escândalo, e estaria em plena contradição com as suas próprias palavras.
É verdade que Paulo fez muitas renúncias para não criar algum obstáculo
ao Evangelho de Deus, mas é também verdade que ele em virtude de todas
as suas renúncias podia afirmar abertamente aos Coríntios: "Porque a nossa
glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com santidade e
sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos
vivido no mundo, e de modo particular convosco" (2 Cor. 1:12). Quantos são
hoje os que pregam o Evangelho que podem dizer as mesmas palavras de Paulo?
Deus o sabe quantos são e quem são; certo é que aqueles que põem à venda
a verdade do Evangelho não podem de modo algum afirmar viverem no mundo
e em relação aos crentes com santidade e sinceridade de Deus porque infringem
o mandamento escrito que diz: "Compra a verdade, e não a vendas" (Prov.
23:23). |
Irmãos, ninguém vos engane de alguma maneira, porque o fim não justifica os meios ilícitos, mesmo se o fim é bom. Lembrai-vos que quando nós comparecermos diante do tribunal de Cristo teremos também que responder pelas maneiras que usámos na divulgação do Evangelho. Não é o Evangelho de Deus que será julgado naquele dia, mas os que o pregaram, em outras palavras, serão julgadas todas as nossas obras. Nós não temos o direito de pregar o Evangelho de qualquer maneira, porque se assim fosse teríamos também o direito quando evangelizamos aqueles que não conhecem Deus de lhes pedir dinheiro pelo trabalho que empregámos e pelo tempo que gastámos para evangelizá-los. Se tu vais evangelizar e depois de ter falado a um pecador lhe ofereces postais com versículos da Escritura escritos neles (para ganhá-lo ainda para Cristo naturalmente) e lhe dizes: ‘Amigo, deves-me dar esta soma de dinheiro ou uma oferta se queres recebê-los, porque eu tive despesas a fazê-los, e não tendo um trabalho secular tenho que ganhar para viver desta maneira!’, tu não te conduzirás com santidade e com sinceridade de Deus em relação a essa pessoa, mas lhe serás causa de tropeço. Mas ponhamos também o caso dele aceitar os teus postais e aceitar dar-te o dinheiro que lhe pedes, e depois vires a saber que ele creu em Cristo e foi salvo dos seus pecados; que pensarás neste caso? De ter agido honestamente em relação a essa pessoa porque ela foi salva pelo Senhor? Asseguro-te que um tal raciocínio é vão e perverso porque se opõe à justiça e à santidade de Deus. |
Irmãos, é hora de cairdes em vós mesmos e de reconhecerdes que não podemos justificar um certo modo de fazer ou de falar só porque a maioria o aceita e o tolera. Se eu tivesse querido continuar a falar e a agir como fazem os do mundo, não me teria convertido ao Senhor para segui-lo. E se tu pensas que podes te santificar e agradar a Deus seguindo o exemplo da maior parte dos que nesta geração dizem ter crido estás te iludindo a ti mesmo. Lê a vida dos santos profetas, a dos apóstolos, mas sobretudo a do nosso Senhor Jesus. Imita Cristo, segue ele, não te poderás corromper se decidires imitar Cristo, mas se ao contrário, metes na cabeça imitar ou certos evangelistas famosos que fazem escândalos frequentemente porque cuidam que a piedade seja fonte de ganho, ou certos pastores que em vez de darem o bom exemplo dão o mau porque também eles fazem as coisas por dinheiro te asseguro que te corromperás em breve tempo, e depois também tu começarás a dizer: ‘Mas todos o fazem!’ e: ‘Não é possível que eles que estão há tantos anos na fé e que são tão famosos estejam agindo mal’. Investiga as Escrituras, ora a Deus, pede-lhe sabedoria e Ele te fará entender o temor de Deus e a rectidão. |
A lei sobre os direitos de autor defende os interesses
económicos dos vendilhões sem escrúpulos que estão entre nós |
Quero dizer-vos algo mais, a saber, que quem anuncia
o Evangelho tem sim o direito de viver do Evangelho como ordenou
o Senhor, mas não tem (diante de Deus) o direito exclusivo de publicar
os sãos ensinamentos escritos na Palavra de Deus e nem o de estabelecer
tarifas e pedir compensações pelas suas pregações e pelos seus ensinamentos
escritos porque este modo de agir não se adequa aos santos. Por esta
razão nós não estamos de acordo em escrever nas Bíblias e nos livros cristãos:
‘Todos os direitos reservados’, ou frases como esta: ‘É proibida a
reprodução total ou parcial desta obra (incluindo fotocópias) sem
o consentimento escrito do Editor ou do autor’. Ora, nesta nação há
uma lei que tutela o direito de autor (nota do tradutor: refere-se
à nação italiana mas em Portugal, no Brasil e na generalidade dos restantes
países a lei dos direitos de autor na substância é semelhante). Vejamos
o que afirmam alguns artigos desta lei que é de 22 de Abril de 1941:
O artigo 12 diz: ‘O autor tem o direito exclusivo de publicar a obra. Tem
também o direito exclusivo de utilizar economicamente a obra de qualquer
forma e modo, original ou derivado, nos limites fixados por esta lei,
e em particular com o exercício dos direitos exclusivos indicados nos artigos
seguintes. É considerada como primeira publicação a primeira forma de exercício
do direito de utilização’; o artigo 13 diz: O direito exclusivo de reproduzir
tem por objecto a multiplicação em cópias da obra com qualquer meio, como
a cópia à mão, a imprensa, a litografia, a gravação, a fotografia, a fonografia,
a cinematografia e todo outro procedimento de reprodução; o artigo 17 diz:
o direito exclusivo de comercializar tem por objecto pôr em circulação,
com intuito de lucro, a obra ou os exemplares dela e compreende também
o direito exclusivo de introduzir no território do Estado as reproduções
feitas no exterior, para pô-las em circulação; o artigo 68 diz entre outras
coisas isto: É livre a reprodução de obras ou trechos de obras para uso
pessoal dos leitores, feita à mão ou com meios de reprodução não idóneos
para vender ou difusão da obra em público. Como podeis bem ver esta lei defende
os interesses económicos de quem escreve e põe à venda os seus livros, porque
proibe aos que compram um livro reproduzi-lo e divulgá-lo publicamente (mesmo
gratuitamente) sem o prévio consentimento do autor ou do editor. Mas enquanto
são as pessoas do mundo a fazer recurso a esta lei para tutelar os seus
escritos que tratam de coisas deste mundo e de coisas profanas isso é
compreensível e passa despercebido porque eles escrevem e põem em circulação
os seus escritos com o intuito de lucro (este é o seu trabalho); porém se
um servo do Senhor escreve coisas que concernem ao Reino de Deus, e depois
põe em circulação os seus escritos com o intuito de lucro e faz recurso
a esta lei para salvaguardar os seus interesses económicos então isso não
pode passar despercebido e não pode ser tolerado porque uma tal conduta não
se adequa aos servos do Senhor. |
O ponto capital deste discurso é que se um de nós escreve um livro de testemunhos ou de ensinamento não tem nem o direito exclusivo de publicá-lo (porque todos os crentes têm o direito de difundir de viva voz e por escrito uma obra feita por Deus ou uma revelação concedida por Deus, e todos os crentes têm o direito de reproduzir e de difundir publicamente um ensinamento escrito, sem o prévio consentimento do crente que experimentou a obra de Deus ou que recebeu a revelação ou que dirigiu o ensinamento e o pôs por escrito) e nem o de pô-lo à venda (este direito não o tem nem o autor e nem quem decide reproduzir e difundir o escrito) portanto, nisto, não nos podemos pôr a agir como fazem os escritores dos livros mundanos que se apoiam nesta lei para não verem os seus interesses económicos ameaçados. |
Certo é que se um de nós se põe porém a escrever coisas relativas ao reino de Deus para ganhar com isso, então sim se preocupará em fazer tutelar o seu ‘direito de autor’, fazendo recurso à lei no caso de a sua obra vir a ser sem o seu consentimento divulgada publicamente por terceiros com o intuito de lucro ou também sem o intuito de lucro. Mas isto acontece quando o autor da obra busca o seu próprio interesse. Pelo contrário, quem escreve um livro não com o intuito de lucro mas para a glória de Deus e para a edificação da igreja não só não se arroga o direito exclusivo de reproduzi-lo e difundi-lo, mas também não o põe à venda, e encoraja os leitores a reproduzi-lo e a divulgá-lo se sentirem no coração fazê-lo e não se preocupa se terceiros o reproduzem e o divulgam sem o seu prévio consentimento, antes fica contente se outros o reproduzem e o divulgam. Alguém dirá: ‘E se ele não o põe à venda, mas quem o reproduz e o divulga sem o seu consentimento o põe à venda como se comportará?’ Certamente não o denunciará, e não fará recurso à lei para punir o autor da colocação à venda dos seus escritos, porque sabe que o Senhor disse: "Minha é a vingança" (Heb. 10:30). |
Mas a este ponto quero dizer-vos uma outra coisa:
vós sabeis que as sagradas Escrituras no curso dos séculos foram
torcidas. Temos uma confirmação que isto já era feito enquanto os
apóstolos estavam em vida, com efeito, Pedro na sua segunda epístola
diz: "Em todas as suas epístolas (as de Paulo) entre as quais há pontos
difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente
as outras Escrituras, para sua própria perdição" (2 Ped. 3:16); portanto
como o autor das epístolas era Paulo, ele deveria perseguir penalmente
ou de alguma outra maneira esses homens abomináveis que tinham torcido
os seus escritos. Porventura o fez? De modo nenhum! Doutra forma não
teria podido dizer: "Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos,
e o suportamos; somos difamados, e exortamos" (1 Cor. 4:12). |
Vós sabeis que segundo a lei desta nação o autor
de um livro tem o direito de perseguir penalmente quem se apropria
do seu escrito e o comercializa sem a sua permissão; portanto, segundo
esta lei, se alguém se apropria do escrito (com todos os direitos reservados)
de um escritor cristão e o reproduz e o comercializa sem a sua permissão,
isto pode ser denunciado pelo autor para que seja indemnizado pelos
prejuízos. Mas se um escritor crente agisse assim então agiria segundo
a lei de Moisés que diz: "Olho por olho, e dente por dente" (Mat. 5:38;
Ex. 21:24), e não segundo a palavra de Cristo que diz: "Não resistais
ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe
também a outra" (Mat. 5:39)! Os abomináveis torceram as epístolas dos
apóstolos também depois que eles morreram, mas nós sabemos que eles não
ficarão impunes; eles adulteraram a Palavra de Deus e Deus do alto derramará
sobre eles a sua indignação porque está escrito: "Do céu se manifesta a
ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a
verdade em injustiça. .." (Rom. 1:18). |
Mas há uma outra coisa a dizer que é esta, se os
apóstolos fossem vivos não se alegrariam de modo nenhum em ver os
seus escritos postos à venda entre a irmandade a par de qualquer produto
comercial com os direitos de publicá-los e de pô-los à venda reservados
ao Editor! |
Vós sabeis que "Elias virá primeiro, e restaurará
todas as coisas" (Mat. 17:11), como disse Jesus, e que ele virá antes
que venha o dia do Senhor; me pergunto como reagirá ao constatar que
a sua história juntamente com todas as outras Escrituras estão postas
à venda e que para traduzir, reproduzir e divulgar publicamente a sua
história como a dos outros profetas é necessário pedir permissão a uma
casa editora! |
Mas então se falamos de direitos reservados, (falo
como alguém fora de si) nós Gentios a quem deveríamos pedir o consentimento
para traduzir, publicar e divulgar os escritos sagrados do antigo
testamento? Porventura ao povo de Israel, isto é, aos Judeus, porque
a eles foram confiados os oráculos de Deus e a eles pertence a lei,
os pactos e as promessas? E depois por quanto respeita aos escritos de
Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Pedro, Tiago, e Judas houve porventura
alguma vez necessidade para os primeiros tradutores ou para aqueles que
os reproduziram e divulgaram publicamente enquanto eles estavam ainda
em vida de pedir o prévio consentimento oral ou escrito dos autores deles?
Mas nós sabemos que a Palavra de Deus que eles transcreveram procedeu
de Deus, a sabedoria com a qual escreveram também procedeu de Deus, o
conhecimento das coisas de Deus também procedeu de Deus e não dos homens,
portanto se alguma vez tivéssemos que pedir consentimentos os deveríamos
pedir a Deus que é o autor e o doador de todas as coisas. Mas não há
necessidade de pedir este consentimento a Deus, porque Deus já há muito
tempo ordenou divulgar a sua Palavra, com efeito, disse em Jeremias:
"Aquele que tem a minha palavra, fale fielmente a minha palavra" (Jer. 23:28). |
Mas então por que razão esta escrita: Todos os direitos
reservados, aparece também em quase todos os livros que falam das coisas
de Deus? Por que razão é proibida a reprodução parcial ou total do
escrito e a sua divulgação sem o prévio consentimento do autor (muitas
vezes estes direitos são feitos pagar como os fazem pagar a gente do
mundo)? A razão principal é que como estes escritores e as casas editoras
que publicam os seus livros fazem o que fazem com o intuito de lucro, para
protegerem os seus próprios interesses económicos fizeram recurso a esta
lei; aliás é sabido que uma eventual reprodução e divulgação gratuita do
próprio escrito entre os crentes traria um prejuízo económico ao autor
ou à casa editora, porque as vendas diminuiriam (portanto na raiz deste
mal que serpenteia entre os santos está o amor pelo dinheiro). Eu me pergunto
algumas vezes: O que aconteceria se algum crente reproduzisse e divulgasse
gratuitamente uma versão das sagradas Escrituras com todos os direitos
reservados sem pedir ou pagar o consentimento à casa editora que diz
ter todos os direitos reservados? Seria denunciado às autoridades e feito
passar como malfeitor? E depois quem são aqueles crentes que querem que
se peça a eles a permissão para traduzir, reproduzir e difundir um escrito
que fala de um ensinamento ou de uma revelação ou de curas e milagres
feitos por Deus, quando os apóstolos nunca disseram e nunca fizeram saber
que se alguém queria reproduzir ou divulgar os seus escritos devia pedir
a permissão a eles? A pergunta se pode formular também desta maneira: Tinham
os apóstolos que eram os autores das suas epístolas o direito de dizer
que todos os que queriam traduzir ou reproduzir e divulgar as suas epístolas
deviam primeiro pedir a eles o seu consentimento porque eles tinham o direito
exclusivo de traduzi-las, de reproduzi-las e de difundi-las? Não o disseram,
portanto não o tinham. Lendo as suas epístolas se compreende que elas
circulavam livremente entre as igrejas de então e que elas por ordem
dos próprios apóstolos eram lidas publicamente, portanto à sua reprodução
e divulgação os apóstolos não puseram nenhum obstáculo; irmãos agora
nós estamos habituados a ler estas escritas nas Bíblias "mas não foi
assim desde o princípio". Ora, nós não sabemos se no tempo dos apóstolos
havia uma lei que tutelasse o direito de autor como hoje, mas ponhamos
o caso que havia, pensais vós que os apóstolos teriam posto também eles
nas suas epístolas a escrita ‘Todos os direitos reservados’? e que eles
teriam pretendido que os irmãos que tinham no coração traduzi-las e publicá-las
pedissem a sua permissão para traduzi-las e para divulgá-las gratuitamente?
O facto é irmãos que quando um crente se desvia da simplicidade e da pureza
que há em Cristo e se conforma ao presente século acontece que começa a agir
em tudo como a gente do mundo e cessa de reprovar um certo modo de agir
tortuoso também porque se sente sustentado por certas leis do Estado que
legitimam o que nós crentes não temos o direito de fazer; mas estai certos
que não será sustentado pelo testemunho da sua consciência porque ela o
acusará dia e noite, e ele não poderá calá-la enquanto seguir a dureza do
seu coração. Faço um exemplo para explicar-vos isto: nesta nação há uma lei
que confere a uma mulher o direito de abortar, mas se uma mulher crente decide
abortar porque não quer um outro filho se faz culpada de um grave pecado
diante de Deus e a sua consciência a acusará mesmo se aquilo que fez é legitimado
por uma lei desta nação. Isto é o que acontece também quando um tradutor
ou um escritor cristão afirma, ajudado pela lei, ter todos os direitos reservados
sobre os Escritos sagrados ou sobre livros cristãos e que é necessário o
seu consentimento (ou seja, é necessário comprá-lo) para traduzi-los, reproduzi-los
e divulgá-los; a sua consciência o acusa. Mas onde está aquela simplicidade
e aquela pureza de consciência que caracterizavam a vida do nosso Senhor
Jesus e a dos santos apóstolos? |
O que fazem então os crentes diante destas escritas,
ou melhor, diante desta lei dos direitos de autor? A verdade é que
alguns a ‘infringem’ porque consideram que para reproduzir e difundir
algo que fala das coisas de Deus não haja necessidade de pedir a permissão
a ninguém; enquanto outros para não desobedecer às autoridades (esta
é a conclusão a que chegam) guardam-se de fazer reproduções e de dá-las
de graça a outros sem o prévio consentimento de quem o requer. E tudo
isto por que motivo acontece? Por que motivo os crentes vêm a encontrar-se
nestas situações embaraçantes? Por que motivo crentes devem pagar os direitos
de autor a outros crentes? Porque muitos tendo-se posto a fazer comércio
com as coisas de Deus se conformaram ao mundo para defenderem os seus interesses
e obrigam os outros a adequarem-se às leis. Se, pelo contrário, entre
o povo de Deus não houvesse nenhum interesse pessoal e nenhum comércio
em torno das Escrituras e dos livros de ensinamento e de testemunhos
então não seriam afixadas estas escritas legitimadas pela lei, e todas
as coisas (as traduções, as reproduções e a divulgação) aconteceriam sem
obstáculos e sem perigos, na simplicidade. Mas onde está a diferença entre
nós e os do mundo? Entre a tradução, a reprodução e a divulgação dos Escritos
sagrados e dos vários livros cristãos que são efectuadas no nosso meio e
a tradução, a reprodução e a divulgação dos livros profanos que fazem
os do mundo que diferença há? Podem os de fora ver nos crentes um exemplo?
Podem os do mundo dizer que necessitam de aprender com os cristãos porque
eles não ajudam por dinheiro mas desinteressadamente porque são movidos
pelo amor de Cristo que está neles? É necessário dizer que tirando alguns
poucos casos, não, porque a luz que havia tornou-se trevas e portanto desapareceu,
e por isso os de fora não vêem nenhuma diferença entre o seu modo de
agir e o (de muitos) que há no nosso meio. Mas que exemplo podem dar ao
mundo crentes que se converteram ao mundo? Eu creio que se todos os crentes
que se puseram a comercializar as coisas de Deus renunciassem a se apoiarem
na lei sobre os direitos de autor (para aquilo que diz respeito às coisas
relativas ao reino de Deus) e tornassem à lei de Cristo observando-a, tornaria
a despontar entre nós aquela simplicidade e aquela honestidade que haviam
ao início na igreja primitiva. |
Ponhamos de lado os interesses pessoais dos vendilhões,
ponhamos de lado o negócio que há na casa de Deus; purifiquemos a casa
de Deus deitando fora o fácil comércio que há nela; santifiquemos o
Senhor da glória que habita no meio de nós andando de modo digno do Evangelho. |
A Bíblia para muitos representa um grande negócio
económico |
Não é de admirar se em torno da tradução e da publicação
e divulgação das sagradas Escrituras se desenvolveu este colossal comércio;
podemos dizer que era inevitável que muitos ao constatarem que a procura
de Bíblias está sempre em aumento, porque são cada vez em maior número
as pessoas que querem possuir pelo menos uma cópia dela, se pusessem
a fazer comércio também da Palavra de Deus. Eles exploram precisamente
a fome e a sede que os homens têm da Palavra de Deus para enriquecerem. No
mundo acontece a mesma coisa, porque muitos exploram a sede de ler o que
há de mais novo que está radicada nas pessoas para enriquecerem. ‘No mundo
da informação’ é frequentemente dito que o cidadão tem o direito à informação,
isto é, a ser informado, e naturalmente muitos percebem que podem fazer
muito dinheiro explorando esta sede de informação e esta curiosidade e
se põem a escrever e a publicar toda espécie de artigos nas revistas sensacionalistas
e de informação etc.., e a comercializar novas revistas (estão sempre
em aumento as revistas de informação) se enriquecendo precisamente através
da inesgotável sede de ler a vaidade e a obscenidade que há nas pessoas
do mundo, ou melhor, explorando o chamado ‘direito à informação’ do cidadão.
Infelizmente, um discurso semelhante se tem que fazer também para o que
diz respeito à venda das Bíblias no meio da igreja de Deus. |
Para vos fazer compreender como é muito fácil enriquecer
explorando o grande desejo dos crentes de lerem a Palavra de Deus e
de possuírem uma cópia das sagradas Escritutas, digo-vos o que sucedeu
num país onde até alguns anos atrás era proibida a divulgação da Escritura.
Neste país muitos crentes estavam desprovidos de uma Bíblia, e para possuírem
uma Bíblia estavam dispostos a fazer qualquer sacrifício, nós sabemos
que estavam dispostos a comprá-la a um preço altíssimo, ao preço correspondente
a diversos ordenados mensais somados entre si. O que aconteceu? Aconteceu
isto, a saber, que as Bíblias, entravam na nação onde os crentes eram
perseguidos, por meio de crentes tementes a Deus os quais entregavam gratuitamente
as Bíblias aos pastores das igrejas, alguns dos quais, em vez de dá-las
gratuitamente aos fiéis famintos da Palavra de Deus (como deveriam ter
feito) lhas venderam, ganhando em cima. Aos crentes sinceros e humildes
naturalmente não importava quanto custasse uma Bíblia porque eles amavam
tanto a Palavra de Deus que estavam dispostos a despender muitos salários
mensais por uma só cópia; mas o facto é que também a estes lobos não importava
nada e enriqueceram explorando a fome espiritual dos verdadeiros crentes.
Mas eu vos pergunto: ‘É esta a maneira para fazer ter a crentes uma Bíblia?’ |
Nesta nação, mesmo se a tradução, a publicação,
e a divulgação das Escrituras não são proibidas; e mesmo se não há a perseguição
que há em alguns países; o mecanismo perverso que se instaurou entre
o povo de Deus por obra de gente sem escrúpulos é muito semelhante ao
descrito aqui acima. Por que digo que é muito semelhante? Porque os lobos
devoradores aproveitam-se da fome e da sede que muitos crentes sinceros
têm da Palavra de Deus para enriquecerem por meio dela. Nesta nação estes
lobos da noite extorquem dinheiro aos crentes de maneira ‘legal’ porque
eles foram autorizados pela lei a praticar este comércio de Bíblias.
Também eles vão aos ‘grossistas’ para se fornecerem de muitas Bíblias
e as compram a um baixo preço porque têm descontos sobre as grandes quantidades,
e depois as vão vender a miúdo a um preço superior para ganharem. Não
é isto comercializar a Palavra de Deus? É porventura também a Palavra
de Deus um ‘produto comercial’? E depois se gloriam de também contribuirem
para a difusão da Palavra de Deus! Certo, por um lado contribuem para
divulgar a Palavra de Deus porque Deus converte a sua cobiça em bem,
mas por outro está fora de dúvida que contribuem para fazer difamar o
caminho da verdade tendo uma tal conduta. E depois que dizer das justificações
dadas para a venda dos Escritos sagrados? Pretextos, só pretextos que são
dados para procurar calar aqueles que se levantam contra este negócio.
Os vendilhões dizem: ‘Mas nós não fazemos pagar a Palavra de Deus mas só
o papel e o trabalho que está por detrás!’, testemunhando assim com a sua
boca contra eles mesmos porque demonstram que para eles publicar e distribuir
os Escritos sagrados é um trabalho como tantos outros, feito exclusivamente
para ganharem e não por amor do Senhor e dos eleitos. Perguntai a estes
por que é que não distribuem de graça as Bíblias e vos dirão que a razão
é porque não lhes convém do ponto de vista económico. Estão prontos a dizer-te:
‘E quem nos obriga a fazer?’(esquecendo-se que no céu há alguém que quer
obrigá-los a fazer) porque segundo eles não há nada a ganhar em dinheiro.
Eles não pensam minimamente em não pôr à venda as Bíblias porque o seu lema
é: Vender para ganhar dinheiro, e não: Divulgar a Palavra de Deus para ganhar
almas e edificar a Igreja. Estão antes dispostos a renunciar a ter uma
boa consciência que a renunciar a pôr à venda as Bíblias! Naturalmente
por causa de tudo isto surgiram as concorrências comerciais também entre
os comerciantes de Bíblias porque cada um procura vender o maior número
de cópias possível para ganhar mais e para adquirir uma melhor reputação
e um maior renome. A batalha entre eles se desenvolve fazendo uso de qualquer
meio; têm também eles de conquistar o mercado e alcançar cada vez mais pessoas
e por isso se introduzem por todo o lado com os seus folhetos, com as suas
novas propostas, com os seus preços especiais, com os seus descontos. Também
os descontos são uma arma eficaz para vender muito e os comerciantes das
Bíblias isto o sabem bem; com os descontos ganham os grossistas e ganham
os pequenos comerciantes. Estes vendilhões logo que sabem de algum congresso
ou de alguma reunião onde está prevista uma larga participação de pessoas
se põem em movimento para poderem reservar o seu lugar. Mas para fazerem
isso é necessário pagar aos outros vendilhões, isto é, aos organizadores
do congresso, mas não há nenhum problema por isto porque fazendo as contas
chegam à conclusão que lhes convém; e assim pagam aos organizadores para
poderem se pôr a vender a sua mercadoria com as suas bancas de mercado onde
se realiza a reunião. Estes congressos são como as feiras, nem mais nem menos,
mas a estes não importa nada porque o ganho está assegurado. No fim do congresso
os vendilhões trocam apertos de mão e beijos e brindam pelo seu sucesso;
ficam todos contentes porque fizeram bons negócios e se despedem até ao próximo
congresso com a esperança que o encaixe seja ainda maior. Mas cuidai que
nunca lhes ouvireis dizer que fizeram bons negócios ou que fizeram novos
clientes nestes congressos; de modo nenhum, porque eles chamam a tudo isto
evangelização. Isto é o que está por detrás da venda das Bíblias e dos livros
cristãos nesta nação. |
Paulo dizia: "Tudo suporto por amor dos eleitos"
(2 Tim. 2:10) e ainda: "Suportamos tudo, para não pormos impedimento
algum ao evangelho de Cristo" (1 Cor. 9:12) porque ele tinha caridade
não fingida, a caridade que "tudo suporta" (1 Cor. 13:7) que não busca
o seu próprio interesse mas compraz a todos em tudo buscando o proveito
de muitos para que sejam salvos, enquanto aqueles que têm um falso amor
não estão dispostos a falar do Senhor e a fazer algo de útil para a irmandade
sem estabelecerem tarifas e pedirem compensações em dinheiro. Eles não
conseguem pôr a sua confiança no Senhor para que seja ele a prover-lhes
tudo aquilo de que necessitam para viverem juntamente com as suas famílias,
porque confiam nos seus caminhos e não nos do Senhor. Mas eu queria perguntar
a estes: ‘Conheceis porventura algum obreiro do Senhor que tenha trabalhado
na obra do Senhor sem fazer pagar as suas prestações como fazeis vós que
morreu de fome ou a quem vieram a faltar as coisas necessárias para ele
e a sua família?’ Eu sou jovem e ainda não me tornei velho (como, pelo
contrário, era Davi quando escreveu o trigésimo sétimo salmo), mas também
eu posso dizer que "nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência
a mendigar o pão" (Sal. 37:25); também eu posso dizer ter constatado que
"àqueles que buscam ao Senhor, bem algum lhes faltará" (Sal. 34:10) e que
"nada falta aos que o temem" (Sal. 34:9). |
Nós todos somos obrigados a comprar as Bíblias;
digo somos obrigados porque esta é a verdade; nos obrigam, tanto no caso
de ser para uso pessoal como se for para dá-la a outros. As Bíblias não são
oferecidas livremente e por isso aqueles que as adquirem não são feitos idóneos
pelos vendedores para darem uma livre oferta segundo propuseram no seu coração
mas são forçados a pagar o preço fixado em relação às leis de mercado. E
ainda uma vez devemos dizer que tudo isto acontece por culpa do comércio
surgido em torno das coisas de Deus; tudo isto se poderia muito bem evitar;
bastaria que estes oferecessem as coisas de graça com a plena confiança que
o Senhor não só cobrirá as despesas de produção a fazer face mas também proverá
a todas as suas próprias necessidades. Certo há um custo a pagar, mas quem
está disposto a pagá-lo? |
Seja como for, nós cremos que um crente temente
a Deus apesar de ser obrigado a comprar Bíblias para dá-las a outros, quando
as distribuir, seja a crentes ou a não crentes, não as porá à venda
e não lhes pedirá dinheiro, por causa da consciência, mas também porque
o castigo de Deus o assombra. |
De graça recebestes, de graça dai |
Aquele que é instruído na Palavra tem o dever de
repartir de todos os seus bens com quem o instrui, porque isso é o
que diz a Escritura; e quem ensina a Palavra não deve fazê-lo por dinheiro.
Jesus, quando enviou os apóstolos a pregar o Evangelho, depois de lhes
ter dito: "Pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos,
ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demónios" (Mat.
10:7,8), disse-lhes também: "De graça recebestes, de graça dai" (Mat.
10:8). Mas o que tinham recebido de graça os apóstolos do Senhor? Eles
tinham recebido a Palavra de Deus (conforme disse Jesus: "Lhes dei as palavras
que tu me deste, e eles as receberam" (João 17:8), e também: "Eu lhes dei
a tua palavra" [João 17:14]), e também o poder de expulsar os espíritos
imundos e de curar toda a enfermidade e todo o mal (conforme está escrito:
"E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos
imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o
mal" [Mat. 10:1]); e como eles deviam dar de graça a Palavra de Deus ouvida
e recebida de graça de Cristo assim deviam pôr de graça ao serviço dos homens
o poder de expulsar os demónios e o de curar as doenças recebido igualmente
de graça, em outras palavras eles não deviam pedir compensações. Vede, se
nós aceitarmos que alguém que ensina a Palavra ponha à venda os seus ensinamentos
escritos, então devemos aceitar também que ele ponha à venda os seus ensinamentos
dados de viva voz; mas não só isto, devemos também aceitar o facto de que
quem recebeu dons de curar ponha à venda as curas que faz, ou a imposição
das suas mãos ou as suas orações pelos enfermos. Por que digo isto? Porque
os dons de curar são dons que se recebem do mesmo Deus do qual se recebe
também o dom de ensinamento. Portanto se é justo que se peçam compensações
para ensinar, por conseguinte, se podem pedir compensações também para impor
as mãos sobre os enfermos e pelas orações sobre os enfermos! Dilectos, ninguém
vos engane; porque qualquer que seja o dom que se recebe de Deus ele
deve ser posto ao serviço dos outros e não dos próprios interesses. Pedro
o apóstolo disse: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu,
como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Ped. 4:10); certamente,
se nós tivéssemos recebido algum dom do Senhor em troca de dinheiro então
sim teríamos o direito de fazer com que nos pagassem as nossas prestações,
mas então não se poderia chamar dom àquilo recebido do Senhor, mas sim
uma nossa boa aquisição feita junto de Deus. Sim é verdade que os dons
recebidos do Senhor são bens adquiridos de Deus...mas sem dinheiro; porque
não estão à venda, mas prontos a serem distribuídos de graça aos que os
desejam para a edificação da igreja. Quando Jesus disse ao anjo da igreja
de Laodicéia: "Aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para
que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta
a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para
que vejas" (Ap. 3:18) é verdade que lhe disse para comprar dele essas coisas,
mas lembrai-vos que a aquisição a devia fazer sem dinheiro. |
Quando Simão, em Samaria, viu que pela imposição
das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, "ofereceu-lhes dinheiro,
dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem
eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro: Vá
a tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o
dom de Deus. Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu
coração não é recto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua maldade,
e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do
teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniquidade"
(Actos 8:18-23). Deste episódio transcrito tiramos os seguintes ensinamentos: |
Ÿ Qualquer dom de
Deus não se pode adquirir com dinheiro |
Ÿ Quem cuida poder
fazê-lo não tem um coração recto diante de Deus e se deve arrepender
deste mau pensamento |
Ÿ Os servos de Deus devem repreender aqueles que lhes oferecem dinheiro para comprarem as suas prestações. |
Como podeis ver há diversas Escrituras que testificam
que os dons se recebem de graça, e portanto como devem ser postos
ao serviço dos outros de graça, os que fazem pagar as suas prestações
(não importa se um ensinamento escrito, de viva voz, ou uma oração por
um doente) cuidam que a piedade seja fonte de ganho. Se eu te visse numa
necessidade espiritual e te dissesse que te poderei ajudar (porque recebi
do Senhor a graça de te poder ajudar) em troca de dinheiro, eu cuidarei
que a piedade seja fonte de ganho. Mas pessoas do mundo que estão dispostas
a ter piedade do próximo em troca de dinheiro há em abundância no mundo!
Mas nós como filhos de Deus devemos exercitar-nos na piedade para com
os outros, contentando-nos com o que temos, isto significa que não devemos
nos aproveitar da necessidade espiritual ou material na qual está uma
pessoa, ajudando-a em troca de dinheiro ou de favores; e tudo isto para
ter diante de Deus e diante dos homens uma boa consciência e para que
a doutrina de Deus não seja blasfemada por nossa culpa. |
Temos de reconhecer porém que na igreja há os que
se rebelam à palavra de Deus e decidem agir seguindo os desejos da
carne (isto é, decidem exercitar a piedade por torpe ganância); estes
são "corruptos de entendimento, e privados da verdade" (1 Tim. 6:5); são
bem conhecidos nas igrejas porque tornaram-se famosos e poderosos, mas infelizmente
são bem conhecidos também pelas pessoas do mundo que por causa da sua cobiça
blasfemam o caminho da verdade. |
Certo, estes que cuidam que a piedade seja fonte
de ganho ajudam-te, mas em troca de dinheiro; enquanto lhes for cómodo,
isto é, enquanto lhes deres os teus denários se mostrarão dispostos
a ajudar-te. Mas se alguma vez acontecer que tu não lhes convenhas mais,
então te descartam na primeira ocasião. Os que cuidam que a piedade
seja fonte de ganho se manifestam mais cedo ou mais tarde, porque são
pessoas que não estão dispostas a fazer renúncias. Quem faz as coisas
por dinheiro, quando vê que, ao fazer um serviço (ele diz que o faz
pelo Senhor mas não é verdade) não há nenhum ganho de dinheiro, antes
há que ‘repor’ dinheiro, estai certos que não estará de modo nenhum disposto
a prosseguir a fazer essa coisa. Quem, pelo contrário, não faz as coisas
por dinheiro, serve o Senhor com zelo e com alegria tanto na abundância
como na penúria, porque ele faz as coisas por amor do Senhor e por amor
dos santos, e não por amor do dinheiro. Não estabelece tarifas e não pede
compensações porque tem plena confiança no Senhor que ele serve, considerando-o
poderoso para suprir a todas as suas necessidades; ele crê que de modo
nenhum há necessidade de proclamar aos quatro ventos todas as suas necessidades
porque experimentou a fidelidade de Deus inúmeras vezes. Ele se põe
de joelhos no seu quarto ou num lugar separado e pede a Deus as coisas
de que ele necessita e espera com paciência e com fé o atendimento da
sua oração. Ele continua a mostrar-se piedoso para com o seu próximo e
a estar contente do seu estado em qualquer circunstância; sofre, é verdade,
mas prefere sofrer e ter ao mesmo tempo uma boa consciência e um bom
nome no seio da igreja de Deus e no meio deste mundo, do que renunciar
a sofrer (fazendo recurso à astúcia) e ter uma consciência suja e um
mau nome tanto na Igreja como no mundo. |
Diante de todo o obreiro do Senhor há portanto dois
caminhos: o da renúncia e do sofrimento, e o da desonestidade; o melhor
é o primeiro, porque é sobre este caminho que se goza abundância de
paz e de gozo e que se vêem as poderosas libertações de Deus; é andando
sobre este caminho que se pode dizer: "Sinto prazer nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor
de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte" (2 Cor. 12:10).
Mas sobre o segundo, não há mais do que infelicidade, espinhos e laços,
ais e dores, e vitupério. Depois de teres lido tudo isto, escolherás ser
honesto ou continuar a ser vendilhão? Dar de graça o que recebeste de
graça de Deus, ou continuar a pô-lo à venda e a ganhar em cima? Eu não sei
qual decisão tomarás, mas te quero recordar que a sabedoria diz: "Se fores
sábio, para ti serás sábio; e, se fores escarnecedor, só tu o suportarás"
(Prov. 9:12). |
Para vós que fazeis comércio das coisas de Deus
|
Me dirijo a vós que achaste uma fonte de ganho desonesto
ao comercializar a Palavra de Deus, os ensinamentos doutrinais, os
testemunhos dos irmãos e outras coisas que tratam ainda assuntos escriturais.
Vós percebestes que vos podíeis tornar ricos fazendo também este tipo
de comércio, e vos pusestes a fazê-lo. Não demorastes a pôr à venda também
as coisas santas por amor do lucro; sim, porque o que vos levou a pôr
à venda os Escritos sagrados, os vossos escritos ou os escritos dos outros
não foi mais do que o amor pelo dinheiro. Tornaste-vos idólatras, porque
levantastes no vosso coração o ídolo do dinheiro, pondo diante de vós
o tropeço que vos faz cair na vossa iniquidade. Enganais os irmãos simples
e inconstantes nos seus caminhos fazendo-lhes crer que o que fazeis o fazeis
para a edificação da igreja. Certo, as Escrituras, os testemunhos edificantes
e os sãos ensinamentos contribuem sem sombra de dúvida para a edificação
dos crentes; mas nós não nos opomos à verdade, "porque nada podemos contra
a verdade" (2 Cor. 13:8) mas nos opomos ao vosso modo de agir que não é
conforme a justiça. |
Com a desonestidade do vosso comércio profanastes
o santuário de Deus; com o vosso comércio vos tornastes ricos e altivos;
vos tornastes famosos e poderosos, mas não por agir com fidelidade,
com efeito, as vossas casas estão cheias de engano. Espreitais por todos
os cantos procurando alguma alma a quem poder arrancar a pele e comer
a carne. Sois impiedosos; o sei, por fora pareceis pessoas piedosas
mas a vossa é uma falsa piedade, na verdade tendes só aparência de piedade
porque negastes o poder dela. Sim negastes o poder da piedade, porque
para vós a piedade com contentamento das coisas que se têm é só uma
perda e não um grande ganho como diz a Escritura. As vossas obras injustas
falam claro, é inútil portanto que procureis justificar com palavras
fingidas o vosso lucrativo e desonesto comércio. |
Vos exorto a vos arrependerdes; sim, porque vos
deveis converter dos vossos maus caminhos e voltar para o Senhor com todo
o vosso coração. Deixai de pôr à venda a Palavra de Deus para que a doutrina
de Deus não seja mais blasfemada por vossa causa. Até agora, na verdade,
o vosso modo de agir não fez mais do que induzir muitas pessoas a blasfemarem
a doutrina de Deus. É hora de compreenderdes o dano que tendes perpetrado
com a vossa conduta; é hora de dardes ouvidos à Palavra de Deus e começardes
a dar de graça a Palavra de Deus, porque Deus quer isso. |
Não persistais nesta coisa má aos olhos de Deus
porque buscareis o mal para vós mesmos. O Juiz está à porta, e vos retribuirá
segundo as vossas obras, como mereceis, se não vos arrependerdes. |