Capitulo 6 O
purgatório e doutrinas coligadas |
O PURGATÓRIO |
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A doutrina
dos teólogos papistas |
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O
purgatóro é um lugar de tormento para onde vão os que morrem em graça, para
expiar a pena devida pelos seus pecados. A igreja
vem em ajuda das almas que estão nele com o sufrágio, para que as suas penas
sejam aliviadas e sejam libertadas do purgatório. A missa oferecida sobre o
altar privilegiado tem o poder de fazer sair logo a
alma do purgatório. A razão faz-nos sentir a necessidade de um purgatório;
quem pode estar tão santo e puro no acto da morte a
poder ir logo para o paraíso? A Enciclopédia
Católica definiu o purgatório assim: ‘Estado ultraterreno, duradouro até
ao último julgamento, em que as almas daqueles, que morreram em Graça, mas
com imperfeições ou pecados veniais ou penas temporais a pagar pelos pecados
graves perdoados, expiam e se purificam antes de entrar no paraíso’ (Enciclopédia
Católica, vol. 10, 330). É bom precisar que segundo o que ensina a igreja romana actualmente sobre o purgatório, as almas
que estão neste lugar sofrem sim penas intensíssimas para expiar as dívidas
que têm para com Deus, mas ela mesma não sabe dizer em que consistem
precisamente estas penas e nem se entre elas esteja o fogo. Perardi assim se
exprimiu: ‘As almas no Purgatório sofrem a privação
de Deus e outras penas até que tenham satisfeito em tudo as dívidas que têm
com a justiça de Deus (...) Não
sabemos exactamente quais são as outras penas que, além da privação de Deus,
se sofrem no Purgatório. Alguns pensam que tais penas sejam semelhantes às do
Inferno (...) Não sabemos no que é que elas consistem, e nem se entre
elas esteja o fogo’ (Giuseppe Perardi, op. cit.,
pag. 172, 175). A Enciclopédia Católica
afirma de qualquer modo que segundo a doutrina comum dos teólogos católicos
no purgatório se padecem ‘sofrimentos causados pelo fogo’ (Enciclopédia
Católica, vol. 10, 337). Mas como fazem os teólogos romanos para
sustentar o purgatório com as sagradas Escrituras? Principalmente
(porque como veremos em seguida eles tomam outras passagens da Escritura)
mediante estas palavras de Paulo: "Segundo a graça de Deus que me foi
dada, pus eu, como sábio arquitecto, o fundamento, e outro edifica sobre ele;
mas veja cada um como edifica sobre ele; porque ninguém pode pôr outro
fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se
alguém sobre este fundamento edifica ouro, prata, pedras preciosas, madeira,
feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na
verdade o dia de Cristo a declarará porque pelo fogo será descoberta e o fogo
provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que
alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o
tal será salvo, todavia como que pelo fogo" (1 Cor. 3:10-15).
Segundo os teólogos papistas este "será salvo, todavia como que pelo
fogo" significa que o justo depois de ter penado no purgatório por um
certo tempo, será salvo no paraíso de Deus, porque o fogo purificador o terá
purificado de todo o resíduo de pecado. E para sustentar esta sua
interpretação eles tomam diversos seus pais entre os quais Agostinho de
Hipona que disse: ‘Segundo esta opinião, no
intervalo de tempo que corre da morte deste corpo até chegar o dia em que
acontecerá a ressurreição dos corpos - dia do extremo juízo no qual se
pronunciará a sentença do prémio ou do castigo - as almas dos defuntos que,
durante a sua vida terrena, não tenham tido costumes e afectos tais a merecer
ser consumidos como madeira, feno e palha, não sofrerão o fogo que queimará
aquelas almas que não viveram de tal modo. Estas serão afligidas pelo fogo de
uma tribulação passageira que queimará as construções de madeira, feno e
palha, não merecedoras de eterna condenação; e as queimará ou sobre esta
terra, ou aqui em baixo e no além, ou só na outra vida. A
esta opinião não me oponho porque possivelmente é uma opinião verdadeira’
(Agostinho de Hipona, A cidade de Deus, Livro XXI, cap. XXVI) [1]. |
As almas que estão no
purgatório podem ser ajudadas pelos vivos. O catecismo da igreja romana
afirma de facto: ‘Podemos socorrer e também
libertar as almas das penas do Purgatório com os sufrágios ou seja com
orações, indulgências, esmolas e outras boas obras, e sobretudo com a santa Missa
(...) O fruto destas obras, aplicado às almas do Purgatório, toma o nome
de sufrágio, porque sufraga, isto é, alivia as penas das almas do
Purgatório e apressa a libertação delas’ (Giuseppe Perardi, op. cit.,
pag. 172, 173). Em outras palavras aos Católicos romanos é dito que com as
orações, as esmolas, as indulgências, as boas obras e sobretudo com a missa
eles concorrem para pagar as dívidas que as almas dos defuntos devem expiar no purgatório. Este sufrágio é muito sentido pelos
Católicos romanos sobretudo a 2 de Novembro que é a festa dos mortos; uma
festa que tem mil anos tendo sido instituída em 998
por Odilon abade de Cluny o qual se distinguia pelo seu zelo em orar pelas
almas do purgatório. Para sustento deste chamado sufrágio, os teólogos romanos
tomam diversas citações dos chamados pais entre as quais estas de Agostinho: ‘Devemos admitir que as almas dos traspassados podem
receber algum alívio pela piedade dos parentes, quando por elas oferecem o
santo Sacrifício do Mediador, ou distribuem esmolas aos pobres. Mas estes sufrágios aproveitarão somente
aos que, durante a sua vida, mereceram que estas boas obras possam lhes ser
aplicadas. (...) Para os que podem ser proveitosos, eles tiram esta vantagem
deles: ou recebem plena e inteira remissão das suas culpas, ou certamente
algum alívio no rigor das suas penas’ (Agostinho de Hipona, Enchiridion,
cap. CIX). E sobretudo a seguinte passagem dos Macabeus onde é dito que Judas
Macabeu mandou oferecer um sacrifício pelos pecados de alguns Judeus mortos
em batalha (sob cujas túnicas foram encontrados ‘objectos consagrados aos
ídolos de Jâmnia’) (cfr. 2 Macabeus 12:38-40): ‘Por isso, mandou oferecer um
sacrifício pelo pecado dos que tinham morrido, para que fossem libertados do
pecado’ (2 Macabeus 12: 45). |
O altar privilegiado, diz a
Enciclopédia Católica, ‘é aquele que goza do indulto da indulgência
plenária, a aplicar-se ao defunto pelo qual se celebra a Missa’ (Enciclopédia
Católica, vol. 1, 925). Do altar privilegiado gozam os
cardeais e aqueles aos quais foi concedido pelo papa. Na prática isto
significa que todas as missas celebradas num destes altares liberta uma alma
do purgatório. ‘... todos os altares são privilegiados no
dia da comemoração dos defuntos’ (Lessico universale italiano, vol. 1,
Roma 1968, pag. 464). |
Mas qual é o fim desta doutrina do purgatório? O de tranquilizar os pecadores fazendo-lhes crer que também
depois de mortos poderão ser purificados dos seus pecados e aceder depois
desta purificação ao paraíso [2].
Eis como o teólogo Perardi procura tranquilizar os Católicos romanos falando
do purgatório no seu Novo Manual do Catequista: ‘Também
a razão nos faz sentir a necessidade do Purgatório. Nada manchado pode entrar
no Paraíso. Ora, quantas almas se guardaram do pecado
mortal, mas todavia se carregaram de pecados veniais; quantas almas
convertidas, levadas pelo hábito, recaíram em culpas graves, das quais se
confessaram, mas não puderam fazer penitência delas; quantas almas se
arrependeram somente no momento da morte! Elas não podem entrar logo
no Paraíso. Deverão ser excluídas para sempre dele e ir para o Inferno? Se não existisse o Purgatório, a justiça de Deus nos
pareceria demasiado assustadora; poderemos esperar nos encontrar, no momento
da morte, tão puros, tão santos de forma a merecer logo o Paraíso? - A
misericórdia de Deus nos pareceria demasiado escassa, demasiado limitada pois
nunca poderia receber no céu as almas rés mesmo só
de culpas veniais’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 175). |
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História |
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As origens desta doutrina do
purgatório são antigas; ela de facto foi inventada primeiramente por Platão
quatrocentos anos antes da vinda de Cristo (este filósofo cria também
na reencarnação). Este filósofo dividia as almas em três categorias; na
primeira estavam as almas justas que eram imediatamente recebidas nas ilhas
dos bem-aventurados; na segunda estavam as almas dos sacrílegos, dos
homicidas e dos outros maus que eram imediatamente condenadas aos suplícios
eternos no Tártaro; à terceira categoria pertenciam
as almas dos que não tinham sido suficientemente justos para serem admitidos
nas ilhas dos bem-aventurados, nem suficientemente maus para serem condenados
eternamente. Tais almas, segundo Platão, eram condenadas por um maior ou um
menor tempo a diversas penas, segundo a qualidade dos seus pecados, até
estarem purificadas para serem admitidas nas ilhas dos bem-aventurados. Esta
doutrina platónica foi depois tomada pelo poeta Virgílio e
embelezada. Também Orígenes (um dos chamados pais da igreja) sustentava o
purgatório, de facto, ele dizia que todos deverão passar pelo fogo antes de
ser admitidos no céu. O purgatório de Orígenes porém
era diferente do actual da igreja romana porque ele era para todos os homens,
ou seja, tanto para os justos como para os pecadores (porque para ele todos
os homens um dia seriam salvos), enquanto o purgatório católico é só para os ‘justos’; e depois ele se iniciava no fim do mundo
enquanto o católico romano já existe no além e durará até ao dia do juízo. A doutrina do purgatório foi depois sustentada por Agostinho de
Hipona, e também por Gregório Magno o qual, na sua obra literária Os
diálogos fala explicitamente do purgatório tomando
passagens da Escritura entre as quais a de Paulo aos Coríntios: "... mas
o tal será salvo, todavia como que pelo fogo" (1 Cor. 3:15). Mas segundo ele o purgatório se encontrava na terra.
No livro quarto conta uma história, que ele diz tê-la ouvido de ‘grandes
homens sábios e antigos’ segundo a qual um certo diácono de nome Pascasio
durante o cisma que por alguns anos (a partir de 498) opôs dois papas, Símaco
e Lourenço, alinhou pela parte do ‘falso’ papa
Lourenço. E muito tempo depois de ter morrido, um certo
Germano, bispo de Cápua foi curar-se às termas Angolanas (nos Abruzzi), após
conselho dos médicos; e aqui com grande admiração encontrou Pascasio
que servia os que ali se banhavam. À pergunta porque se encontrava ali, este
Pascasio respondeu: ‘Por nenhuma outra causa estou
deputado neste lugar penal, senão porque demasiado pertinazmente defendi a
parte de Lourenço contra Símaco’. E lhe disse de
orar por ele e que se voltando ali não o encontrasse significaria que tinha
sido atendido. Germano, movido de compaixão, orou muito por
ele e poucos dias depois voltou àquelas termas e não encontrou lá Pascasio.
Gregório acrescenta depois que se Pascasio pôde ser purgado do seu pecado
após a morte foi porque tinha pecado por ignorância, e porque o tinha
merecido com as suas muitas esmolas que fez quando vivo! Foi justamente este
papa Gregório I a instituir por volta do ano 593
esta doutrina na igreja romana. Apesar de depois no curso dos séculos
sucessivos o purgatório ter sofrido transformações ele foi definido dogma
primeiro pelo concílio de Florença em 1439 [3],
e depois pelo de Trento em 1563 nestes termos: ‘A
Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, conforme as sagradas
escrituras e a antiga Tradição, ensinou nos sagrados Concílios e recentemente
também neste Concílio Ecuménico, que existe o purgatório, e que as almas que
nele estão detidas são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, e de modo
particularíssimo com o santo sacrifício do altar, prescreve o santo Concílio
aos bispos que façam com que os fiéis mantenham e creiam a sã doutrina sobre
o purgatório, aliás transmitida pelos santos Padres e pelos Sagrados
Concílios, e que a mesma doutrina seja pregada com diligência por toda parte’
(Concílio de Trento, Sess. XXV, decreto sobre o purgatório). |
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Confutação |
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O purgatório não
existe; os mortos vão ou para o céu com o Senhor se estão salvos ou para o
inferno em tormentos se estão perdidos |
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Jesus Cristo no seu
ensinamento nunca deixou entrever que além do paraíso e do inferno haja um
terceiro lugar, ou seja, um caminho intermédio entre os dois, de facto ele
disse: "Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o
caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque
estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a
encontrem" (Mat. 7:13,14). Portanto só há dois
caminhos, e eles são o caminho da perdição e o
caminho da salvação. Os que estão sobre o primeiro, estando
cheios de pecados, quando morrem vão para o Hades em tormentos, para ali
serem atormentados à espera do juízo (cfr. João 5:29;
Dan. 12:2; Ap. 20:12-15).
Para eles que morrem nos seus pecados, não resta mais alguma esperança
conforme está escrito: "Pois qual é a esperança
do ímpio, quando Deus o cortar, quando Deus lhe arrebatar a alma?" (Jó
27:8), e também: "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo
depois disso o juízo" (Heb 9:27), e ainda: "Os ímpios irão para o
Sheol" (Sal. 9:17; cfr. Lucas 16:22-31; Is. 5:14). Por isso é
verdadeiramente diabólico por parte da cúria católica romana fazer as pessoas
crer no purgatório, porque assim fazendo ela não induz os pecadores (os seus
batizados e crismados que se confessam regularmente ao padre, que segundo ela
estão em graça) a arrepender-se e a crer em Cristo como prescreve a Palavra
de Deus (cfr. Lucas 13:1-5), porque faz-lhes crer
que também depois de mortos terão modo de serem purgados dos seus pecados e
aceder ao paraíso. (De facto, se por exemplo não se arrependem dos seus
pecados veniais terão modo de expiá-los no
purgatório, e se cometem pecados mortais e os confessam ao padre sem sentir a
necessidade de abandoná-los ou sem ter a força de abandoná-los, terão sempre
modo de se purgarem no purgatório). Os que pelo contrário estão sobre o
segundo caminho, sobre o da salvação, quando morrem vão logo habitar com o
Senhor no céu. E nós
estamos entre estes pela graça de Deus. O Católico romano dirá: ‘Mas como fazeis para estar tão seguros que quando
morrerdes ireis logo para o paraíso? O estamos
porque fomos aspergidos com o sangue de Jesus conforme está escrito que fomos
eleitos também "para a..aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Ped.
1:2), e fomos purgados de todos os nossos pecados
pelo sangue de Cristo Jesus conforme está escrito que ele "em seu sangue
nos lavou dos nossos pecados" (Ap. 1:5). E além
disso porque como diz João "se andarmos na luz, como ele na luz está,
temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos
purifica de todo pecado" (1 João 1:7). Eis por que temos a certeza de estar salvos e de ter a vida
eterna e que quando morrermos iremos logo para o paraíso, sem fazer paragem
alguma em nenhum purgatório, porque os nossos velhos pecados nos foram
purgados plenamente com o sangue de Cristo, e os nossos pecados que
confessamos ao Senhor nos são purgados plenamente ainda pelo sangue de Cristo.
‘Mas isso é presunção!’ dirá a este ponto o Católico
romano. De maneira nenhuma, porque há diversas Escrituras que testificam
claramente que os que morrem em Cristo vão logo habitar no
céu com Jesus. |
As almas daqueles que foram mortos por causa da
Palavra de Deus que João viu, estavam debaixo do altar no céu diante do trono
de Deus; eis como se exprime João: "Vi debaixo do altar as almas dos que
tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que
deram..." (Ap. 6:9). |
Paulo disse que para ele a morte era ganho, de
facto, ele tinha o desejo de partir e de estar com Cristo porque era coisa de
longe muito melhor. Eis as suas palavras: "Porque para mim o viver é
Cristo, e o morrer é ganho… Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo
desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é
ainda muito melhor; mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na
carne" (Fil. 1:21,23). De certo se o apóstolo tivesse
que ir antes para um purgatório sofrer penas atrozes não consideraria a sua
morte um ganho mas uma perda. |
E ainda Paulo disse
aos Coríntios que ele e os seus cooperadores tinham confiança e desejavam
antes deixar o corpo e habitar com o Senhor: "Mas temos confiança e
desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor" (2 Cor. 5:8). Mas dizei-me: como poderiam aqueles homens desejar
assim tanto a partida do seu corpo se tivessem crido num purgatório para onde
iam expiar mediante atrozes sofrimentos as suas dívidas insolúveis? Isto
demonstra que eles de modo algum criam no
purgatório. |
No livro do Apocalipse
se lê: "E ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Bem-aventurados os
mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que repousem dos seus trabalhos, pois as suas
obras os seguem" (Ap. 14:13). Portanto o Espírito da verdade testifica
que os que morrem na graça são bem-aventurados porque repousam dos seus
trabalhos no céu. Isto exclui que eles se encontrem num purgatório a expiar
as suas dívidas mediante sofrimentos atrozes pouco inferiores aos do inferno;
porque neste caso não seriam mais felizes mas sim infelizes porque em vez de
repousar dos seus trabalhos estariam sofrendo penas atrozes para punição das
suas dívidas. Mas infelizmente existe também o espírito do erro neste
mundo e ele diz que para os mortos em Cristo há um
purgatório depois da morte. |
Mas prossigamos com a confutação do purgatório.
Jesus disse: "Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida" (João 5:24), e Paulo disse aos Romanos:
"Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus" (Rom. 8:1). Portanto se para aqueles que
estão em Cristo não há nenhuma condenação e Jesus disse que eles não entram
em juízo é contraditório pensar que depois de mortos antes de entrar no reino
de Deus eles necessitarão de ir para um purgatório
satisfazer as dívidas que lhes restam para com a justiça de Deus. Porquê?
Porque isto seria um contra-senso dado que no
purgatório, segundo o catecismo romano, se vai para ser condenado, ainda que
por um tempo e não para sempre, a penas atrozes para expiar as dívidas
contraídas para com Deus! E a propósito destas chamadas dívidas que a cúria
romana afirma que se devem expiar no purgatório nós
dizemos: ‘Mas se, segundo a Escritura, Deus cancela ao homem que vai a ele
confessar-lhe os seus pecados tanto os pecados como a pena eterna que ele
merece não é diabólico afirmar que ele tem de ir depois de morto expiá-las
num lugar de sofrimento?’ Certamente que o é. Mas não para os teólogos
romanos que cegados pelo diabo têm prazer em ensinar coisas contrárias à sã
doutrina. Afirmar que uma pessoa justificada por Deus quando morre tem que
passar pelo purgatório para pagar as dívidas contraídas para com a justiça de
Deus é o mesmo que dizer que um condenado a prisão perpétua
se é agraciado e lhe é cancelada a sua pena, tem que continuar a ficar na
mesma na prisão por alguns anos a sofrer para expiar as suas culpas depois
poderá sair do cárcere! |
Nós afirmamos, nos apoiando na sagrada
Escritura, que ao pecador quando lhe são perdoados todos os seus pecados lhe
é anulada a pena eterna e não lhe fica por pagar alguma culpa nem neste mundo
e nem no que há de vir porque Cristo pagou todo o
preço do resgate da sua alma. Para os que foram justificados pelo sangue de
Cristo não restam mais dívidas a pagar porque Cristo sobre a cruz expiou
todas as suas dívidas. Sabemos bem que o concílio de Trento lançou a seguinte
maldição contra os que afirmam isto (contra nós portanto):
‘Se alguém disser que, depois de ter recebido a graça da justificação,
a todo pecador penitente, é perdoada a culpa e cancelada a dívida da pena
eterna de tal modo que não lhe fica alguma dívida de pena temporal a pagar,
seja neste mundo ou no futuro, no purgatório, antes que lhe possam ser
abertas as portas para o reino dos céus: seja anátema’ (Concílio de Trento,
Sess. VI, can. 30) [4]. Mas que
importa irmãos? Nós sabemos em quem temos crido e
estamos persuadidos que aquele que nos lavou dos nossos pecados e nos fez a
promessa da vida eterna não pode ter mentido. Continuaremos a gloriar-nos no
Senhor por causa da total purgação dos nossos velhos pecados operado pelo
sangue de Cristo, e por causa da vida eterna que ele nos doou na sua graça;
lancem os seus anátemas os concílios, nós cremos na Palavra de Deus que
testifica que quando os justos (ou seja os justificados pela graça de Deus)
morrem vão logo para o paraíso com o Senhor Jesus, porque têm as suas vestes
plenamente limpas pelo sangue do Cordeiro. A Cristo Jesus
seja a glória eternamente. Amen. |
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Explicação das palavras de Paulo: "Será salvo, todavia como que
pelo fogo " |
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Paulo disse aos Coríntios:
"Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquitecto,
o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre
ele; porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o
qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento edifica ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a
obra de cada um se manifestará; na verdade o dia de Cristo a declarará porque
pelo fogo será descoberta e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse
receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar,
sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo, todavia como que pelo fogo"
(1 Cor. 3:10-15). |
Como vimos segundo os teólogos papistas este
"será salvo, todavia como que pelo fogo" significa que o justo
depois de ter penado no purgatório por um certo tempo, será salvo no paraíso
de Deus, porque o fogo purificador o terá purificado de todo o resíduo de
pecado. E como também vimos, para sustento desta
interpretação eles citam Agostinho de Hipona. Dilectos, guardai-vos
desta enganadora interpretação, porque estas palavras de Paulo não se referem
de modo algum a um fogo purificador existente em
algum lugar do mundo invísivel onde as almas dos homens vão para serem
purificadas dos seus pecados para poder depois aceder ao paraíso, mas ao fogo
do dia de Cristo o que é uma outra coisa. Damos a
explicação destas palavras de Paulo. O apóstolo tinha
pregado o Cristo em Corinto e muitos a seguir à sua pregação creram no
Senhor, depois foram batizados. Foi ele portanto a pôr o fundamento
(Cristo Jesus) daquela casa espiritual (a igreja) de
Corinto. Mas depois dele a Corinto tinham chegado outros que tinham pregado e ensinado, ou seja, que tinham edificado material sobre o
fundamento por ele posto. E ele a este propósito diz
a cada um para cuidar de como edifica sobre o fundamento porque antes de tudo
ninguém pode tirar o fundamento que é Cristo Jesus para pôr outro; e depois
porque no dia de Cristo será galardoado só o trabalho empregue para edificar
ouro, prata e pedras preciosas (doutrinas verdadeiras) porque estas coisas na
prova do fogo permanecerão; enquanto o trabalho empregue para edificar
madeira, feno, e palha (doutrinas estranhas) não será premiado porque este
material será queimado no impacto pelo fogo, e aquele que edificou este
material vão será salvo, porém como que pelo fogo. Em conclusão, no dia de Cristo o fogo fará a prova daquilo que um crente
edificou, e tudo o que de bom e de justo ele disse e fez subsistirá e obterá
o seu galardão, enquanto o que é sem valor e que ele edificou será queimado
pelo fogo e por isso não obterá nenhum galardão. Ele passará como que pelo
fogo, mas será salvo. |
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Explicação de outras passagens tomadas para sustentar o
purgatório |
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Na Escritura de modo nenhum é
revelada a doutrina do purgatório, mas os teólogos papistas conseguem fazer
parecer a multidões de pessoas que a doutrina do purgatório está na
Bíblia. Como vimos pouco atrás,
uma das passagens tomadas pelos teólogos romanos para sustentar o purgatório
é aquela de Paulo aos Coríntios; mas esta passagem não deixa entrever o
mínimo purgatório católico. Mas há também outras passagens da
Escritura que eles tomam para sustentar esta heresia de perdição. |
Uma destas é esta escrita em Mateus: "Se
alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso
lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será
perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro" (Mat. 12:32).
Mas eu me pergunto: ‘Mas onde está o purgatório
aqui?’ Ele não se entrevê minimamente. Jesus apenas diz que aquele que
blasfema contra o Espírito Santo "nunca mais terá perdão, mas será réu
de pecado eterno" (Mar. 3:29), e os teólogos
lhe fazem dizer que há pecados que se devem expiar no purgatório! Esta é
astúcia diabólica! Mas ponhamos mesmo o caso de haverem pecados perdoados no mundo vindouro, antes de mais por mundo vindouro Jesus
não entendeu o purgatório, e depois segundo a doutrina do purgatório quem
morre em graça vai sofrer penas graves para expiar as suas dívidas, portanto
é condenado a um suplício e não perdoado! |
Uma outra passagem é esta: "Concilia-te
depressa com o teu adversário, enquanto estás no
caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz,
e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não
pagares o último ceitil" (Mat. 5:25,26).
Segundo os teólogos romanos este "não sairás dali enquanto não pagares o
último ceitil", significa que da prisão do purgatório (que Bartmann
preferiu chamar ‘uma casa de tratamento, onde os
doentes esperam com paciência completa cura’ [Bernardo Bartmann, Il
Purgatorio, Milano 1934, pag. 110]) onde os que morrem em graça são
lançados pelo Juíz por ordem do adversário que é Deus; eles não sairão
enquanto não pagarem todas as suas dívidas que têm em relação a Deus. Mas
esta é a enésima interpretação arbitrária dada pelos
teólogos romanos. As palavras de Jesus referem-se antes de tudo a litígios
entre irmãos porque antes de dizer aquelas palavras ele disse:
"Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que
teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta,
e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua
oferta" (Mat. 5:23,24). Portanto, se um irmão
tem alguma coisa contra nós porque nós lhe fizemos um agravo, antes de
oferecer os nossos sacrifícios espirituais a Deus devemos ir ao irmão ofendido
e pedir-lhe perdão para nos reconciliarmos com ele. Porque
se não fazemos assim Deus nos punirá pelo agravo cometido contra ele e nos
fará pagar esta nossa dívida que contraímos com o irmão até ao último
ceitil. Não a perdoará mas a fará pagar pela nossa obstinação. Mas isto acontecerá na terra, e não em algum lugar de sofrimento
que não é o inferno e que se encontra nas vísceras da terra ou por alguma
outra parte. |
Uma outra passagem para sustentar o purgatório
é esta escrita em Zacarias: "Ainda quanto a ti,
por causa do sangue do teu pacto, libertarei os teus presos da cova sem
água" (Zac. 9:11). Mas também
aqui se deve dizer que não há a mínima alusão ao purgatório da igreja
católica romana. Neste caso o Senhor predisse que faria sair das
terras estrangeiras os Israelitas que estavam em cativeiro para os fazer
voltar à sua terra; de facto ainda em Zacarias o Senhor diz: "Eis que
salvarei o meu povo, tirando-o da terra do oriente e da terra do ocidente; e
os trarei, e eles habitarão no meio de Jerusalém..."
(Zac. 8:7,8). Estas palavras podem ter também o
seguinte significado espiritual; o Senhor prometeu a
Israel libertar os seus presos do pecado em virtude do sangue do Novo Pacto,
ou seja em virtude do sangue de Cristo. Ele prometeu libertá-los da cova sem
água onde eles se encontram. |
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Saber que o purgatório não existe em nada nos faz parecer demasiado
limitada a misericórdia de Deus e demasiado assustadora a sua justiça |
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Em resposta ao discurso que Perardi faz para
persuadir as pessoas que se não existisse o purgatório a misericórdia de Deus
seria demasiado limitada e a sua justiça demasiado assustadora pelo motivo
que muitas almas tendo morrido apenas com pecados veniais não podem ser
enviadas por Deus para o inferno, como também não podem ser enviadas por Deus
para o inferno as almas que se tendo confessado ao padre no momento da morte
não puderam fazer penitência, queremos dizer as seguintes coisas. Antes de
tudo começamos por dizer que esta distinção entre pecados ‘veniais’
(perdoáveis) e pecados ‘mortais’ que fazem os teólogos católicos romanos é
uma doutrina falsa e muito danosa porque induz os pecadores (os batizados e
crismados que se confessam ao padre e tomam regularmente a comunhão são ainda
tais) que não cometem determinados pecados, isto é, os chamados mortais, e
aqueles que os cometem e os vão confessar ao padre, a crer que depois de
mortos terão a possibilidade depois de serem purgados no purgatório de entrar
no paraíso à diferença daqueles que os cometem e não os confessam ao padre os
quais irão para o inferno; os padres pois ensinando esta doutrina iludem além
de eles mesmos também os outros pecadores. Mas nós, que procuramos não iludir
ninguém mas de dizer a verdade em todas as coisas, dizemos que segundo a Escritura se quem está debaixo do pecado recusa crer no
Filho de Deus (e portanto não nasce de novo) será condenado (e isto mesmo se
ele não é um feiticeiro, um homicida, um adúltero ou um fornicador, mas um
religioso dedicado aos ritos da sua religião - neste caso da igreja católica
romana). Não importa a quais pecados ele é dado, se ele não crê em Cristo
Jesus irá em perdição, de facto João Batista disse que "aquele que não
crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus
sobre ele permanece" (João 3:36) e Jesus que "quem não crer será
condenado" (Mar. 16:16). |
Ninguém vos engane porque não importa que
género de pecados tem o pecador; se ele morre nos seus pecados irá para o inferno sem a mínima possibilidade de ser salvo
pelo Senhor! Para falar à maneira dos Católicos, não vai
para o paraíso nem o Católico praticante ou não que comete apenas pecados
veniais (como os chamam eles) ou comete os mais graves e os confessa ao
padre, e nem quem comete pecados mortais (como os chamam eles) e não os
confessa ao padre, porque todos estão mortos nas suas ofensas e nas suas
transgressões, cheios de iniquidade na presença de Deus. Todos devem
arrepender-se dos seus pecados e crer no Evangelho
enquanto estão vivos sobre a terra; em caso contrário, quando morrerem o que
os espera, é o ardor do fogo do lugar dos mortos! Não há nenhum purgatório
para quem cometeu só pecados ‘veniais’ mas só o
tormento do fogo do inferno, como também para quem cometeu pecados ‘mortais’
e morre com ou sem a confissão auricular. Seja posta de lado pois esta
distinção entre pecados! O pecado é pecado, e o seu salário
é a morte: e quem o comete é escravo dele e não pode entrar no Reino de Deus.
Mas também pode ser libertado dele: como? Arrependendo-se e
crendo no nome do Filho de Deus; então sim poderá entrar no Reino dos céus.
Em caso contrário, quando morrer para ele não se abrirão as portas do céu mas
se abrirá a boca do lugar dos mortos para engoli-lo junto com os seus pecados
que pesam sobre ele. |
Perardi afirma que a misericórdia de Deus seria
demasiado escassa se não fizesse entrar no céu os
que não se fizeram culpados de somente transgressões ‘veniais’. Mas isto não
é verdade, porque não existem homens pecadores que merecem ir para o paraíso
depois de ter ido para o purgatório porque são réus de apenas determinados
pecados, porque todos merecem o inferno como salário da sua iniquidade. Todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus, diz a
Escritura, mas ainda a Escritura afirma que o nosso Deus é misericordioso e
aqueles a quem Deus faz misericórdia são justificados pela fé no sangue de
Cristo e por isso têm a certeza de ir directamente para o céu depois de
mortos. A misericórdia de Deus é grande, sim, e ela
se manifesta para com o homem pecador na terra salvando-o quando este se
converte dos seus maus caminhos; mas ela não se manifestará de nenhuma
maneira para com nenhum dos que morrem nas suas ofensas porque recusaram crer
no Filho de Deus. Não é pois porque a sua misericórdia é demasiado escassa ou
demasiado limitada que no céu não entrarão os
pecadores ‘dos pecados veniais’, mas porque a sua justiça é excelsa. Quem
pois despreza a benignidade de Deus sobre a terra não reconhecendo que ela o
leva ao arrependimento; quem a despreza porque quer seguir o seu coração
impenitente, saiba esse tal que está acumulando um tesouro de ira para o dia do juízo e que quando morrer irá onde há pranto e
ranger de dentes. Não se deixe enganar pelas palavras doces
e lisonjeiras dos padres porque o espera o inferno se não se arrepende.
Não importa se foi batizado em criança, se foi crismado, se toma a comunhão,
não importa se não é um adúltero ou um homicida ou um feiticeiro ou um bêbado
e se confessa ao padre todos os dias ou uma só vez por ano; se não se
arrepende de todos os seus pecados e crê com o seu coração no Evangelho
quando morrer irá para a perdição! |
Perardi diz também que se não
existisse o purgatório a justiça de Deus pareceria demasiado assustadora.
Nós, pelo contrário, dizemos que se existisse o purgatório
Deus seria não só injusto mas também se contradiria. Seria injusto porque
permetiria a uma categoria de pecadores entrar no
céu (mesmo se antes têm que ir para o purgatório) porque se fizeram culpados,
como dizem eles, só de determinadas culpas ‘veniais’ ou porque confessaram as
suas transgressões ‘mortais’ ao padre, enquanto à outra não lhe o consentiria
porque se fizeram culpados de culpas graves e morreram sem canfessá-las ao
padre! Em outras palavras no céu Deus não faria lá entrar os salvos, os
justificados com o sangue de Cristo, mas uma categoria de pecadores menos culpados
do que aqueles que antes irão para o inferno! Mas não logo, mas só depois de ter penado (não se sabe quantos anos,
séculos ou milénios) no purgatório. Portanto uma categoria de pecadores terá
a possibilidade de ser purgada das suas transgressões também depois de mortos
enquanto a outra não. A salvação portanto, se as
coisas fossem assim, se poderia obter somente não cometendo certos pecados e
não mais com o arrependimento e com a fé em Cristo. Bastaria dizer às
pessoas, não mateis, não cometais adultério, não blasfemeis e fazei alguma
boa obra e vereis que um dia entrareis no paraíso. Não seria portanto mais
verdadeira a Escritura que diz que quem confessa as
suas transgressões a Deus e as abandona obterá misericórdia (cfr. Prov. 28:13), porque também não confessando a Deus certos pecados
se obterá dele na mesma misericórdia. Eis por que muitos Católicos romanos se
iludem de poder entrar um dia no paraíso mesmo se pecadores: porque eles
pensam que no fundo não são assim tão pecadores a
merecer o inferno. Não são homicidas, adúlteros, feiticeiros, ou sodomitas
que o merecem!! Dissemos antes que
Deus se contradiria criando um purgatório: vejamos algumas contradições nas
quais cairia Deus se tivesse criado a doutrina do purgatório. Perardi diz que
as almas que se arrependeram no momento da morte não podem entrar logo no
paraíso porque não têm a possibilidade de fazer penitência (ou seja de fazer
as obras de satisfação). Mas nós dizemos: como fez então aquele ladrão
arrependendo-se sobre a cruz no momento da morte (e portanto impossibilitado
de fazer obras de satisfação) para entrar naquele mesmo dia no paraíso dado
que Jesus lhe disse: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
Paraíso" (Lucas 23:43)? O expliquem os teólogos romanos como fez um
homem que tinha sido condenado à crucificação porque era um malfeitor
(portanto com base na teologia papista tinha cometido pecados mortais), para
ir logo para o paraíso sem passar pelo seu purgatório! Porventura que Jesus
mentiu ao ladrão dizendo-lhe aquelas palavras, uma espécie de ‘mentira
oficiosa’, para tranquilizá-lo na sua agonia e não fazer-lhe pensar que tinha
que, antes de ir para o paraíso, ir sofrer no purgatório? De maneira nenhuma;
porque Jesus é a verdade. Ele falou àquele ladrão da parte de Deus. O dizemos
nós aos teólogos romanos por que é que aquele ladrão pôde entrar no paraíso
naquele mesmo dia logo depois que morreu; porque ele foi purificado
plenamente dos seus pecados pelo sangue de Cristo Jesus que ele estava
naquele momento derramando para a remissão também dos seus pecados. Aquele
homem se arrependeu e creu n`Aquele que justifica o ímpio; eis por que
recebeu de Jesus aquela resposta tão clara e tão consoladora. Para Jesus
portanto não existia um purgatório depois de mortos para os que se arrependem
dos seus pecados no momento da morte mas não podem fazer penitência; doutra
forma se contradiria ao dizer aquelas palavras àquele homem em fim de vida. Uma
outra contradição na qual Deus cairia é esta. Ele faria perceber aos que
tinham sido por ele justificados que o sangue do seu Filho não era suficiente
para os purgar plenamente na terra, portanto a sua justificação teria sido
parcial e não completa. E por isso a obra
expiatória de Cristo resultaria incompleta porque insuficiente para
justificar plenamente o homem que crê nele. Dizendo de
facto que os que morrem em Cristo ou na graça não podem ir logo para o
paraíso porque não podem estar tão santos e puros, isto é, não podem
estar privados de toda a mancha de pecado, Deus implicitamente negaria que o
sangue de Jesus seu Filho pudesse purificar o homem de toda a mancha de
pecado. Mas o facto é que também reconheceria que as penas do purgatório eram
mais eficazes do que o sangue de Cristo, porque o que não podia fazer o
sangue de Cristo sobre a terra o poderia fazer o fogo do purgatório, e isso seria um ultraje contra o sangue precioso de Cristo. E além disso Ele exigiria pela salvação do homem um duplo
pagamento; um primeiro pagamento por parte de Cristo Jesus e um segundo
pagamento por parte do crente n`Ele, o que contrasta abertamente com a sã
doutrina que afirma que o preço do resgate foi pago plenamente por Cristo o
qual pôde assim nos adquirir a redenção eterna. Não teríamos mais então em
Jesus um Salvador morto no nosso lugar, que com o
seu sacrifício vicário fez a purificação de todos os nossos pecados e os
plenamente expiou permitindo-nos assim entrar no céu imediatamente após a
morte, mas simplesmente um amigo que tinha feito o que era necessário para
nos fazer escapar aos tormentos eternos da geenna mas ao mesmo tempo não
tinha podido ou querido nos livrar dos tormentos temporários do purgatório.
Esses os teríamos nós que padecer depois de mortos; porque não era justo que
sofresse só ele pelos nossos pecados, também nós devíamos sofrer de algum
modo por eles para poder aceder ao paraíso!!! |
Perardi diz que se não existisse o purgatório a
justiça de Deus pareceria demasiado assustadora; nós dizemos pelo contrário
que a justiça de Deus é excelsa e perfeita precisamente porque Deus no mundo invisível não criou o purgatório mas o Hades (que
um dia porém cessará de existir porque os pecadores ressuscitados serão
lançados no fogo eterno, o outro lugar de tormento criado por Deus que espera
ainda receber os que para ele estão destinados) e o paraíso. Ele pune o homem
impenitente que segue a dureza do seu coração fazendo-o descer quando morre
nas chamas do Hades à espera do juízo, mas salva o
homem que se arrepende e crê nele (ainda que este possua defeitos e falhe em
muitas coisas) fazendo-o, quando morre, subir ao céu na glória, e isto porque
ele foi purificado de todos os seus pecados pelo sangue de Jesus e revestido
da justiça de Deus que está em Cristo Jesus. As coisas são muito claras e
perfeitamente justas. Mas por que é que os teólogos papistas falam desta
maneira tão lisonjeira? A razão pela qual eles dizem que se não existisse o
purgatório a justiça de Deus seria demasiado assustadora é porque eles mesmos
ainda não experimentaram a purificação de todos os seus pecados e a sua
consciência os acusa de serem pecadores perdidos e têm medo do juízo de Deus.
Nós estamos seguros de facto que se eles tivessem sido purgados dos seus
pecados pelo sangue de Cristo estariam seguros, como
o estamos nós, de irem para o paraíso à sua morte, e não lhes pareceria ‘demasiado
assustadora’ a justiça de Deus, sem o seu purgatório, mas lhes pareceria
assim como é, perfeita sem mancha. Pelo seu modo de falar transparece
claramente que eles têm medo da morte e do castigo e
procuram apagar este medo mediante o purgatório: mas ai de mim, o purgatório
não pode tirar de nenhuma maneira nem o medo da morte e nem o do castigo.
Porque este medo o pode tirar só o sangue de Jesus do qual eles ainda não
estão aspergidos. |
Estas aqui acima expostas são
as razões pelas quais nós dizemos que o purgatório não é uma doutrina de
Deus, mas apenas uma invenção humana brotada do entendimento carnal de
homens corruptos. O purgatório é uma doutrina de
demónios. |
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O sufrágio é uma
impostura papal que serve apenas para fazer enriquecer a cúria romana |
|
A Escritura, negando o
purgatório, nega também todos os sufrágios em favor dos que os teólogos
papistas dizem lá estar a expiar as suas dívidas, portanto este sufrágio vai
rejeitado sendo uma impostura ligada a uma outra impostura (vale dizer o
purgatório). Mas admitamos mesmo por um momento que o purgatório papista
exista; nunca leram os teólogos papistas que "cada qual levará a sua
própria carga" (Gal 6:5) e que ninguém "de
modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele" (Sal.
49:7)? Como podem portanto eles ensinar que os vivos
podem de alguma maneira oferecer a Deus um sacrifício expiatório pelos mortos
que estão no purgatório? e
qual seria depois este sacrifício? A missa. Mas se já para os vivos a missa
de modo algum constitui um sacrifício propiciatório como poderá sê-lo para os
mortos? Como podeis bem ver as imposturas (neste caso o purgatório com a
missa) estão bem coligadas entre si na teologia
romana [5]. |
O único sacrifício propiciatório que tem valor
é o feito por Jesus Cristo quando se ofereceu a si
mesmo sobre a cruz pelos nossos pecados; e ele foi feito uma vez para sempre
e portanto é irrepetível. E além disso ele só pode ser útil aos vivos, no sentido que só os vivos podem beneficiar dele, para
aqueles de facto que o aceitam há a remissão dos pecados assegurada pela
eternidade. |
Mas quanto aos que morreram nos seus pecados
este sacrifício não pode mais de algum modo servir tendo
caducado para eles o tempo em que podiam crer nele e serem assim perdoados. Eles morreram nos seus pecados e com os
seus pecados e por eles deverão sofrer pela eternidade. Nenhum chamado
sacrifício expiatório (que seja a missa, ou uma esmola, ou outro) oferecido
em prol deles por aqueles que ficam sobre a terra jamais poderá lhes servir
porque Deus não o terá em nenhuma conta. |
A
propósito das palavras tomadas do livro dos Macabeus em favor do sufrágio
papista dizemos as seguintes coisas. Antes de tudo deve ser dito que os
livros dos Macabeus não são Escritura inspirada por Deus embora figurem no
cânon das Bíblias católicas e por isso é errado tomar aquelas passagens para
sustentar o sufrágio pelos mortos. Depois deve ser dito que por aquilo que
concerne ao sacrifício mandado oferecer por Judas Macabeu, na lei de Moisés
não haviam sacrifícios a oferecer pelos pecados dos mortos, portanto mesmo
que Judas tenha feito esse gesto ele não se ateve à lei dos seus pais. O que faz nulo o seu gesto porque não prescrito pela lei
de Moisés dada por Deus ao seu povo. E portanto os
Católicos tomam para sustento do seu sufrágio nada mais que um gesto sem
valor de um Judeu. |
Termino dizendo que este sufrágio consegue
fazer só uma coisa, enriquecer os padres e toda a cúria romana porque as
missas a oferecer pelos defuntos os Católicos
romanos as devem pagar (ou melhor, devem fazer ofertas por elas). Por tudo isto se vê como a cúria romana recorre a tudo para
enriquecer, mesmo aos sentimentos de tristeza que provam os homens (que não
têm esperança) ao recordar dos seus queridos defuntos. E de facto os
padres fazem crer aos seus paroquianos que os seus defuntos se encontram no purgatório de onde podem ser libertados dos sofrimentos
mediante o seu dinheiro. O que constitui uma consolação para o povo enganado
e ao mesmo tempo uma fonte de ganho para eles mesmos enganados e enganadores. Também pois para os mortos os padres são
importantes, e não só para os vivos; para os mortos porque são eles que com a
missa aliviam as suas penas e os libertam do purgatório, para os vivos porque
são eles os intermediários de Deus na terra através dos quais se tornam
Cristãos e são perdoados!! |
Considerai irmãos por um momento com que
astúcia o papado consegue manter ligadas as pessoas a si!
Como é diferente antes a verdade que está em Cristo Jesus; os nossos parentes
que morreram em Cristo estão no céu com o Senhor e
lá esperam a ressurreição, e isto nos enche de consolação. Os
nossos parentes que, ao contrário, morreram nos seus pecados estão no inferno
em tormentos, e ainda que isto nos desagrade, nós não podemos fazer
mais nada em seu favor. |
Ó
homens e mulheres que destes ouvidos aos padres, deixai de mandar oferecer
missas pelos vossos parentes ou amigos mortos; elas de nada lhes podem valer. |
|
O testemunho de
um ex-padre sobre o sufrágio |
|
Disse pouco atrás que o
sufrágio que é constituído além de pelas orações também pela missa é
uma fonte de dinheiro para os padres e para cúria romana em geral. |
Para vos fazer compreender a que ponto chegaram
alguns padres desta igreja falsamente chamada cristã para fazer pagar as
missas aos seus paroquianos quero agora transcrever o eloquente testemunho de
um nosso irmão de nome Chiniquy morto há cerca de um século, que antes de se
converter tinha sido por longos anos sacerdote da igreja católica romana. Eis
as suas palavras: ‘Cerca das quatro da manhã gritos
chegaram aos meus ouvidos. Reconheci a voz da minha mãe. ‘O
que sucedeu cara mamã? ‘Oh, meu
pequeno menino, tu não tens mais um pai! Ele morreu! Dizendo estas
palavras ela perdeu a consciência e caiu ao chão! Enquanto um amigo que tinha
passado a noite connosco lhe deu a conveniente atenção, eu me
apressei ao leito de meu pai. Apertei-o ao meu coração, beijei-o, cobri-o com
as minhas lágrimas, movi a sua cabeça, apertei-lhe as mãos, procurei
levantá-lo sobre a sua travesseira: não podia crer que ele estava morto (...)
Ajoelhei-me para orar a Deus pela vida do meu pai. Mas as
minhas lágrimas e os meus gritos foram inúteis. ‘Ele tinha morrido!’
Estava já frio como o gelo! Dois dias após ele ter sido sepultado minha mãe
estava tão oprimida pela dor que não pôde seguir a procissão funerária. Eu fiquei com ela como seu único auxílio terreno. Pobre
mamã! (...) Apesar de ser então muito jovem, eu podia perceber a grandeza da
nossa perda, e misturei as minhas lágrimas com as da minha mãe. Que caneta
pode descrever o que acontece no coração de uma mulher quando Deus lhe tira
de repente o marido na flor da sua vida, e a deixa sozinha, mergulhada na
miséria, com três pequenas crianças das quais duas são até demasiado pequenas
para conhecer a sua perda! Como são longas as horas
do dia para a pobre viúva que foi deixada sozinha, e sem meios, entre os
estranhos! Como são dolorosas as noites sem dormir para o coração que perdeu
todas as coisas! Como é deixada vazia uma casa pela eterna
ausência daquele que era o seu chefe, o seu suporte e o seu pai! (...)
Oh, como são amargas as lágrimas que jorram dos seus olhos quando o seu mais
pequeno menino, que ainda não percebe o mistério da
morte, se lança nos seus braços e lhe diz: ‘Mamã, onde está o papá? Porque não volta? Eu me sinto só!’ A
minha pobre mamã passou essas provas. Eu ouvia os seus soluços durante as
longas horas do dia, e também durante as ainda mais longas horas da noite. Muitas
vezes a vi cair de joelhos para implorar a Deus de ser misericordioso para
com ela e os seus três infelizes orfãos. Não podia fazer mais que
confortá-la, amá-la, orar com ela! Tinham passado apenas poucos dias desde o
enterro de meu pai quando vi chegar a nossa casa Mr. Courtois o pároco (o que
tinha procurado levar-nos a Bíblia). Ele tinha a reputação de ser rico, e
dado que nós éramos pobres e infelizes desde que meu pai morreu, o meu
primeiro pensamento foi que ele tivesse vindo para nos confortar e nos
ajudar. Pude ver que minha mãe tinha as mesmas esperanças. Ela o recebeu como
um anjo do céu. (...) Pelas suas primeiras palavras porém pude compreender
que as nossas esperanças não se realizariam. Ele procurou ser compreensivo, e
disse até algo acerca da confiança que nós devemos ter em Deus, especialmente
nos períodos de prova; mas as suas palavras eram frias e áridas. Voltando-se
para mim, disse: ‘Continuas a ler a Bíblia, meu
pequeno rapaz? ‘Sim, senhor,’ respondi, com uma voz
tremente de ansiedade, porque temia que ele fizesse uma outra tentativa para
nos levar aquele tesouro, e eu já não tinha um pai para defendê-lo. Depois,
dirigindo-se à minha mãe, ele disse: - Eu te disse
que não era justo para ti e para o teu menino ler aquele livro’. Minha mãe baixou os olhos e respondeu apenas com as lágrimas que
corriam pelas suas faces abaixo. A pergunta foi seguida por um longo
silêncio, e o padre depois continuou: ‘Há algo a dar
pelas orações que são cantadas, e pelos serviços que tu pediste sejam
oferecidos para o repouso da alma do teu marido. Te
ficaria muito grato se tu me pagasses essa pequena dívida.’ ‘Mr. Courtois’, respondeu minha mãe, ‘meu marido
não me deixou nada mais que dívidas. Eu só tenho o trabalho das minhas mãos
para tentar viver com os meus três meninos, dos
quais o maior está diante de si. Por amor destes pequenos orfãos, se não pelo
meu, não nos leve o pouco que nos resta. ‘Mas tu não reflectes. Teu marido
morreu repentinamente sem nenhuma preparação; ele está portanto nas chamas do
purgatório. Se tu queres que ele seja libertado, deves necessariamente unir
os teus pessoais sacrifícios às orações da Igreja e às missas que nós
oferecemos’. ‘Como te disse, meu marido me
deixou absolutamente sem meios, e é impossível para mim dar-te dinheiro’,
replicou minha mãe. (...) ‘Mas as missas oferecidas
pelo repouso da alma do teu marido devem ser pagas’, respondeu o padre. Minha
mãe cobriu a face com o seu lenço e chorou. Pelo que me
respeita, eu desta vez não misturava as minhas lágrimas com as suas. Os meus sentimentos não eram de dor, mas
de raiva e de indescritível horror. Os meus olhos estavam fixos no rosto daquele homem que torturava o coração da minha
mãe (...) Depois de um longo silêncio minha mãe levantou os olhos,
avermelhados com as lágrimas, para o padre e disse: ‘Vês aquela vaca no
prado, não longe da nossa casa? O seu leite e a sua manteiga que produzimos
por ela formam a parte principal do alimento das
minhas crianças. Eu espero que tu não a leves. Se de qualquer modo, um tal
sacrifício deve ser feito para libertar do purgatório a
alma do meu pobre marido, toma-a como pagamento das missas a oferecer para
apagar aquelas chamas devoradoras’. O padre levantou-se no instante dizendo: ‘Muito bem’, e saiu. Os nossos olhos o seguiram
ansiosamente; mas em vez de se encaminhar para a pequena cancela que estava
diante da casa, ele se dirigiu para o campo, e guiou
a vaca diante dele na direcção da sua casa. Vendo aquilo eu gritei em
desespero: ‘Ó minha mamã! Ele está levando a nossa
vaca! Que será de nós?’ O senhor Nairn nos tinha dado aquela esplêndida vaca
quando ela tinha três meses (...) Eu a alimentava
com as minhas próprias mãos, e tinha muitas vezes dividido o meu pão com ela.
Eu a amava como uma criança ama sempre um animal que
ela fez crescer. Parecia também que ela me
compreendesse e me amasse. De qualquer distância que ela me
visse, corria para mim para receber as minhas carícias e alguma coisa que eu
pudesse ter para lhe dar. Minha própria mãe a mungia; e o seu rico leite era
tão delicioso e substancioso para nós. (...) Também minha mamã gritou de dor quando viu o padre levar os
únicos meios que o céu lhe tinha deixado para alimentar as suas crianças.
Lançando-me nos seus braços, eu
lhe perguntei: ‘Por que deste a nossa vaca? Que será de nós? Nós morreremos
seguramente de fome’. ‘Querido filho’, ela respondeu, ‘Eu não pensava que o padre
seria tão cruel de modo a levar-nos o último recurso que Deus nos tinha
deixado. Ah! se eu acreditasse que ele seria
assim tão impiedoso eu nunca lhe teria falado como fiz. Como tu dizes, meu querido filho, que será de
nós? Mas não me leste tu muitas vezes na tua
Bíblia que Deus é o Pai da viúva e do orfão? Nós oraremos
àquele Deus que está disposto a ser teu Pai e o meu; Ele nos ouvirá, e verá
as nossas lágrimas. Ajoelhemo-nos e peçamos-lhe de ser misericordioso
para connosco, e de restituir-nos a ajuda de que o
padre nos privou’. Nos ajoelhamos. Ela pegou a minha mão direita com a sua
esquerda, e levantando a outra mão para o céu, ela
ofereceu uma tal oração ao Deus das misericórdias pelas suas pobres crianças
como eu nunca mais ouvi desde então’ (Pastor Chiniquy, Fifty years in the
Church of Rome, [Cinquenta anos na Igreja de Roma] London 1908, pag.
39-42). |
As palavras de Chiniquy fazem
claramente perceber que esta diabólica doutrina do purgatório e do sufrágio
tem levado muitos padres a devorar até as casas das pobres viúvas. E o que se podia esperar de bom dela? |
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O altar
privilegiado é uma impostura |
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É supérfluo dizer que o altar
privilegiado é uma das imposturas de que se usa a cúria romana para se
apoderar do dinheiro das pessoas. Certo é que com base no poder que os
altares privilegiados têm o purgatório deveria estar vazio; mas as coisas não
estão assim porque o purgatório está ainda cheio de almas que esperam com
ansiedade que os seus amigos e os seus parentes façam esmolas e façam dizer
missas em seu favor! Portanto é do interesse dos papas
manter o purgatório sempre cheio. |
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O JUÍZO PARTICULAR |
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A doutrina
dos teólogos papistas |
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Logo após a morte a
alma de todo o homem sofre um juízo divino e é enviada com base no seu êxito
ou para o paraíso ou para o purgatório ou para o inferno. O catecismo
afirma: ‘O juízo particular é aquele
que a alma de todo o homem sofre, logo após a morte. Imediatamente
após ela se separar do corpo, se apresenta diante de Jesus Cristo, para
prestar contas da sua vida. É opinião de muitos piedosos escritores
que o juízo particular se realiza no próprio lugar
onde a pessoa vem a morrer; expirando, a alma encontra logo Jesus Cristo seu
juiz, a quem deve prestar contas de todas as suas obras (....) Após o
juízo particular, a alma, se está sem pecado e sem dívida de pena, vai para o
Paraíso; se tem algum pecado venial ou alguma dívida de pena, vai para o
Purgatório até que tenha satisfeito; se está em pecado mortal, como rebelde
inconvertível a Deus, vai para o Inferno’ (Giuseppe Perardi, op.
cit., pag. 166,170). |
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Confutação |
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Imediatamente
depois da morte não acontece nenhum juízo particular |
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Esta doutrina papista é falsa porque quando uma
pessoa morre seja ela um filho de Deus ou um filho do diabo, ela não vai
perante Jesus Cristo para ser julgado e portanto declarado absolvido no
primeiro caso ou condenado no segundo. Isto porque
Jesus disse em referência aos que crêem nele: "Quem ouve a minha
palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida
eterna e não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João
5:24), e também: "Quem crê nele não é julgado" (João 3:18);
enquanto para os que recusam crer nele disse: "Quem não crê, já está
julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (João 3:18).
|
Portanto, a pessoa quando morre se crente vai
logo no paraíso à espera de receber o prémio do seu trabalho (na
ressurreição), se incrédulo vai logo para o inferno
em tormentos à espera do juízo e da relativa condenação (que receberá ainda
na ressurreição); não há nenhum juízo particular que ela deve sofrer logo
depois de morta, porque no acto da morte ou já está julgado ou não é julgado.
Para concluir, pela fé a pessoa não é julgada mas
justificada desde a terra; sem a fé, ao contrário, a pessoa já está julgada
desde a terra. |
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O PECADO |
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A doutrina
dos teólogos papistas |
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Os pecados se
distinguem em veniais e mortais; os primeiros não privam quem os comete da
graça, enquanto os segundos sim. Os pecados veniais se expiam mesmo sem
confissão; os mortais, pelo contrário, necessitam da confissão para serem
perdoados. A doutrina sobre o pecado que ensina a igreja romana, isto é, a maneira como se é libertado dos
pecados e a distinção dos pecados, está na base dos seus dois sacramentos
indispensáveis para a salvação, mas ela está também na base do purgatório. Julgo pois útil expôr os seus pontos mais importantes para que
possais compreender bem o porquê do purgatório ser uma doutrina indispensável
na teologia papista. |
Antes de tudo ela ensina que pelo batismo a
criança torna-se um cristão, isto é, renasce espiritualmente para nova vida,
porque lhe são cancelados os pecados pelo batismo; depois ela ensina a
distinção entre pecados veniais e pecados mortais fazendo crer aos batizados
que há pecados, os veniais, que não privam a alma da
graça de Deus, e outros, os mortais, que privam a alma da graça de Deus. E
para cada uma destas categorias de pecados a igreja
romana excogitou este remédio. Ela diz que um batizado pode receber o perdão
dos seus pecados veniais (do latim venialis que significa ‘perdoável’)
durante a sua vida com arrependimento, com boas
obras e sem a confissão ao padre, Perardi afirma de facto: ‘Pode ter deles
o perdão com o arrependimento e com boas obras, mesmo sem a confissão
sacramental’ (Giuseppe Perardi, op. cit. pag.
241) ou doutra forma os satisfará depois de morto com as graves penas do
purgatório [6]; enquanto se comete um
pecado mortal pode receber o perdão dele só confessando-o ao padre: ‘A
graça de Deus, perdida pelo pecado mortal, se readquire com uma boa confissão
sacramental’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 240) e diz que se
morre sem ter feito confissão sacramental dele nunca poderá ter acesso ao
paraíso porque irá para o Inferno! Eis como se exprime Perardi a tal
respeito: ‘Quem morre em estado de pecado mortal,
vai para o Inferno’ (ibid., pag. 238) [7].
Em outros termos, para a igreja romana como as duas
categorias de pecados têm efeitos espirituais diferentes sobre o indivíduo
que os comete (o pecado venial não tira a graça enquanto o pecado mortal sim),
por conseguinte muda também o modo em que se pode obter o perdão deles; mais
fácil para o primeiro porque neste caso basta o arrependimento com alguma boa
obra, mais difícil para o segundo porque neste caso é necessário a confissão
ou a contrição perfeita! Mas não é tudo: porque dado que a penitência ‘perdoa
a pena eterna, mas deixa ordinariamente uma temporal a pagar ou nesta vida ou
na outra’ o penitente deve também ele dar a sua parte de satisfação para
expiar toda a pena dos seus pecados cometidos. Para quem diz, ao contrário,
que ‘toda a pena é sempre perdoada por Deus junto com a culpa e que a única
satisfação dos penitentes é a fé, com a qual crêem que Cristo satisfez por eles’ há o anátema tridentino (Concílio de Trento, Sess.
XIV, can. 12) Desta maneira, isto é, ensinando que o batizado, seja no caso
de pecados veniais seja de pecados mortais, deve sempre fazer obras para
obter a remissão da dívida da pena temporal merecida e que o arrependimento e
a fé em Cristo não são suficientes para satisfazer, o purgatório encontra o
seu lógico lugar, porquê? Porque é o lugar onde o penitente deve ir depois de
morto para pagar qualquer dívida de pena temporal lhe ficada na terra: que
todos têm, só que para alguns é maior e para outros menor. Para o paraíso de
facto só vai aquele que está sem pecado venial sequer e sem dívida de pena,
isto é, que já satisfez para toda a pena temporal devida pelos pecados
graves, ou seja quem está puro de toda a mancha, e dado que no momento da
morte ninguém pode esperar encontrar-se tão puro e tão santo a poder logo
aceder ao paraíso - como eles dizem - porque todos têm alguma culpa por
expiar, então o penitente deve ir primeiro no purgatório pagar a sua dívida
para poder depois aceder ao paraíso! Compreendestes pois de que maneira o
purgatório está estritamente ligado à doutrina do pecado ensinada pela igreja
papista? Porque ele constitui aquele lugar pelo qual todos devem passar para
expiar com os seus sofrimentos toda a dívida de pena temporal contraída na
terra que eles não puderam ou quiseram pagar na terra com as suas obras. Em
outras palavras ele constitui aquele lugar onde, dado que na terra só pela fé
no sacrifício propiciatório de Cristo não se pode de
nenhuma maneira obter a remissão de toda a pena merecida com os pecados (o
que significa que o sangue de Cristo não a pode concelar), o penitente deve
forçosamente ir para pôr-se finalmente em ordem diante de Deus, isto é, para
pagar tudo o que lhe resta a pagar! |
Para vos fazer compreender agora quais são para
os teólogos católicos romanos os pecados veniais, que não são graves, e os
mortais que, pelo contrário, são graves, vos citarei algumas palavras ainda
do Novo Manual do Catequista: ‘A lei de Deus,
por exemplo, proibe roubar. Se eu roubo pouco dinheiro a
um rico, o meu pecado não é mortal, mas venial; é mortal se roubo uma soma
grande. Uma simples mentira é pecado venial, mas mortal a blasfémia’
(Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 241) [8]. |
Por quanto respeita à mentira
é necessário dizer que, segundo os teólogos romanos, ela é de três tipos, a
saber, a mentira jocosa, a mentira oficiosa, e a mentira danosa (esta
distinção foi introduzida por Tomás de Aquino). A mentira
jocosa é quando se mente por brincadeira, sem algum objectivo sério, e só
pelo prazer de mentir; a mentira oficiosa é quando se mente para
desculpar-se, ou para produzir uma qualquer vantagem para si mesmo ou para
outros, sem que porém o próximo seja prejudicado por ela; a mentira danosa é
quando o próximo é injustamente prejudicado por ela. As primeiras duas classes de mentiras, segundo a teologia romana,
não são senão pecado venial, enquanto a mentira danosa é um pecado grave.
Citamos a tal propósito o que diz a Enciclopédia
Eclesiástica na palavra ‘mentira’: ‘Só a mentira danosa pode ser culpa grave,
como quando induzisse em erro sobre Deus, religião, moral, ou provocasse dano
grave ao próximo na vida, nas riquezas ou na fama; em todos estes casos, de
facto, é uma grave violação do preceito da caridade (...) A mentira oficiosa
(isto é, a que aponta para alguma vantagem) e a jocosa, não são pecado grave
(...) antes, a jocosa, segundo alguns, pode ser completamente inocente, ou
seja, não ser sequer mentira. Esta doutrina sobre a
culpabilidade de quem mente é comum na Igreja’ (Enciclopédia Eclesiástica,
vol. 1, pag. 533). E se isto não basta para perceber que os teólogos
da igreja romana admitem em algumas circunstâncias a mentira citamos também o
que diz a Enciclopédia Católica na palavra
mentira: ‘Em muitos casos, bastará o silêncio ou a frase evasiva para o
objectivo de salvar o segredo, de eludir uma ameaça, de ser cortês. Mas muitas outras vezes o silêncio ou a
frase evasiva são de tal forma que traem esses objectivos. Não se pode então nem calar nem evadir; é necessário dizer algo;
aliás o próprio pensamento não pode dizer-se sem perigo. É lícita em
semelhantes circunstâncias a resposta falsa? Com a grande
maioria dos homens sãos, os doutores católicos respondem que sim’ (Enciclopédia
Católica, vol. 8, 703) [9]. |
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Confutação |
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Como os
pecados são perdoados e a única distinção existente entre eles segundo a Escritura |
|
A sagrada Escritura ensina que "o pecado é
a violação da lei" (1 João 3:4) e que
"todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rom. 3:23). Por que razão todos pecaram? Porque Adão, o primeiro
homem, pecou e por meio dele o pecado passou sobre todos os homens; diz Paulo
de facto que "pela desobediência de um só homem muitos foram
constituídos pecadores" (Rom. 5:19); portanto
todos aqueles que vêm ao mundo nascem com o pecado conforme está escrito:
"Em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe"
(Sal. 51:5). Em outras palavras toda a criatura
humana desde que nasce é inclinada por natureza a pecar contra Deus porque
tem o pecado em si; e de facto nós todos "éramos por natureza filhos da
ira, como os outros" (Ef. 2:3). Ora, o pecado,
do qual está contaminada a consciência de todo o ser humano desde o seu
nascimento, por meio do mandamento ganha vida e mata quem o serve porque como
diz Paulo "sem a lei estava morto o pecado... mas, vindo o mandamento,
reviveu o pecado, e eu morri" (Rom. 7:8,9), e pode ser cancelado da sua consciência só pelo
sangue de Jesus Cristo conforme está escrito: "Se a aspersão do sangue
de bodes e de touros, e das cinzas duma novilha santifica os contaminados,
quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo
Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras
mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo?" (Heb 9:13,14).
Mas quando acontece esta purificação? Quando o homem se reconhece pecador
diante de Deus e lhe implora para que o perdoe e crê com o seu coração no Evangelho. Isto é testificado por estas palavras que o
apóstolo Pedro dirigiu aos Judeus: "Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam cancelados os vossos pecados..." (Actos 3:19); portanto é
completamente mentirosa a doutrina católica que afirma que o menino pelo
batismo é limpo e libertado do seu pecado. Certamente, a
criança após poucos dias do seu nascimento não cometeu ainda pecados, porém
tem o pecado em si; mas este não pode desaparecer da sua consciência
por meio da água chamada santa derramada sobre a sua cabeça. Aquela água o molha mas não o liberta do pecado que herdou dos
seus antepassados [10]. |
Por quanto respeita antes aos pecados cometidos
depois de termos sido purificados e libertados dos pecados cometidos na nossa
ignorância, também eles são cancelados pelo sangue de Cristo e isso depois de termos feito a confissão deles a Deus
conforme está escrito: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a iniquidade"
(1 João 1:9). Não existem portanto segundo a
Escritura duas categorias de pecados cujo perdão para obter é preciso seguir
duas praxes diferentes, uma mais fácil e a outra mais difícil como na igreja
papista. De todas as iniquidades que o crente comete, para obter delas o
perdão de Deus, ele se deve arrepender diante de Deus e confessá-las a Deus
abandonando-as porque está escrito: "O que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia" (Prov. 28:13). Se note
também que à diferença de quanto ensina a igreja
católica sobra a remissão dos pecados depois do batismo, a Escritura não
ensina que depois de ter obtido directamente do Senhor a remissão deles
permanece uma pena temporal a pagar por eles porque isto está em plena
contradição com o próprio conceito de remissão nos ensinado pela Palavra de
Deus. De facto, dizer que o Senhor nos perdoa as nossas dívidas em virtude do
nosso arrependimento e da nossa fé nele, mas nós devemos sempre dar a nossa
parte de satisfação ou nesta vida ou na outra por eles significa atribuir a
Deus este modo de agir. Que ele prometeu nos perdoar as nossas dívidas que
contrairmos para com ele depois da nossa conversão em virtude do sacrifício
propiciatório do seu Filho, mas nos factos exige de nós que demos um
contributo para extinguir as nossas dívidas. Isto
significaria que a remissão nos prometida pelo Senhor não é uma verdadeira
remissão. E que portanto ele mentiu: mas não, ele
não mentiu, são antes os teólogos papistas que mentem contra a verdade
conforme está escrito: "Seja Deus verdadeiro, e todo homem
mentiroso" (Rom. 3:4), fazendo dizer à
Escritura o que ela não diz. A verdade é que o sangue de Jesus Cristo nos
purifica de todo o pecado a nós crentes, e pode nos limpar e nos fazer mais
brancos que a neve conforme diz Davi nos Salmos: "Lava-me, e ficarei
mais branco do que a neve" (Sal. 51:7) no
momento em que nos mancharmos. Em outras palavras, nós crentes por meio do
precioso sangue de Cristo, o preço por ele pago pela remissão dos nossos
pecados cometidos antes e depois da nossa regeneração, obtemos do Senhor na
sua grande misericórdia a extinção total de toda a
nossa dívida de maneira que depois da nossa confissão não fica absolutamente
nada por pagar [11]. Eis por que
estamos seguros de que quando morrermos iremos logo com o Senhor para o céu,
porque quando nós confessamos as nossas ofensas a
ele o seu sangue do qual nós fomos aspergidos nos embranquece de maneira tal
a nos podermos apresentar puros de toda a mancha na presença de Deus a todo o
instante. Portanto a nossa não é de modo nenhum presunção, mas simplesmente
confiança no poder purificador do sangue de Jesus. Para quem está debaixo do
sangue de Jesus não há condenação alguma, não há dívida de pena a expiar num purgatório, porque nesse sangue estão todos
os méritos necessários para a satisfação de todas as suas dívidas contraídas
depois da sua conversão. |
Por
quanto respeita depois à distinção geral entre pecados veniais e mortais que
fazem os teólogos papistas dizemos as seguintes coisas. Tiago disse:
"Qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se
culpado de todos" (Tiago 2:10), e a Escritura diz que é "Maldito
todo aquele que não permanece em todas as coisas que estão escritas no livro
da lei, para fazê-las" (Gal. 3:10); por isso nós consideramos
completamente inútil mas também danosa a distinção entre pecados veniais e
pecados mortais que fazem os teólogos católicos, porque sabemos que apesar de
nem todos os Católicos romanos possam ser acusados de ter morto pessoas ou de
cometer pecados contrários à natureza (que são pecados mortais para os
teólogos papistas) todavia todos estão debaixo da maldição da lei e mortos
nas suas ofensas e nas suas transgressões. |
Também
para nós crentes esta distinção entre os pecados que fazem os papistas não
tem valor porque sabemos que "toda a iniquidade é pecado" (1 João
5:17) que ofende Deus, desonra a sua palavra e gera a morte. Tiago diz
por exemplo que o pecado (e não faz nenhuma distinção entre os pecados)
"sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1:15).
Por isso odiamos todos os pecados, mesmo aqueles que
não parecem tão destrutivos, e procuramos não fazê-los e quando pecamos
confessamos o nosso pecado a Deus para sermos por Ele purificados com o
sangue do seu Filho. Como disse antes, torno a repeti-lo, não existem para
nós crentes pecados menos graves para os quais é preciso seguir uma praxe
mais despachada e mais simples para obter o perdão
divino, e pecados graves para os quais é preciso seguir uma outra praxe mais
difícil. Em outras palavras sabemos que Deus está pronto a nos perdoar os
nossos pecados, não importa de que natureza sejam, na condição que nós nos
arrependamos deles e lhe os confessemos. Quando Jesus nos ensinou a orar disse-nos para dizer ao Pai nosso: "Perdoa-nos
as nossas dívidas" (Mat. 6:12) e não disse que
para algumas dívidas basta fazer uma coisa enquanto para outras não basta!!
Seja bem claro isto. |
Deve ser dito porém que entre todos os pecados
há um pecado que se um crente comete não pode ser perdoado porque é
impossível levá-lo outra vez ao arrependimento; é o pecado para morte. As
seguintes Escrituras confirmam isto. |
"Há pecado para morte, e por esse não digo que ore" (1 João 5:16); |
"Se pecarmos voluntariamente, depois de termos
recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos
pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há
de devorar os adversários" (Heb. 10:26,27); |
"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram
o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a
boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra
vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a
eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério" (Heb.
6:4-6); |
"Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá
perdão, mas será réu do eterno juízo" (Mar. 3:29). |
Portanto, segundo a
Escritura existe um pecado que leva à morte (à segunda morte) o crente que o
comete, e ele consiste na renegação voluntária da sua profissão de fé, e para
quem o comete é impossível arrepender-se de novo porque crucifica de novo por
sua conta o Filho de Deus e o expõe ao vitupério. Esta é a única distinção
entre os pecados que faz a Escritura: todos podem
ser perdoados tirando o para morte porque quem comete este último crucifica
de novo o Filho de Deus e o expõe ao vitupério. |
A propósito antes da distinção particular vista
em precedência dizemos: pelo que respeita a roubar a
Escritura ensina que Deus diz: "Não furtarás" (Ex. 20:15), por isso não importa quanto alguém rouba a um rico,
se pouco ou muito, porque quem rouba transgride a lei de Deus e recebe como
retribuição do pecado a morte conforme está escrito: "O salário do
pecado é a morte" (Rom. 6:23). A propósito do
mentir a Escritura diz: "Por isso deixai a
mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros
uns dos outros" (Ef. 4:25), por isso não importa
se alguém diz uma mentira para divertir ou para desculpar-se ou para difamar
o seu próximo porque ele comete uma coisa abominável a Deus conforme está
escrito: "Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor" (Prov.
12:22). |
E a propósito da mentira por eles chamada
jocosa a Escritura a condena porque afirma:
"Como o louco que atira tições, flechas, e morte, assim é o homem que
engana o seu próximo, e diz: Fiz isso por brincadeira!" (Prov.
26:18,19). Portanto, os doutores da igreja romana que falam daquele modo a
respeito da mentira mentem eles próprios contra a verdade e induzem as
pessoas a amar e praticar a mentira para dano da sua
alma. |
Compreendestes pois porque falando com os
Católicos se ouve frequentemente dizer: ‘Mas eu
trabalho, não roubo (se entende, grandes somas de dinheiro) não blasfemo, não
mato, não cometo adultério, do que me devo arrepender? Porque eles pensam que
são dignos de receber o castigo eterno só por certos pecados, pelos outros
não porque há o purgatório que lhes os purgará depois de mortos se deles não
se arrependerem a tempo! Como podeis ver esta distinção entre pecados veniais
e mortais teve e tem nefastas consequências sobre as pessoas porque as leva a
subvalorizar uma certa categoria de pecados, precisamente a dos veniais, para
dano da sua alma [12]. |
Ó Católicos, que recebestes o
batismo infantil, sabei que se não vos arrependerdes dos vossos pecados e não
crerdes no Evangelho quando morrerdes ireis para o inferno porque morrereis
nos vossos pecados. Não importa se morreis nos pecados ‘veniais’ ou nos pecados ‘mortais’ (como os chamais vós),
vós perecereis porque Jesus disse: "Se não crerdes que eu sou (o
Cristo), morrereis em vossos pecados" (João 8:24), e também: "Se
não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis" (Lucas 13:3); e
mesmo que antes de morrer vos confesseis ao padre não escapareis às chamas do
inferno porque o padre não poderá de nenhuma maneira dar-vos a absolvição
divina não tendo o poder de absolver os pecadores. Vos conjuramos portanto a
vos arrependerdes de todos os vossos pecados e a pedir perdão directamente ao
Senhor Deus porque só ele pode purificar-vos plenamente e no instante deles
dando-vos assim a certeza absoluta de ir para o céu com Jesus Cristo
imediatamente depois da morte. |
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|
AS ORAÇÕES PELOS
MORTOS (PARTE DO SUFRÁGIO) |
|
A doutrina
dos teólogos papistas |
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Orando pelas almas do purgatório se
aliviam as suas penas. Os teólogos papistas afirmam que orando por
aqueles que morreram, se podem atenuar as penas das almas merecedoras de
salvação que estão no purgatório, e se pode também
abreviar o tempo que lá devem ficar! Esta doutrina, como podeis ver, está
estritamente ligada ao purgatório. Ela foi fabricada com
palavras tiradas do livro dos Macabeus (um dos livros apócrifos não
inspirados por Deus) que dizem que um certo Judas Macabeu junto com
outros suplicaram a Deus para que perdoasse os pecados de alguns soldados
Judeus caídos em batalha (cfr. 2 Macabeus 12:41,42),
e que este Judas fez recolher dinheiro que enviou para Jerusalém a fim de que
fosse oferecido um sacrifício expiatório pelo pecado daqueles mortos. A estas palavras foram acrescentadas
diversas palavras dos seus chamados pais que eram a favor das orações pelos
mortos. Entre estas ressaltam as de Agostinho: eles citam de facto muitas
vezes estas palavras de Agostinho que ele dirigiu a Deus por sua mãe depois
que esta morreu: ‘Perdoa também Tu a ela as suas dívidas, as que contraiu em
tantos anos, após ter recebido a água da saúde. Perdoa-lhes, ó Senhor,
perdoa-lhes, te suplico, não entres em juízo com ela...’ (Agostinho de
Hipona, As Confissões, Liv. IX, cap. XIII); depois outras suas
palavras com as quais ele diz a Deus de inspirar os seus servos para que se
lembrem do altar de sua mãe Monica e de seu Pai Patrício, defuntos (cfr.
Agostinho, op. cit., Liv. IX, cap. XIII); e esta sua citação do livro A
cidade de Deus que diz: ‘A própria oração da Igreja ou de algum homem
piedoso a favor de alguns defuntos é ouvida, mas somente para os que,
regenerados em Cristo, não conduziram no seu corpo uma vida tão má de forma a
ser julgados indignos desta misericórdia, mas nem uma vida tão boa de forma a
não ter necessidade dessa misericórdia’ (Agostinho de Hipona, A Cidade de
Deus, Liv. XXI, cap. 24,2). |
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Confutação |
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Os mortos não
necessitam das nossas orações |
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Não julgo supérfluo dizer-vos
de reprovar e confutar esta doutrina diabólica que faz crer a milhões de
pessoas que os vivos podem de algum modo contribuir para a salvação
das almas dos que morreram nas suas ofensas orando por eles. A Escritura afirma que quando morre um pecador ele vai
para o lugar dos mortos onde há um fogo não atiçado por mão de homem e onde
há pranto e ranger de dentes. Para ele não há mais nenhuma possibilidade de
ser salvo; lhe restará só esperar o juízo do grande dia e a relativa condenação.
Para quem, pelo contrário, morre no Senhor, isto é, morre reconciliado com
Deus, há a glória, porque a sua alma parte do corpo e vai habitar com o
Senhor lá em cima no céu. Portanto se o homem morre
perdido, perdido ficará à espera do juízo e também depois de ser julgado,
isto é, pela eternidade; se, ao contrário, morre salvo, estará salvo tanto na
espera da ressurreição como também depois de Deus julgar o seu povo. |
Segundo o ensinamento da Palavra de Deus não
existem caminhos alternativos ao que leva à perdição e ao que leva à vida;
mas não segundo o catecismo católico, de facto para ele existe, e é o
purgatório onde segundo ele as almas dos defuntos com a
ajuda das orações dos vivos recebem o aliviamento das suas penas e a
libertação dele para poder aceder ao paraíso de Deus. Que engano que é este
purgatório! |
|
Nós devemos
orar pelos vivos |
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A Escritura nos ensina
que nós devemos orar por todos os homens para que sejam salvos, mas isto o
devemos fazer enquanto eles ainda estão em vida, e não também depois deles
terem morrido, de facto o apóstolo Paulo diz a Timóteo: "Exorto, pois,
antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças
por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para
que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda a piedade e
honestidade" (1 Tim. 2:1,2). O
próprio Paulo nisto nos deixou o exemplo, porque ele orava pelos incrédulos
para que fossem salvos conforme está escrito: "O bom desejo do meu
coração e a minha oração a Deus por Israel é para sua salvação" (Rom. 10:1), mas as suas orações ele as dirigia a Deus só por
aqueles que ainda estavam em vida. Porque ele sabia que seria completamente
inútil orar pela salvação dos pecadores mortos, porque não cria na existência
de um purgatório no além de onde as almas com a
ajuda das suas orações poderiam passar para o paraíso. |
Também por quanto respeita aos crentes a Escritura nos ensina que nós devemos orar por eles
enquanto estão em vida, porque uma vez que estão mortos nós com as nossas
orações em seu favor não podemos fazer nada em seu favor. O
Filho de Deus nos dias da sua carne orou pelos vivos, e assim também os
apóstolos depois dele. Há muitas Escrituras que o confirmam; por isso também nós devemos orar pelos nossos irmãos só enquanto
eles estão em vida, e não também depois que estão mortos porque no céu eles
não necessitam mais das nossas orações. |
|
CONCLUSÃO |
|
A maneira como se formou esta maléfica doutrina
do purgatório no curso do tempo e como ela foi
aceite por muitos como boa para dano das suas almas nos faz compreender
algumas coisas. Antes de tudo que se uma doutrina não pode ser confirmada
pelos Escritos sagrados e vai contra a sã doutrina
ela deve ser rejeitada e confutada sem demora alguma para não se ser
envenenado espiritualmente. Em segundo lugar que não importa quanto antiga
seja uma doutrina, ou quem tenham sido os seus sustentadores, se ela vai
contra a Palavra de Deus deve ser rejeitada; em suma, não importa quem a
sustentava na antiguidade, se Agostinho, Jerónimo, Ambrósio, etc. ela deve
ser rejeitada. Ninguém se deixe enganar pelo facto de aqueles escritores
terem vivido há muitos séculos; porque isso não tem
nenhum valor, porque para estabelecer se uma doutrina é verdadeira não se
deve olhar quanto antiga seja mas se é conforme ao ensinamento da Palavra de
Deus tomada na sua globalidade. Vimos que os Católicos
romanos citam várias vezes muitos dos chamados pais da igreja atribuindo às
suas palavras igual importância que às palavras dos profetas e dos
apóstolos e do Senhor Jesus. De
facto, eles citam muitas vezes estes antigos escritores para sustentar as
suas heresias. A nós não importa quanto tenham sido famosos e respeitados
esses homens no tempo deles, e nem quanto eloquentes tenham sido, e nem ainda
quantos livros tenham escrito; o que de torto eles disseram nós não o
aceitamos. Para nós as suas estranhas doutrinas não têm de modo algum o mesmo
valor da Palavra de Deus como, ao contrário, o têm para os Católicos, antes é
melhor dizer que para nós crentes não têm nenhum valor porque elas se opõem
nitidamente às sãs palavras do Senhor e dos apóstolos. O exemplo do purgatório confirma o quanto acabado de
dizer: o purgatório de facto, que é parte da chamada venerável tradição
passada de mão em mão, ataca o poder expiatório do sangue de Cristo, porque o
anula. É pois uma doutrina de demónios, não uma doutrina
dos apóstolos; demoníaca e não apostólica. É uma vã subtileza brotada
de entendimentos carnais que importa rejeitar, destruir e desmascarar com as
Escrituras. Sede ferverosos de espírito, zelosos nas Escrituras, levantai-vos
também vós em favor da verdade destruindo esta fortaleza papista que iludiu
até agora centenas de milhões de pessoas atirando-as para o inferno. |
|
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NOTAS |
|
[1] Mesmo se
Agostino por vezes é ambíguo no falar e parece estar incerto sobre o
purgatório, todavia é preciso dizer que com justa razão a
igreja papista o considera o verdadeiro pai do purgatório porque com as suas
palavras lançou os fundamentos dele. |
|
[2] Apesar da
distinção entre pecados veniais e pecados mortais respeitar aos batizados da
igreja católica, chamados por ela Cristãos, eu na minha confutação quando
falo dela referindo-me a eles falo como se ela
dissesse respeito aos pecados de pecadores porque é sabido que o seu batismo
não faz tornar cristão absolutamente ninguém. Eles estão
debaixo do pecado e não foram ainda libertados do pecado pelo sangue de
Cristo. |
|
[3] Em Florença
alcançou-se a união sobre pontos essenciais da
existência do purgatório e do valor dos sufrágios. Mas já no
segundo concílio de Lião (1274) se encontra um artigo relativo ao purgatório:
‘Se suceder que algum fiel verdadeiramente arrependido morra em graça de
Deus, mas antes de ter terminada a penitência (satisfactio) devida aos
pecados, a sua alma é aperfeiçoada por penas purificadoras’. |
|
[4] Quereria
fazer notar aos leitores que no livro apócrifo dito
a Sabedoria, que o próprio concílio de Trento incluiu no cânon
declarando-o sagrado, se lê uma declaração que desmente um purgatório depois
da morte. Ei-la: ‘As almas dos justos, pelo
contrário, estão nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá. Aos olhos dos insensatos pareciam ter morrido, e o seu fim foi
considerado uma desgraça. Os insensatos pensavam que a morte dos justos fosse um aniquilamento, mas agora estão
em paz’ (Sabedoria 3:1-3) Portanto até um dos livros apócrifos tão caros aos
Católicos desmente o purgatório! |
|
[5] É
inevitável que este sufrágio em favor das almas que estão no
purgatório favoreça os ricos e desfavoreça os pobres. A razão é porque os
ricos conseguem, deixando muito dinheiro aos padres ou tendo parentes e
amigos ricos, ter muitas missas em seu favor e assim terão a possibilidade de
sair do purgatório primeiro do que os que são pobres e não deixaram nada ou
que têm parentes pobres a não poderem mandar dizer muitas missas. Pelo que
quem é mais abastado tem a esperança de passar no
purgatório menos tempo que o desabastado, mesmo se porventura merecia
permanecer lá muito mais tempo!! Não é porventura esta uma coisa entre muitas
que faz perceber claramente como o purgatório e o sufrágio da missa não podem
ser verdadeiros porque doutro modo resultaria que Deus é injusto? Ninguém
depois vos engane dizendo que a missa o padre a diz também pelos pobres,
porque na realidade os ricos continuam a ser favorecidos pelos padres no que
concerne ao chamado sufrágio. |
|
[6] Desta
maneira a igreja católica se contradiz porque o
concílio Latrão de 1215 impôs a confissão de todos os pecados e não apenas de
uma parte; e depois porque estes pecados de ‘segunda categoria’ que segundo
eles não privam a alma da graça de Deus são dignos da punição divina porque
aqueles que os cometem sem tê-los expiado na terra os têm que expiar no
purgatório com atrozes sofrimentos. Portanto, a
igreja romana não considera indispensável a confissão dos pecados veniais ao
padre que faz as vezes de Deus e depois afirma que por eles se terá que penar
no purgatório; o que quer dizer que ela declara não grave o que Deus pune com
a sua ira! Mas se Cristo tivesse verdadeiramente instituído a confissão ao
padre e houvesse verdadeiramente o purgatório, não seria um contra-senso não
obrigar as almas a confessar também os pecados veniais? Não seria tudo isto
ir contra os interesses das almas que podem morrer com pecados veniais não
perdoados? |
|
[7] O facto é
porém que o penitente mesmo depois de ter feito a confissão deles ao padre
embora não vá para o inferno, vai sempre para um lugar de tormentos atrozes
como é o purgatório. Uma pergunta portanto se impõe a
este ponto: como é possível que a igreja romana que se gloria de ter as
chaves do reino dos céus, porque possui o sucessor de Pedro e os sucessores
dos apóstolos que a guiam, não pode fazer evitar o purgatório, que é um lugar
de tormentos, àqueles que se confessam e fazem o que ela lhes diz? Como é
possível que estas chamadas chaves conseguiriam fazer escapar do inferno mas
não do purgatório? Não é porventura isto uma prova de quanto é ineficaz este
poder das chaves? |
|
[8] Também
entre os pecados mortais há os mais graves e os menos graves; mas sobre esta
sua distinção não me deterei para não alongar-me
demasiado. Me limito a dizer que ela é arbitrária e
denota quanta ignorância da Escritura há entre os teólogos papistas. |
|
[9]
Não é portanto de admirar se nesta nação tão católica a mentira é um hábito e
não é considerada um pecado: a mentira chamada jocosa por exemplo está muito
difundida porque a todos agrada mentir para zombar do próximo; também a
mentira chamada oficiosa está muito difundida, de facto, muitos mentem para
se desculparem e para esconder certas coisas, e muitos mentem às crianças
desde a sua tenra idade para que não façam certas coisas ou para que façam
outras; e tudo isto porque estas mentiras são consideradas mentiras ligeiras
ou pecados veniais. |
|
[10]
Se Jesus tivesse crido que o batismo cancela automaticamente os pecados de
quem o recebe certamente o teria imposto também ele aos bebés e não o teria
prescrito só para aqueles que creriam nele. O facto pois de Jesus o
ter mandado só para aqueles que creram nele exclui que ele lhe atribuísse a importância e a eficácia que lhe atribuem os teólogos
papistas, e de facto para Jesus era a fé que salvava o homem do pecado e não
o rito do batismo. |
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[11] A igreja católica atribui à água abençoada por ela usada
sobre os seus batizados o poder de cancelar todo o pecado e toda a pena
devida por eles, de facto, afirma que o batismo tira ‘o pecado original e
os actuais se houverem, com toda a dívida de pena por eles devida’
(Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 454); isto porque segundo ela aquela
água recebeu de Deus o poder do Espírito Santo de cancelar toda a mancha do
homem. E por isso ela afirma que se um adulto morre
logo depois do batismo ele vai directamente para o paraíso. Mas então nós
dizemos: ‘Por que razão um crente depois de ter sido
aspergido com o sangue abençoado de Cristo Jesus no momento da sua conversão
e dado que é com ele lavado continuamente dos seus pecados não deveria em
todo instante da sua vida ter a certeza de ir logo para o paraíso?’ Porventura
porque o sangue de Jesus não tem o mesmo poder de cancelar plenamente os
pecados do cristão e toda a pena devida por eles como pelo contrário o tem a
sua chamada água santa? Se é assim, isso significa
que a sua água ‘santa’ é mais poderosa do que o sangue de Jesus, porque ela é
capaz de cancelar toda a dívida de pena, enquanto o sangue de Cristo não! Mas
não, as coisas não são de maneira nenhuma assim, porque a água do padre não
tem algum poder de purificar o pecador dos seus pecados porque este só o tem
o sangue de Jesus. É no seu sangue que há a remissão dos
pecados e não na água batismal da igreja papista. O
sangue de Jesus sim dá a certeza de ir para o paraíso imediatamente, mas a
sua água ‘santa’ não. |
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[12] É claro
que mesmo no caso todos os pecados tivessem sido considerados mortais pela
teologia romana pelo que deviam ser obrigatoriamente confessados ao padre, as
coisas não seriam melhores, porque embora os que são definidos veniais fossem
considerados dignos de castigo eterno todavia teriam que ser sempre
confessados a um homem que de modo algum tem o poder
de perdoá-los. |