Introdução |
Ao estudar as doutrinas da igreja católica romana [1], pude verificar pessoalmente que esta
organização religiosa ensina também doutrinas verdadeiras. Quero portanto
começar por dizer o que de justo a igreja católica romana afirma. |
Deus: ‘Deus
é o ser perfeitíssimo, Criador e Senhor do céu e da terra’ (Giuseppe
Perardi, Nuovo Manuale del Catechista
per l’insegnamento del catechismo della dottrina cristiana [Novo Manual do Catequista para o ensinamento
do catecismo da doutrina cristã], Publicado por ordem de Pio X, XVII edição
renovada e em grande parte refeita, Torino 1939, pag. 21. O livro contém o Imprimatur [2]); ‘Criador significa
que Deus fez do nada todas as coisas’ (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 35); ‘Senhor significa que Deus é dono absoluto de
todas as coisas’ (ibid., pag.
38); ‘Deus não tem corpo, mas é
puríssimo espírito’ (ibid.,
pag. 40); ‘Deus está no céu, na terra e
em todo lugar; Ele é o Imenso’ (ibid., pag. 42); ‘Deus sempre foi e sempre será; Ele é o Eterno’ (ibid.,
pag. 43); ‘Deus sabe tudo, mesmo os
nossos pensamentos; Ele é o Omnisciente’ (ibid., pag. 44); ‘Deus pode fazer tudo o que quer: Ele é o
Omnipotente’ (ibid., pag. 45); ‘Deus tem cuidado e providência das coisas criadas, e as conserva e
dirige todas para o seu próprio fim, com sabedoria, bondade e justiça
infinita’ (ibid., pag. 48); ‘Deus é um só, mas em três Pessoas iguais
e distintas, que são a santíssima Trindade (...) As três Pessoas da
santíssima Trindade se chamam Pai, Filho e Espírito Santo’ (ibid., pag. 65). |
Jesus Cristo: ‘Jesus Cristo é a segunda Pessoa da santíssima Trindade, isto é, o
Filho de Deus feito homem’ (ibid.,
pag. 67); ‘Sim, Jesus Cristo é
verdadeiro Deus e verdadeiro homem’ (ibid.,
pag. 70); ‘O Filho de Deus se fez homem
tomando um corpo e uma alma como nós temos, no ventre de Maria Virgem por
obra do Espírito Santo’ (ibid.,
pag. 129); ‘Jesus Cristo nasceu em
Belém..’ (ibid., pag. 142); ‘Jesus Cristo, na sua vida terrena, nos ensinou com o exemplo e com a palavra a viver segundo Deus, e confirmou com os milagres a sua doutrina; finalmente, para cancelar
o pecado, reconciliar-nos com Deus e reabrir-nos o Paraíso, se sacrificou
na Cruz, ‘único Mediador entre Deus e
os homens’ (ibid., pag. 147);
‘O seu Corpo foi sepultado (...) Depois
Jesus Cristo ressuscitou; ressuscitou
recobrando o seu mesmo corpo e reunindo ao corpo também a
alma’ (ibid., pag. 156-157); ‘Jesus Cristo, após a sua ressurreição,
ficou na terra quarenta dias; depois subiu ao céu, onde está sentado à
direita de Deus Pai omnipotente’ (ibid.,
pag. 161); ‘Jesus Cristo voltará
visivelmente sobre esta terra...’ (ibid.,
pag. 164). |
O homem: ‘O
pecado de Adão despiu ele e todos os homens da graça e de todo outro dom
sobrenatural, tornando-os sujeitos ao pecado, ao demónio, à morte, à ignorância, às más inclinações e a toda
outra miséria, e excluindo-os do Paraíso’ (ibid., pag. 119) [3]; ‘A alma do homem não morre com o corpo,
mas vive eternamente, sendo espiritual’ (ibid., pag. 109). |
Paraíso e inferno: ‘E’ certo que existem o Paraíso e o Inferno (...) O Paraíso e o Inferno durarão
eternamente’ (ibid., pag. 176)
[4]. |
Ressurreição: ‘No fim do mundo nos espera a ressurreição da carne (...) Ressurreição da carne significa que o nosso corpo, por virtude
de Deus, se recomporá e se reunirá à alma...’ (ibid., pag. 253) [5]. |
Mas junto com estas doutrinas a igreja católica romana
ensina muitas outras doutrinas privadas de fundamento escritural que
contrastam a Palavra de Deus e por baixo das quais sepultaram o Evangelho da
graça de Deus; sim, o sepultaram literalmente. Uso esta expressão porque
verifiquei pessoalmente, não só lendo os seus livros de teologia mas também
falando com muitos Católicos romanos, que embora esta igreja diga de crer na
divina inspiração da Escritura [6] e
de pregar o Evangelho efectivamente pôs o Evangelho por baixo de um cúmulo de
imundícias, vale dizer, por baixo das suas heresias [7], impedindo assim às pessoas de serem salvas
e de chegarem ao conhecimento da verdade. Em outras palavras, a igreja
católica romana tomou a sua milenária tradição e a pôs por cima do Evangelho,
de maneira que as pessoas não vêem mais o Evangelho da graça, que é a única
palavra que as pode salvar, mas só a sua tradição que renega abertamente e
descaradamente a mensagem do Evangelho que Cristo primeiro e depois os
apóstolos nos anunciaram. É exactamente contra as suas heresias que me
preparo para escrever, a fim de demonstrar como efectivamente a igreja
católica romana com a sua tradição anulou o Evangelho porque diz que para ser
salvo é preciso operar em vez de crer, e anuncia um outro Jesus; sim
precisamente um outro Jesus, diferente daquele que nós conhecemos, porque o
Jesus de quem ela fala sozinho é impotente para salvar os homens tendo
necessidade da assistência de Maria. Ou melhor, podemos dizer, fazendo uma
comparação entre como eles apresentam Jesus e como apresentam Maria, que o
Jesus da igreja católica romana é menos poderoso que Maria. Isto se pode bem
ver até nas abomináveis imagens e obras esculpidas desta igreja idólatra; Jesus
é muitas vezes representado menino nos braços de sua mãe, como que quisessem
infundir nas pessoas a convicção que Jesus tenha ficado uma criança de peito
que necessita ser mantido nos braços da sua mãe, e portanto menos forte do
que sua mãe adulta. E quando Jesus não é apresentado menino, é apresentado
morto pendurado na cruz, ou cadáver nos braços de sua mãe. Portanto a igreja
romana se serve também das imagens e das estátuas para diminuir Jesus; mas
Jesus Cristo é homem feito que depois de ser morto ressuscitou dos mortos e
foi elevado ao céu e feito sentar à direita de Deus acima de todo o
principado e domínio e trono, e diante dele se prostram todos (também Maria)
e sem ele nenhum homem pode ir a Deus. É ele o Jesus de quem falam as
Escrituras; mas o que apresenta a igreja católica romana é um Jesus feito à
sua medida, um Jesus embotado, para poder sustentar todo aquele seu profano
depósito constituído por todas as suas heresias e que é feito passar por
tradição apostólica. |
Na minha confutação começarei a destruir o baluarte sobre
o qual se ergue toda a igreja católica romana, isto é, a doutrina que afirma
que a salvação se obtém por obras [8]
e não por fé (os teólogos papistas se exprimem dizendo ‘também por obras e
não só por fé’); prosseguirei depois com o destruir todas as outras suas
doutrinas demoníacas que estão de uma maneira ou de outra ligadas a ela (e
também as que não estão ligadas a ela). Julguei oportuno partir desta sua
doutrina porque é aquela que serve de fundamento ao muro que nos separa
deles, e porque é de primeira importância conhecê-la nos seus particulares
para compreender bem a maior parte de todas as outras suas heresias
edificadas sobre ela e a maneira em que estão ligadas a ela. |
|
|
|
NOTAS |
|
|
[1] Decidi chamar esta
organização religiosa como ela se define mas faço presente desde já que ela
para nós não é a Igreja de Deus católica, ou seja universal, mas apenas uma
das muitas pseudo-igrejas existentes sobre a terra. |
|
[2] Para expor as
doutrinas da igreja católica romana decidi usar na maior parte este manual. É
verdade que ele é já bastante velho mas isso é relativo porque o seu conteúdo
é confirmado, excepto em algumas pequenas coisas, pelos catecismos da igreja
católica mais recentes. Os itálicos presentes nas citações estão no texto. |
|
[3] Se tenha presente
porém que a igreja católica romana de todos os homens que contraíram o pecado
original exclui além de Jesus também Maria: ‘... dentre os filhos de Adão só Maria Santíssima foi preservada do pecado
original’ (ibid., pag. 232). |
|
[4] Preciso porém que
Perardi na explicação por inferno entende além do Hades, onde nós sabemos que
vão as almas dos pecadores, também o lago ardente de fogo e enxofre ou
Geenna, onde nós sabemos serão lançados com o corpo os pecadores na
ressurreição e onde será lançado também o Hades (cfr. Apoc. 20:13-15). E isto
porque para os Católicos os termos Hades e Geenna indicam o mesmo lugar, isto
é, o inferno. Bartmann diz por exemplo a propósito do inferno: ‘À palavra
inferno correspondem na Sagrada Escritura as expressões: Ade, Tartaro, Sheol,
Geenna, perdição, morte’ (Bernardo Bartmann, Teologia dogmatica, vol. III, Alba 1959, pag. 423). Enquanto nós
quando usamos o termo inferno nos referimos habitualmente ao Hades que
segundo a Escritura é um lugar de tormento no coração da terra (onde peregrinam as almas dos pecadores à espera da
ressurreição) distinto do lago ardente de fogo e enxofre (que é o lugar de
tormento final onde estarão para sempre os pecadores também com o seu corpo).
Os Católicos, de qualquer modo, crêem na existência dum lugar de tormento
eterno onde os pecadores serão atormentados para sempre, à diferença dos
chamados Testemunhas de Jeová e dos Adventistas. A palavra inferno deriva do
latim infernus que significa ‘lugar
inferior, subterrâneo’. |
|
[5] Se tenha presente
porém que a igreja católica não crê que quando Jesus voltar haverá a
ressurreição dos mortos em Cristo (a primeira ressurreição) e a transformação
dos crentes que estiverem vivos e que começará o reino milenar de Cristo
sobre a terra, que será seguido da ressurreição de juízo dos ímpios. Ela
ensina com efeito as seguintes coisas: 1) a primeira ressurreição é ‘um
renascimento sobre esta terra para uma nova vida, a regeneração para a vida
sobrenatural dos Filhos de Deus, que depois perseveraram na fidelidade ao
Senhor, morreram na sua amizade, e agora, gozam da felicidade celeste, como
ressuscitados para uma vida nova, transfigurada no Reino de Cristo. São os
mártires do Senhor, que deram a vida por ele (os degolados),
ou viveram na fidelidade aos seus Mandamentos (aqueles que não adoraram a besta) e que depois da morte já
alcançaram a felicidade, antes ainda da volta de Cristo’; 2) o milénio
representa o período que medeia entre a primeira e a segunda vinda de Cristo;
3) haverá uma só ressurreição final de todos os homens, dos bons e dos maus,
que serão separados pelos anjos antes do juízo final; 4) os cristãos que
estiverem vivos na vinda de Cristo sofrerão também eles a morte. |
|
[6] ‘A Sagrada Escritura é a colecção dos livros escritos por inspiração
de Deus no Velho e no Novo
Testamento...’ (Perardi, op. cit.,
pag. 373). |
|
[7] O termo heresia deriva
do grego hairesis que significa
‘heresia’ e no Novo Testamento está presente por exemplo no seguinte
versículo: "Entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão
encobertamente heresias de perdição" (2 Ped. 2:1). Ele indica uma
doutrina contrastante da Palavra de Deus. Este termo grego significa também
‘seita’ ou ‘facção’ e neste sentido é usado nos seguintes casos: "Temos
achado que este homem é uma peste... e chefe da
seita dos nazarenos" (Actos 24:5); "Mas
confesso-te isto: que, seguindo o caminho a que eles chamam seita, assim
sirvo ao Deus de nossos pais..." (Actos 24:14); "Quanto a esta seita, notório nos é que em toda parte é
impugnada" (Actos 28:22); ".. e
até importa que haja entre vós facções..." (1 Cor. 11:19). |
|
[8] Se tenha presente que quando a igreja católica
romana fala de boas obras não se refere somente às esmolas feitas aos pobres,
ou a matar a fome aos famintos ou a matar a sede aos sedentos, ou ainda a
vestir os nus, visitar os doentes etc. (todas coisas boas que aprovamos), mas
também à recitação de orações a Maria ou aos santos, às peregrinações, a
ofertas e orações feitas pelos mortos e outras práticas que não têm nenhum
fundamento bíblico e que são por isso de rejeitar. |