2. O que pensas da Gap-Theory? Pode ser verdadeira?


Antes de responder-te quero dar um aceno tanto sobre a origem como sobre o conteúdo desta teoria, a fim de fazer perceber do que se trata a todos os que lerem a minha resposta e não sabem nada dela. A paternidade desta teoria, que é frequentemente chamada gap-theory (teoria do intervalo), cabe sobretudo ao pregador escocês Thomas Chalmers (1780-1847) o qual procurava conciliar o Gênesis com as novas descobertas sobre a idade da terra. Ela está muito difundida também entre as Igrejas Pentecostais. É por exemplo ensinada também nas ADI (Assemblee di Dio in Italia). Mas o que afirma esta teoria? Para explicá-lo citarei parte de um artigo escrito por Francesco Toppi, pastor das ADI, publicado no quinzenal ‘Cristiani Oggi’ publicação oficial da recém-mencionada denominação. Eis as palavras de Francesco Toppi: ‘ No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era informe e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas (Gênesis 1:1-2). Gênesis 1:1: "No princípio criou Deus os céus e a terra" não descreve o primeiro passo da criação, não se refere à criação do nada da matéria informe, mas a uma criação perfeita: "os céus e a terra". (...) Esta criação física original resulta completa em si, como todas as coisas que Deus cria, mesmo se desta primeira criação não se conhecem os particulares. (…) Gênesis 1:2 seria o resultado de uma destruição de uma catástrofe e subentende um resultado de um episódio da "proto-história" do universo. Esta inicial criação original de Gênesis 1:1 seria seguida por um período indeterminado de tempo, ao qual podem corresponder todas as eras geológicas de milhares de anos, actualmente observadas com meios radiométricos (...) O grande cataclisma que reduziu a terra a "informe e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo" deve ter sido um evento de alcance cósmico e portanto pode referir-se somente à rebelião de Satanás, à sua expulsão do céu e à sua queda na terra’. (...) Por conseguinte, Gênesis 1:3-31 descreve a "re-criação" durante a qual o Criador, reconstruiu pela matéria informe da criação original preexistente a criação adâmica’. (Cristiani Oggi, 1988 N° 4, pag. 2). Esta interpretação ‘permite afirmar que a Bíblia não contrasta com a ciência’ (Ibid., pag. 2). Para resumir portanto, primeiro houve a criação perfeita de Deus, esta criação porém a seguir à queda de Satanás do céu se tornou informe e vazia pelo que Deus teve que refazê-la. Os seis dias da criação portanto não foram na realidade dias de criação mas dias de recriação ou de restituição. Entre o versículo 1 e o versículo 2 do primeiro capítulo do Gênesis podem-se tranquilamente colocar as várias eras geológicas de milhões de anos de que falam os cientistas!

Ora, sendo assim não posso deixar de dizer com toda a franqueza que, em meu juízo, a gap-theory é uma falsa doutrina. As razões que me levaram a esta conclusão, depois de um atento exame das Escrituras na sua globalidade, são as seguintes.

Se as coisas fossem realmente assim como dizem os sustentadores da gap-theory a Escritura seria anulada pelos seguintes motivos. Antes de tudo isto significaria que as coisas descritas no primeiro capítulo do Gênesis seriam coisas refeitas por Deus pelo que se deveria falar de re-criação e não mais de criação. Enquanto a Escritura fala continuamente de criação em referência aos eventos do primeiro capítulo do Gênesis. Diz de facto a Escritura depois que Deus descansou da sua obra no sétimo dia que "estas são as origens dos céus e da terra, quando foram criados; no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus" (Gen. 2:4). Deus mesmo quando ordenou a Israel para se lembrar do sétimo dia para santificá-lo disse que "em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou" (Êxodo 20:11). Não é bastante claro que antes desses seis dias criativos não existiram outros? Que sentido teria dizer foi o primeiro dia, foi o segundo dia, foi o terceiro dia e por aí adiante, se o primeiro dia não era aquele porque na realidade já tinha havido um primeiro dia milhões de anos antes? Não seria isto admitir implicitamente que no livro do Gênesis hajam mentiras?

Mas vejamos o homem. Se esta teoria fosse verdadeira se teria que chegar à conclusão que Adão não foi o primeiro homem; isto porquê? Porque se quando é dito que no princípio criou Deus os céus e a terra significasse que Ele criou uma criação perfeita que depois foi destruída pela queda de Satanás na terra, isto significaria que nesse tempo Deus tinha criado também o homem e a mulher na terra porque a criação não teria sido perfeita sem a criação do ser humano. E portanto antes de Adão teriam existido outros seres humanos na terra antes que esta última se tornasse informe e vazia. E isto não é possível porque a Escritura chama Adão o primeiro homem. Paulo diz de facto aos Coríntios: "O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente" (1 Cor. 15:45). Mas diz-me só uma coisa: quando Jesus falou da criação do homem e da mulher não disse porventura: "Não tendes lido que o Criador os fez desde o princípio macho e fêmea, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne?" (Mat. 19:4-5)? Que significa esse "desde o princípio"? A qual criação se referia? Por quanto nós sabemos se referia à única criação do homem e da mulher ocorrida por obra de Deus, a saber, a descrita no Gênesis. Portanto esse ‘desde o princípio’ não pode senão referir-se ao único princípio de que a escritura fala; aquele em que Deus fez e não refez o homem e a mulher. E se teria que dizer que Adão não nomeou pela primeira vez os animais, porque na realidade eles tinham sido já nomeados pelo verdadeiro primeiro homem que tinha existido milhões de anos antes dele, e portanto ele se limitou a renomeá-los e haveria a questionar então a esta altura se os nomes dados aos animais por Adão foram iguais aos dados pelo outro homem que viveu anteriormente. Em suma se se admitisse esta teoria se poderia acabar por admitir muitas coisas estranhas que se opõem à Escritura. E quem sabe? Talvez alguém seria tentado até a meter nesses milhões de anos que precederam a re-criação de Deus descrita no primeiro capítulo do Gênesis também o Homo Erectus e o homem de Neanderthal etc., etc.; assim se iria acabar por dizer que esta chamada evolução do homem teve lugar antes da re-criação de Deus! Em suma irmão, admitir uma semelhante teoria sobre a criação significaria acabar por desencontrarmo-nos com a Palavra de Deus sobre diversos pontos, e isso não o queremos fazer.

Mas então como se explica o facto de no Gênesis estar escrito que a terra era informe e vazia coisa esta que no dizer dos sustentadores da gap-theory sustentaria a sua tese? Se explica porque quando Deus criou a terra ela não tinha a forma que tem agora, mas era informe. Portanto não é que ela se tornou informe mas foi feita inicialmente informe por Deus, depois a seguir ele a formou. Se tenha presente de facto que inicialmente os continentes terrestres não eram visíveis como o são agora porque eles estavam submersos debaixo das águas conforme está escrito que Deus no terceiro dia disse: "Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar; e apareça a porção seca; e assim foi" (Gen. 1:9). E com isto concordam as palavras do salmista que diz: "Tu a cobriste do abismo, como dum vestido; as águas estavam sobre as montanhas. À tua repreensão fugiram; à voz do teu trovão puseram-se em fuga. Elevaram-se as montanhas, desceram os vales, no lugar que lhes determinaste" (Sal. 104:6-8). Portanto quando se lê que no princípio a terra era informe é necessário ter presente que a terra não estava ainda emersa das águas como o esteve no terceiro dia conforme diz Pedro que "pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água" (2 Ped. 3:5). Além disso ela era vazia porque nós sabemos que tanto as plantas, como os animais e como o homem foram criados por Deus respectivamente no terceiro dia e no sexto. Com justa razão portanto, e sem que nos devamos admirar, está dito que era também vazia.

Uma coisa semelhante se pode dizer também do homem porque também ele não assumiu logo a forma que tem agora, porque a Escritura diz que "formou o Senhor Deus o homem do pó da terra" (Gen. 2:7). Este "formou o homem" implica que inicialmente foi informe e a seguir assumiu a forma que Deus tinha decretado dever ter. (Quanto este processo de formação tenha durado com precisão em termos de tempo não está dito, seja como for ele aconteceu no curso de um dia de 24 horas). Não há nada de estranho em tudo isto, porque também o bebé que deve nascer, antes de assumir a forma com que sairá do ventre da mãe, inicialmente era informe e tem já um processo de transformação que durou neste caso alguns meses. Quando Davi diz nos Salmos: "Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe" (Sal. 139:16) não entendia porventura dizer que também ele tinha sido informe ao início? E cuida que tudo é obra de Deus porque ainda Davi diz a Deus: "Tu… entreteceste-me no ventre de minha mãe" (Sal. 139:13) e Jó: "As tuas mãos me fizeram e me formaram completamente (...) Peço-te que te lembres de que como barro me formaste..." (Jó 10:8,9). Mas o homem quando foi inicialmente formado pelas mãos de Deus não só era informe mas também vazio porque nele não havia vida. Foi quando Deus terminou de formar o seu corpo que lhe soprou o fôlego da vida e o homem tornou-se uma alma vivente (cfr. Gen. 2:7). Portanto tudo entra no modo de agir de Deus; mas infelizmente este modo de agir de Deus tão claramente descrito foi ofuscado por esta teoria acima exposta que não é mais do que uma ideia brotada de uma errada interpretação dada às palavras: "Era informe e vazia"; ideia porém que se por um lado é inconcebível com o ensinamento da Escritura a respeito da criação por outro lança uma espécie de ponte entre a ciência e o Gênesis porque de uma certa maneira confirma que as eras geológicas dos cientistas em que nós não cremos minimamente com efeito se podem muito bem e tranquilamente colocar no relato do Gênesis. Em outras palavras esta teoria surgiu da necessidade de conciliar a ciência com a Escritura. E o dano por ela provacado é evidente. A ciência, a ciência, ah quantos danos provocou quando crentes procuraram pôr de acordo as suas teorias com a verdade da Escritura.

Irmão, não vás atrás desta ciência humana que não poucos crentes enganou e levou para longe da verdade: firma-te naquilo que está escrito sem procurar dar explicações lógicas ao que resulta incompreensível aos teus olhos.



Índice