Guardai-vos daqueles que pregam a mensagem
da prosperidade |
Há uma mensagem que nestes últimos anos fez as
suas raízes no seio de muitas igrejas, e é uma mensagem
que fez e contínua a fazer muito dano; mas juntamente com o
dano, os que a pregam fizeram também muitos sustentadores; é chamada
‘da prosperidade’, mas não da prosperidade da alma, porque
ela não é tida em nenhuma conta, mas da prosperidade económica
e financeira, a qual é pregada e exaltada como se fosse a coisa
mais importante para um crente. |
Estes faladores vãos e enganadores ensinam coisas que não deveriam, e isto o fazem por torpe ganância e porque buscam a glória dos homens. Entre as coisas que estes dizem estão estas: ‘Nós crentes em Cristo Jesus somos filhos do Rei dos reis e portanto, como convém a filhos de um rei, devemos viver como reis’, o que equivale a dizer que devemos vestir como vestem os príncipes, devemos morar em casas luxuosas e ter carros luxuosos e muitos bens materiais na terra. Nos seus discursos os adjectivos ‘modesto’, ‘humilde’, ‘simples’ são evitados, não são mencionados porque eles (segundo eles) não convêm aos bens materiais que um filho de Deus deve possuir. Para eles quem é rico materialmente tem muita fé em Deus e é uma pessoa abençoada porque faz a vontade de Deus, enquanto quem é pobre tem pouca fé em Deus e não é uma pessoa abençoada por Deus porque não faz a vontade de Deus. Estes falam frequentemente e com muito gosto de dinheiro, de bens materiais, de riquezas, e para sustentarem a sua doutrina tomam algumas passagens do antigo pacto e do novo pacto (naturalmente aquelas que eles pensam que confirmam a sua doutrina e que lhes são cómodas), mas de muitas palavras de Jesus e dos apóstolos não querem não só falar delas, mas nem sequer ouvir falar, tanto são arrogantes. A estes pregadores agrada falar das riquezas materiais que possuíram Abrão, Isaque, Jacó, Salomão e Jó: ora, nós não temos nada a dizer contra as riquezas que possuíram estes homens porque a Escritura ensina que, na verdade foi Deus a dar-lhes todos esses bens e eles os obteram de modo lícito sem fraude, mas ao mesmo tempo não suportamos que estes não só falem quase sempre de dinheiro e de bem-estar material, mas evitem além disso falar do tipo de vida que Jesus Cristo, o Filho de Deus, levou sobre a terra nos dias da sua carne, e de muitos seus ensinamentos, como também evitem voluntariamente falar do tipo de vida que levaram os santos apóstolos e de muitos seus ensinamentos . |
Jesus Cristo, sendo rico por amor de nós se fez
pobre |
Jesus Cristo é o Filho de Deus; ele disse: "Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mat. 11:29,30),
portanto nós sabemos que Cristo nos deixou um exemplo de vida e que
devemos segui-lo. E quem ousaria dizer que Cristo em alguma coisa
não foi um exemplo? |
Comecemos por dizer que Cristo, o Filho de Deus,
quando nasceu foi posto numa manjedoura conforme está escrito
que Maria "deu à luz o seu filho primogénito, e envolveu-o em
panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para
eles na estalagem" (Lucas 2:7). A manjedoura é um lugar humilde,
e precisamente numa manjedoura foi posto o rei dos Judeus quando
nasceu; Deus poderia ter feito com que se liberasse um lugar na estalagem
para José e Maria, mas não o permitiu, no entanto o menino que Maria
deu à luz era o Filho do Altíssimo. Em seguida José com Maria e o menino
se mudaram para uma casa porque foi numa casa que os magos vindos do
Oriente encontraram o menino e o adoraram, conforme está escrito:
"E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se,
o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro,
incenso e mirra" (Mat. 2:11); também aqui é necessário dizer que a Escritura
não fala de um palácio mas diz simplesmente: "Na casa". Pelo que respeita
às dádivas que os magos ofereceram a Jesus é necessário dizer que elas
não foram conservadas por Jesus como seu tesouro pessoal na terra,
porque ele mesmo disse: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça
e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam" (Mat.
6:19), e isto o digo porque há gente perversa que faz insinuações sobre
o fim que estas dádivas tiveram em seguida. Nós as suas insinuações as
destruímos porque sabemos que Jesus nasceu sem pecado e viveu de maneira
irrepreensível durante todos os dias da sua carne (por isso também durante
os anos da sua meninice e da sua adolescência). |
Jesus, o Filho de Deus, nasceu segundo a carne não
só num lugar humilde, mas também de pessoas humildes, com
efeito, o seu Pai o fez nascer segundo a carne numa família pobre
e não numa família rica da casa de Davi daquele tempo (coisa que
Deus poderia ter feito, mas não o fez porque não era segundo a sua
vontade). Com base na lei de Moisés, a mulher, depois de dar à luz
um filho (quando os dias da sua purificação se cumprissem) devia
oferecer um holocausto e um sacrifício pelo pecado, conforme está
escrito: "E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação,
seja por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano para holocausto,
e um pombinho ou uma rola para oferta pelo pecado, à porta da tenda
da revelação, ao sacerdote, o qual o oferecerá perante o Senhor,
e fará, expiação por ela; então ela será limpa do fluxo do seu sangue...
Mas, se as suas posses não bastarem para um cordeiro, então tomará
duas rolas, ou dois pombinhos: um para o holocausto e outro para a oferta
pelo pecado; assim o sacerdote fará expiação por ela, e ela será limpa"
(Lev. 12:6-8). Lucas, a tal propósito, diz: "E, cumprindo-se os dias
da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém,
para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do
Senhor: Todo o macho primogénito será consagrado ao Senhor); e para
darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas
ou dois pombinhos" (Lucas 2:22-24); por estas palavras se deduz claramente
que José e Maria eram pobres. |
Jesus mesmo viveu pobre neste mundo porque está escrito:
"Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por
amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis" (2 Cor.
8:9); e de facto não tinha nem sequer um lugar onde reclinar a cabeça conforme
ele disse: "As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do
homem não tem onde reclinar a cabeça" (Lucas 9:58). Mas de quais casas luxuosas
era proprietário Jesus na terra? O Rei dos Judeus, quando viveu na terra,
não viveu num palácio real, não usou roupas magníficas e nem viveu em delícias
como fazem os reis da terra; ele disse que "aqueles que trajam roupas preciosas,
e vivem em delícias, estão nos paços reais" (Lucas 7:25), mas ele não esteve
entre aqueles; no entanto era o rei de Israel. Ele teria podido permitir-se
viver como rei, mas renunciou a isso; ele preferiu aniquilar-se a si mesmo
e tomar a forma de servo para servir. |
O Rei de Israel nos dias da sua carne não se vestiu
de púrpura nem pôs uma coroa de ouro na cabeça; os seus trajes
modestos consistiam em vestes e numa túnica a qual "tecida
toda de alto a baixo, não tinha costura" (João 19:23). Foram aqueles
que o escarneceram que o vestiram de púrpura, com efeito, está escrito:
"E os soldados o levaram dentro à sala, que é a da audiência, e
convocaram toda a coorte. E vestiram-no de púrpura.." (Mar. 15:16,17);
foram ainda os soldados que lhe puseram uma coroa na cabeça...mas
de espinhos, conforme está escrito: "E tecendo uma coroa de espinhos,
lha puseram na cabeça.." (Mar. 15:17). |
Era o Rei dos Judeus, mas depois que matou a fome
a milhares de pessoas com apenas cinco pães e dois peixes,
quando soube que estavam prestes a vir arrebatá-lo para o fazerem
rei "tornou a retirar-se, ele só, para o monte" (João 6:15).
Ele não procurou a glória dos homens, mas a do Pai que o tinha
enviado. Se tivesse procurado a glória dos homens, quando soube que
as pessoas estavam prestes a vir arrebatá-lo para o fazerem rei não
se teria retirado para o monte sozinho. |
Quando Jesus entrou em Jerusalém não entrou montado
sobre um cavalo branco ou levado pelos seus discípulos numa
liteira real como faziam os reis antigos, mas montado sobre
o filho de uma jumenta conforme está escrito: "E achou Jesus um
jumentinho e montou nele, conforme está escrito: Não temas, ó filha
de Sião; eis que vem teu Rei, montado sobre o filho de uma jumenta!"
(João 12:14,15; Zac. 9:9). Jesus era humilde de coração, mas isto
não se limitou a dizê-lo com a boca, mas o demonstrou também com factos;
Ele nunca ambicionou coisas altas, mas acomodou-se às humildes. O repito:
Viveu pobre; sim irmãos, é assim, com efeito ele não tinha consigo nem
sequer a didracma com a qual pagar o imposto anual que todo o israelita,
da idade de vinta anos para cima, devia pagar para a manutenção do culto,
com efeito disse a Pedro: "Vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro
peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o,
e dá-lho por mim e por ti" (Mat. 17:27). |
Jesus era pobre mas teria podido se tornar um homem
muito rico materialmente se tivesse começado a pedir compensações
pelos seus ensinamentos e pelas suas curas, mas Ele não cuidou
que a piedade seja causa de ganho, como fazem hoje muitos pregadores
corruptos de entendimento e extraviados; Jesus Cristo exerceu
"a piedade com contentamento" (1 Tim. 6:6), deixando-nos o exemplo
a seguir. |
Os pregadores da prosperidade económica ousam até dizer que quem é pobre na terra não tem uma grande fé em Deus, mas sim muito pouca fé. Mas o que querem dizer com isto? Que Jesus Cristo, sendo pobre não tinha uma grande fé em Deus? Ou porventura que Jesus era um homem de pouca fé porque não possuía nada na terra? Jesus Cristo teve uma grande fé em Deus e o demonstrou seja com o fazer muitíssimos sinais e prodígios e obras poderosas em nome do seu Pai, seja com o não pedir ofertas para si, e seja com o dar a sua vida por nós. O Justo viveu pela fé, enquanto estes faladores vãos e rebeldes mostram a sua incredulidade porque pedem dinheiro como fazem os mendigos; alguns deles choram também ao pedi-lo, outros maldizem os que não lhes dão nada ou lhes dão pouco; estes são mercadores que põem à venda as suas pregações; cada um deles estabelece a sua própria tarifa (que sobe à medida que se torna mais famoso). Mas onde está toda esta grande fé que dizem ter em Deus, estes que vivem nas delícias, nos deleites da vida, no meio do luxo desenfreado? Dizem ter fé em Deus, mas na verdade têm fé, e muita, nos seus caminhos tortuosos e nas suas riquezas que acumularam oprimindo os fiéis com as passagens da Escritura que concernem a dar. Roubaram as ovelhas do Senhor, arrancaram-lhes o dinheiro das suas mãos com os mais variados pretextos; acumularam bens em grande quantidade com a fraude e depois ousam dizer: ‘Vedes como Deus me abençoou? Vedes? O Senhor honra aqueles que o honram’, e outras belas palavras, mas falsas. E os simples crêem neles, mas nenhum ou quase nenhum dentre os seus ouvintes sabe quanto, estes pregadores roubaram e espoliaram dos seus bens. |
Estes pregadores falam dos seus bens como se Deus
lhos tivesse dado pela sua recta e justa conduta; dizem
ser como Abrão, mas não o são, porque são como Balaão; Abrão
sim foi chamado amigo de Deus, mas estes não são amigos de Deus
mas sim inimigos de Deus porque são amigos do mundo (conforme está
escrito: "Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se
inimigo de Deus" [Tiago 4:4]). |
Os apóstolos eram pobres mas enriqueciam a muitos |
Também os apóstolos eram pobres, com efeito, Paulo
aos Coríntios escreveu dele e dos seus cooperadores: "Pobres,
mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo!"
(2 Cor. 6:10). Eram pobres materialmente mas enriqueciam a muitos
espiritualmente; por meio deles a igreja foi edificada e por meio
dos escritos de Paulo que era pobre e nada tinha, a igreja sobre
a face de toda a terra é ainda edificada, enriquecida e consolada.
A mesma coisa não se pode dizer destes que pregam o Evangelho e destroem
a vinha do Senhor porque não cuidam de modo nenhum dela, estando virados
para o seu próprio caminho; certo são ricos materialmente mas pobres
espiritualmente, e os santos, não são enriquecidos por meio deles, nem
de viva voz e nem por meio dos seus livros áridos e muito caros que
falam sobretudo de bem-estar material, ou melhor, de como ser cristão
e fazer dinheiro. |
Portanto, os apóstolos do Senhor, apesar de pobres
enriqueciam a muitos; mas de que maneira os enriqueciam?
Que bens preciosos lhes comunicavam? |
Tomemos por exemplo Paulo; ele disse aos Romanos:
"E bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude
das bênçãos de Cristo" (Rom. 15:29); portanto ele estava convicto
que Cristo abençoaria aquela igreja através dele (porque iria
ter com eles com a plenitude das bênçãos de Cristo); vejamos de
que maneira. No início da epístola disse aos santos de Roma: "Porque
desejo muito ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim
de que sejais fortalecidos" (Rom. 1:11); por estas palavras se deduz
que Paulo enriquecia os santos comunicando-lhes dons espirituais (isto
significa que o Espírito Santo através dele comunicava dons aos santos
segundo a vontade de Deus). Deus, mediante a imposição das mãos de
Paulo, comunicava o dom do seu Santo Espírito (Paulo a Timóteo disse:
"Te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição
das minhas mãos" [2 Tim. 1:6]), e juntamente com o Espírito Santo
(quando o queria Deus) também dons espirituais, como no caso daqueles
cerca de doze discípulos de Éfeso dos quais está escrito que "impondo-lhes
Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas,
e profetizavam" (Actos 19:6). O Senhor curava também muitos doentes
através de Paulo (em Éfeso "Deus pelas mãos de Paulo fazia milagres extraordinários.
De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos
enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos
saíam" [Actos 19:11,12]) por isso muitos doentes através dele receberam
a cura que é também ela uma bênção de Cristo que não se pode comprar
com dinheiro. Paulo enriquecia os santos em sabedoria e em conhecimento,
porque transmitia-lhes a sabedoria e o conhecimento que ele tinha
recebido do próprio Senhor; nós próprios reconhecemos ter sido enriquecidos
em sabedoria e em conhecimento através das epístolas de Paulo. Isaías
disse que "a sabedoria e o conhecimento são uma riqueza de libertação"
(Is. 33:6), e é por isso que os apóstolos a quem Deus deu sabedoria e conhecimento
podiam enriquecer aqueles que os ouviam falar. |
Devo lembrar-vos irmãos que quando se fala de Paulo,
fala-se de um homem de Deus que não procurou nem o seu próprio
interesse e nem as dádivas materiais dos santos, com efeito
disse aos Filipenses: "Não que procure dádivas, mas procuro
o fruto que abunde para a vossa conta" (Fil. 4:17); quantos hoje
podem dizer a mesma coisa? Deus o sabe. Certamente poucos. Alguns
que pregam não procuram o fruto que abunda para a conta dos crentes,
de modo nenhum, estão empenhados a procurar os bens materiais dos
crentes; nunca estão contentes com o que têm; quanto mais têm mais
querem ter. Entre estes estão os que pregam a mensagem da prosperidade
que demonstram não querer enriquecer os crentes como faziam os apóstolos,
mas de querer eles mesmos enriquecer com os bens materiais dos crentes.
Estes, em vez de desejarem os dons do Espírito Santo desejam o ouro
e a prata dos crentes; estes em vez de edificarem a casa de Deus querem
edificar os seus palácios e construir os seus impérios na terra. Fazem
o contrário dos apóstolos; mas aliás não pode ser doutra forma, porque
estes, quanto à fé, naufragaram. Ide ver e verificai o tipo de vida que
fazem aqueles que pregam esta particular mensagem e vereis com os vossos
olhos que para estes bens espirituais e edificar a igreja não importa absolutamente
nada, digo absolutamente nada, porque é gente que ambiciona as coisas da
terra e cobiçosa de torpe ganância. |
Também o apóstolo Pedro era pobre mas enriquecia
a muitos. Tomemos por exemplo aquilo que Deus operou, à porta
do templo chamada ‘Formosa’, mediante este seu servo. Está escrito:
"E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo,
o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa,
para pedir esmola aos que entravam. O qual, vendo a Pedro e a João
que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola. E Pedro,
com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós. E olhou para
eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro: Não tenho
prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo,
o Nazareno, levanta-te e anda. E, tomando-o pela mão direita, o levantou,
e logo os seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se
em pé, e andou..." (Actos 3:2-8); como podeis ver Pedro não tinha consigo
nem prata e nem ouro para repartir com aquele homem que mendigava,
mas ele tinha dons espirituais que punha ao serviço dos outros para que
dele recebessem o bem. Neste caso, o Senhor, através de Pedro, deu
uma perfeita cura àquele coxo. Este episódio leva-nos a reflectir sobre
a importância da fé e dos dons do Espírito Santo. Certo, é bom fazer
esmolas, porque isso é da vontade de Deus, mas é bom também desejar
ardentemente os dons do Espírito Santo, a fim de ver a igreja edificada
e de ver os doentes curados pelo poder de Deus. Quando, pelo contrário,
se começa a pensar nas coisas da terra se começa a não desejar mais
ardentemente os dons espirituais e por isso se deixa de querer edificar
a igreja. Paulo, falando dos dons espirituais, disse aos Coríntios:
"Vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação
da igreja" (1 Cor. 14:12); os pregadores de Mamom, pelo contrário, te
exortam a procurar abundar cada vez mais de bens materiais. Procuram
fazer-te vir a querer enriquecer materialmente mas não a querer enriquecer
espiritualmente. Muitas vezes dizem que no início eram pobres e depois
se tornaram ricos; mas a trágica realidade é que alguns deles eram ricos
espiritualmente no início do seu ministério e depois empobreceram até
se tornarem miseráveis. Irmãos, a sorte que espera todos aqueles que
se deixam tomar pelo desejo de enriquecer é esta, por isso cuidemos
de nós mesmos para não nos acharmos na mesma condição espiritual do
anjo da igreja de Laodicéia. |
Em Cristo fomos enriquecidos |
Vejamos agora quais são os bens que fazem rico quem
os possui. |
Antes de tudo é necessário dizer que "Cristo é tudo
em todos" (Col. 3:11) e que n`Ele portanto nós temos tudo plenamente
"porque o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito
à vida e à piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou" (2
Ped. 1:3). Jesus Cristo é aquele tesouro escondido no campo que
encontrámos; Ele é a pérola de grande valor que nós encontrámos;
Ele é o nosso ouro. Jesus Cristo é o dom celestial que Deus nos deu;
Ele é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Jesus é também a nossa paz
e a nossa esperança, portanto quem recebeu Cristo Jesus possui tudo
e mesmo se é pobre segundo o mundo é rico para com Deus. |
Ÿ Os dons espirituais, os de ministério, e o conhecimento das coisas de Deus são bens preciosos. |
Paulo escreveu aos Coríntios: "Sempre dou graças
a Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi dada em Cristo
Jesus; porque em tudo fostes enriquecidos nele, em todo o dom
de palavra e em todo o conhecimento, assim como o testemunho de Cristo
foi confirmado entre vós; de maneira que nenhum dom vos falta..."
(1 Cor. 1:4-7). Por estas palavras se deduz que os dons do Espírito
Santo, os dons de ministério e todo o conhecimento espiritual
das coisas de Deus constituem bens espirituais preciosos, pelo
que quem os possui é rico. |
Ÿ A fé é um bem precioso. |
Tiago, na sua epístola, diz: "Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?" (Tiago 2:5). Deus escolheu os pobres segundo o mundo para enriquecê-los na fé, portanto a fé que nós crentes recebemos de Deus (conforme está escrito: "Isto não vem de vós, é dom de Deus" [Ef. 2:8]) é um bem precioso que faz ricos aqueles que a possuem. |
Também Pedro confirmou que a nossa fé é valorosa quando disse no início da sua segunda epístola: "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que connosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo" (2 Ped. 1:1). Irmãos, vos deveis dar conta que a fé que recebestes não a têm todos (conforme está escrito: "A fé não é de todos" [2 Tess. 3:2]) e tem um grande valor diante de Deus, portanto não a lanceis fora, porque em tal caso lançareis fora a salvação da vossa alma condenando-vos a vós mesmos. |
Sabei porém que existe também uma fé fingida que
não vale nada, precisamente porque é fingida. |
Pelas palavras de Tiago se compreende também que
aqueles que creram (sendo herdeiros de Deus e co-herdeiros
de Cristo) são herdeiros do reino de Cristo e de Deus, por isso
mesmo se pobres materialmente são ricos e felizes. Jesus testificou
a bem-aventurança dos pobres que tinham crido nele quando, "levantando
ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós,
os pobres, porque vosso é o reino de Deus" (Lucas 6:20). Nós proclamamos
que os pobres dentre os santos são felizes e ricos porque aprouve
a Deus fazê-los herdeiros do seu reino. |
Ÿ A sabedoria de Deus é um bem precioso. |
Está escrito: "Bem-aventurado o homem que acha sabedoria.
Porque é melhor a sua mercadoria do que artigos de prata, e
maior o seu lucro que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que
os rubis, e tudo o que mais possas desejar não se pode comparar a ela"
(Prov. 3:13-15). Ora, como Deus disse ao homem: "Eis que o temor do
Senhor é a sabedoria" (Jó 28:28), por conseguinte, quem tem temor de
Deus tem também a sabedoria divina (porque o temor de Deus produz sabedoria),
mas quem não teme Deus não tem sabedoria. Oh, quão precioso é o temor
de Deus para quem o possui! Ele é verdadeiramente o seu tesouro,
conforme está escrito em Isaías: "O temor do Senhor é o tesouro de
Sião" (Is. 33:6). |
Salomão foi um homem muito sábio porque possuiu muita
sabedoria, mas também foi um homem muito rico materialmente. As riquezas que
Salomão possuiu foram verdadeiramente enormes; basta dizer a tal respeito
que "o peso do ouro, que vinha em um ano a Salomão, era de
seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro (tende presente
que um talento equivalia a cerca de quarenta e cinco quilos) afora
o que os negociantes e mercadores traziam; também todos os reis
da Arábia, e os governadores da mesma terra traziam a Salomão ouro
e prata" (2 Cron. 9:13,14), e que no seu tempo "a prata reputava-se
por nada" (2 Cron. 9:20) porque "fez o rei que em Jerusalém houvesse
prata como pedras" (1 Re 10:27). |
No entanto, o mesmo Salomão disse: "Há ouro e abundância
de rubis, mas os lábios do conhecimento são jóia mais preciosa"
(Prov. 20:15), e ainda: "Quão melhor é adquirir a sabedoria do
que o ouro" (Prov. 16:16). Assim pensava Salomão que foi o maior
de todos os reis da terra em sabedoria e riquezas; mas infelizmente
hoje nem todos pensam da mesma maneira, porque também no nosso
meio alguns consideram as riquezas materiais mais preciosas do que
a sabedoria de Deus e se enganam grandemente. |
Aqueles que falam melhor de riquezes materiais do que da sabedoria se desviaram; aqueles que exaltam os bens materiais (o se percebe quando os se ouve falar) acima da sabedoria de Deus são homens corruptos de entendimento privados do temor de Deus; guardai-vos desta gente para não vos corromperdes e vos desviardes da fé. |
Ÿ A Palavra de Deus é um bem muito mais precioso do que as riquezas materiais, com efeito, está escrito: "Melhor é para mim a lei da tua boca do que milhares de moedas de ouro ou prata" (Sal. 119:72), e: "Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino" (Sal. 119:127), e ainda: "Os juízos do Senhor são verdadeiros e inteiramente justos. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino" (Sal. 19:9,10). Vede irmãos, aqueles que amam o ouro e a prata não são saciados nem com o ouro e nem com a prata, mas aqueles que amam a Palavra de Deus são saciados por ela, porque ela os consola quando estão abatidos, os fortifica quando estão fracos, os repreende para que não se encham de ais, os guia em todas as circunstâncias da sua vida e os instrui em toda a sabedoria. O dinheiro não pode fazer o que faz a palavra de Deus portanto, apesar de útil a todos nós, ele não deve e não pode ser considerado mais importante do que a Palavra de Deus. Como são ricos aqueles que fazem morar abundantemente a Palavra de Deus no seu coração! Mas como são pobres os que, pelo contrário, não fazem morar a Palavra de Cristo no seu coração! Amam o dinheiro mais do que a Palavra de Deus, que loucura! Têm a carteira cheia de dinheiro, mas o coração vazio ou quase da Palavra de Cristo. Querem guardar com cuidado o seu dinheiro mas não querem guardar a Palavra de Deus no seu peito, porque não têm mais prazer nela e não lhe prestam mais atenção. |
As sagradas Escrituras não são mais o objecto da
sua meditação e do seu diligente estudo; não, porque eles agora
estudam e meditam como enganar o seu próximo para se enriquecerem
o mais rapidamente possível. Eles competem nesta corrida atrás
do luxo, ou melhor, atrás do vento, com os que têm um coração teimoso
como o seu; são pobres e miseráveis, demonstram sê-lo mas também
de querê-lo ser. |
Ÿ Ter um bom nome e ser estimado são bens preciosos. |
Está escrito: "Vale mais ter um bom nome do que muitas
riquezas; e o ser estimado é melhor do que a riqueza e o ouro" (Prov. 22:1).
|
Aqueles que têm um bom nome e gozam da estima do
próximo são aqueles que temem a Deus e observam os seus mandamentos;
para estes o bom nome e a estima são coisas mais importantes
do que as riquezas e o dinheiro, e por isso preferem ter pouco
com o temor de Deus e com um bom testemunho, do que grandes rendas
com injustiça e com um mau testemunho. |
Quero que saibais também que, pelo contrário, aqueles que querem enriquecer não têm nem um bom nome e nem são estimados porque eles "caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas" (1 Tim. 6:9). Isto é o que acontece aos que deixam de estar contentes com o que têm e começam a amar o dinheiro. Guardai-vos pois destes pregadores ávidos de ganho a quem não importa nada nem o bom nome e nem a estima, porque se vos deixais arrastar para os seus caminhos vos corrompereis como eles. |
Estes com as suas conversas vãs não dão bom testemunho dos crentes pobres, na verdade, os fazem passar por gente que tem pouca fé; mas eu quero lembrar-vos que na carta aos Hebreus estão escritas as seguintes palavras em referência aos antigos: "Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra" (Heb. 11:37,38). Eis como andaram vestidos estes (de peles de ovelhas e de cabras e não de vestes preciosas); eis qual era a sua condição social (necessitados, e não milionários); eis como foram tratados estes pelo mundo de então (foram aflitos e maltratados, e não premiados com troféus); eis onde foram obrigados a errar (pelos desertos, montes, pelas covas e cavernas da terra); mas sabeis o que diz a Escritura destes dos quais o mundo não era digno? Isto: "E todos estes, embora tendo tido bom testemunho pela sua fé, não alcançaram a promessa" (Heb. 11:39). Portanto, se por um lado estes foram necessitados, aflitos e maltratados, por outro eles agradaram a Deus pela sua fé e pela sua conduta. |
Ÿ As boas obras constituem riquezas. |
Paulo disse a Timóteo para mandar aos que eram ricos
neste mundo que "enriqueçam em boas obras" (1 Tim. 6:18);
portanto aqueles que são zelosos nas boas obras e abundam nelas
são ricos para com Deus mesmo se são pobres. |
Aqueles que não esquecem de exercitar a beneficência
e de repartir com os outros os seus bens se conduzem como
sábios, e ajuntam tesouros no céu e por isso aos olhos de Deus
são ricos embora possam ser aos olhos dos homens pobres. Paulo,
escrevendo aos Coríntios, fez-lhes conhecer a graça de Deus dada
às igrejas da Macedónia por contribuírem para a colecta destinata
aos pobres dentre os santos; ele disse-lhes: "Irmãos, vos fazemos
conhecer a graça de Deus que foi dada às igrejas da Macedónia; como,
em muita prova de tribulação, a abundância do seu gozo e sua profunda
pobreza abundaram em riquezas da sua generosidade. Porque, dou-lhes
testemunho de que, segundo as suas posses, e ainda acima das suas
posses, deram voluntariamente, pedindo-nos, com muito encarecimento,
o privilégio de participarem deste serviço a favor dos santos" (2
Cor. 8:1-4). Estas igrejas da Macedónia, embora profundamente pobres
se demonstraram ricas em boas obras porque contribuíram generosamente
para a colecta destinada aos santos, dando acima das suas posses,
e disto deu-lhes testemunho Paulo. |
Jesus, a fiel Testemunha, deu este testemunho (semelhante
ao de Paulo) acerca do anjo da igreja de Esmirna, com efeito,
lhe disse: "Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu
és rico).." (Ap. 2:9). |
Segundo estas Escrituras há pobres entre os santos que são ricos para com Deus porque possuem tesouros no céu; e como os tesouros no céu os se faz dando esmolas e fazendo toda a boa obra é necessário concluir que estes pobres são ricos em fé, porque demonstram com o observar da Palavra de Deus, ter plena confiança nela. Mas vós pensais que um homem com pouca fé venderia alguma vez os seus bens para dar esmolas como disse Jesus? Mas pensais que um crente pobre que dá acima das suas posses tenha pouca fé em Deus? Mas não são porventura aqueles ricos que dão o seu supérfluo que mostram ter pouca fé em Deus? Vos lembrais daquela pobre viúva que deitou na caixa das ofertas apenas duas moedas? Que disse Jesus dela? Ele disse que ela tinha deitado na caixa mais do que todos aqueles ricos que nela deitavam muito. Porquê? Porque ela deitou lá dentro tudo aquilo que possuía para viver, enquanto os ricos deitaram lá do seu supérfluo. Aquela pobre viúva demonstrou a sua fé em Deus e o seu amor para com o Senhor desta maneira. Aquela pobre mulher sim era rica em fé e em boas obras! |
Aqueles que, pelo contrário, não querem repartir com os outros os seus bens demonstram falta de confiança na Palavra de Deus. São os ricos avarentos que demonstram não ter fé em Deus, e não os pobres que dão com generosidade. |
Portanto não é de modo nenhum verdade que quem é
pobre não tem uma grande fé em Deus; eu estou seguro que quando
estivermos lá em cima no céu assistiremos a uma inversão das
classificações feitas por muitos na terra, porque veremos irmãos
que na terra eram pobres segundo o mundo, muito ricos, e alguns
que eram ricos segundo este mundo que ao contrário possuirão tesouros
inferiores aos deles. Teremos modo de nos alegrarmos assim muito ao
ver manifestada diante dos nossos olhos a excelsa justiça de Deus; ainda
um pouco de tempo e assistiremos também a isto. |
Ÿ O espírito benigno e pacífico tem um grande valor. |
Pedro disse às mulheres na sua primeira epístola:
"O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças
dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos,
mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito
benigno e pacífico, que é precioso diante de Deus. Porque assim se
adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus"
(1 Ped. 3:3,4). |
A mulher que tem o seu coração enfeitado com este
adorno incorruptível é uma mulher rica, porque possui algo
que é de grande preço, algo que tem mais valor até do que jóias
de ouro e vestidos luxuosos. As mulheres altivas querem mostrar
que são ricas usando jóias de ouro e vestidos sumptuosos; a mulher
que teme a Deus ao contrário quer mostrar que é rica no Senhor seguindo
o bem alheio e seguindo a paz com todos. |
Portanto, segundo a Escritura, entre uma mulher
rica vestida sumptuosamente e ornamentada com jóias de ouro muito caras,
mas ao mesmo tempo astuta de coração, rixosa e irritadiça, e uma mulher pobre
mas forte e virtuosa que veste modestamente e tem um coração adornado de
um espírito benigno e pacífico, a mais rica é esta última. |
Ÿ O vitupério de Cristo é uma riqueza. |
Esta expressão poderá parecer estranha e inverosímil,
mas o certo é que tem um fundamento escritural. A Escritura
diz: "Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho
da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo
de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo
por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros
do Egipto; porque tinha em vista a recompensa" (Heb. 11:24-26).
|
Como podeis ver Moisés recusou ser chamado filho
da filha de Faraó e escolheu ser maltratado junto com o povo
de Israel porque considerou o vitupério que teria logo por causa
de Cristo uma riqueza; uma riqueza maior até do que os tesouros
do Egipto. Também nós devemos estimar o vitupério de Cristo riqueza
maior do que os tesouros deste mundo, porque o vitupério de Cristo
tem uma grande recompensa da parte de Deus. Bem-aventurados e ricos
são pois todos aqueles que são vituperados por causa de Cristo! Esta é
uma expressão que os de fora consideram absurda e feita por gente que perdeu
o juízo, precisamente nós, mas não temais porque ela tem a plena confirmação
de Jesus Cristo que ainda diz: "Bem-aventurados sereis quando os homens
vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos injuriarem,
e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do homem.
Regozijai-vos nesse dia e exultai, porque eis que é grande o vosso galardão
no céu; pois assim faziam os seus pais aos profetas" (Lucas 6:22,23). |
É necessário dizer porém que nem todos hoje pensam
como pensava Moisés, na verdade, alguns consideram a riqueza
material superior ao vitupério de Cristo. Aqueles que têm este
sentimento devem fazer-se loucos para se tornarem sábios e ricos
para com Deus. |
Ÿ A prova da nossa fé é muito preciosa. |
Pedro disse: "Pelo poder de Deus sois guardados,
mediante a fé, para a salvação que está preparada para se
revelar nos últimos tempos; na qual exultais, ainda que agora
por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados
por várias provações, para que a prova da vossa fé, muito mais
preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde
para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo..." (1 Ped.
1:5-7). |
Caros irmãos, a prova que fazemos em Cristo e com a qual a nossa fé é provada, é muito mais preciosa do que o ouro que perece, ainda que o ouro seja provado pelo fogo. Quero mostrar-vos como as riquezas têm um valor inferior à prova da nossa fé pondo em confronto o que as riquezas proporcionam com o que a nossa tribulação produz. |
As riquezas fazem isto: proporcionam grande número
de amigos mas também muitas dores, aborrecimentos e preocupações
aos que as desejam e delas tomam posse; mas não só, elas enganam
os que confiam nelas e impedem à Palavra de dar fruto neles e
no fim os afundam na destruição e na perdição. Esta é a razão pela
qual Salomão disse que "quem ama as riquezas não tira delas proveito"
(Ecl. 5:10) e que "de nada aproveitam as riquezas no dia da ira"
(Prov. 11:4). Mas o que produz, pelo contrário, a nossa tribulação?
Paulo diz que "a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência,
e a experiência a esperança" (Rom. 5:3,4); como podeis ver a tribulação
produz directamente paciência e indirectamente produz também experiência
e esperança. Tiago confirmou as palavras de Paulo dizendo: "A prova
da vossa fé produz a paciência e a paciência tenha a sua obra perfeita,
para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma"
(Tiago 1:3,4 RC e RA). Mediante as tribulações nós somos aperfeiçoados
por Deus e por isso damos graças a Deus também por elas, porque elas
produzem em nós a paciência, aquela paciência que nos é tão preciosa
na nossa vida e de que temos todos necessidade para obter o que Deus
nos prometeu. Se as tribulações não nos proporcionassem o bem a nós crentes,
Paulo não teria dito: "Sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo" (2
Cor. 12:10); mas ele dizia estas palavras porque ele experimentava o
poder de Deus no meio das suas tribulações e porque por meio delas ele
era fortificado por Deus, de maneira que podia dizer: "Porque quando
estou fraco então sou forte" (2 Cor. 12:10). |
Nunca lestes a Escritura que diz: "Quem oprime o
pobre, enriquece-o" (Prov. 22:16)? Sabeis porque o pobre se
torna rico quando é oprimido? Porque a sua tribulação lhe produz
paciência e um peso eterno de glória conforme está escrito: "A
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno
de glória mui excelente" (2 Cor. 4:17), sim, porque as nossas tribulações
nos proporcionam também glória; isto o confirmou também Pedro com estas
palavras: "Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que
o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória
e honra na revelação de Jesus Cristo" (1 Ped. 1:7). São estas as razões
pelas quais nós podemos dizer com toda a confiança que o proveito
que se tira da tribulação é muito mais precioso do que aquele que se
extrai do ouro que é provado pelo fogo. |
Uma das características daqueles que pregam a mensagem
da prosperidade é de não quererem falar de sofrimento, de perseguições,
como se fossem coisas que os crentes não devam experimentar durante
a sua vida. Mas as aflições e as perseguições estão na ordem do
dia na vida daqueles crentes que querem viver plenamente em Cristo
Jesus, portanto não se pode não falar delas porque isto significaria
fazer parecer a vida de quem se converte ao Senhor como uma vida
sem tribulações. A razão pela qual estes não pregam sobre estes assuntos
é porque eles sabem que os discursos acerca do bem-estar material
são muito mais agradáveis de ouvir do que aqueles acerca das perseguições
e dos sofrimentos; eles consideram que um cristão não deva sofrer
por causa da justiça, mas um cristão que não sofre que tipo de cristão
é? Como podem dizer estes tais heresias quando Jesus mesmo disse: "No
mundo tereis tribulações... Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão
a vós" (João 16:33; 15:20), e os apóstolos disseram que "por muitas
tribulações nos importa entrar no reino de Deus" (Actos 14:22)? Não
se pode demonstrar nem com as Escrituras nem com os factos que os crentes
não são chamados a sofrer neste mundo, antes as Escrituras e os factos
testificam exactamente o contrário. Tomemos as seguintes palavras
de Paulo aos Coríntios: "Até a presente hora padecemos fome, e sede;
estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e
nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados,
e bendizemos; somos perseguidos, e o suportamos; somos difamados, e
exortamos; até o presente somos considerados como o lixo do mundo, e
como a escória de todos" (1 Cor. 4:11-13); não estão porventura a demonstrar
que os que anunciam a Palavra de Deus têm muitos inimigos e sofrem perseguições
de todo o género? Porém elas não agradam a estes pregadores. O seu
Evangelho é privado de aflições; as suas pregações versam sobre o sucesso
e sobre o dinheiro; mas aliás, como poderiam alguma vez porem-se a pregar
a renúncia a si mesmo quando eles próprios ainda não renunciaram a si
mesmos? |
A sua mensagem é atraente e sedutora também por esta
característica, porque é privada destes assuntos. Toda a mensagem que não
põe em relevo as aflições que um crente deve padecer sobre a terra encontrará
sempre muitas pessoas dispostas a aceitá-la, porque hoje quase
ninguém quer ouvir falar de ter que sofrer pelo Evangelho. Quase
todos querem apenas ouvir que Deus nos ama, que não nos fará faltar
nada, que é bom e pronto a perdoar quem vai a ele. E se depois a
estas palavras se acrescenta que quem vai ao Senhor não terá mais
problemas, e Deus o fará prosperar economicamente e o fará viver
sobre esta terra como um filho de rei, então a mensagem encontra ainda
um mais largo consenso. Dilectos, acautelai-vos; não sejais enganados
por estes faladores vãos, porque Jesus disse: "Quem não toma a sua
cruz, e não segue após mim, não é digno de mim" (Mat. 10:38), e ainda:
"Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não
pode ser meu discípulo" (Lucas 14:33), enquanto estes queriam vos fazer
seguir o Senhor sem levardes a vossa cruz e sem renunciardes a vós mesmos.
Isto é impossível fazê-lo, porque a vereda cristã está cheia de sofrimentos
e de renúncias; eu, as pisadas de Cristo não as encontrei numa estrada
cómoda onde não há necessidades, perseguições, e angústias, mas numa
estrada apertada onde diariamente há lutas a enfrentar e aflições a padecer
por causa da justiça. Foi sobre esta que comecei a caminhar e é sobre esta
que quero terminar de caminhar com o meu Senhor; as estradas cómodas sem
perseguições mas com os prazeres da vida à mão não têm nada a ver com o
caminho santo, não entreis por elas porque elas conduzem para longe do Senhor
e dos seus mandamentos. |
Ser pobre segundo o mundo não é uma desonra para
os Cristãos |
Vejamos agora uma das afirmações que mais frequentemente
se ouve fazer a estes pregadores, a saber, a seguinte expressão:
‘Deus não quer que hajam pobres no meio do seu povo, mas quer
que todos os seus filhos sejam ricos materialmente’. |
Antes de tudo é necessário dizer que da maneira como falam estes faladores vãos parece que os crentes pobres são aqueles que têm o que é necessário ao corpo, isto é, de que se alimentarem e de que se cobrirem, que moram em casas modestas e têm um carro modesto, e que vestem vestes modestas e que estão contentes com o que têm. Julgai por vós mesmos: ‘Mas como podemos aceitar uma tal definição de pobre? |
Segundo a Escritura os pobres são os necessitados
que têm necessidade das coisas necessárias como comida, roupa
e outras coisas úteis; mas além disso, ainda segundo a Escritura,
no meio do povo de Deus os pobres haviam desde os tempos antigos
e haverão também durante a nossa geração. Ora, mas como é possível
que hajam pobres no meio do povo de Deus? A razão é que nem todos
os crentes vivem na mesma nação e gozam das mesmas circunstâncias favoráveis
do ponto de vista climático, económico e político. Explico este conceito.
Ora, a Escritura diz que não basta ser "sábio para ter o pão, nem
ser inteligente para ter riquezas... porque todos dependem do tempo
e das circunstâncias" (Ecl. 9:11). Vejamos com as Escrituras como
mudando as circunstâncias muda também a situação económica das pessoas. |
Ÿ Durante a vida de Jacó aconteceu que Deus "chamou a fome sobre a terra, quebrantou todo o sustento do pão" (Sal. 105:16); isto aconteceu porque Deus fez vir sobre toda a terra uma grave fome. Cuidai que foi Deus a enviar a fome, porque tinha estabelecido fazer descer Jacó e a sua parentela ao Egipto. A descida de Israel ao Egipto (onde entretanto José se tinha tornado governador do país e onde havia trigo) tinha sido preanunciada por Deus a Abrão e Deus se usou da fome para fazer descer Israel ao Egipto. Ora, tende presente que Jacó, quando ouviu dizer que no Egipto havia trigo disse aos seus filhos: "Tenho ouvido que há trigo no Egipto; descei até lá, e de lá comprai-o para nós, a fim de que vivamos e não morramos" (Gen. 42:2), para entenderdes como por causa dessa fome enviada por Deus, Jacó que era um homem que Deus tinha abençoado dando-lhe bois, ovelhas, cabras, jumentos e camelos em grande número, se encontrou perto da morte porque estava sem o pão necessário para viver (e tudo isto por vontade de Deus). Neste caso a pobreza desceu sobre a terra de Canaã por querer de Deus, e Jacó padeceu as consequências dela. De qualquer modo, importa lembrar que Deus libertou Jacó e a sua parentela da morte mediante um grande livramento operado por meio de José (com efeito José, quando se deu a conhecer aos seus irmãos disse-lhes: "Deus enviou-me adiante de vós, para conservar-vos descendência na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento" [Gen. 45:7]). |
Deus fere as nações sobre a terra também não fazendo
chover sobre elas e quando isto acontece, a abundância acaba
e começa a miséria, porque se seca a terra e ela não produz mais
nada, e porque os animais não encontrando que beber morrem de sede.
Quando acontece isto, também os crentes dessa nação sofrem as consequências
porque vêm a encontrar-se em necessidade. |
Aos dias do profeta Elias, Deus não fez chover sobre
Israel por três anos e seis meses porque o seu povo o tinha abandonado,
tinha morto os seus profetas e se tinha voltado para os ídolos.
A seca foi enviada por Deus como flagelo sobre Israel, e como naquele
tempo vivia Elias, também ele se encontrou em necessidade. Mas Deus
proveu o seu sustento enviando-o primeiro junto ao ribeiro de Querite
onde por um certo tempo Deus lhe enviou os corvos levar-lhe pão e
carne pela manhã e à noite, depois, quando o ribeiro secou porque não
chovia, Deus o enviou para junto de uma pobre viúva de Sarepta de Sidom
à qual tinha ordenado dar-lhe de comer. Elias era um homem justo e santo
que obedecia à voz de Deus, no entanto se encontrou na penúria por vontade
de Deus, por causa de uma seca. Não é que Elias se encontrou em necessidade
porque desobedeceu a Deus e Deus o puniu; não se pode dizer também
que Elias se encontrou em necessidade porque se tinha afastado de Deus
e Deus o amaldiçoou. Elias era um santo homem que era movido por um grande
zelo pelo Senhor e no meio da penúria em que se encontrou Deus operou prodígios
em seu favor; primeiro ordenou aos corvos para lhe levarem de comer, e
depois em Sarepta não fez acabar a farinha da panela e não fez faltar da
botija o azeite daquela viúva até ao dia que veio de novo a chuva sobre
a terra. |
Ÿ Depois que Deus libertou os Israelitas da mão de Faraó estabeleceu com eles o seu pacto no qual prometeu que os abençoaria se eles dessem ouvidos à sua voz, observando os seus mandamentos. Mas Deus lhes disse também que os amaldiçoaria e os empobreceria muito no caso deles o abandonarem e se virarem para os ídolos das nações. Isto foi o que aconteceu a Israel quando se desviou da lei de Deus, portanto Deus os fez tornarem-se pobres por causa da sua maldade. Temos uma prova disto no livro dos juízes, quando a Escritura fala da condição económica em que veio a encontrar-se Israel depois que desobedeceu a Deus. Está escrito: "Porém os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor; e o Senhor os deu nas mãos dos midianitas por sete anos. E, prevalecendo a mão dos midianitas sobre Israel, fizeram os filhos de Israel para si, por causa dos midianitas, as covas que estão nos montes, as cavernas e as fortificações. Porque sucedia que, semeando Israel, os midianitas e os amalequitas, e também os do oriente, contra ele subiam. E punham-se contra ele em campo, e destruíam os frutos da terra, até chegarem a Gaza; e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. Porque subiam com os seus gados e tendas; vinham como gafanhotos, em grande multidão que não se podia contar, nem a eles nem aos seus camelos; e entravam na terra, para a destruir. Assim Israel empobreceu muito..." (Juízes. 6:1-6). Como podeis ver neste caso Deus enviou espoliadores para roubar a Israel o seu mantimento por causa da teimosia do seu coração. O seu povo tornou-se pobre porque Deus o empobreceu (lembrai-vos que está escrito que "o Senhor empobrece" [1 Sam. 2:7]). |
Ainda hoje Deus pune as nações e as empobrece enviando
contra elas exércitos estrangeiros que se apropriam dos seus
bens materiais, dos seus animais e dos produtos da sua terra; quando
isto acontece, é inevitável que também os crentes que habitam nessa
nação sofram as consequências disto, vendo diminuir vertiginosamente
também os seus bens materiais. Quando acontece isto nós podemos dizer
que a pobreza sobrevém por vontade de Deus, e portanto se os crentes
dessa nação começam a padecer necessidade, começam-no por vontade de
Deus. Sabei que quando Deus quer instruir-nos a padecer necessidade (Paulo
tinha sido instruído por Deus "tanto a ter abundância, como a padecer
necessidade" [Fil. 4:12]) o faz, e ninguém lho pode impedir. Portanto,
sabei que Deus se pode usar também de uma futura guerra para nos ensinar
a nós crentes aqui no país onde vivemos a padecer necessidade. |
Ÿ Deus pode também fazer subir ao governo um déspota (um ditador) para reduzir a população de uma nação à miséria ou se não à miséria, em angústias; e também neste caso, a igreja de Deus nessa nação sofreria as consequências disso, e se encontraria não mais na abundância mas a padecer necessidade. |
Na antiguidade Deus estabeleceu sobre Israel o rei
Saul, filho de Quis, e fez conhecer ao povo de Israel o modo
de agir deste rei ainda antes que ele se sentasse sobre o seu trono
por vontade de Deus. Eis o que disse Samuel por ordem de Deus ao
povo: "Este será o modo de agir do rei que houver de reinar sobre
vós: tomará os vossos filhos, e os porá sobre os seus carros, e para
serem seus cavaleiros, e para correrem adiante dos seus carros; e os
porá por chefes de mil e chefes de cinqüenta, para lavrarem os seus campos,
fazerem as suas colheitas e fabricarem as suas armas de guerra e os
petrechos de seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras
e padeiras. Tomará o melhor das vossas terras, das vossas vinhas e dos
vossos olivais, e o dará aos seus servos. Tomará o dízimo das vossas
sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos.
Também os vossos servos e as vossas servas, e os vossos melhores mancebos,
e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho" (1 Sam. 8:11-16).
Que Saul oprimiu o povo é confirmado pelo facto de que enquanto ele perseguia
Davi, "ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em aperto, todos os
endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele (Davi) se fez
chefe deles.." (1 Sam. 22:2). |
Ÿ Se subisse ao poder um ditador e os crentes começassem a ser perseguidos e a ser presos aconteceria que muitas famílias seriam privadas dos seus chefes de família e viriam a encontrar-se em necessidade. Isto foi o que aconteceu durante a perseguição dos crentes em muitas nações: maridos aprisionados por causa do Evangelho não puderam mais prover as necessidades dos da sua casa os quais deixaram de viver na abundância e começaram a experimentar a pobreza. Nós sabemos que as perseguições contra os santos acontecem porque Deus as permite a fim de purificar os santos; de facto, é sabido que durante as perseguições os crentes são humilhados por Deus e nesta humilhação começam a mostrar aquele amor fraterno intenso que na abundância e durante o período de liberdade tinha vindo a faltar por causa do egoísmo e da soberba. Os crentes, durante a perseguição, começam a experimentar restrições económicas de todos os géneros, mas por outro lado começam a mostrar grande solidariedade para com os mais atingidos pela perseguição. |
Se as autoridades começassem a perseguir os santos
espoliando-os dos seus bens por causa do Evangelho, os crentes
que tinham vivido até então na abundância começariam a experimentar
a penúria por vontade de Deus, mas tudo isto os santos o aceitariam
com alegria (a Escritura diz: "Com alegria aceitastes a espoliação
dos vossos bens, sabendo que vós tendes uma possessão melhor e permanente"
[Heb. 10:34]). |
Mas todas estas circunstâncias adversas, se por um
lado produzem miséria e pobreza, por outro fornecem aos crentes que vivem
na abundância a oportunidade de fazer o bem em prol daqueles
crentes que venham a encontrar-se na penúria, portanto no fim até
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. |
Mas é normal portanto que entre o povo de Deus hajam
crentes pobres ou isso constitui um facto anormal? Por aquilo
que ensina a Escritura não nos devemos admirar da presença dos pobres
entre os santos, antes quereria dizer que não pode ser doutra forma
porque Jesus disse: "Os pobres sempre os tendes convosco..." (João
12:8), e na lei está escrito que "nunca deixará de haver pobres na
terra" (Deut. 15:11). |
Agora vejamos se é verdade que Deus quer que nós
nos tornemos ricos porque ser pobre constitui uma desonra para
os crentes, como dizem estes pregadores. |
Antes de tudo é necessário dizer que se fosse assim
Jesus não fez a vontade de Deus porque ele viveu pobre sobre
a terra por todo o tempo da sua vida terrena; desonrou porventura
Deus com este tipo de vida Jesus, o Filho do Rei dos reis? De modo
nenhum, doutra forma Ele não teria podido dizer aos Judeus: "Honro a
meu Pai" (João 8:49). Jesus conhecia a vontade do seu Pai; como é que
então não quis se tornar rico? Como é que ele que tinha uma grande fé
em Deus nunca pediu a Deus para dar-lhe riquezas e para fazer-lhe viver
uma vida em delícias como convém a um filho de rei? A resposta está contida
nestas palavras de Jesus: "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha
vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38). |
Se nós depois disséssemos que Deus quer que nós
todos nos tornemos ricos isso significaria que nós deveríamos querer enriquecer
sobre a terra porque esta é a vontade de Deus para connosco.
Mas neste caso seria como dizer que Deus quer que nós caiamos em
tentação; por que digo isto? Porque a Escritura diz que "os que querem
ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências
loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína" (1 Tim.
6:9), portanto, como Deus quer que nós permaneçamos de pé temos que
deduzir que não é a sua vontade que nós nos tornemos ricos neste mundo
(mas como é que estes pregadores nunca dizem que Deus quer que nos tornemos
ricos no outro mundo, isto é, no vindouro?). |
Mas há uma outra coisa a dizer, a saber, que se
esta é a vontade de Deus para com todos nós, então nós temos o direito de
pedir a Deus riquezas em abundância com a confiança que Ele nos ouve porque
João diz: "Esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa,
segundo a sua vontade, ele nos ouve" (1 João 5:14); mas então seria anulada
a Escritura que diz: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes
em vossos deleites" (Tiago 4:3)! Como podeis ver os discursos destes são
anulados pela Escritura de maneira inequívoca. |
Agora quero que presteis atenção às seguintes palavras
do apóstolo Paulo aos santos de Tessalónica, a fim de perceber
como ser pobre não é de modo nenhum nem um escândalo e nem uma
desonra para a doutrina de Deus como, pelo contrário, fazem perceber
estes faladores vãos. |
Paulo aos Coríntios, falando dos santos das igrejas da Macedónia (entre as quais estava também a dos Tessalonicenses) disse: "Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus que foi dada às igrejas da Macedónia; como, em muita prova de tribulação, a abundância do seu gozo e sua profunda pobreza abundaram em riquezas da sua generosidade. Porque, dou-lhes testemunho de que, segundo as suas posses, e ainda acima das suas posses, deram voluntariamente, pedindo-nos, com muito encarecimento, o privilégio de participarem deste serviço a favor dos santos" (2 Cor. 8:1-4). Os santos de Tessalónica portanto eram pobres, porque Paulo falou de profunda pobreza em referência às igrejas da Macedónia. Ora, mas se isto tivesse sido uma desonra para eles ou Deus tivesse querido que eles se tornassem ricos Paulo lho teria feito saber de algum modo nas epístolas que lhes escreveu, mas nas duas epístolas aos Tessalonicenses não encontramos rasto de tudo isto. Antes, é necessário dizer que os santos de Tessalónica, apesar de profundamente pobres, eram um exemplo tanto para os crentes da Macedónia (que se encontravam na pobreza) como para os da Acaia, que estavam na abundância como a igreja de Corinto por exemplo. Por isto Paulo e os seus cooperadores davam graças a Deus pelos santos de Tessalónica: ele escreveu-lhes: "Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós transborda de uns para com os outros. De maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus por causa da vossa constância e fé em todas as perseguições e aflições que suportais" (2 Tess. 1:3,4); como podeis ver esses irmãos apesar de pobres materialmente eram ricos em fé e em boas obras, e além disso se mantinham firmes na fé no meio das suas aflições e por causa disso os apóstolos se gloriavam deles. |
Para Paulo e os seus cooperadores os santos de Tessalónica
andavam de modo digno de Deus e por isso agradavam a Deus, com
efeito, ele escreveu-lhes: "Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos
no Senhor Jesus que, como aprendestes de nós de que maneira deveis
andar e agradar a Deus, assim como estais fazendo, nisso mesmo abundeis
cada vez mais" (1 Tess. 4:1). Mas qual desonra para a doutrina de
Deus constituia o facto desses crentes serem pobres? |
E depois, o repito, se a vontade de Deus para com
esses crentes pobres tivesse sido a de eles se tornarem ricos,
Paulo lho teria feito saber, mas a propósito da vontade de Deus
para com eles não lhes escreveu nada de tudo isto. |
Para estes faladores vãos o ser rico é o tema sobre
o qual versam todas as suas pregações; a consideram uma coisa
tão importante que importunam fortemente os crentes com estes discursos;
mas achais que um apóstolo como Paulo, a quem Deus deu a graça de
dar tantos mandamentos aos santos de todas as igrejas dos Gentios,
sejam elas ricas materialmente ou pobres, teria alguma vez deixado
de falar de uma coisa tão importante? E depois, se a profunda pobreza
desses crentes tivesse sido uma desonra para o Evangelho Paulo não
lhes teria dito: "Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou
coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso
Senhor Jesus Cristo em sua vinda? Na verdade vós sois a nossa glória
e gozo" (1 Tess. 2:19,20). Certo é que esses irmãos pobres de Tessalónica
se tinham tornado um exemplo para muitos e muitos crentes, portanto
eles honravam a doutrina de Deus; enquanto devemos dizer que estes
pregadores da prosperidade juntamente com os seus seguidores não servem
de modo nenhum de exemplo aos crentes mas só de escândalo e de tropeço,
precisamente porque são arrogantes, presunçosos e dados aos prazeres
da vida. |
Mas como podem estes dizer serem discípulos do Mestre,
quando falam e vivem de uma maneira nitidamente contrária àquela
de que falou e viveu Jesus nos dias da sua carne? Não se envergonham,
nem sabem que coisa é envergonhar-se; na verdade se gloriam no que
é vergonhoso. |
Todos os nossos caminhos dependem de Deus |
A Sabedoria diz que não basta "ser inteligente para
ter riquezas... porque todos dependem do tempo e das circunstâncias"
(Ecl. 9:11), e isto é verdade, com efeito um crente pode tornar-se
rico embora não querendo enriquecer, mas isto acontece quando e
se Deus o permite na sua vida. |
Está escrito: "Casa e riquezas são herdadas dos
pais" (Prov. 19:14), por isso pode acontecer que um crente que não ambiciona
as coisas da terra e que não quer enriquecer, se torne de repente rico no
seguimento de uma herança lhe deixada pelo pai ou pelos avós; na Escritura
temos o exemplo de Isaque que herdou tudo o que tinha possuído Abrão seu
pai, conforme está escrito: "Abraão, porém, deu tudo quanto possuía a Isaque"
(Gen. 25:5). |
Há uma outra maneira em que um crente pode tornar-se
rico sem o querer, e isto acontece quando é Deus mesmo a fazer
prosperar o trabalho desse crente de uma maneira prodigiosa, de
uma maneira sobrenatural, firme permanecendo a integridade do crente.
De Isaque está escrito: "E semeou Isaque naquela mesma terra, e colheu
naquele mesmo ano cem medidas, porque o Senhor o abençoava. E engrandeceu-se
o homem, e ia enriquecendo-se, até que se tornou mui poderoso. E tinha
possessão de ovelhas, e possessão de vacas, e muita gente de serviço"
(Gen. 26:12-14); como podeis ver, Isaque semeou e naquele ano específico
colheu cem medidas, isto significa que Deus operou um prodígio em favor
de Isaque porque para colher cem medidas (o cêntuplo) é preciso uma
intervenção de Deus. Deus estava com Isaque e isto o reconheceram também
os Filisteus que o invejavam, com efeito, um dia eles lhe disseram:
"Havemos visto, na verdade, que o Senhor é contigo" (Gen. 26:28). |
Também para Jacó é necessário dizer que foi Deus
a operar em seu favor para enriquecê-lo. Este homem quando foi
para Padã - Arã passou o Jordão com o seu cajado e quando voltou
dessa terra voltou com numerosos rebanhos de ovelhas, com muitas cabras,
com muitas vacas e touros, com muitos camelos e muitos jumentos. Vejamos
como pôde acontecer tudo isto. Jacó, em casa de Labão, esteve vinte
anos e no curso destes anos ele trabalhou catorze anos pelas suas duas
filhas Léia e Raquel que se tornaram suas mulheres e outros seis anos
pelas suas ovelhas; no fim dos vinte anos ele recebeu de Deus a ordem
de voltar para a terra dos seus pais e para a sua parentela e chamando
Léia e Raquel disse-lhes: "Vejo que o rosto de vosso pai para comigo não
é como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo. Ora,
vós mesmas sabeis que com todas as minhas forças tenho servido a vosso
pai. Mas vosso pai me tem enganado, e dez vezes mudou o meu salário;
Deus, porém, não lhe permitiu que me fizesse mal. Quando ele dizia assim:
Os salpicados serão o teu salário; então todo o rebanho dava salpicados.
E quando ele dizia assim: Os listrados serão o teu salário, então todo
o rebanho dava listrados. De modo que Deus tem tirado o gado de vosso pai,
e mo tem dado a mim. E sucedeu que, ao tempo em que o rebanho concebia,
levantei os olhos e num sonho vi que os bodes que cobriam o rebanho eram
listrados, salpicados e malhados. Disse-me o anjo de Deus no sonho: Jacó!
Eu respondi: Eis-me aqui. Prosseguiu o anjo: Levanta os teus olhos e vê
que todos os bodes que cobrem o rebanho são listrados, salpicados e malhados;
porque tenho visto tudo o que Labão te vem fazendo.." (Gen. 31:5-12). Deus
viu que Labão enganava Jacó e lhe tirou o gado e o deu a Jacó; isto é o
que Deus operou em prol de Jacó. Ainda hoje Deus opera da mesma maneira,
e tira os bens ao pecador e os dá a quem é agradável aos seus olhos, e não
há ninguém que o possa impedir. As Escrituras que confirmam isto são as seguintes: |
Ÿ "A riqueza do pecador é reservada para o justo" (Prov. 13:22) |
Ÿ "O que aumenta os seus bens com usura e ganância ajunta-os para o que se compadece do pobre" (Prov. 28:8) |
Ÿ "Ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, e conhecimento, e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dá-lo àquele que agrada a Deus" (Ecl. 2:26) |
Também Jó foi um homem muito rico mas ao mesmo tempo
íntegro e recto; vejamos como Jó entrou em possessão de todos
aqueles bens que possuía. A Escritura diz: "Havia um homem na terra
de Uz, cujo nome era Jó. Era homem íntegro e recto, que temia a Deus
e se desviava do mal. Nasceram-lhe sete filhos e três filhas. Possuía
ele sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois
e quinhentas jumentas, tendo também muitíssima gente ao seu serviço;
de modo que este homem era o maior de todos os do Oriente" (Jó 1:1-3).
Ora, muitas vezes, quando se fala de Jó lembramo-nos das suas riquezas
mas não da sua integridade, e isto é um erro porque se deveria lembrar
ambas as coisas porque elas estão fortemente ligadas entre si, com
efeito, na origem das suas riquezas estava o temor que ele tinha de
Deus. Jó era um homem recto que temia a Deus e desviava-se do mal; ele
praticava a justiça repartindo os seus bens com quem estava necessitado,
com efeito, fazia rejubilar o coração da viúva, tomava conta do orfão,
era o olho do cego, o pé do coxo, o pai dos pobres, era um voluntarioso
hospedeiro dos forasteiros e além disso tinha uma conduta pessoal irrepreensível
e exemplar. Deus viu como se conduzia este seu servo e abençoou ele
e a obra das suas mãos e isto o reconheceu até Satanás, com efeito, disse
a Deus de Jó: "A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado
na terra" (Jó 1:10). |
Mas Jó não foi íntegro somente quando esteve na abundância
e quando a bênção de Deus repousava sobre ele e sobre tudo o que possuía,
mas também quando esteve na penúria porque perdeu tudo o que possuía e quando
foi ferido por Satanás de úlceras malignas desde a planta do pé até ao alto
da cabeça. Ele se manteve firme na sua integridade e não blasfemou contra
Deus no meio da pobreza e dos seus atrozes sofrimentos (ele disse: "O Senhor
deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor" [Jó 1:21], e à sua
mulher que o incitou a abandonar Deus respondeu: "Como fala qualquer doida,
assim falas tu; recebemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?" [Jó 2:10])
como Satanás pensava que faria (conforme ele disse a Deus: "Toca-lhe em tudo
quanto tem... toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra
ti na tua face!" [Jó 1:11; 2:5]), demonstrando assim temer a Deus não porque
Deus o tinha abençoado mas porque ele amava Deus. Deus provou Jó e viu que
Jó, mesmo privado dos seus numerosos bens e da sua saúde, se manteve firme
na sua integridade e não blasfemou o seu nome e virou o cativeiro de Jó conforme
está escrito: "E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus
amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía....
assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; pois
teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil
jumentas" (Jó 42:10,12). Também neste caso naturalmente, Deus operou uma
das suas maravilhas para fazer Jó tornar-se proprietário de todos esses bens.
É verdadeira a Palavra que diz: "A bênção do Senhor é que enriquece" (Prov.
10:22), com efeito o Senhor enriquece materialmente, mas é também verdadeira
a palavra que diz: "O Senhor empobrece" (1 Sam. 2:7), por isso temamos a
Deus, observemos os seus mandamentos e por certo Deus não nos fará faltar
nada do que necessitamos; a sua bênção repousará sobre as nossas famílias
porque Ele "ama os justos" (Sal. 146:8) e abençoa a sua morada. |
Vejamos agora as riquezas que possuiu Salomão porque
elas lhe foram dadas por Deus sem que Salomão lhas tivesse pedido;
também este é um exemplo de como por causa da bênção de Deus, um
homem pode tornar-se rico de modo honesto. |
A Escritura diz: "E em Gibeom apareceu o Senhor a
Salomão de noite em sonho; e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê...
E disse Salomão: ‘...A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar
a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem
poderia julgar a este teu tão grande povo? E esta palavra pareceu boa aos
olhos do Senhor, de que Salomão pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto
pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para
ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para
ti entendimento, para discernires o que é justo; eis que faço segundo
as tuas palavras; eis que te dou um coração tão sábio e entendido,
que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará.
E também até o que não pediste te dou, assim riquezas como glória; de
modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias..."
(1 Re 3:5,6,9-13). Salomão não era nem invejoso e nem cobiçoso de torpe
ganância e quando Deus lhe disse para pedir o que desejava, ele pediu
sabedoria, e este seu pedido agradou a Deus que lha deu; mas Deus lhe
deu também o que ele não lhe tinha pedido, isto é, riquezas e glória.
Ora, é verdade que Salomão foi muito rico mas vos recordo que Jesus
disse: "Eis que está aqui quem é maior do que Salomão" (Mat. 12:42),
para significar que ele era superior a Salomão ainda que não pudesse
se gloriar na terra de tantos bens materiais quantos pôde se gloriar
o rei Salomão deles. Eu considero que nós também devemos pedir a Deus
sabedoria para nos conduzirmos de modo digno de Deus na terra porque
este pedido é segundo a vontade de Deus, com efeito está escrito:
"Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada" (Tiago 1:5); mas
nós devemos também nos guardar de pedir mal a Deus (porque movidos pela
inveja amarga e pela vanglória) porque neste caso não receberíamos e
se cumpriria a palavra que diz: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal,
para o gastardes em vossos deleites" (Tiago 4:3). |
Antigamente viveu um homem, que apesar de ter dito
ser mais estúpido do que ninguém e não ter o entendimento do homem,
fez um pedido sábio a Deus, e este seu pedido está transcrito no
livro dos provérbios. O nome deste homem é Agur, filho de Jaqué,
e o seu pedido é o seguinte: "Duas coisas te pedi; não mas negues, antes
que morra: Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês
nem a pobreza nem a riqueza; dá-me só o pão que me é necessário; para
que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é
o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome
de Deus" (Prov. 30:7-9). O que acontece hoje porém é que há homens que
se acham inteligentes que não só desprezam este pedido mas nem ousariam
fazê-lo a Deus, porque segundo eles não convém a filhos de rei; julgai o
que digo. |
Resumindo: um crente pode tornar-se também rico (e
portanto não o excluímos), firme permanecendo a sua integridade, quando Deus
o permite e se Deus o permite. Mas isto não nos leva a dizer aos crentes:
‘Deus quer que vós enriqueçais materialmente porque esta é a sua
vontade para convosco, e se vós não estais ricos não estais na vontade
de Deus’, ou: ‘Se não sois ricos materialmente é porque tendes pouca
fé em Deus ou porque não pedistes a Deus para sê-lo’. O facto é que
estes pregadores com as suas conversas vãs tendem a fazer um crente
que está contente com as coisas que tem sentir-se um miserável que não
tem fé em Deus e que não faz a vontade de Deus, e o risco que corre
o crente ouvindo as suas palavras é o de deixar de estar contente com
as coisas que tem e de querer tornar-se rico, o que significaria sair
da vontade de Deus. |
Para o que serve a nossa abundância |
Há diversas passagens da Escritura que testificam
de diversas maneiras que Deus abençoa os justos também materialmente.
Não podemos demonstrar o contrário antes de tudo porque isso o testifica
a sagrada Escritura que não pode ser anulada, e depois também porque
nós mesmos experimentámos a veracidade das palavras de Deus. |
Jesus disse: "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida,
recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no regaço;
porque com a mesma medida com que medis, vos medirão a vós" (Lucas
6:38). |
Ora, como podeis ver, dar é um mandamneto de Deus
e nós sabemos que "o que teme o mandamento será galardoado" (Prov.
13:13), portanto também quem dá é galardoado por Deus porque obedece
à ordem de Cristo Jesus. |
Pelo que ensina a Escritura a nós nos será feito
como fazemos aos outros, conforme está escrito: "Como tu fizeste,
assim se fará contigo" (Oba. 15), e isto é verdade também no que
concerne a dar, com efeito Jesus disse: "Dai, e ser-vos-á dado" (Lucas
6:38), portanto se nós provermos as necessidades dos santos, Deus proverá
as nossas ("o que regar também será regado" [Prov. 11:25]); se nós dermos
abundantemente, por certo nos será dado abundantemente ("aquele que
semeia em abundância, em abundância também ceifará" [2 Cor. 9:6] e:
"Um dá liberalmente, e se torna mais rico" [Prov. 11:24]). Para vos fazer
compreender este conceito vos recordo algumas palavras que Paulo dirigiu
aos Filipenses e aos Coríntios. |
Paulo, depois de ter dito aos Filipenses que tinha
recebido a oferta que eles lhe tinham enviado através de Epafrodito,
disse-lhes: "O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas
as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus" (Fil. 4:19). Como
podeis ver Paulo estava certo que como os Filipenses se tinham lembrado
dele tendo renovado o seu cuidado para com ele, assim Deus se lembraria
também deles provendo abundantemente a todas as suas necessidades.
Deus é justo e nos abençoa materialmente na medida que nós abençoamos
materialmente os outros. |
Aos Coríntios, Paulo, depois de ter dito: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria" (2 Cor. 9:7), diz: "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça... Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também dará e multiplicará a vossa sementeira..." (2 Cor. 9:8,10). Também neste caso o dar precede o receber de Deus a recompensa, com efeito, primeiro Paulo ordenou aos santos para semearem e depois disse-lhes que Deus multiplicaria a sua sementeira. É claro que a ceifa será abundante se a sementeira foi abundante, mas será pouca se a sementeira tiver sido pouca, precisamente porque nós seremos recompensados com a medida que usámos em dar. |
Esta lei de dar com a relativa bênção material prometida
por Deus aos que observam esta lei, está contida também na lei
de Moisés, com efeito, a propósito de dar ao irmão necessitado está
escrito: "Livremente lhe darás, e não fique pesaroso o teu coração
quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor teu Deus
em toda a tua obra, e em tudo no que puseres a mão" (Deut. 15:10). Como
podeis ver estas palavras "por esta causa" indicam que Deus prometeu
abençoar-nos materialmente, multiplicando a nossa sementeira, se nós
nos guardarmos de toda a avareza e dermos aos irmãos necessitados com
liberalidade e com um coração não pesaroso mas alegre. |
Também no livro dos provérbios há uma promessa de
bênção material dirigida àquele que obedece à ordem da repartir
com os outros os seus bens, com efeito, Salomão depois de ter dito:
"Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua
renda" (Prov. 3:9), diz: "Assim se encherão de fartura os teus celeiros,
e trasbordarão de mosto os teus lagares" (Prov. 3:10); também estas palavras
confirmam que o Senhor abençoa também materialmente aqueles que o honram
com os seus bens materiais. |
Quando Deus multiplica a nossa sementeira e permite
assim que nós, membros da sua família, estejamos na abundância
o faz por um objectivo bem preciso; vejamos qual. |
Paulo, depois de ter dito: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria" (2 Cor. 9:7), diz: "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra" (2 Cor. 9:8), e também: "Dará e multiplicará a vossa sementeira.... enquanto em tudo enriqueceis para toda a liberalidade.." (2 Cor. 9:10,11). Eis por que o Senhor faz abundar em nós toda a graça e multiplica a nossa sementeira, para que, tendo sempre as coisas necessárias, nós abundemos em toda a boa obra e supramos as necessidades dos necessitados dentre os santos, com feito, Paulo escreveu aos santos de Corinto: "Neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros" (2 Cor. 8:14). Ora, como é actualmente o vosso tempo presente? É um tempo favorável do ponto de vista económico? Bom, se assim é, esta vossa abundância serve a vós para as vossas necessidades mas serve também para suprir as necessidades dos pobres dentre os santos e "os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem" (Mar. 14:7), disse Jesus. Isto o se deve fazer por princípio de igualdade conforme está escrito: "Digo isto não para que haja alívio para outros e aperto para vós, mas para que haja igualdade... e assim haja igualdade; como está escrito: Ao que muito colheu, não sobrou; e ao que pouco colheu, não faltou" (2 Cor. 8:13-15). Entre o povo de Deus houve sempre quem muito colheu e quem pouco colheu e isto também hoje se pode ver no meio da irmandade espalhada pelo mundo. Se quem muito colheu se preocupar em suprir a necessidade de quem pouco colheu a este último não faltará nada, e ao que muito colheu não sobrará. |
Irmãos, nesta nação pela graça de Deus há ainda muita
abundância, nós não sabemos até quando esta durará, mas sabemos que nos devemos
lembrar dos pobres repartindo com eles os nossos bens materiais porque isto
é bom e aceitável perante Deus conforme está escrito: "Com tais sacrifícios
Deus se agrada" (Heb. 13:16). Longe de nós o pensamento que a nossa abundância
serve para suprir somente as nossas necessidades ou que Deus nos dá abundantemente
todas as coisas para que delas gozemos exclusivamente nós; vigiemos e não
façamos como Israel que depois de ter sido tirado a salvo da terra do Egipto
com mão poderosa, e depois de ter experimentado a bondade de Deus e a sua
fidelidade no deserto por quarenta anos, depois que entrou na terra prometida
esqueceu Deus e se desviou da lei de Deus indo servir os ídolos das nações.
O esqueceu depois que comeu com fartura, depois que construiu e habitou em
belas casas, depois que viu se multiplicarem as suas manadas e os seus rebanhos,
depois que viu abundarem todos os seus bens. Israel não aprendeu a servir
a Deus com alegria e de bom coração no meio da abundância e por isso Deus
deu o seu povo nas mãos dos seus inimigos, na mão dos espoliadores que os
reduziram a grande miséria; eles atraíram a ira de Deus porque se desviaram
do seu pacto no meio da abundância que Deus lhes concedeu. |
Nem nos tornemos como Sodoma e as cidades circunvizinhas que "soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado" (Ez. 16:49). Vós deveis saber que toda a planície do Jordão onde precisamente Sodoma e as outras cidades estavam situadas, "antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra", "era toda bem regada e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egipto, até chegar a Zoar" (Gen. 13:10), portanto aquela planície era fértil e produzia com fartura; mas os habitantes daquelas cidades, embora dispondo de muitos bens, recusaram estender as suas mãos aos necessitados porque eram orgulhosos e soberbos, e Deus os puniu por causa da sua soberba além de por todas as outras abominações que eles cometiam na sua presença. A sabedoria diz: "Abominação é ao Senhor todo o altivo de coração; não ficará impune" (Prov. 16:5), e de facto aquelas cidades altivas não ficaram impunes. |
Nesta nação a grande abundância que hoje existe poderá vir a faltar em pouco tempo porque Deus, no curso do tempo, muda as circunstâncias; elas não permanecem para sempre as mesmas, e isto o aprendemos por aquilo que aconteceu em Itália e na Europa nos séculos passados; anos de abundância foram interrompidos por guerras, fomes, pestilências, e a eles se seguiram anos de grande miséria. Lembrai-vos que milhares de anos atrás no Egipto, durante a vida de José filho de Jacó, pela vontade de Deus vieram primeiro sete anos de grande abundância e depois sete anos de grave fome. Deus muda os tempos e o faz segundo a sua vontade; hoje esta nação está, pela graça de Deus, entre as nações mais industrializadas e mais ricas, mas dentro de pouco tempo poderá ser contada também entre as mais pobres. Não nos iludamos; hoje são os irmãos pobres na África, na América do Sul, e na Ásia a receberem as nossas ofertas, as nossas roupas e os nossos géneros alimentares, mas dentro em pouco poderá também verificar-se o contrário a seguir a uma radical e profunda transformação das circunstâncias, e então a sua abundância servirá para suprir as nossas necessidades. Alguém dirá: ‘Não pode acontecer o que tu dizes!’ Escuta: sabe que as nuvens que vês vagar nos seus giros no céu sobre a tua cabeça e que derramam pela misericórdia de Deus e por ordem de Deus as suas águas sobre a terra, poderás deixar de vê-las por muito tempo e então as águas do rio ou do lago em cujas margens vais passear se secariam de repente e verás aquilo que nunca tinhas visto e que nem sequer tinhas imaginado pudesse acontecer nesta nação. Está escrito: "Eis que ele retém as águas, e elas secam" (Jó 12:15); isto o faz o nosso Deus que governa o universo e que muitas vezes, segundo aquilo que ensina a Escritura, puniu as nações sobre a terra ordenando às nuvens não espalhar água sobre elas. |
Nunca reflectiste nos terramotos? Sabes por que
treme a terra? A terra treme pela ira de Deus. E por que Deus a faz tremer?
Porventura porque não é bom? Ou porventura porque não é justo? Assim não
é, antes é justamente por Ele amar a justiça que faz tremer a terra e a faz
gretar por debaixo dos pés dos mortais. Mas que pensais? Que Deus tenha os
olhos fechados? Ele vê a injustiça e a maldade dos homens e ele este espectáculo
de perversidades horrendas que se fazem também nesta nação não o tolera e
não o aprova mas o aborrece e pune os autores dele, também fazendo tremer
a terra. E quando ela treme, tremem os mais fortes, os mais hábeis perdem
a sua habilidade, os mais corajosos são tomados de medo, o chifre dos orgulhosos
é quebrado, os campeões da soberba são dobrados e se curvam debaixo do furor
da ira de Deus, mas ao mesmo tempo Deus é exaltado e santificado pela sua
justiça. Cidades inteiras no passado foram arrasadas por Deus mediante terramotos,
a população dizimada, a sua força e a sua prosperidade reduzidas
a nada. Logo? Logo temamos a Deus e façamos o que devemos fazer e
que está em nosso poder fazer para com os pobres dentre os santos enquanto
temos oportunidade. Lembrai-vos que aquele rico que tinha programado
o que fazer com os seus abundantes frutos, Deus não lhe permitiu sequer
derrubar os seus celeiros e edificar outros maiores porque lhe disse:
"Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado,
para quem será?" (Lucas 12:20) |
Irmãos, considerai a brevidade da nossa vida (Moisés
disse que "passa rapidamente, e nós voamos" [Sal. 90:10]) e considerai
também que durante este breve lapso de tempo que Deus nos concede
viver na terra, Deus nos manda prover as necessidades dos santos;
mas não só, Ele nos fornece também os meios para fazê-lo e na sua
grande misericórdia também as oportunidades. |
Vejamos o que uma colecta destinada aos pobres dentre
os santos faz. |
Paulo escreveu: "Não só supre as necessidades dos santos, mas também transborda em muitas acções de graças a Deus; visto como, na prova desta ministração, eles glorificam a Deus pela submissão que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade da vossa contribuição para eles, e para todos; enquanto eles, pela oração por vós, demonstram o ardente afecto que vos têm, por causa da superabundante graça de Deus que há em vós" (2 Cor. 9:12-14). Irmãos, quando os pobres dentre os santos recebem as nossas ofertas se sentem aliviados porque os seus corações são recreados por meio do amor que lhes demonstramos, mas além disso eles rendem muitas acções de graças a Deus por causa da nossa obediência ao Evangelho e, movidos por ardente afecto por nós, eles oram a Deus em nosso favor. Como podeis ver são muitos os benefícios que jorram do cumprimento desta obra de caridade. |
Deus é Aquele que dá a semente ao que semeia e
pão para comer, e enquanto o pão o devemos comer a semente a devemos semear.
Por isso continuemos a semear justiça; mas não observemos o vento porque
está escrito que "quem observa o vento, não semeará" (Ecl. 11:4), e quando
chegar o tempo da sega nos alegraremos e cantaremos de júbilo ao nosso Deus
porque se cumprirá a palavra que diz: "Os que semeiam em lágrimas, com cânticos
de júbilo segarão" (Sal. 126:5). Dilectos, estai prontos para fazer toda
a boa obra, mas juntamente com a prontidão de ânimo conservai o contentamento
com o que tendes; não vos deixeis enganar por aqueles vãos raciocínios que
alguns fazem para vos fazer vir a querer enriquecer e ensoberbecer. |
Para os que são ricos neste mundo |
Para vós que fostes chamados por Deus no meio das
vossas riquezas: não sejais altivos, isto é, não ambicioneis
coisas altas mas acomodai-vos também vós às humildes e gloriai-vos
da vossa humilhação porque também vós passareis como a flor da erva.
Vós não deveis pensar serdes mais importantes do que os pobres que
há no vosso meio, porque este é um pensamento vão e nocivo que é abominável
para Deus. Diante de Deus, vós sois iguais aos pobres, Ele não vos considera
mais do que os pobres porque também vós sois obra das suas mãos. Quem vos
fez a vós, fez também os pobres: quem vos ilumina a vós, ilumina também
os pobres. E depois, não vos glorieis das vossas riquezas mas gloriai-vos
de conhecer o único verdadeiro Deus e o seu Filho Cristo Jesus; as riquezas
não duram sempre, mas o conhecimento de Deus dura eternamente; gloriai-vos
da herança incorruptível e imarcescível que está reservada também para
vós nos céus e não das vossas riquezas que mais cedo ou mais tarde
murcharão e desaparecerão como o fumo. |
Não ponhais a vossa esperança nas riquezas para
não serdes enganados por elas; as vossas riquezas hoje as tendes, amanhã
podereis achar-vos sem elas por causa de um evento funesto, portanto não
fixeis o vosso olhar no que pode desaparecer com tanta facilidade, mas fixai
o vosso olhar nas coisas que não se vêem e ponde a vossa confiança em Deus.
Ele é a Rocha dos séculos e nunca desaparecerá; nele vós podeis confiar porque
Ele não engana nenhum dos que confiam nele. Lembrai-vos que as riquezas não
vos podem tirar das angústias enquanto Deus sim; por isso não deveis pôr
a vossa confiança nelas conforme está escrito: "Se as vossas riquezas aumentam,
não ponhais nelas o coração" (Sal. 62:10); "aquele que confia nas suas riquezas
cairá" (Prov. 11:28), mas quem confia em Deus permanece de pé
no meio da tentação; também isto deve vos fazer reflectir sobre a
inutilidade de confiar nas riquezas. |
Fazei o bem, enriquecei em boas obras, reparti de
boa mente os vossos bens com aqueles que estão em necessidade,
de maneira a ajuntardes para vós um tesouro sólido lá em cima no
céu onde os ladrões não minam e não roubam e onde a traça e a ferrugem
não consomem. Não sejais como Nabal, que era um homem muito rico
mas ao mesmo tempo louco. Ele é o exemplo do rico que não está pronto
para dar a quem está em necessidade, com efeito, a Escritura diz
que quando Davi lhe enviou mensageiros para que ele lhes desse alguma
coisa ele lhes respondeu com dureza e não lhes quis dar nada. Mas
Deus não deixou de recompensá-lo por esta sua conduta ímpia, com efeito,
está escrito que "passados quase dez dias, feriu o Senhor a Nabal,
e este morreu" (1 Sam. 25:38). |
Sede como Barzilai, o gileadita, que era homem muito
rico e que apesar de ser muito velho, quando Davi fugiu juntamente
com os seus homens por medo de Absalão, proveu o rei e o povo que
com ele estava de víveres enquanto este se demorara em Maanaim. |
Imitai Jó que era um homem muito rico que rapartia
os seus bens com os necessitados tanto que podia dizer estas palavras
no meio da prova para sustento da sua integridade: "Vestia-me da justiça,
e ela me servia de vestimenta" (Jó 29:14). |
Muitos são ricos, mas não para com Deus |
Vejamos agora quem é aquele que embora sendo rico
neste mundo não é rico para com Deus. |
Jesus disse: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza;
porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha
produzido com abundância; e arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei?
Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei
os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas
as minhas novidades e os meus bens; e direi a minha alma: Alma, tens
em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.
Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que
tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros,
e não é rico para com Deus" (Lucas 12:15-21). |
Como podeis ver, este homem rico quando viu que a
sua herdade tinha produzido abundantemente pensou logo em recolher os seus
frutos e os seus bens, para os poder gozar no decorrer dos anos
vindouros (ele pensava viver ainda muitos anos sobre a terra); ele
não se preocupou com os pobres, nem se lembrou de forma alguma deles
porque queria manter tudo para si. |
Era rico mas privado de sabedoria e de temor de Deus, com efeito, Deus o chamou ‘louco’ porque pensava em entesourar para si mesmo. Ora, Jesus disse que quem para si ajunta tesouros não é rico para com Deus; certo é rico para com o mundo, mas não para com Deus. Portanto, quem é rico neste mundo porque foi chamado por Deus no meio das suas riquezas, e pensa em entesourar para si, aos olhos de Deus é um louco porque rejeita a sabedoria que diz: "Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra" (Ecl. 11:1,2), e a palavra que diz: "Não ajunteis para vós tesouros na terra... mas ajuntai para vós tesouros no céu" (Mat. 6:19,20), e por conseguinte, é também pobre porque não possui tesouros no céu. |
Eis o testemunho que Jesus deu do anjo da igreja de Laodicéia: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca. Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Ap. 3:15-17); ora, nós não sabemos qual era o testemunho que as pessoas do mundo davam deste, mas certamente não era igual ao que deu Jesus dele, porque as pessoas julgam pela aparência porque olham para a aparência enquanto a fiel Testemunha que está no céu não julga segundo a aparência porque ele conhece os segredos do coração e as obras de todos os mortais. Jesus conhecia as obras do anjo da igreja de Laodicéia, e disse-lhe que, embora ele dissesse ser rico e de nada ter falta, era infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Certamente que o Senhor não lisonjeou de modo nenhum este mas o repreendeu severamente; este depois de ter crido havia-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados; tinha querido enriquecer materialmente e tinha conseguido mas desprezando a grande salvação que havia recebido, com efeito, ele não se tinha preocupado com acrescentar à sua fé nem a virtude nem a ciência nem a temperança nem a paciência nem a piedade nem o amor fraterno e nem a caridade. O Senhor viu isto e lhe fez chegar uma carta de repreensão, na qual o admoestou e o exortou a arrepender-se. Que dizer? Não vivemos porventura num tempo em que nós somos testemunhas daquilo de que foi testemunha o Senhor em Laodicéia? Hoje, sob o impulso destes pregadores da prosperidade muitos no seio da irmandade, entre os quais muitos pastores e não só muitas ovelhas, tornaram-se como o anjo da igreja de Laodicéia. Estão satisfeitos consigo mesmos, se gloriam das suas riquezas materiais acumuladas com a fraude e as desejam cada vez mais; abandonaram a fonte da sua graça e se puseram a honrar as vaidades mentirosas; têm aparência de piedade mas negaram-lhe o poder; aos olhos dos demais são respeitados pela sua grande quantidade de bens, mas são pobres porque vivem no ócio e não querem fortalecer a mão do pobre e do necessitado. Eles desejam acumular tesouros na terra e não no céu, demonstrando assim não terem nenhum desejo de partir e ir habitar com o Senhor, e além disso se angustiam só de pensar que terão que deixar tudo quando morrerem. Aqueles que ajuntam tesouros no céu, pelo contrário, demonstram crer que há um céu onde, depois de morto, se vai habitar com o Senhor e onde se vai colher o que se semeou na terra. |
Expliquemos algumas passagens da Escritura
tomadas para sustentar a mensagem da prosperidade económica |
Era inevitável que os que começaram a pregar este
tipo de mensagem tomassem passagens da Escritura para sustentar
a sua doutrina. Vamos agora explicar algumas destas passagens. |
Ÿ Jesus disse: "Todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna" (Mat. 19:29); "Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por amor do reino de Deus, que não haja de receber no presente muito mais, e no mundo vindouro a vida eterna" (Lucas 18:29,30). |
Como nestas palavras há a promessa de receber na terra casas e terras em grande número aqueles que pregam o Evangelho da prosperidade afirmam que isto demonstra que quem deixa a casa e as terras por amor do Reino de Deus deve forçosamente tornar-se um homem rico com muitas casas e muitas terras. Certo, à primeira vista pareceria que o Senhor prometeu aos que deixam casas e terras por amor do seu nome fazê-los tornarem-se grandes proprietários com muitas casas e muitas terras, mas examinando cuidadosamente esta promessa nos damos conta que não é este o seu verdadeiro significado. Porquê? Porque estes esquecem voluntariamente que nestas palavras do Senhor são prometidas também muitas mulheres a quem deixa a sua mulher, muitos filhos a quem deixa os seus filhos, muitos pais a quem deixa seu pai, muitas mães a quem deixa sua mãe, muitos irmãos a quem deixa os seus irmãos, e muitas irmãs a quem deixa as suas irmãs por amor do seu nome; portanto, como não se pode entender que quem deixa a sua mulher para ir para um país longínquo pregar o Evangelho tornar-se-á marido de cem mulheres com outros tantos cem filhos nascidos do seu matrimónio com elas, porque isto equivaleria a dizer que o Senhor é a favor do adultério, assim não se pode dizer que quem deixa sua casa por amor de Cristo se tornará na terra proprietário de cem casas. |
As palavras de Jesus significam que a quem deixa a sua casa ou a sua terra por amor do Senhor acontecerá isto, a saber, que encontrará muitos crentes que porão à sua disposição as suas casas e as suas terras. Se estas palavras de Jesus quisessem dizer o que dizem estes estas palavras encorajariam a se ajuntar tesouros na terra e não no céu, enquanto o Senhor ordenou para não se ajuntar tesouros na terra. |
E como se poderia dizer que esse é o sentido dessas
palavras do Senhor quando Jesus pouco antes tinha dito ao jovem
rico: "Vai vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro
no céu" (Mar. 10:21)? O Senhor não lhe disse: ‘Vai, vende as tuas
casas e as tuas terras e dá esmolas e depois sobre esta terra receberás
cem vezes tanto’, porque se aquele jovem tivesse ouvido semelhantes
palavras não se teria retirado dali pesaroso e triste porque ele teria
tido a certeza de recuperá-las sobre a terra e de tornar-se ainda mais
rico. Mas o facto é que Jesus lhe disse para vender os seus bens para
fazer para si um tesouro no céu, e estas palavras não agradaram ao jovem
rico porque ele sabia que se tornaria pobre e que aqueles bens não os
recuperaria mais sobre a terra. |
A tal propósito devo dizer que nós não devemos dar esmolas pensando que assim fazendo nos tornaremos mais ricos sobre a terra ou porque queremos que o Senhor sobre a terra nos dê a mesma quantidade de dinheiro que demos aos pobres juntamente com mais dinheiro. Este não é um justo sentimento, porque nós devemos dar por amor ao nosso próximo e porque movidos de piedade para com ele. E depois quem disse que a recompensa a se deve forçosamente obter sobre a terra, quando há irmãos que deram e pouco depois morreram sem poderem obter a retribuição sobre a terra? Jesus explicou que vendendo os nossos bens e fazendo com eles esmolas ajuntamos para nós tesouros no céu e não que ajuntamos para nós novos tesouros na terra. |
Jesus, numa ocasião disse estas palavras: "Quando deres um jantar, ou uma ceia, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso retribuído. Mas quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos; e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que te retribuir; mas retribuído te será na ressurreição dos justos" (Lucas 14:12-14). Como podeis ver Jesus disse para não convidar para o banquete os nossos amigos, nem os vizinhos ricos e nem os nossos irmãos e os nossos parentes; porquê? Para evitar que também eles nos convidem e nos seja dada a retribuição sobre a terra. Quem importa convidar então para o banquete? Os cegos, os aleijados, os mancos, os pobres, isto é, todas aquelas pessoas que não têm a possibilidade de nos retribuir sobre a terra, tendo a confiança que a retribuição nos será dada na ressurreição dos justos. |
A sabedoria de Deus diz: "O que se compadece do
pobre empresta ao Senhor, que lhe retribuirá o seu benefício" (Prov. 19:17),
mas segundo o ensinamento de Jesus no caso do banquete feito para os pobres
(uma obra piedosa em prol dos pobres) a retribuição não nos será dada durante
a nossa vida terrena mas nos será dada na ressurreição dos justos. |
E depois irmãos não vos esqueçais que o Senhor prometeu
sobre a terra também perseguições para aqueles que deixam casas,
terras, irmãos e irmãs, mulheres, pais e filhos por amor do seu nome,
com efeito, em Marcos está escrito: "Com perseguições" (Mar. 10:30).
Naturalmente é supérfluo dizer que estes faladores vãos se guardam
bem de pronunciar por inteiro as palavras do Senhor mencionando também
as perseguições porque as perseguições vão contra os seus gostos (Paulo
tinha prazer nelas mas estes não) dado que eles querem viver e fazer
viver as pessoas ‘com sucesso’. |
Ÿ Paulo disse aos santos de Filipos: "Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Fil. 4:12,13). |
Naturalmente, como os que pregam esta particular mensagem tinham de invocar alguma palavra do apóstolo Paulo para fazer parecer a sua doutrina verdadeira, eles tomaram estas afirmações de Paulo, para dizerem que também Paulo viveu na abundância como um filho de rei. Será bom que estejais atentos às peculiares interpretações que estas raposas dão às palavras do apóstolo Paulo para não cairdes na rede. Certo, Paulo teve também abundância em algumas circunstâncias, isto o disse ele mesmo; mas isto não significa nem que fazia o tipo de vida escandaloso destes pregadores, e nem que pregava as suas mesmas conversas vãs. Sabei que Paulo quando disse que teve abundância, não entendia dizer que ele ambicionava coisas altas e nem que era rico. E depois estes esquecem que Paulo tinha aprendido a contentar-se com o que tinha, tivesse ele abundância ou padecesse necessidade; isto significa que ele quando padecia necessidade estava contente da mesma maneira em que o estava quando tinha abundância. E isto é aquilo que estes parece não terem aprendido ou queiram aprender porque falam de uma maneira que fazem perceber que eles nunca estão contentes com o que têm, que ser pobre é uma desonra para os cristãos, e que a sua felicidade depende da abundância dos bens terrenos. |
Irmãos, o repito: Estas palavras de Paulo aos Filipenses não significam que ele vivia como um príncipe porque ele mesmo disse aos Coríntios de si e dos seus cooperadores: "Pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo" (2 Cor. 6:10). Quero que reflictais sobre este particular para entenderdes em quais circunstâncias adversas Paulo teve abundância quando escreveu estas palavras. Paulo na mesma epístola aos santos de Filipos quando fez saber ter recebido a oferta deles escreveu: "Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância" (Fil. 4:18), mas tende presente que ele esta abundância, neste caso, a experimentou na prisão onde estava preso por causa do Evangelho e de onde lhes escreveu. Sim, teve abundância mas certamente não viveu como um príncipe da terra naquela prisão! |
Ÿ "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra" (2 Cor. 9:8,9). Também aqui como aparece o verbo abundar, estes pregadores julgaram por bem invocá-lo. Julgo supérfluo dizer que estas palavras não significam que Deus prometeu nos fazer tornar ricos e nos fazer viver como reis sobre a terra. Estas palavras são dirigidas aos que semeiam com um coração alegre; porque a eles Deus prometeu dar e multiplicar a sua sementeira para poderem exercer toda a liberalidade. |
Ÿ "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos" (1 Tim. 6:17). |
Deus nos provê abundantemente todas as coisas para delas nós gozarmos significa que Deus nos faz o bem e nos dá chuva e estações frutíferas e alimento em abundância, mas não significa que Deus quer que nós nos tornemos ricos ou que temos o direito de comprar coisas luxuosas para nós com o dinheiro que Deus nos provê ou que temos o direito de nos darmos aos prazeres da vida. |
Ÿ "Amado, faço votos
que tu prosperes em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como
prospera a tua alma" (3 João 2). |
Estes pregadores se apoiam nesta passagem desta epístola; é a passagem que mais lhes agrada dentre todas e de que mais falam de toda a terceira epístola de João. Nunca falam de Diótrefes e da sua ímpia conduta, ou do amor que o amado Gaio mostrava pelos irmãos forasteiros, mas estas palavras as citam frequentemente e de boa vontade. Ora, segundo a interpretação destes isto significa que Deus quer que nós nos tornemos ricos e vivamos como ricos em qualquer parte do mundo que nos encontremos e em qualquer tempo que vivamos; mas as palavras "faço votos que tu prosperes em todas as coisas", significam que o ancião desejava que nada faltasse a Gaio e que Deus lhe desse abundantemente todas as coisas de que ele necessitava segundo as suas riquezas e com glória, para que pudesse abundar cada vez mais em toda a boa obra. |
Quero que noteis que nesta mesma epístola o ancião
disse a Gaio também estas palavras: "Amado, não imites o mal, mas
o bem" (3 João 11); digo-vos isto para que entendais como o ancião queria
sim que Gaio prosperasse em todas as coisas (portanto também economicamente)
mas também que ele não imitasse o mal mas o bem. Isto significa que
Gaio, enquanto prosperava em todas as coisas devia continuar a ater-se
ao bem (a fazer boas obras) e a aborrecer o mal, isto é, a soberba da
vida, a concupiscência da carne e a dos olhos. O que eu tenho visto
porém é que estes querem que Deus os faça prosperar economicamente mas
não querem imitar de maneira nenhuma o bem mas o mal, com efeito, a eles
agrada vestir muito elegantemente, viver em delícias e ir se divertir,
sendo incontinentes e dissolutos. |
Ÿ Deus na lei disse: "E será que, se ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra. E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do Senhor teu Deus; bendito serás na cidade, e bendito serás no campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. Bendito o teu cesto e a tua amassadeira.... O Senhor mandará que a bênção esteja contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão... O Senhor te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o Senhor jurou a teus pais te dar... e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado" (Deut. 28:1-5,8,11,12). |
Ora, Deus tinha prometido abençoar materialmente o seu povo na condição dele obedecer aos seus mandamentos, portanto os Israelitas receberiam bênção de Deus se temessem a Deus e guardassem todos os seus mandamentos. Queria que notásseis bem que nas palavras de Deus está esta expressão: "Se ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno" (Deut. 28:1); digo isto porque este "todos" significa que os Israelitas para serem abençoados por Deus não deviam só não fazer ídolos para se prostrarem diante deles, não deviam só seguir a justiça e a misericórdia e a fé em Deus mas deviam também guardar os sábados, as luas novas, as festas no tempo estabelecido por Deus, as leis sobre os animais impuros, a lei sobre a circuncisão, a lei sobre o dízimo, a lei que proibia eles se casarem com pessoas de outras nações, as leis sobre os holocaustos, sobre os sacrifícios de acções de graças, sobre os sacrifícios do pecado. Como podeis ver na condição posta por Deus ao seu povo estava a de observarem todos os preceitos da lei. |
Estes pregadores tomam estas palavras do antigo pacto
para sustentarem que Deus prometeu a nós crentes fazer-nos prosperar economicamente.
Nós, porque nada podemos contra a verdade não nos permitimos anular de alguma
maneira estas palavras da lei, porém queremos lembrar-vos as seguintes coisas:
|
Ø Estas promessas fazem parte do antigo pacto e não do novo. O novo pacto é melhor e "está firmado sobre melhores promessas" (Heb. 8:6), portanto comecemos por dizer que as bênçãos prometidas aos crentes debaixo do novo pacto são mais excelentes do que as do antigo pacto. Basta considerar esta promessa do Senhor Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte [a segunda morte]" (João 8:51); e estas palavras de Deus: "De seus pecados não me lembrarei mais" (Heb. 8:12; Jer. 31:34), para compreender a superioridade do segundo pacto sobre o primeiro pacto. |
Ø Deus "nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Ef. 1:3), tendo-nos adoptado como seus filhos para comparecer diante dele santos e irrepreensíveis. Nós filhos de Deus temos paz e alegria em abundância porque em Cristo temos a remissão dos pecados e porque possuímos a vida eterna. |
Ø Nós crentes cremos que se guardarmos os mandamentos de Deus, Deus nos abençoará também materialmente neste mundo dando-nos abundantemente tudo o que necessitamos, mas nós não damos nos nossos discursos a prioridade às bênçãos materiais (dinheiro, comida, casas, terras) que Deus nos dá, porque sabemos que elas permanecem sempre bênçãos temporárias e não eternas. "Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros" (1 Cor. 6:13), e: "As [coisas] que se vêem são temporais" (2 Cor. 4:18), diz Paulo, por isso que razão há para exaltar a abundância de bens que o Senhor nos dá na sua fidelidade neste mundo, quando sabemos que ela se pode gozar só neste mundo e que ela um dia dissipar-se-á porque será aniquilada por Deus? |
Cuidai que quando nós dizemos que Deus nos dá abundância
de bens materiais não queremos dizer que somos pessoas que se podem
definir ricas, mas apenas que não nos falta nada do que necessitamos
e que temos também de que prover as necessidades dos santos. |
Ø Como nós estamos
debaixo da graça e não debaixo da lei devemos estar atentos ao citar
estas palavras da lei porque entre os mandamentos que os Israelitas
deviam guardar para serem abençoados materialmente por Deus estavam
também os que agora nós não devemos guardar para não cair de novo debaixo
da escravidão da lei (o sábado, as luas novas, as festas, o dízimo, a circuncisão,
e outros). |
Ø Entre as bênçãos está também esta: "Emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado" (Deut. 28:12); como é que então estes pregadores da prosperidade vivem em dívidas porque tomam emprestado dos bancos enormes somas de dinheiro? Dizem frequentemente ter tomado emprestado grandes somas de dinheiro para a obra de Deus, e depois têm o descaramento de dizer que foi Deus a dizer-lhes para tomarem emprestado o dinheiro! Se contradizem com as suas próprias palavras, porque quem Deus abençoa, segundo as palavras da lei, não deveria ter necessidade de tomar emprestado dinheiro de quem quer que seja! |
Ø Deus prometeu também amaldiçoar o seu povo se estes o abandonassem não guardando os seus mandamentos. Destas maldições estes faladores vãos nunca falam como se o Senhor tivesse prometido só abençoar o seu povo. |
Eis o que disse Deus: "Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão: Maldito serás tu na cidade, e maldito serás no campo. Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas. Maldito serás ao entrares, e maldito serás ao saíres. O Senhor mandará sobre ti a maldição; a confusão e a derrota em tudo em que puseres a mão para fazer; até que sejas destruído, e até que repentinamente pereças, por causa da maldade das tuas obras, pelas quais me deixaste. O Senhor fará pegar em ti a pestilência, até que te consuma da terra a que passas a possuir. O Senhor te ferirá com a tísica e com a febre, e com a inflamação, e com o calor ardente, e com a secura, e com crestamento e com ferrugem; e te perseguirão até que pereças. E os teus céus, que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. O Senhor dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças. .... O Senhor te ferirá com as úlceras do Egipto, com tumores, e com sarna, e com coceira, de que não possas curar-te.. Desposar-te-ás com uma mulher, porém outro homem dormirá com ela; edificarás uma casa, porém não morarás nela; plantarás uma vinha, porém não aproveitarás o seu fruto. O teu boi será morto aos teus olhos, porém dele não comerás; o teu jumento será roubado diante de ti, e não voltará a ti; as tuas ovelhas serão dadas aos teus inimigos, e não haverá quem te salve... O estrangeiro, que está no meio de ti, se elevará muito sobre ti, e tu mais baixo descerás; Ele te emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele.." (Deut. 28:15-24,27,30,31,43,44). |
Como podeis ver são muitas e variadas as maldições que Deus prometeu enviar sobre os Israelitas se estes se desviassem dos seus mandamentos, mas vos recordo que também neste caso entre os mandamentos, cuja transgressão significaria atrair a maldição de Deus, estavam também aqueles do sábado, das luas novas, das festas, da circuncisão, do dízimo, dos sacrifícios, dos holocaustos, das comidas, que são todas leis que nós crentes agora não devemos guardar para não voltar a cair debaixo do jugo da lei. |
Vos lembro além disso que nós todos estávamos debaixo
da maldição da lei antes de nos convertermos ao Senhor precisamente
porque não guardávamos todos os mandamentos da lei conforme está escrito:
"Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão
escritas no livro da lei, para fazê-las" (Gal. 3:10; Deut. 27:26), mas
"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós"
(Gal. 3:13) e por meio dele a bênção de Abrão veio sobre nós Gentios.
|
Nós cremos que é necessário falar também debaixo
da graça das referidas maldições, a fim de fazer compreender aos crentes,
que Deus além de prometer abençoar os que o temem e guardam os seus
mandamentos, também prometeu castigar severamente aqueles que depois
de tê-lo conhecido deixaram de temê-lo e de guardar os seus mandamentos.
Sei que ouvir falar das bênçãos divinas é mais agradável do que ouvir
falar das maldições divinas e sei também que alguns querem apenas ouvir
falar de coisas agradáveis, mas eu não vos lisonjearei, mas vos direi
como são na realidade as coisas. Antes de tudo comecemos por dizer
que quando os Israelitas abandonaram Deus, Deus os feriu como lhes tinha
dito, com efeito, enviou contra eles a fome, a peste, e a espada, para
destruí-los e para desarraigá-los da boa terra que lhes tinha dado. Os
reduziu à miséria mais profunda; os obrigou a comer até mesmo os seus
filhos pela fome: lhes fez secar a garganta, a pele e a carne pela sede.
Enviou contra eles exércitos estrangeiros impiedosos que destruíram as
suas cidades, os seus campos, as suas casas, e os levaram para longe do
seu país. Sim irmãos, isto é o que a Escritura diz que aconteceu aos Judeus
que se rebelaram a Deus. E hoje, pelo que nos respeita, o que nos acontecerá
se nós como os Israelitas de então deixarmos de guardar os mandamentos
de Deus? Por certo, Deus não continuará a abençoar-nos porque Jesus disse:
"Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas
são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas" (João 15:6). Vos lembro
a tal propósito a Escritura que diz: "A terra que embebe a chuva, que cai
muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é
lavrada, recebe a bênção da parte de Deus; mas se produz espinhos e abrolhos,
é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada" (Heb. 6:7,8);
isto confirma que se um crente abandona o Senhor deixando de guardar os
seus mandamentos não poderá dar mais bons frutos mas apenas espinhos e abrolhos
e será maldito, e no fim lançado no fogo eterno para ser queimado! Sim é
verdade que agora somos filhos da bênção, mas é também verdade que se negarmos
o Senhor que nos resgatou nos tornaremos filhos da maldição. Na segunda epístola
de Pedro a propósito dos falsos doutores que estão no meio do povo de Deus
primeiro está dito: "negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre
si mesmos repentina destruição" (2 Ped. 2:1) (portanto estes tinham conhecido
o Senhor mas depois o abandonaram), e depois que são "filhos de maldição"
(2 Ped. 2:14), e isto para confirmação de como, debaixo da graça, se nós
negarmos e abandonarmos Deus as maldições divinas se abaterão uma após outra
sobre nós. Se os Israelitas não ficaram impunes quando abandonaram o primeiro
pacto, muito menos escaparemos nós da punição divina se abandonarmos o
segundo pacto. |
Ø Também pelo que respeita à saúde Deus tinha prometido abençoar Israel, com efeito, lhe tinha dito: "Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus, e fizeres o que é recto diante de seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egipto; porque eu sou o Senhor que te sara" (Ex. 15:26); mas como podeis ver Deus tinha prometido não pôr sobre ele nenhuma enfermidade na condição de Israel guardar os seus mandamentos. Que aconteceu quando Israel abandonou Deus? Aconteceu que Deus pôs sobre ele toda a espécie de doenças, porque Deus lhe tinha também dito: "Se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, que estão escritas neste livro, para temeres este nome glorioso e temível, do Senhor teu deus, então o Senhor fará espantosas as tuas pragas, e as pragas de tua descendência, grandes e permanentes pragas, e enfermidades malignas e duradouras; e fará tornar sobre ti todos os males do Egipto, de que tu tiveste temor, e se apegarão a ti. Também o Senhor fará vir sobre ti toda a enfermidade e toda a praga, que não está escrita no livro desta lei, até que sejas destruído" (Deut. 28:58-61). Também debaixo da graça Deus fere com enfermidades aqueles que lhe desobedecem e em alguns casos os faz também morrer, portanto será bom cuidar de toda a nossa conduta para não sermos feridos por Deus com a enfermidade ou com a morte. Temos claros exemplos de como Deus exercita os seus juízos infligindo a crentes rebeldes enfermidades e morte, nos casos de Ananias e Safira que Deus matou porque se coligaram para tentar o Espírito do Senhor, e naqueles crentes da igreja de Corinto que foram feridos com enfermidades e alguns com a morte por se terem aproximado da ceia do Senhor indignamente. Irmãos, nós queremos anunciar-vos todo o conselho de Deus sem vos ocultar nada das coisas que deveis saber! Nós não lisonjeamos os rebeldes prometendo-lhes prosperidade, bênção, e cura. Nós anunciamos também os tremendos castigos divinos que descem sobre nós se começarmos a andar segundo a carne. |
Ø Estes faladores vãos naturalmente se guardam bem de anunciar também os juízos de Deus sobre aqueles que se rebelam a Deus; citam apenas as promessas de bênção para lisonjear e devemos dizer que com o seu suave e lisonjeiro falar conseguem sugestionar muitos crentes simples que vão ouvi-los. |
Estes últimos não tendo discernimento e conhecimento
das Escrituras se voltaram para eles e bebem abundantemente do seu
manancial, mas sem matar a sede, porque a deles é água salgada; o
seu não é um falar condimentado com sal que confere graça a quem os
ouve mas um falar inquinado por enganos camuflados com palavras suaves.
Estai atentos! |
Por que estes ensinam esta doutrina |
Mas vamos ao ponto crítico da questão: Por que estes
ensinam esta doutrina? Que proveito tiram dela? |
Paulo disse a Tito: "Porque há muitos rebeldes, faladores
vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar
a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém,
por torpe ganância" (Tito 1:10,11): eis o que leva estes pregadores a ensinar
esta doutrina que é agradável de ouvir, e atrai quem nesta terra quer enriquecer
e viver uma vida no luxo; a torpe ganância. O que é necessário dizer destes
é que estes falam muito de fé e de prosperidade e depois se vem a saber que
quando são convidados para pregar em alguma comunidade não vão se quem os
convida não lhes dá a soma de dinheiro por eles desejada ou não lhes dá todas
as ofertas que se recolherão em cada reunião. Mas estas coisas não espereis
lhas ouvir dizer quando pregam porque nunca vo-las dirão; mas o vireis a
saber depois. A questão é esta: como nas reuniões onde estes pregam a oferta
é obrigatória (quero dizer que o cestinho das ofertas é feito passar pelo
menos uma vez) e como ‘o contrato’ prevê que ou todas as ofertas recolhidas
durante a reunião serão entregues a eles ou a metade delas lhes serão dadas,
estes têm todo o interesse de falar desta doutrina porque sabem que mais
‘pesadas’ serão as moedas que se recolherão e mais ‘pesados’ voltarão para
as suas casas. Dizem com insistência aos crentes para darem abundantemente
para a obra do Senhor porque sabem que boa parte daquele dinheiro irá
para os seus bolsos; prometem grandes bênçãos sobre a cabeça daqueles
que dão abundantemente, até dizendo-lhes que soma de dinheiro devem dar
para recebê-las! Estes são roubadores, abutres que estão pousados e prontos
a levantar vôo mal vêem alguma presa fraca ou em fim de vida andar em volta
das suas paragens. Se há alguma coisa que segundo estes faladores vãos
não escandaliza é a passagem do cestinho das ofertas nas suas reuniões;
têm o descaramento de dizer que se as irmãs põem o véu nas suas reuniões
arriscam escandalizar as pessoas incrédulas, mas não se envergonham de
fazer passar a sua longa mão devoradora entre as filas de pessoas sentadas
nas suas reuniões; mas a eles não lhes importa nada se fazendo assim escandalizam
as almas porque o seu objectivo é o de enriquecerem. Estes seguem o caminho
de Balaão, que por amor do lucro se atirou ao erro; mas conseguem fazer
parecer aos olhos de muitos que são servos do Senhor porque conseguem
juntar versículos da Escritura e falar com discursos persuasivos de sabedoria
humana acerca do Evangelho; não te edificam espiritualmente porque misturam
o sagrado com o profano, a verdade com o erro, mas materialmente te devoram
se cais nas suas mãos. Dilectos, enquanto tiver fôlego na garganta vos
conjurarei a vos guardardes destes rebeldes e a vos desviardes deles por
amor da justiça e da verdade; gritarei aos vossos ouvidos: ‘Estai atentos
ao sonido da trombeta porque o inimigo conseguiu introduzir os inimigos
da cruz no vosso meio para vos fazer desviar da simplicidade e da pureza
que há em Cristo’. |
O amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie
de males e a soberba da vida não é do Pai mas do maligno |
Paulo disse: "Mas é grande ganho a piedade com contentamento.
Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos
levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos
com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e
em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os
homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda
a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram
a si mesmos com muitas dores" (1 Tim. 6:6-10). |
Irmãos, nós nada trouxemos para este mundo; considero
que esta é uma daquelas coisas em que se deva pensar muito mais frequentemente.
Jó disse um dia: "Nu saí do ventre de minha mãe.." (Jó 1:21), e isso
é o que cada um de nós deve recordar e dizer. Nenhum de nós pode dizer
ter trazido alguma coisa para este mundo pelo que, quando morrer, a deverá
tornar a levar consigo. Nenhum de nós poderá levar nada do que possui,
quando morrer, mas terá que deixar tudo, e digo tudo, nesta terra; não
importa se pouco ou muito, cada um de nós terá que deixar tudo neste mundo. |
Ora, enquanto nós vivemos nesta terra somos postos
à prova por Deus a cada momento; sabemos que devemos contentar-nos
com o que temos porque está escrito: "Contentando-vos com o que tendes"
(Heb. 13:5), mas somos tentados a não contentarmo-nos com o que temos,
porque vemos à nossa volta uma multidão de pessoas que nunca está contente
com o que possui. Os homens querem apropriar-se, não importa a que custo,
da maior quantidade de dinheiro possível e da maior quantidade de bens
materiais possível. Ao ver assim tantas pessoas insatisfeitas com o que
possuem, somos tentados também nós a não contentarmo-nos com o estado em
que nos encontramos. Que devemos fazer então? Devemos sujeitar-nos a Deus
e resistir ao diabo para não cair em tentação. |
Paulo disse que a piedade com contentamento é um
grande ganho; isto significa que quem exercita a piedade com o coração
contente com o que tem, ganha muito. Queria fazer-vos notar que o apóstolo
Paulo definiu ganho também o morrer de um crente, com efeito, disse aos
Filipenses: "Para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho" (Fil. 1:21).
Ora, nós sabemos que o crente que persevera até ao fim na fé e morre
no Senhor não perde absolutamente nada, mas ganha a sua alma porque Jesus
disse: "Com a vossa perseverança ganhareis as vossas almas" (Lucas 21:19);
portanto não há ninguém que tenha morrido no Senhor e tenha perdido a sua
alma ou que se tenha arrependido de ter perseverado até ao fim; mas podemos
também dizer que não há ninguém que exercite a piedade com contentamento que
possa dizer perder alguma coisa ou que um dia se arrependerá de ter ficado
contente com o que tinha e de não ter querido enriquecer, precisamente porque
também a piedade com contentamento proporciona um grande ganho a quem a exercita.
|
Mas nós sabemos também que a par do caminho mestre
no qual estamos há uma estrada torta onde andam aqueles que deixaram
de estar contentes com o que tinham. Ela está acessível a todos; não
é preciso muito para se entrar por ela porque está verdadeiramente à mão
de todos. Andando nesta estrada se fica rico materialmente. Vale a pena
andar por ela? De modo nenhum, porque ela leva à perdição e ruína aqueles
que a tomam, em outras palavras quem a toma perde a sua alma. Considerai
onde estão aqueles que morreram depois de terem entrado por esta estrada
(eles estão no Hades, atormentados nas chamas, juntamente com aquele
rico que Jesus disse "vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia
todos os dias regalada e esplendidamente" (Lucas 16:19); rangem continuamente
os seus dentes e choram continuamente), e percebereis como não vale
absolutamente a pena querer enriquecer neste mundo. |
Jesus disse um dia aos ricos: "Mas ai de vós, ricos!
porque já tendes a vossa consolação" (Lucas 6:24), e aos seus discípulos:
"Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar
no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha,
do que entrar um rico no reino de Deus" (Mar. 10:24,25); ora, nós sabemos
que estas palavras não são dirigidas só àqueles homens ricos que não
querem arrepender-se e não querem crer em Cristo, mas também aos que
depois de terem crido quiseram enriquecer e se desviaram da fé. Com base
em que coisa dizemos isto? Com base nestas palavras de Paulo a Timóteo:
"Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências
loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína" (1 Tim.
6:9); mas que pensais? Que um crente que quer enriquecer materialmente
possa ficar de pé? Que um crente que quer enriquecer possa permanecer na
fé? Dilectos, não vos iludais, e não vos deixeis enganar por aqueles que
vos querem persuadir a crer que se pode querer ser rico e ao mesmo tempo
ficar firme na fé. Hoje, alguns homens corruptos te dizem como podes ser
cristão e fazer muito dinheiro; eu antes te digo como podes ir para a perdição
se decides querer fazer dinheiro sobre a terra. Se Paulo disse que o amor
ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males e que alguns nessa cobiça
se desviaram da fé vós deveis crer nisso; não penseis que o amor pelo
dinheiro seja salutar e profícuo, porque esta é uma mentira gerada pelo
diabo. A Escritura diz: "Não sejais amantes do dinheiro" (Heb. 13:5); portanto
quem começa a amá-lo se faz culpado e é recompensado pelo seu vão modo
de viver com a morte, mas também com a ilusão porque se achará no fogo
eterno juntamente com aqueles que o iludiram. |
Vamos o dinheiro. Mas por que é o dinheiro amado
por muitos? Por que ele consegue fazer-se amar pelos mortais? Respondamos
a estas perguntas com a sagrada Escritura. Ora, nós vivemos sobre
esta terra onde é necessário possuir dinheiro para comprar as coisas
de que necessitamos para viver. Não podemos não usar o dinheiro ou dizer
não necessitar dele; mas ao mesmo tempo não o devemos amar para o bem
da nossa alma. É claro que quanto mais dinheiro alguém possui mais bens
materiais pode comprar porque "por tudo o dinheiro responde" (Ecl. 10:19).
Mas o facto é que o dinheiro além de dar a possibilidade de comprar muitas
coisas, faz sentir mais seguro quem dele tem muito; quero dizer com isto
que o diabo consegue enganar as pessoas fazendo-lhes crer que a sua segurança
na vida depende do dinheiro, o que nós sabemos que não é verdade, porque
não se está seguro nas mãos do dinheiro mas nas mãos de Deus. Fora das
mãos de Deus não há segurança alguma, mas só angústia, medo, aflições, e
desespero. "A fartura do rico não o deixa dormir" (Ecl. 5:12), diz Salomão;
portanto não penseis que vos tornando ricos vos poreis em segurança e começareis
a ter uma vida tranquila, porque isso não é verdade. Vós perdereis também
o sono e não só a vossa alma, se vos pondes a servir o dinheiro. Pensais
escapar querendo também enriquecer? Vos iludis, porque está escrito: "O que
se apressa a enriquecer não ficará impune" (Prov. 28:20). |
Paulo definiu o amor ao dinheiro ‘raiz de toda a espécie de males’; considerai esta definição de Paulo e atendei a isto, a fim de perceberdes o que está na raiz de todos os males que acontecem na terra. Examinando muitas más acções e muitas injustiças que são perpetradas na terra não se pode não reconhecer que a sua origem está precisamente no amor ao dinheiro. Considerai pois quanto maléfico é o amor ao dinheiro! Mas por que é que o amor ao dinheiro leva a agir mal? Porque quem começa a amar o dinheiro cessa de querer repartir com os outros os seus bens, porque não pensa em mais nada senão em acumular o mais dinheiro possível e não pensa de modo nenhum em dar do seu dinheiro aos pobres ou aos que estão em necessidade. Para ele torna-se contraproducente dar o seu dinheiro aos pobres porque considera o fazer esmolas uma perda de dinheiro: para ele torna-se contraproducente também emprestar dinheiro sem interesse porque isso vai contra os seus interesses pessoais. Mas além disso começa a estudar maneiras de fazer o mais dinheiro possível e vós deveis saber que todos os caminhos que um avarento segue para ganhar dinheiro lhe impedem de cumprir a vontade de Deus na terra. E de facto, quando achará tempo para orar, para ler a Palavra de Deus, para reunir-se com os irmãos, para fazer boas obras, para visitar os orfãos e as viúvas nas suas aflições, quem ama o dinheiro? Ele não pode dedicar o tempo a fazer a vontade de Deus porque o deve gastar ou a trabalhar além de todos os limites ou a encontrar uma maneira de extorquir dinheiro ao seu próximo. Em outras palavras a Palavra de Deus não pode dar mais fruto na vida de um crente que começa a amar o dinheiro porque está escrito: "Os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera" (Mat. 13:22). João diz que "este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos" (1 João 5:3), mas diz também que "se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele" (1 João 2:15); estas suas palavras confirmam plenamente as palavras de Cristo porque mostram que se um crente se põe a amar o dinheiro deixa de guardar os mandamentos de Deus. E se deixa de guardar os mandamentos de Deus como pode continuar a estar o amor de Deus no seu coração? Como pode continuar ele mesmo a estar em Deus? |
Esta é a razão pela qual nos é mandado de não amar
o dinheiro; não de não usá-lo, mas de não amá-lo, o que é diferente.
Nós crentes em Cristo que fomos ressuscitados com Cristo e feitos sentar
com Cristo nos lugares celestiais não devemos ambicionar as coisas da
terra mas as de cima onde Cristo está sentado à direita de Deus, e portanto
não devemos querer enriquecer materialmente, porque isso significaria
querer ajuntar tesouros na terra. Considerando que na terra a traça e a
ferrugem consomem e os ladrões minam e roubam, e também que a terra e as
obras que nela há um dia serão queimadas, não vale a pena querer enriquecer
neste mundo. |
A sabedoria diz: "Não te fatigues para enriqueceres;
e não apliques nisso a tua sabedoria.. Porventura fixarás os teus
olhos naquilo que não é nada? porque certamente criará asas e voará
ao céu como a águia" (Prov. 23:4,5); como podeis ver, a Escritura nos
exorta de várias maneiras a guardarmo-nos de querer enriquecer, portanto
faremos bem em ouvir o conselho de Deus e não o de alguns pregadores
que com o seu modo de falar não fazem mais do que fazer nascer no coração
de muitos o desejo de querer enriquecer. |
Pelo que concerne ao tipo de casas que nós devemos
querer habitar, o tipo de roupas a querer vestir, o tipo de carros
a querer guiar, estes pregadores dizem que como filhos de rei devemos
ter as melhores coisas (que são as mais caras) que há sobre a terra.
Isto equivale a dizer que nós devemos ambicionar as coisas altas, e
não as humildes, e isto em nítido contraste com a Palavra de Deus que
diz claramente: "Não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes"
(Rom. 12:16), portanto estes pregadores não se atêm à sã doutrina mas
só a conversas vãs e profanas. Se nós tivéssemos que viver como dizem eles
cessaríamos de mostrar a nossa mansidão aos homens e cessaríamos também
de buscar a humildade, e começaríamos antes a mostrar a nossa soberba e
a nossa altivez como fazem já eles com a sua conduta e com o seu modo de
falar. Que faremos pois? Nos poremos a viver e a falar como fazem estes homens
corruptos de entendimento que se desviaram da simplicidade e da pureza que
há em Cristo para andarem segundo a teimosia do seu coração? Assim não seja.
Nós temos em Jesus o perfeito exemplo de fé, nas suas palavras e nas dos
apóstolos uma guia infalível, e não sentimos e nem vemos necessidade de seguir
as palavras suaves e enganadoras destes e o seu mau exemplo. Aquilo que vemos
antes é o dano que estão produzindo estes saqueadores na vinha de Deus;
muitas comunidades estão tomadas por um desejo de querer ficar muito ricas;
mas não ricas espiritualmente mas materialmente. Estão à procura de prestígio
na sociedade moderna; como se os crentes nesta geração tivessem que se pôr
a procurar o favor deste mundo mau e não mais o de Deus. Os crentes que têm
dado ouvidos a estes faladores vãos se corromperam, alguns tornaram-se
mornos, outros frios, nenhum deles se quer humilhar porque todos querem
de um modo ou de outro fazer-se ver. Querem atrair a atenção do mundo sobre
eles e o conseguem porque são excêntricos e arrogantes mas não podem mais
atrair a atenção das trevas para a luz, porque a luz que estava neles se
apagou; estes não podem resplandecer como luminares neste mundo de trevas
porque recusam humilhar-se diante de Deus. |
Certo, a atenção do mundo aqueles que pregam esta
mensagem conseguiram tê-la porque começaram a operar escândalos um
após o outro e o mundo se começou a interessar pelos seus casos e a
pô-los nos jornais sensacionalistas. A vida destes que pregam ‘o Evangelho
da prosperidade’ é uma vida cheia de más acções que não fazem mais do
que fazer blasfemar a doutrina de Deus. E depois dizem querer viver como
filhos de rei! Mas se eles quisessem verdadeiramente viver como filhos
do Rei dos reis, procurariam viver como viveu O Filho do Rei dos reis
nos dias da sua carne. Jesus é o primogénito entre muitos irmãos, e nós
filhos de Deus devemos procurar imitar Jesus. Portanto, se Aquele que estava
junto de seu Pai, na glória, antes da fundação do mundo, decidiu humilhar-se
e levar um tipo de vida humilde durante os dias da sua carne, quem são estes
que vêm da terra como nós, para começarem a sugerir aos outros que vivam
como soberbos? Certamente presunçosos. |
Muitos tornaram-se ricos de modo desonesto e
não porque Deus abençoou a obra das suas mãos |
A sagrada Escritura nos ensina que há pessoas que
tornaram-se ricas de modo fraudulento, isto é, roubando e enganando
o próximo. |
Deus disse através do profeta Jeremias: "Ímpios se
acham entre o meu povo; andam espiando, como quem arma laços; põem armadilhas,
com que prendem os homens. Como uma gaiola está cheia de pássaros, assim
as suas casas estão cheias de engano; por isso se engrandeceram, e enriqueceram;
engordam-se, estão nédios, e ultrapassam todos os limites do mal" (Jer.
5:26-28); dilectos, estas palavras são actuais e falam da existência
no meio do povo de Deus de gente sem escrúpulos e sem temor de Deus que
tornou-se rica e poderosa roubando o seu próximo e enganando-o; certo,
vestem-se elegantemente, estão nédios, têm belas casas, mas tudo aquilo
que têm o acumularam com o engano, e querem fazer passar a sua abundância
de bens como uma particular bênção de Deus sobre eles dizendo: ‘É verdade
nós nos temos enriquecido, temos adquirido para nós grandes bens; porém
em todo o nosso trabalho não acharão em nós iniquidade alguma que seja
pecado’. Mas Deus conhece as suas obras e dá deles este testemunho: ‘Rodeiam-me
de mentiras e de falsidades, são mercadores que têm nas mãos balanças
enganosas; eles amam a opressão’. |
Tiago, o irmão do Senhor, escreveu estas palavras
aos ricos desonestos que haviam no seio da irmandade: "E agora, vós ricos,
chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos sobrevirão. As vossas
riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça.
O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho
contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo. Entesourastes para
os últimos dias. Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos
trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos
ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Deliciosamente
vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações
no dia da matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resiste"
(Tiago 5:1-6). Por estas palavras de Tiago se percebe claramente que a
face do Senhor está contra aqueles que acumulam bens e se enriquecem fazendo
trabalhar em vão os seus operários; isto é confirmado também por Paulo,
o qual depois de ter dito que Deus quer que nós nos santifiquemos, que
fujamos da fornicação, que possuamos o nosso corpo em santidade e honra
e que ninguém engane o seu irmão em negócio algum, diz: "Porque o Senhor
é vingador de todas estas coisas" (1 Tess. 4:6) (por isso o Senhor se vinga
dos que fazem trabalhar em vão os seus operários ou que não lhes dão o que
é justo e merecido). |
Mas os desonestos não se enriquecem só roubando
os seus operários do seu salário (violando o mandamento que diz: "Não oprimirás
o trabalhador pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos, ou seja dos
estrangeiros que estão na tua terra e dentro das tuas portas.." [Deut.
24:14]), mas também não pagando os impostos ao Estado em outras palavras,
fugindo ao fisco para não pagarem tudo o que se deve dar a César (violando
o mandamento que diz: "Dai, pois, a César o que é de César" [Mar. 12:17]).
|
Por que prospera o caminho dos ímpios? |
Também os ímpios que há no meio do povo de Deus
gozam boa saúde e prosperam do ponto de vista material, e para confirmar
isto citamos as seguintes escrituras: |
Ÿ Asafe disse nos salmos: "Quanto a mim, os meus pés quase resvalaram; pouco faltou para que os meus passos escorregassem. Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios. Não há apertos na sua morte; o seu corpo é forte e sadio. Não se acham em tribulações como outra gente, nem são afligidos como os demais homens. Pelo que a soberba lhes cinge o pescoço como um colar; a violência os cobre como um vestido. Os olhos deles estão inchados de gordura; trasbordam as fantasias do seu coração. Motejam e falam maliciosamente; falam arrogantemente da opressão. Põem a sua boca no céu, e a sua língua percorre a terra. Pelo que o povo se volta para eles e bebem abundantemente do seu manancial ... Eis que estes são ímpios e sempre em segurança aumentam as suas riquezas" (Sal. 73:2-10,12)" |
Ÿ Jó disse: "Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se robustecem em poder? Os seus filhos se estabelecem à vista deles, e os seus descendentes perante os seus olhos. As suas casas estão em paz, sem temor, e a vara de Deus não está sobre eles. O seu touro gera, e não falha; pare a sua vaca, e não aborta. Eles fazem sair os seus pequeninos, como a um rebanho, e suas crianças andam saltando" (Jó 21:7-11). |
Ÿ Jeremias disse a Deus: "Justo és, ó Senhor, ainda quando eu pleiteio contigo; contudo pleitearei a minha causa diante de ti. Por que prospera o caminho dos ímpios? Por que vivem em paz todos os que procedem aleivosamente? Plantaste-os, e eles se arraigaram; medram, dão também fruto; chegado estás à sua boca, porém longe do seu coração" (Jer. 12:1,2). |
Ÿ Davi disse nos salmos: "Descansa no Senhor, e espera nele; não te enfades por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa maus desígnios" (Sal. 37:7). |
Como podeis ver, nestas Escrituras, em referência
aos malvados é mencionado tanto o vocábulo ‘prosperidade’ como o verbo
‘prosperar’. Irmãos, ponde muita atenção nestes particulares porque eles
estão ainda uma vez a demonstrar que o facto de alguém prosperar do ponto
de vista material não significa de modo nenhum que ele seja forçosamente
uma pessoa que aumenta as suas riquezas porque Deus abençoa a obra das
suas mãos por causa da sua recta conduta! Eis como respondemos àqueles
pregadores que falam tanto de prosperidade económica! |
Dilectos, também nós somos testemunhas nesta geração
das coisas de que foram testemunhas, Asafe, Jó, Jeremias, e Davi nos
seus tempos, com efeito, também nós vemos no meio do povo de Deus gente
ímpia prosperar. Quando digo gente ímpia, refiro-me a pessoas que dizem
ter crido que honram Deus com a sua boca mas têm o seu coração longe de
Deus e exercitam a cobiça. São conhecidos, falam do Evangelho, são respeitados
e aplaudidos por muitos, prosperam porque sempre aumentam as suas riquezas,
têm boa saúde, mas o seu carácter é este: |
Ø São orgulhosos e soberbos; da forma como falam, eles sabem tudo, podem tudo. Pensam ser deuses e não homens; a sua boca diz coisas muito arrogantes com as quais conseguem encantar muitos crentes simples. Querem ser tratados como reis, porque em vez de se terem revestido de humildade se cobriram de soberba; em vez de se revestirem de mansidão se revestem de arrogância. |
Ø São violentos, com efeito, usam violência física para com aqueles que os contrariam; são homens que oprimem o povo de Deus de todas as maneiras para alcançarem os seus propósitos desonestos. |
Ø São cobiçosos de torpe ganância, porque são negociantes que se dedicam ao comércio das coisas de Deus que para ganhar fazem recurso à mentira, à astúcia, e ao engano. |
Ø Vivem todos em paz com os ladrões, são sócios dos adúlteros, têm um falar vulgar e indecente, caluniam com a sua língua os que os repreendem. Quando ouvem a correcção a lançam para trás das costas. |
Sim, irmãos, eis qual é a conduta desta gente ímpia
que vemos prosperar com os nossos olhos também nesta geração. E depois
são precisamente eles que falam tanto de prosperidade! Nunca falam de
justiça, de temperança, de humildade, de santidade; mas de prosperidade
sim! |
Que diremos pois? Porventura que estes têm o favor
de Deus e que a bênção de Deus repousa sobre eles? De modo nenhum; nós
consideramos que estes embora executem os seus maus desígnios e consigam
assim prosperar são inimigos de Deus porque está escrito: "A inclinação
da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem
em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus"
(Rom. 8:7,8). Tinha razão Jeremias ao dizer que Deus chegado está à sua
boca, porém longe do seu coração (cfr. Jer. 12:2)! |
Dilectos, que Deus nos dê a graça de perseverar no seu temor até ao fim sem ter a mínima inveja destes ímpios que prosperam e pregam a prosperidade em muitas igrejas de Deus também aqui nesta nação; o sei, não é fácil permanecer calmo e confiante no Senhor, ao ver os ímpios prosperar, mas vale a pena esforçarmo-nos para permanecer. Deus permite que eles prosperem e nos faz ver a sua prosperidade para nos pôr à prova, a nós que queremos viver uma vida pia, temperada e justa na terra, para ver se nós o amamos com todo o nosso coração e com toda a nossa alma. Eis por que eles vivem e prosperam! |
Para vós que vos tornastes amigos do mundo |
Escutai vós, que vos tornastes amigos do mundo e
inimigos de Deus, porque destes ouvidos a esta mensagem sedutora. |
Vós vos tornastes altivos, com efeito, agora não
vos acomodais mais às coisas humildes, mas ambicionais coisas altas; tendes
prazer precisamente nas coisas que não deveríeis desejar; tendes roupas
esplêndidas, roupas de marca, compradas a caríssimo preço; com todo o vosso
vestuário espraiais uma tal soberba que nem certa gente do mundo manifesta.
De serdes humildes e de vos vestirdes modestamente não quereis sequer ouvir
falar, porque esta mensagem perversa já fez brecha em vós. Começastes também
a detestar os que ensinam a ser humilde; agora, também vós falais de riquezas,
de prosperidade económica como fazem estes faladores vãos sem escrúpulos;
os vossos discursos não edificam, são áridos, porque são privados de sal
e da graça de Deus; mas apesar disso persistis em afirmar que Deus vos abençoou.
Mas como podeis afirmar tais mentiras, quando sois tão mornos, tão indiferentes
para as coisas espirituais, tão vazios da Palavra de Cristo, tão miseráveis
que até fazeis pena! Fostes enganados por meio de palavras suaves e lisonjas,
com efeito, agora estais atarefados a trabalhar além de todos os limites
para vos enriquecerdes e poderdes dizer também vós: ‘Deus quer que nós sejamos
ricos e não pobres’. Mas dizei-me: ‘Mas o que entendeis por pobres?’ Porventura
pessoas que estão contentes com as coisas que têm e que não querem enriquecer
mas a quem não falta nada do que é necessário? Se assim é, vos digo que
perdestes o discernimento; que não conseguis mais distinguir entre o bem
e o mal. Paulo disse: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos,
estejamos com isso contentes" (1 Tim. 6:8), enquanto da forma como falais
vós parece que para estarmos contentes é necessário sermos ricos e altivos.
Tornastes-vos miseráveis; isto o vemos, porque falando convosco não há comunhão
de espírito. Não conheceis as Escrituras; conheceis os livros destes abutres
mas não conheceis o livro do Senhor. Também vós começastes a julgar-vos sábios
e fazeis raciocínios que não convêm a santos. Assimilastes tão bem esta nova
doutrina que agora quem prega a simplicidade, a pureza, a humildade quereis
fazê-lo passar por um apóstata, por alguém que abandonou a fé, e que procura
manter longe do povo de Deus a bênção do Senhor! Despertai do vosso sono mortal
em que caístes e Cristo vos inundará de luz e reconhecereis ter dado ouvidos
à mentira e não à verdade do Evangelho. |
Vos adornais também agora com ouro porque dizeis:
‘Mas que mal há em usar uma corrente de ouro, um relógio de ouro, um anel
de ouro com diamantes, uma pulseira?’ O mal há, só que cegados como estais
pelas trevas não o vedes. Ide lançar fora o vosso ouro e voltai para o
Senhor do qual vos afastastes, e o Omnipotente será o vosso ouro. |
A vossa soberba não a manifestais só no vestuário mas também em outras coisas. Comprastes para vós bens luxuosos que nem certa gente do mundo se pode permitir, entrando nos vossos palácios de prazer parece entrar na casa real de algum príncipe, ao ver os vossos carros luxuosos estacionados fora do local de culto parece termos chegado a um clube frequentado por milionários e por multimilionários; é um espectáculo horrendo aquele que vemos com os nossos olhos. E quem são os que moram nestes palácios? E quem são os que guiam estes carros? Sois vós, que depois de um dia ter crido, destes lugar no vosso coração às cobiças, ao engano das riquezas e aos prazeres da vida, e a Palavra de Cristo não pôde mais dar fruto em vós. Não, não pode dar fruto, porque deixastes de guardar os mandamentos de Deus. Vós não prosperareis porque vos desviastes dos mandamentos de Deus. É hora de vos humilhardes diante do Senhor lançando para longe de vós a soberba de que estais cheios; chorai, lamentai como pela perda de um filho, curvai o vosso pescoço como junco na presença de Deus, confessai-lhe vos terdes ensoberbecido, abandonai a soberba do vosso coração e obtereis misericórdia do Senhor; então sim Ele vos exaltará, então sim vos tornareis ricos. |
Não quereis dar ouvidos ao Senhor? Pior para vós;
"se fores escarnecedor, só tu o suportarás" (Prov. 9:12), diz a Sabedoria,
portanto não vos iludais, porque o vosso perverso modo de viver vos retribuirá;
já estais obtendo parte da devida recompensa do vosso erro, porque estais
cheios de ais e de dores (deixastes de ter confiança no Senhor, e pusestes
a vossa confiança nas riquezas e vos desviastes, vos traspassastes a vós
mesmos de dores); sim daquelas dores que esperam o ímpio que não quer dar
ouvidos à voz do Senhor. Examinai-vos a vós mesmos; mas não vedes que perdestes
a vossa confiança no Senhor? Mas não vedes que para vós o vosso socorro
não vem mais do Senhor, mas sim do vosso abundante dinheiro que ganhastes
porque desprezastes a salvação obtida do Senhor? |
Mas não vos apercebeis de ter perdido a paz, a tranquilidade,
a verdadeira alegria que há no Senhor? |
Mas não vedes a vossa ignorância das sagradas Escrituras?
Mas não vedes que nem orar conseguis? Mas não vedes como para vós as boas
obras feitas em prol dos necessitados já estão relegadas para o último
lugar na vossa vida, antes é melhor dizer que para vós elas deixaram de
existir? |
Tudo isto não vos sucede porque abandonastes o Senhor,
o vosso Deus, enquanto Ele vos levava pelo bom caminho? A vossa maldade
é aquela que vos castiga, e as vossas infidelidades são a vossa punição! |
Não endureçais os vossos corações, vós que amais
o mundo e a suas concupiscências; Deus vos exorta a voltar para ele com
todo o vosso coração e a vos pordes a andar humildemente com Ele. |
Muitos há que são inimigos da cruz de Cristo |
O apóstolo Paulo escreveu aos Filipenses: "Irmãos,
sede meus imitadores, e atentai para aqueles que andam conforme o exemplo
que tendes em nós; porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse,
e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo; cujo
fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é
vergonhoso; os quais só pensam nas coisas terrenas. Mas a nossa pátria
está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo
da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as
coisas" (Fil. 3:17-21). |
Paulo sabia que no seio do povo de Deus haviam muitos
que andavam como inimigos da cruz de Cristo os quais naturalmente não
se conduziam de modo digno do Evangelho, e por isso ele exortou os santos
a imitá-lo e a olhar para aqueles que andavam conforme o exemplo de vida
que tinham nele e nos seus cooperadores pelo reino de Deus e não conforme
o mau exemplo dos inimigos da cruz de Cristo. Ele não procurou calar a propósito
destes, porque descreveu claramente o seu carácter e disse qual era o fim
que os esperava; mas o que quero que noteis é que Paulo tinha falado repetidas
vezes a respeito da presença destes inimigos da cruz de Cristo e que quando
escreveu aos Filipenses a propósito destes o fez chorando. Que acontece
hoje porém em muitas igrejas? Acontece que alguns ignoram a existência destes
que andam como inimigos da cruz de Cristo no meio da irmandade; outros os
reconhecem porque vêem que são árvores más que produzem frutos maus mas calam,
porque pensam que falar deles não contribui para a edificação da igreja.
Irmãos, eu não me calarei mas "darei gritos como a que está de parto" (Is.
42:14), porque vós deveis guardar-vos destes homens e não deveis imitá-los
porque são operadores de escândalos que se escondem habilmente por detrás
da bandeira do Evangelho do qual eles dizem ser ministros mas isso não é
verdade, porque eles servem o seu ventre e não o Evangelho. |
Nós como discípulos de Cristo devemos imitar Cristo
e aqueles que renunciaram a si mesmos, que tomaram a sua cruz e seguiram
as pisadas de Cristo; e entre aqueles que renunciaram a si mesmos e levaram
a sua cruz após o Senhor, estão os apóstolos Paulo, Pedro, Silvano, Timóteo,
João e Tiago. Certo, eles não estão mais neste mundo, mas de qualquer
modo temos os seus escritos que nos fazem perceber de que maneira eles
se conduziram. |
Vejamos agora as palavras de Paulo aos santos de
Filipos. |
Ÿ "Muitos há que são
inimigos da cruz de Cristo" (Fil. 3:18). |
Para perceber o que significa ser inimigo da cruz
de Cristo, é necessário antes de tudo falar da cruz de Cristo. Ora, nós
crentes nos gloriamos da cruz de Jesus Cristo porque por meio dela o mundo,
para nós, foi crucificado, e nós fomos crucificados para o mundo, conforme
disse Paulo aos Gálatas: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser
na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado
para mim e eu para o mundo" (Gal. 6:14). Quando nós dizemos que para nós
o mundo foi crucificado, entendemos dizer que nós que somos de Cristo "crucificámos
a carne com as suas paixões e concupiscências" (cfr. Gal. 5:24). Ora, se
o mundo e as coisas que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida foram cravadas na cruz de Cristo, como podemos
nós nos pôr a amar o que Cristo cravou na sua cruz? Não pensais vós que
nos pormos a amar o mundo e as suas concupiscências significa conduzirmo-nos
como inimigos da cruz de Cristo? Certamente que assim é. Por isso todos
aqueles que com o seu mau exemplo e com as suas conversas vãs querem fazer
nascer em nós o amor pelo mundo e as suas concupiscências, são inimigos
da cruz de Cristo. Quando um pregador procura fazer nascer no seu auditório
o amor pelas riquezas, pelo dinheiro, pelos prazeres da vida, e procura
suscitar nos crentes o desejo de acumular tesouros na terra em vez de no
céu, sabei que ele fala como inimigo da cruz de Cristo. Se vós lerdes atentamente
as palavras de Cristo e as dos apóstolos, notareis que Cristo primeiro e
depois os apóstolos exortaram os crentes de várias maneiras a se conduzirem
de modo santo e justo, e a cuidar das coisas de cima e não das que estão
na terra, por isso quem vem a vós e não vos exorta a renunciardes às mundanas
concupiscências mas a pôr nelas a vossa afeição é um inimigo da cruz de
Cristo. Quando se fala da cruz de Cristo se fala de renúncia, de sofrimento,
de perseguições; por isso não é concebível que alguém pregue a palavra da
cruz e ao mesmo tempo esteja à procura de fama, de poder temporal, do favor
do mundo, de riquezas terrenas, e ame o mundo com as suas concupiscências;
se vos apercebeis que quem prega não quer renunciar a si mesmo e não quer
tomar a cruz de Cristo mas procura o favor do mundo, e demonstra com a
sua conduta amar o mundo que Cristo cravou na cruz, guardai-vos dele porque
não é um amigo da cruz de Cristo mas um seu acérrimo inimigo. |
Ÿ "Cujo fim é a perdição"
(Fil. 3:19). |
Aqueles que são inimigos da cruz de Cristo, caminham
por uma estrada que leva à perdição. Porquê? Porque os que amam o mundo,
amam a sua vida, e nós sabemos que "quem ama a sua vida perdê-la-á" (João
12:25). Sim, todos aqueles que não querem renunciar a si mesmos e não querem
tomar a sua cruz, não herdarão o reino de Deus. |
Ÿ "Cujo deus é o ventre"
(Fil. 3:19). |
Ora, os inimigos da cruz de Cristo não servem o
nosso Senhor Jesus Cristo, mas o seu ventre, e para servir o seu ventre operam
escândalos e contrastam os ensinamentos da Palavra de Deus. Mas por que contrastam
a palavra da verdade? Porque ela se opõe aos desejos da carne e às mundanas
concupiscências, isto é, às coisas que eles amam. Paulo exortou os santos
de Roma a guardarem-se destes nestes termos: "Rogo-vos, irmãos, que noteis
os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes;
desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo,
mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações
dos simples" (Rom. 16:17,18). Aquilo que ainda alguns não perceberam é
que não se pode procurar o próprio interesse (dinheiro, fama, glória dos
homens) na obra do Senhor e ao mesmo tempo servir o Senhor com fidelidade
e com integridade de coração; com efeito eles pensam que os que pregam
e procuram o seu interesse servem a Cristo, mas se assim é, Jesus não disse
a verdade porque ele disse: "Nenhum servo pode servir dois senhores; porque,
ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o
outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (Lucas 16:13). Vos faço exemplos
para vos fazer perceber como quem serve ao seu ventre não pode servir a
justiça; alguém que tem prazer na glutonaria e nas bebedeiras não pode
amar a palavra que diz: "Portanto sede sóbrios" (1 Ped. 4:7), porque ela
se opõe aos seus carnais desejos. Também quem ama o dinheiro não pode amar
a palavra que diz: "De graça recebestes, de graça dai" (Mat. 10:8), ou
aquela que diz: "Contentando-vos com o que tendes" (Heb. 13:5), porque a
Palavra se opõe nitidamente aos seus interesses pessoais. Esta é a razão
pela qual aqueles que servem ao seu ventre não podem ao mesmo tempo servir
a justiça e se opõem com contendas à sã doutrina de Deus. |
Ÿ "Cuja glória assenta
no que é vergonhoso" (Fil. 3:19). |
Os que servem o seu ventre se distinguem dos que
servem o nosso Senhor porque eles se gloriam de coisas que são a sua vergonha.
Eles em vez de se envergonharem das suas más acções gloriam-se de tê-las
feito. Ouvindo-os nos damos conta que é mesmo assim. |
Ÿ "Os quais só pensam
nas coisas terrenas" (Fil. 3:19). |
A Palavra diz claramente: "Pensai nas coisas que
são de cima, e não nas que são da terra" (Col. 3:2), mas estes dissentem
de palavra e por obras, com efeito, procuram de todas as maneiras tornarem-se
ricos e famosos aos olhos do mundo. |
Estes pensam nas coisas que são da terra e este seu sentimento se opõe nitidamente ao do crente que deseja partir do corpo e ir habitar com o Senhor nos lugares celestiais. Da forma como falam e vivem estes, se percebe claramente que eles não desejam partir do corpo para ir habitar com o Senhor porque estão bem na terra no meio das suas riquezas. |
Mas quanto a nós, como a nossa pátria está nos céus, queremos ir para lá onde Cristo está sentado à direita de Deus, para lá onde Deus faz reinar a paz e onde se descansa dos trabalhos terrenos. Enquanto os inimigos da cruz atentam nas coisas que se vêem nós atentamos nas que se não vêem que são eternas e guardadas para nós nos céus. Nós agora nos sentimos atraídos para o céu e não mais para a terra; para as coisas celestiais e não mais para as terrenas que são um sopro que passa, por isso as coisas do mundo não nos atraem mais como outrora, por isso não sentimos a necessidade de nos tornarmos ricos e famosos, ou de vestir de maneira excêntrica e luxuosa, ou de morar em palácios de prazer. Mas eu vos pergunto: ‘Mas se nós tivéssemos os mesmos desejos da gente do mundo que diferença haveria entre nós e eles?’ Irmãos, nós devemos demonstrar ao mundo por obras e em verdade que nos sentimos peregrinos e forasteiros nesta terra. Se dizemos com a boca estar sobre o caminho que leva ao céu devemos também com os factos demonstrar que queremos ir para o céu e a maneira de fazê-lo é não nos conformarmos ao presente século mau. |
Ma se também nós nos conformarmos ao curso deste
mundo cessaremos de iluminar as trevas e elas não poderão ver em nós um
povo que caminha à luz do Cristo de Deus. |
Tomámos a cruz sobre nós e com ela queremos continuar
a caminhar unidos ao nosso Senhor; certamente para nós que queremos andar
como amigos da cruz de Cristo as renúncias e as tribulações são muitas,
mas na espera da aparição do nosso Senhor Cristo Jesus vale a pena suportá-las
porque no fim da carreira nos será atribuída a coroa da vida que o Senhor
prometeu aos que o amam. A Deus seja a glória eternamente. Amen. |