Capitulo 9 A
tradição |
A doutrina
dos teólogos papistas |
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A tradição é parte da revelação de Deus e
por isso deve ser respeitada a par da Escritura. 'A tradição é o
ensinamento de Jesus Cristo e dos apóstolos, feito a viva voz, e pela Igreja
transmitido até nós sem alteração' (Giuseppe Perardi, op. cit.,
pag. 375) [1]; 'Fontes principais da
Tradição são os Concílios da Igreja [2],
os Livros litúrgicos, as Actas dos Mártires, as antigas inscrições nos
túmulos e nos monumentos, as orações públicas, as obras dos Pais e dos
Doutores da Igreja. - O título de Pais dá-se aos Escritores sagrados
até ao século XII; o de Doutor dá-se tanto aos Pais como a outros Escritores
eminentes, especialmente Santos cuja doutrina é aprovada pela Igreja e
geralmente seguida' (ibid., pag. 377) [3].
Portanto, segundo a Igreja Papista a sua tradição é constituída por preceitos
que Jesus deu por palavra aos seus apóstolos, que por sua vez transmitiram
por palavra a outros fiéis servidores do Senhor que por sua vez ainda
oralmente a fizeram chegar inalterada a eles que são, segundo eles, a
verdadeira e única igreja depositária de toda a revelação divina! Em
substância a tradição é parte da revelação de Deus e como tal portanto deve
ser respeitada a par da Escritura: Perardi afirma de facto que 'nós devemos
ter pela doutrina nos transmitida por Tradição, o mesmo respeito e a mesma fé
que temos pela doutrina da Sagrada Escritura, pois uma e outra são verdade
revelada por Deus' (ibid., pag. 375-376) [4].
Os teólogos papistas para sustentar que toda a sua tradição, apesar de não
estar escrita na Escritura, deve ser aceite da mesma maneira em que é aceite
a Escritura porque também ela foi revelada por Deus fazem um discurso todo
particular apoiando-se em certas passagens da Escritura. Nós agora vos
proporemos este seu discurso assim como o encontramos no catecismo de
Perardi. Uma só vez é declarada útil a sagrada Escritura, vale dizer quando
Paulo diz a Timóteo: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e útil [ ou proveitosa] para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir
em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído
para toda a boa obra" (2 Tim. 3:16,17). Mas não é declarada útil para os
fiéis mas 'para os sagrados ministros como auxílio a eles para ensinar,
educar e corrigir (...) Útil e não já necessária' (Giuseppe Perardi, op.
cit., pag. 376). E ainda: 'Não só nunca se impõe a leitura da Bíblia, mas
se insiste para que se recordem, se conservem e se transmitam os ensinamentos
aprendidos oralmente, que se tornam Tradição viva da Igreja' (ibid.,
pag. 376), e cita os seguintes versículos da Escritura para confirmar isso:
"Ora, eu vos louvo, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais os
meus ensinamentos assim como vo-los transmiti" (1 Cor. 11:2);
"Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai os ensinamentos que vos
foram transmitidos, seja por palavra, seja por epístola nossa" (2 Tess.
2:15); "Manda estas coisas e ensina-as.... até que eu volte, aplica-te à leitura, à
exortação, e ao ensino.... Tem cuidado de ti mesmo e do ensinamento;
persevera nestas coisas" (1 Tim. 4:11,13,16); "Conserva o modelo
das sãs palavras que de mim tens ouvido na fé e no amor que há em Cristo
Jesus; guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós" (2
Tim. 1:13,14); "Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em
Cristo Jesus. E o que de mim ouviste na presença de muitas testemunhas,
confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os
outros" (2 Tim. 2:1,2). E a respeito de Timóteo Perardi diz: 'Timóteo
não escreveu as coisas ouvidas de S. Paulo, as ensinou segundo a ordem dele e
as transmitiu por tradição' (Giuseppe Perardi, op. cit., pag. 376). |
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A teoria do gérmen. O cardeal
Newman (1801-1890) no seu livro O desenvolvimento da doutrina cristã,
para defender a tradição, propugnou a teoria do gérmen. Segundo esta teoria a
tradição da igreja católica romana ainda que não esteja contida tal e qual
nos ensinamentos de Jesus todavia está contida em forma de gérmen; depois com
o passar do tempo ela se desenvolveu até tomar as dimensões e a forma que
hoje possui. Em outras palavras, para este cardeal houve uma evolução da
doutrina de Cristo, evolução representada pela tradição. Eis algumas palavras
suas tiradas deste livro que fazem perceber muito bem esta teoria do gérmen:
'E ainda no mesmo capítulo de são Marcos lê-se: 'O Reino de Deus é semelhante
a um homem que lançou a semente à terra. Depois dorme e acorda, noite e dia,
e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece.
porque a terra produz fruto por si mesma'. Indica-se aqui uma força vital
interior, seja ela um princípio ou uma doutrina, em vez de uma simples
manifestação exterior. Além disso, observamos que aqui se faz entender o
carácter espontâneo e juntamente progressivo do crescimento (...) A parábola
do Reino de Deus descreve também o desenvolvimento da doutrina sob um outro
aspecto, a saber, indica o seu poder activo, que se traduz num processo de
integração e de interpretação (....) Tendo firme que o cristianismo vem de
Deus, de Deus vem necessariamente também tudo o que está nele de modo
implícito e o que dele se desenvolve (...) Pela doutrina da Mediação consegue
a da Expiação, da missa, dos méritos dos santos e dos mártires, as invocações
a eles dirigidas e o seu culto (....) Dentre os sacramentos, depois, o
batismo se desenvolve por uma parte no crisma e depois na doutrina da
penitência, do purgatório e das indulgências. E a Eucaristia se desenvolve na
doutrina da Presença real, na adoração da Hóstia, na ressurreição dos corpos
e na virtude das relíquias (...) Estes individuais desenvolvimentos não se
põem de modo independente uns dos outros, mas se entrelaçam uns com os outros
e, vindo de um só gérmen crescem juntos' (John H. Newman, Lo sviluppo
della dottrina cristiana, [O
desenvolvimento da doutrina cristã]
Bologna 1967, pag. 82, 83,103,104). |
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Confutação |
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A tradição
católica romana não pode proceder de Cristo porque anula a Palavra de Deus e
por isso deve ser rejeitada |
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Ora, os teólogos papistas afirmam que a sua
tradição procede de Cristo; mas então, como se explica o facto de esta sua
tradição anular abertamente as coisas que Jesus Cristo primeiro e os
apóstolos depois ensinaram e que nós encontramos escritas tão claramente na
Escritura? Como é que esta sua tradição é amarga ao nosso paladar enquanto a
Palavra de Deus escrita é mais doce do que o mel? Como é que a sua tradição é
torta enquanto a Palavra de Deus é direita? A razão pode ser e é só uma; ela
não procede de Deus. Mas então de quem procede? Do inimigo de Deus, do diabo
que é mentiroso e pai da mentira: não pode ser de outro modo. Por isso não se
deve ter por ela nenhum respeito mas apenas ódio, e nela não é necessário
repôr alguma confiança. A tradição católica romana assemelha-se em muitos aspectos
à tradição que tinham os escribas e os Fariseus no tempo de Jesus; de facto
como aquela tradição, de que os escribas e os Fariseus andavam orgulhosos,
anulava a lei de Moisés, ou seja a lei que Deus tinha dado ao seu povo no
monte Sinai (vos recordo que os escribas e os Fariseus diziam, entre outras
coisas, que se alguém dizia a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que poderias
aproveitar de mim é oferta ao Senhor, ele não era mais obrigado a honrar seu
pai e sua mãe, enquanto a lei diz: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem
maldisser ao pai ou à mãe seja punido de morte) (cfr. Mat. 15:4,5; Mar.
7:10-12); assim a tradição da igreja católica romana, de que os papas e os
seus seguidores estão tão orgulhosos de ter, anula o Evangelho de Cristo, ou
seja, a palavra da graça que Deus nos transmitiu por meio do seu Filho. E
isso o temos amplamente demonstrado no decorrer da nossa confutação. Mas o
que fez Jesus ao constatar que os escribas e os Fariseus com a sua tradição
tinham anulado a Palavra de Deus, e tinham assim fechado o reino dos céus às
pessoas impedindo-lhes de lá entrar? Ele os repreendeu severamente, como
mereciam. Ele disse-lhes: "Hipócritas! bem profetizou Isaías a vosso
respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está
longe de mim. Mas em vão me
adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mat. 15:7-9). Estas
são palavras de Cristo que trovejam contra todos aqueles que estão à cabeça
desta pseudo-igreja os quais preferem observar e fazer observar aos outros preceitos
humanos que se desviam da verdade, em vez de a Palavra de Deus. Mas além de
repreender os escribas e os Fariseus Jesus pôs de sobreaviso os seus
discípulos da doutrina dos Fariseus que tinha anulado a Palavra de Deus
dizendo aos seus discípulos: "Acautelai-vos do fermento dos
fariseus" (Lucas 12:1; cfr. Mat. 16:6-12), e assim ainda hoje ele nos
manda para nos acautelarmos do fermento da igreja romana para não nos
corromper. "Um pouco de fermento faz levedar toda a massa"
(1 Cor. 5:6), diz a Palavra, por isso estai atentos para não assimilar
nenhuma das heresias da igreja romana. Irmãos, "não vos escrevi porque
não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem
da verdade" (1 João 2:21). |
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A teoria do
gérmen de Newman é uma mentira a par da teoria da evolução de Darwin |
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Jesus disse um dia explicando a parábola do
semeador que "a semente é a palavra de Deus" (Lucas 8:11); portanto
ele comparou o seu ensinamento à semente semeada pelo semeador. Ora, como
todo o ensinamento de Jesus é bom, deve-se dizer que toda a semente de que
ele falou era em tudo e para tudo boa, privada de qualquer gérmen mau. E
portanto do seu puro ensinamento não podiam e não podem brotar doutrinas que
contrastam e anulam as suas próprias palavras, ou seja, heresias. Queremos
dizer com isto que Jesus não semeou da semente que continha no interior
gérmens maus que depois com o tempo se desenvolveram até se tornarem plantas
venenosas. Não, de modo nenhum. Mas com o passar do tempo homens ou na sua
ignorância sem se darem conta ou por má-fé para enganar os outros, na boa
semente introduziram gérmens maus, representados pelas suas interpretações
falsas, pelas suas opiniões erradas, e por doutrinas estranhas, que por sua
vez fazem brotar inevitavelmente outras perversidades porque "um abismo
chama outro abismo" (Sal. 42:7) e porque "um pouco de fermento faz
levedar toda a massa" (1 Cor. 5:6). Esta foi uma obra do diabo, que é o
enganador de todo o mundo, chamado "o inimigo" (Mat. 13:39) de
Jesus porque tem em aversão a verdade, que conseguiu portanto a pouco e pouco
introduzir no meio do Evangelho estranhas doutrinas, fazendo-as passar por
tradições apostólicas, as quais acabaram por anular o Evangelho da graça de
Deus. E assim a verdade começou a ser semeada junto com muitos erros. Mas
enquanto a verdade, a boa semente da Palavra de Deus, continuou a fazer bem
aos que a aceitaram assim como é, ou seja, sem qualquer adulteração, o erro
(o gérmen mau introduzido pelo diabo com a sua astúcia) gerou muitos outros erros
que são precisamente os preceitos da tradição católica romana que causaram
danos e delitos em número infinito durante os séculos. Basta tomar o
diabólico preceito que impede aos padres de se casarem (desenvolvido também a
seguir a uma errada interpretação dada à ceia do Senhor) para dar conta das
nefastas consequências que ele tem tido sobre a sociedade e sobre eles
mesmos; mas a mesma coisa se pode dizer da missa (desenvolvida também ela
pelo errado significado dado à ceia do Senhor), das indulgências (cuja origem
está num errado significado dado às palavras de Jesus: "Àqueles a quem
perdoardes os pecados lhes são perdoados" (João 20:23) que deu vida ao
sacramento da penitência), e de todas as outras heresias da igreja romana.
Portanto, a tradição católica romana que anula o Evangelho da graça não
estava de modo algum contida em gérmen no ensinamento de Jesus; porque ela
derivou dos gérmens maus e enganadores brotados dos corações de bispos,
papas, cardeais, e muitos outros. É pois nestes gérmens que importa procurar
as origens das tradições da igreja católica romana que não estão, segundo a
cúria romana, explicitamente contidas na Palavra de Deus, e não na Palavra de
Deus, pura de toda a escória. E de facto não é na Palavra de Deus que eu
encontrei as tradições da igreja católica romana que tenho confutado até
aqui, mas nas interpretações erradas dadas pelos seus chamados pais e papas;
lendo a Palavra de Deus guiados pelo Espírito da verdade não se pode
minimamente entrever nela a tradição católica romana, nem sequer contida em
gérmen. Mas então como é que os católicos conseguem pelo contrário ver nela a
tradição? Porque eles não se fazem guiar pelo Espírito de Deus na leitura da
Palavra, mas sim pelo magistério da igreja católica que sabe como transformar
a luz em trevas, e fazer dizer a Jesus e aos apóstolos o que eles nunca
disseram. Por um certo lado esta teoria do gérmen avançada por Newman
assemelha-se à teoria de Darwin que 'afirmou que o homem estava ligado à vida
animal por meio de tipos ancestrais comuns', ou seja, que descendia de
animais. O que nós sabemos não poder ser verdadeiro porque a Escritura ensina
que o homem é uma criatura de Deus formada por Deus à sua imagem e semelhança
enquanto os animais não foram feitos à sua imagem e semelhança, e porque o
homem foi formado separadamente dos animais e subsequentemente a eles. Não há
pois nenhuma conexão entre o homem e os animais; como também não há nenhuma
conexão entra a Palavra de Deus e a tradição perversa da igreja católica
romana. Afirmar que a tradição católica romana se tenha espontaneamente
desenvolvido da semente da Palavra de Deus é como afirmar que a verdade pode
gerar a mentira; que a Palavra de Deus tem o poder de desenvolver doutrinas
diabólicas. Mas o que tem a ver a mentira com a verdade? Nada. Jesus Cristo é
a verdade, ele é a Palavra de Deus e um dia disse referindo-se ao diabo, que
é pai da mentira: "Ele nada tem em mim" (João 14:30); portanto é
impossível pensar que das palavras de Jesus tenham podido a seguir sair -
isto é desenvolver-se - o purgatório, a missa, o papado, as indulgências, o
culto a Maria e aos santos, as orações pelos mortos (para citar só algumas);
todas doutrinas que contrastam a Palavra de Deus porque foram geradas pelo
diabo que é mentiroso e pai da mentira. Se fosse de outro modo teríamos que
afirmar que na verdade que era Cristo Jesus estava escondida também a
mentira!! Em suma que o diabo tivesse alguma coisa em Jesus!! é portanto
diabólico o raciocínio de Newman; porque também ele se opõe à verdade. Ninguém
vos engane irmãos com os seus sofismas. |
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O discurso
feito com as Escrituras para sustento da tradição é falso |
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Como vimos Perardi afirma que uma só vez a
Escritura é declarada útil (proveitosa) e depois que ela é declarada útil
para os sagrados ministros e não para todos os fiéis e depois que ela é útil
e não necessária. Como replicamos nós? Assim. Antes de mais dizemos que é
falso que só uma vez a Escritura é declarada útil, porque Paulo a Tito na
parte final da epístola lhe diz: "Estas coisas são boas e úteis [ ou proveitosas] aos homens" (Tito 3:8). Quais são estas coisas úteis de que Paulo fala senão as coisas que lhe
escreveu? E depois é necessário dizer que há muitas outras passagens que
fazem perceber claramente que as coisas que foram escritas por inspiração do
Espírito Santo são úteis; entre estas citamos esta: "Porque tudo o que
dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e
consolação das Escrituras tenhamos esperança" (Rom. 15:4). Como
podeis ver o discurso de Perardi é vão. Vejamos agora a questão da passagem a
Timóteo se referir aos ministros de Deus e não a todos os fiéis; mas que
significa isto? Que para os que receberam um ministério de Deus, como o tinha
recebido Timóteo, a Escritura é útil enquanto para os que não têm um
ministério não é útil? Mas isto é loucura. Paulo diz aos Romanos que
"tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito"
(Rom. 15:4), portanto para ensinar não só os ministros de Deus mas também os
que não têm um ministério, em suma para todos os membros do corpo de Cristo.
E citando ainda as palavras de Paulo a Tito "estas coisas são boas e
úteis [ ou proveitosas] aos homens" (Tito 3:8), ele não diz
'são úteis aos homens de Deus', mas "aos homens" em geral sem
nenhuma distinção. Mas que vão tagarelando esses guias cegos? O facto depois
de Perardi dizer que a Escritura é útil mas não necessária, é a enésima prova
de quanto astutos são os teólogos papistas no expor as suas doutrinas. Mas então se a Escritura não é
necessária por que é que Deus quis que fosse escrita? Mas então a
Escritura para os teólogos romanos é só um auxílio para os homens e nada
mais! Mas então nos expliquem como
é que Moisés disse ao povo: "Porque esta palavra não vos é vã, antes é a
vossa vida" (Deut. 32:47)! É claro que o seu discurso tende para
não fazer aparecer a Escritura como a única Palavra de Deus existente sobre a
terra! |
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Vejamos agora as afirmações de Perardi segundo
as quais nunca se impõe a leitura da Bíblia mas se devem recordar conservar e
transmitir os ensinamentos aprendidos oralmente, (e para fazer isso cita as
passagens que vimos) que constituem a tradição da igreja. As coisas não são
de modo nenhum assim como ele diz. Antes de mais é errado dizer que não se
impõe a leitura da Bíblia, porque está escrito na lei a respeito do rei:
"Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então
escreverá para si num livro, uma cópia desta lei, do original que está diante
dos sacerdotes levitas. E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua
vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, e a guardar todas as
palavras desta lei, e estes estatutos, a fim de os cumprir; para que o seu
coração não se exalte sobre os seus irmãos, e não se aparte do mandamento,
nem para a direita nem para a esquerda; e prolongue assim os seus dias no seu
reino, ele e seus filhos no meio de Israel" (Deut. 17:18-20). Ainda na
lei está escrito que Moisés, depois de ter escrito num livro a lei do Senhor,
a deu aos sacerdotes levitas e deu-lhes esta ordem: "Ao fim de cada sete
anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos,
quando todo o Israel vier a comparecer perante ao Senhor teu Deus, no lugar
que ele escolher, lereis esta lei diante de todo o Israel, para todos
ouvirem" (Deut. 31:10,11). Deus disse a Josué: "Não se aparte da
tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás
prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido" (Josué 1:8). O profeta
Isaías diz: "Buscai no livro do Senhor, e lede" (Is. 34:16). O
profeta Jeremias depois de ter escrito por ordem de Deus as palavras que Deus
lhe tinha revelado, por ordem de Deus disse a Baruque: "Eu estou
impedido; não posso entrar na casa do Senhor. Entra pois tu e, pelo rolo que
escreveste enquanto eu ditava, lê as palavras do Senhor aos ouvidos do povo,
na casa do Senhor..." (Jer. 36:5,6). O apóstolo Paulo escreveu aos
Colossenses: "E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei
que também o seja na igreja dos laodicenses..." (Col. 4:16); e aos
Tessalonicenses disse: "Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja
lida a todos os irmãos" (1 Tess. 5:27). E João diz: "Bem-aventurado
aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e
guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está
próximo.!" (Ap. 1:3). |
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Depois de ter citado todas estas passagens que
ordenam a leitura (pública e privada) da Bíblia para o nosso bem e as
palavras de João que afirmam que quem a lê é bem-aventurado, se compreende o
porquê de na igreja romana vigorar uma grande ignorância das Escrituras;
porque eles descuram a leitura privada e pública da Palavra de Deus. A
começar pelo chamado papa, e depois prosseguindo com os cardeais, com os
bispos, com os padres, com os frades, com as freiras e por fim os simples
membros da igreja romana todos jazem na ignorância da Palavra de Deus porque
descuram a leitura da Bíblia. Sim, é verdade que hoje a leitura da Bíblia não
é mais proibida ao povo como outrora; mas permanece o facto de a sua leitura
ser pilotada pela cúria romana que sabe como fazê-la ineficaz. Nas Bíblias
católicas se encontram de facto muitas notas 'explicativas' que têm como fim
o de anular muitos e muitos versículos da Palavra de Deus [5] escritos tão claramente que destroem as
pretensões da igreja romana. Prova esta eloquente de que a cúria romana na
realidade não ama a Palavra de Deus e não quer que os homens a leiam para
entendê-la rectamente mas só a fim de reter os seus falsos ensinamentos que
levam à perdição quem os aceita. Mas então por que é que agora ela permite a
leitura da Bíblia ao povo seja todavia com notas, com o perigo sempre porém
de alguém não se apoiar nelas para a perceber? Se eles agora permitem a
leitura da Bíblia aos seus membros é porque não puderam fazer de outro modo
depois da Reforma; foram obrigados mal-grado seu a permiti-la para não
parecer malvados. Senão que figura fariam os papas diante da divulgação da
Bíblia operada pelos Protestantes? Mas permanece o facto de estes detestarem
a Bíblia como a detestavam séculos e séculos atrás ao tempo das inquisições.
Parecerá um contra-senso tudo isto mas é assim; este é o comportamento dos
hipócritas. Mas nós queremos levantar a nossa voz para que os Católicos leiam
a Palavra de Deus e a entendam rectamente para que possam ser libertados das
amarras desta religião e chegar ao conhecimento da verdade que está em Cristo
Jesus. Ó Católicos romanos, vos conjuramos a ler a Palavra de Deus (sem vos
apoiardes nas explicações desviantes do vosso magistério) porque ela fala da
grande salvação que Cristo Jesus veio dar aos homens; Ele pode salvar-vos
perfeitamente se vós abrirdes o vosso coração ao amor da verdade! |
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Mas vejamos agora as passagens que Perardi toma
para sustentar que a tradição católica romana não é mais que o ensinamento
oral de que se fala nelas. Ora, começamos por fazer esta premissa; nós não
excluímos que Jesus ou o apóstolo Paulo ou outros apóstolos, tenham dirigido
ensinamentos ou dito coisas que não estão escritas. Me explico melhor; nós
não sabemos com precisão quais foram as coisas que Jesus disse aos seus
discípulos nos quarenta dias que precederam a sua ascensão; sabemos que Jesus
naqueles dias falou "das coisas concernentes ao reino de Deus"
(Actos 1:3); mas não podemos dizer mais. Também quando está escrito que Jesus
instruía as multidões e nada mais nós não podemos dizer com certeza absoluta
quais eram os seus particulares ensinamentos naquelas circunstâncias (cfr.
Mat. 4:23; Lucas 4:15; 5:3) (mesmo se estamos convencidos que ele repetiu
mais vezes os ensinamentos que estão transcritos). Está dito que Jesus,
quando lhe foi levada aquela mulher apanhada em adultério,
"inclinando-se, começou a escrever com o dedo na terra" (João 8:6);
mas não sabemos até ao presente o que foi que ele escreveu. João diz que
"Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros
sinais, que não estão escritos neste livro" (João 20:30), e também que
"há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das
quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os
livros que se escrevessem" (João 21:25); e como quando Jesus operava
milagres ou curas muitas vezes proferia também palavras com a sua boca, é
necessário dizer que nós não sabemos quais foram estas palavras que Jesus
disse quando operou aqueles milagres e as curas que não estão escritas nem
por Mateus, nem por Marcos, nem por Lucas e nem por João. Diversas vezes está
escrito que Jesus se retirava sozinho para lugares desertos e orava; mas não
está escrito o conteúdo de todas as orações que Jesus dirigiu ao seu Pai. |
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Também por quanto respeita ao apóstolo Paulo é
necessário dizer que não podemos dizer que na Bíblia estão escritas todas as
coisas que ele pregou, ensinou por palavra e por escrito, e fez; basta
recordar que ele diz aos Coríntios: "Já por carta vos tenho escrito, que
não vos associeis com os fornicadores" (1 Cor. 5:9), e que esta carta
nós não a possuímos; ou que diz aos Colossenses para lerem a Epístola
"que veio de Laodicéia" (Col. 4:16), que nós não possuímos, para
entender como estas duas epístolas de Paulo não são parte do Cânon porque não
chegaram a nós. Podemos acrescentar também o facto de ele aos coríntios
dizer: "Quanto às demais coisas, ordená-las-ei quando for" (1 Cor.
11:34) e nós não sabemos quais foram as coisas e como ele as ordenou porque
isso não está escrito. O facto de não sabermos o que em particular ele discutiu
em Éfeso com os discípulos na escola de Tirano (cfr. Actos 19:9), ou qual foi
o seu discurso que ele dirigiu aos crentes de Trôade na noite em que Êutico
caiu do terceiro andar (Actos 20:7-11). Mas além destes exemplos poderíamos
fazer muitos outros. |
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Mas este discurso por nós feito exclui da
maneira mais absoluta que Jesus ou os apóstolos tenham transmitido por
palavra ensinamentos errados como os que tem a igreja romana. Me explico;
mesmo se não está escrito de que coisa específica Jesus falou aos seus
durante os quarenta dias, ou às multidões quando está só escrito que ele as
instruía, é de excluir-se que Jesus tenha transmitido aos seus discípulos ou
às multidões o batismo e a ceia do Senhor como a cúria romana os ensina ao
povo, e os outros cinco sacramentos ensinados pela cúria romana, ou a
doutrina sobre o purgatório, ou a de nos devermos dirigir em oração aos anjos
ou a Maria sua mãe ou aos apóstolos quando estivessem mortos, ou a do
celibato forçoso para os ministros do Evangelho e assim por aí fora; porquê?
Porque não são verdade! Também por quanto respeita a Paulo não se pode dizer
que nas coisas que ele transmitiu por palavra aos fiéis de Tessalónica ou de
alguma outra cidade, ou a Timóteo, estivessem o purgatório, as indulgências,
a transubstanciação, a Via Crucis, o culto a Maria, aos santos, aos anjos, e
tantas outras coisas. Porquê? Ainda pela mesma razão: porque elas não são
verdade que procedem de Deus, mas mentiras que procedem do diabo. Jesus nunca
se contradisse, Paulo, Pedro e os outros apóstolos nunca se contradisseram a
eles, nem entre eles, e nunca contradisseram os ensinamentos de Jesus; os
seus ensinamentos formam um todo bem compacto. Portanto todas as doutrinas
que são atribuídas ou a Jesus ou aos apóstolos, mas que contradizem os
ensinamentos do próprio Jesus e dos apóstolos devem ser rejeitadas sem
hesitação porque são imposturas. O modo de falar da cúria romana acerca da
tradição, isto é, as suas palavras que atribuem a sua tradição aos apóstolos,
é muito semelhante ao de alguns falsos doutores que surgiram no meio do povo
de Deus depois da morte dos apóstolos (vale dizer nos primeiros séculos
depois de Cristo), os quais para sustentar as suas heresias de perdição se
apegavam à tradição apostólica dizendo que se bem que as suas doutrinas não
estivessem na Bíblia eles as tinham recebido por tradição de alguns que
tinham estado em contacto com os apóstolos de Cristo. Não há pois nada de
novo debaixo do sol; os factos demonstram que a igreja romana, não podendo
demonstrar as suas doutrinas não bíblicas com as Escrituras porque estas as
condenam ou não fazem menção delas, recorre ao velho engano, ou seja, diz ter
recebido estas suas doutrinas não directamente dos apóstolos mas
indirectamente deles. E para sustentar a autenticidade das suas heresias cita
as mesmas palavras de Jesus que usavam os falsos doutores nos primeiros
séculos depois de Cristo, a saber: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas
vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele, o Espírito da
verdade, ele vos guiará em toda a verdade... vos anunciará as coisas
vindouras" (João 16:12,13). Querendo com isto dizer que Jesus não tinha
dito tudo aos apóstolos, com efeito, tinha-lhes prometido que por meio do
Espírito lhes revelaria outras coisas, entre as quais precisamente estão as
suas tradições. Mas nós confutamos esta sua asserção dizendo isto: sim, é
verdade que o Espírito da verdade revelaria aos apóstolos outras coisas; e em
verdade o fez e para dar conta disso basta ler as epístolas dos apóstolos:
mas eles esquecem que o Espírito é a verdade, e que diria o que ouviria de
Jesus, de facto receberia do que é seu e lhes o anunciaria (cfr. João
16:14,15). Enquanto as coisas que eles dizem não podem ter sido reveladas
pelo Espírito da verdade, porque são mentiras que procedem do diabo. O
adversário contrasta a verdade, ele contradiz o que está escrito; ele
comunicou aos teólogos Católicos romanos as heresias que venderam por Palavra
de Deus. |
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À cúria romana que resiste à verdade como
fizeram Janes e Jambres são dirigidas estas palavras da parte do Espírito:
"Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre
resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim fazeis
também vós" (Actos 7:51); e também estas: 'Ó filhos do diabo, cheios de
todo o engano e de toda a malícia, inimigos de toda a justiça, não cessareis
de perverter os caminhos rectos do Senhor?' |
||
Para vós homens e mulheres que sois arrastados
atrás da árida e mortífera tradição católica romana que leva à perdição é
dito: "Não andeis nos estatutos de vossos pais, nem guardeis as suas
ordenanças, nem vos contamineis com os seus ídolos" (Ez. 20:18); não
vades a Lourdes, não subais a Fátima, nem vos dirijais a Loreto porque de
certo estas viagens não vos levam à salvação, estes lugares serão atingidos
pelo furor de Deus e destruídos; "buscai o Senhor, e vivereis"
(Amós 5:6), circuncidai os vossos corações para que o furor de Deus não vos
consuma por causa da vossa idolatria. Vos conjuramos ó homens a sair desta
organização na qual estais encerrados para que não sejais participantes dos
seus pecados e não tenhais parte nas suas pragas. Hoje, se ouvirdes a sua voz não endureçais os
vossos corações! |
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O que disseram alguns chamados pais da igreja sobre o
que não está expressamente escrito |
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Como vimos os escritos daqueles que a igreja
católica chama pais da igreja são parte da sua tradição. Eles são tão
altamente considerados que o concílio de Trento na sua quarta sessão declarou
que ninguém deve ousar interpretar a Escritura 'contra o unânime consenso dos
pais'. Ora, como a igreja romana afirma que a verdade não está contida só na
Bíblia mas também na tradição, e como nós sabemos que a tradição católica
romana não é sustentada pela Escritura, queremos ver o que alguns destes
antigos escritores que ela chama pais da Igreja e que tem em grandíssima
estima disseram se dever fazer a propósito do que não pode ser confirmado
pela Escritura ou que não faz parte da Escritura e contradiz a Escritura. |
||
Basílio (330-379) disse: 'Rejeitar alguma coisa que se encontra nas
Escrituras, ou receber algumas coisas que não estão escritas, é um sinal
evidente de infidelidade, é um acto de orgulho... o fiel deve crer com
plenitude de espírito todas as coisas que estão nas Escrituras sem tirar ou
acrescentar nada' (Basílio, Lib. de Fid. -- regul. moral. reg. 80;
citado por Luigi Desanctis em La tradizione, terceira ed. Firenze
1868, pag. 19); |
||
Ambrósio (340 ca. -397) disse: 'Quem ousará falar quando a Escritura cala?...
Nós nada devemos acrescentar à
ordem de Deus; se vós acrescentais ou tirais alguma coisa sois réus de
prevaricação' (Ambrósio, Lib. II de vocat. Gent. cap. 3 et lib. de
parad. cap. 2; citado por Luigi Desanctis in op. cit., pag. 19). |
||
Jerónimo (347 ca. - 419-20 ca.) disse: 'Se vós quereis clarificar as coisas
em dúvida, ide à lei e ao testemunho da Escritura; fora dali estais na noite
do erro. Nós admitimos tudo o que está escrito, rejeitamos tudo o que não
está. As coisas que se inventam sob o nome de tradição apostólica sem a
autoridade da Escritura são feridas pela espada de Deus' (Jerónimo, In
Isaiam, VII; In Agg., I; citado por Roberto Nisbet in op. cit.,
pag. 28). |
||
Cipriano (200 ca. - 258) disse: 'Que orgulho e que presunção é igualar
tradições humanas às ordenanças divinas...!' (Cipriano, Epist. 71;
citado por Teofilo Gay em Arsenale antipapale, Firenze 1882, pag.
204-205); |
||
Justino Mártir (morto em 165 ca.) disse: 'Não temos algum mandamento de
Cristo que nos obrigue a crer nas tradições e nas doutrinas humanas, mas
somente naquelas que os bem-aventurados profetas promulgaram e que Cristo
mesmo ensinou, e eu tenho cuidado de referir todas as coisas às Escrituras e
pedir a elas os meus argumentos e as minhas demonstrações' (Justino Mártir,
Diálogo com Trifão) |
||
Tertuliano (160 ca. - 220 ca.) disse: 'Mostre-nos a escola de Hermógenes que
o que ela ensina está escrito: se não está escrito, trema em vista do anátema
fulminado contra aqueles que acrescentam à Escritura, ou tiram alguma coisa
dela' (Tertuliano, Contra Hermógenes, cap. 22). |
||
Ora, lendo todas estas declarações se deduz que
os mesmos escritores que a igreja romana toma para sustentar algumas das suas
falsas doutrinas (porque com efeito os supracitados escritores ensinaram
doutrinas falsas, contradizendo-se) eram contra as doutrinas e práticas que
não podiam ser demonstradas com as Escrituras e que eram feitas passar por
tradição apostólica (reiteramos porém com força ainda que estes se
contradisseram aceitando e ensinando doutrinas que não são prováveis com a
Escritura e vão abertamente contra ela, e isso o demonstraremos mais tarde).
Portanto, a igreja católica romana não se atém nem ela a tudo aquilo que
disseram os seus pais porque não rejeita tudo o que não está escrito nas
sagradas Escrituras como sugerem (contradizendo-se porém na prática) que se
faça estes seus pais. Ela, pela enésima vez se contradiz (como fizeram os
seus pais) porque por um lado diz que é necessário interpretar as Escrituras
por meio dos pais e depois que é necessário aceitar as tradições da mesma
maneira em que se aceita a Escritura (o concílio Vaticano II declarou de
facto que a Escritura e a tradição 'devem ser aceites e veneradas com igual
sentimento de piedade e respeito' [Concílio Vaticano II, Sess. VIII, cap.
II]) o que vai abertamente contra o consenso destes seus pais. Por
que motivo pois a igreja romana fala e age desta maneira contraditória? A
razão é porque ela não quer absolutamente rejeitar e renegar a sua tradição.
Rejeitá-la de facto significaria ter que renunciar ao poder temporal e a uma
inexorável fonte de dinheiro. |
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A igreja
romana rejeita o ensinamento do milénio dos seus chamados pais |
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Segundo
a Escritura Jesus Cristo quando voltar à terra instaurará um reino milenário
de facto João diz: "E vi as almas daqueles que foram degolados pelo
testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem
a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e
reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não
reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição.
Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre
estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de
Cristo, e reinarão com ele mil anos" (Ap. 20:4-6). Esta doutrina foi
crida e proclamada por alguns destes ditos pais da igreja, como por exemplo
Papias, Ireneu, Tertuliano, Justino mártir, Lactâncio, Melitão e Metódio
(Agostinho primeiro a aceitou e depois a rejeitou). |
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Mas a igreja romana a rejeita porque a
considera uma heresia; lê-se de facto na Enciclopédia Católica na
palavra milenarismo: 'Erro escatológico, segundo o qual Jesus Cristo deve
reinar visivelmente mil anos sobre esta terra, no fim do mundo' (Enciclopédia
Católica, vol. 8, 1008-1009). Assim dizendo ela vai contra aqueles mesmos
escritores que ela considera os pais da igreja. Assim fazendo contradiz os
seus pais e se contradiz a si mesma. Isto demonstra que se a cúria romana
decide rejeitar algo de justo que disse Ireneu ou Lactâncio ou Justino Mártir
ou Tertuliano, ela o faz com a mesma desenvoltura com a qual aceita as suas
falsas doutrinas sem cuidar de parecer contraditória. A este ponto é lícito
perguntar-se: como fazem eles para declarar que as Escrituras devem-se
interpretar segundo o consenso dos pais e depois ela mesma rejeita
abertamente justas interpretações suas dadas a respeito das palavras de João
no Apocalipse a respeito do milénio (aqui me refiro à interpretação de um
reino milenário visível, e não a convicções suas fantasiosas a propósito do
milénio)? A resposta é que ela da sua chamada venerável e autorizada tradição
retém o que lhe é cómodo (de Papias por exemplo aceita que Pedro veio a Roma
mas não o milénio) mas rejeita o que a contraria. É pois absurdo ouvi-la
dizer que a tradição é também ela Palavra de Deus e ela mesma mostra em
alguns casos não tê-la de modo algum em consideração. Como pode ela então
dizer aos Católicos para venerarem uma tradição que ela mesma despreza quando
quer? E como podem os Católicos confiar numa tradição que não só se contradiz
a si mesma mas é contradita pela actual igreja católica romana? Por que pois
os católicos deveriam aceitar a tradição quando os seus próprios guias
demonstram rejeitar uma parte dela? |
||
Ó Católicos romanos, é hora de reflectirdes
sobre este modo de agir dos vossos guias cegos; é hora de cairdes em vós
mesmos e de rejeitardes em bloco esta tradição que anula a Palavra de Deus
mas que vos é feita passar por infalível Palavra de Deus. |
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Casos em que
os chamados pais vão contra a tradição católica romana |
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Vamos agora ver como os chamados pais eram
contra algumas das doutrinas que hoje são parte da tradição romana. |
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Ireneu (150 ca.- 200 ca.) reprovou o culto das imagens, com efeito, afirmou
que os primeiros a introduzir na Igreja o culto das imagens foram os
Gnósticos: 'Denominam-se gnósticos e têm algumas imagens pintadas, outras
também fabricadas com outro material, dizendo que são a imagem de Cristo
feita por Pilatos no tempo em que Jesus estava com os homens. E as coroam e
as expõem com as imagens dos filósofos do mundo, a saber, com a imagem de
Pitágoras, de Platão, de Aristóteles e dos outros, e reservam a elas todas as
outras honras, precisamente como os pagãos' (Ireneu, Contra as heresias,
Livro I, cap. 25,6). |
||
Atenágoras (II sec.) era contra o oferecer incenso a Deus: 'O artífice e o
pai deste universo não precisa nem de sangue, nem de gordura, nem de perfume
de flores ou de aromas..' (Atenagora, Supplica per i cristiani [ Súplica pelos cristãos] , Alba 1978, pag. 62). |
||
Tertuliano (160 ca. - 220 ca.) era contra o primado do bispo de Roma
sustentado pela igreja romana, com efeito, escrevendo ao bispo de Roma que
tinha apelado ao "Tu és Pedro" para sustentar a sua própria
autoridade diz: 'Quem és tu que (de tal modo) subvertes e deformas a intenção
manifestada pelo Senhor, que conferia tal poder pessoalmente a Pedro?'
(Tertuliano, De pudicitia 21); Tertuliano era contra a perpétua
virgindade de Maria, com efeito, ele sustentava que Maria não permaneceu
virgem após ter dado à luz Jesus [6].
E ainda Tertuliano era contrário à doutrina da transubstanciação, com efeito,
afirmou: 'Depois de ter declarado, portanto, desejar fazer a ceia de Páscoa
que Lhe pertencia, - teria sido indigno se Deus tivesse desejado algo que não
lhe pertencia - tomou o pão e o distribuiu aos seus discípulos e fez dele, o
seu corpo, dizendo: 'Isto é o meu corpo ', isto é, 'a forma do meu corpo'.
Mas não poderia ser a forma do corpo, se não tivesse havido o corpo de
realidade. De resto, uma coisa vazia, isto é um fantasma, não teria podido
admitir uma figuração. Ou se Cristo figurou o corpo no pão por este motivo,
da falta da realidade do corpo, então deveria ter dado o pão por nós'
(Tertuliano, Contra Marcião IV, 40). Tertuliano era também contra o
uso do incenso no culto: 'A nossa oferta não consiste já em grãos de incenso
de pouco preço, em lágrimas de planta arábica...' (Tertuliano, Apologético,
Bologna 1980, pag. 123); e contra o fazer-se estátuas e imagens: 'O diabo
introduziu no mundo os artistas que fazem as estátuas e as imagens e todas as
outras representações (...) dizendo Deus: tu não farás alguma semelhança das
coisas que estão no céu nem na terra nem no mar, proibiu aos seus servos em
todo o mundo de se abandonarem ao exercício dessas artes' (Tertuliano, Sobre
a idolatria, livro 3, IV). Ele era também contra o batismo dos bebés:
'Por isso, embora tendo em conta as situações, as disposições e também a
idade de cada pessoa, adiar o batismo apresenta maior utilidade, sobretudo
quando tem a ver com crianças. Se não há casos graves, que necessidade há de
também pôr os padrinhos em risco de não poder manter, em caso de morte, as
promessas que fizeram ou de ficarem frustrados se aquelas crianças crescem
depois com más tendências? Certamente
o Senhor disse: Não impeçais as crianças de virem a mim (Mt 19,14). Venham,
mas quando forem maiores e poderem ser instruídas, venham quando poderem
saber onde vão; tornem-se cristãs, quando forem capazes de conhecer Cristo! Por
que é que crianças inocentes deveriam ter tanta pressa de receber o perdão
dos pecados? Para os negócios da nossa vida ordinária no mundo nos
comportamos com bastante prudência e cuidado; a uma criança ninguém confia a
administração de bens terrenos, por que então lhe confiar a responsabilidade
de bens divinos? Aprendam também elas a pedir a salvação para que se
veja com clareza que tu a salvação a dás a quem a pede!' (Tertulliano, Il
battesimo [ O batismo] , Roma 1979, pag. 162-163). |
||
Orígenes (185 ca. - 254) era contra o primado de Pedro: 'Se tu imaginas que
só sobre Pedro tenha sido fundada a Igreja o que poderias tu dizer de João, o
filho do trovão, ou de qualquer outro apóstolo? Todo aquele que faz sua a
confissão de Pedro pode ser chamado um Pedro' (Orígenes, Comentário a
Mateus 12: 10-11: citado por Fausto Salvoni em Da Pietro al papato
[ De Pedro ao papado] , pag. 92). |
||
Cipriano (200 ca. - 258) era contrário a atribuir o primado a Pedro por causa
das palavras que Jesus lhe dirigiu, com efeito, escreveu: 'Jesus falou a
Pedro, não porque lhe atribuísse uma autoridade especial, mas apenas porque
revelando-se a um só fosse visível o facto de a igreja dever ser toda unida
na fé de Cristo. Pedro é apenas o 'símbolo', o 'tipo' de todos os apóstolos e
de todos os bispos' (Cipriano, De catholica ecclesiae unitate c. 4-5;
citado por Fausto Salvoni in op. cit., pag. 93) [7]. |
||
Eusébio (260 ca. - 340) era contra a imaculada conceição de Maria, com
efeito, disse: 'Ninguém está isento da mancha do pecado original, nem a mãe
do Redentor do mundo. Só Jesus está isento da lei do pecado, apesar de ter
nascido de uma mulher sujeita ao pecado' (Eusébio, Emiss. in Orat. II de
Nativ.; citado por Teofilo Gay in op. cit., pag. 129). |
||
Ambrósio (340 ca. -397) de Milão era contrário ao primado de Pedro, com
feito, disse: 'Pedro... recebeu um primado, mas um primado de confissão e não
de honra, um primado de fé e não de ordem' ('Petrus... primatum egit,
primatum confessionis utique non honoris, primatum fidei non ordinis'.
Ambrósio, De incarnationis dominicae sacramento IV; citado por Fausto
Salvoni in op. cit., pag. 96). Ambrósio era também contra a imaculada
conceição de Maria, com efeito, afirmou: 'Jesus é o único que os laços do
pecado não prenderam; nenhuma criatura concebida pelo acoplamento do homem e
da mulher, foi isenta do pecado original; Só foi isento dele Aquele que foi
concebido, sem o acoplamento, de uma virgem por obra do Espírito Santo'
(Ambrósio, In Psalm. 118; citado por Teofilo Gay in op.
cit., pag. 129). |
||
Lactâncio (sec. III-IV) era contra as estátuas e as imagens: 'Portanto não há
dúvida que onde quer que haja uma estátua ou uma imagem não há religião.
Porque se a religião consiste de coisas divinas, e se não há nada de divino
excepto em coisas que são celestes, as imagens carecem de religião, dado que
não pode haver nada de celeste naquilo que é feito de terra' (Lactantius, The
Divine Institutes [Instituições divinas], Washington 1964, Liv. II, cap.
18, pag. 162). |
||
Epifánio (nascido após 310 e morto em 403), bispo de Chipre, era contra as
imagens, com efeito, na sua carta ao bispo João afirma: 'Eu encontrei um véu
suspenso nas portas desta mesma igreja, o qual estava colorido e pintado, ele
tinha uma imagem, a imagem de Cristo pode ser ou de algum santo; eu não
recordo mais quem ela representava. Eu pois tendo visto este sacrilégio; que
numa igreja de Cristo, contra a autoridade das Escrituras, a imagem de um
homem estava suspensa, lacerei aquele véu' (Jerome, Lettres, Paris
1951, pag. 171). E ele era também contra o culto a Maria, com efeito ao confutar
a seita das Coliridianas que tinha começado a oferecer um culto a Maria, ele
escreveu: 'Não se deve honrar os Santos além do seu mérito, que Deus é Aquele
a quem devemos servir. A Virgem não foi proposta à nossa adoração, porque ela
própria adorou Aquele que segundo a carne nasceu dela. Ninguém pois adore
Maria. Só a Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, pertence este mistério, e não
a qualquer homem ou mulher. Por conseguinte, cessem certas mulheres néscias
de perturbar a Igreja, deixem de dizer: Nós honramos a Rainha do céu', é por
isso que com estes discursos e com o oferecer-lhe os seus bolos, cumprem o
que foi dantes anunciado: 'Alguns apostatarão da fé, dando-se a espíritos
sedutores e às doutrinas dos demónios'. Não, este erro do povo antigo não prevalecerá
sobre nós, para nos fazer afastar do Deus vivo e adorar as criaturas' (Epiph.
liv. III, Coment. II, tom.
2, Haeres 79: citado por Teofilo Gay in op. cit., pag. 136). |
||
João Crisóstomo (344-407)
afirmou: 'S. Paulo escreveu para tapar a boca aos heréticos que condenam o
matrimónio, e para mostrar que o matrimónio não só é coisa inocente, mas
também que é tão honrável que com ele se pode passar a ser bispo' (Crisóstomo,
Hom. II, in Ep. Tit. cap. II; citado por Teofilo Gay in op.
cit., pag. 52); portanto Crisóstomo era contrário ao proibir o matrimónio
aos bispos. Crisóstomo era também contrário à confissão auricular, com
efeito, na nona Homilia da penitência, comentando as palavras de Davi:
"Contra ti, contra ti somente pequei" (Sal. 51:4), disse: 'Só a
Deus pois manifesta o teu pecado e ele te será perdoado' e na 'Homilia 20
sobre o Gênesis escreveu: 'Se Lameque não desdenhou de confessar os seus
pecados às suas mulheres, como seremos nós dignos de perdão, se não queremos
confessá-los Àquele que conhece os nossos delitos mais ocultos?'. E ainda
Crisóstomo era contra a transubstanciação, com efeito, escreveu: 'Antes da
consagração o chamamos pão, mas depois... perde o nome de pão e torna-se
digno que o se chame o Corpo do Senhor, embora a natureza do pão continue tal
nele' (Crisóstomo, Epístola a Cesário: citado por Roberto
Nisbet in op. cit., pag. 79). Por fim Crisóstomo era contra o primado
de jurisdição de Pedro: 'Teve por isso Pedro um primado? Sim! Porque foi o
primeiro a confessar o Cristo, tornou-se também o primeiro apóstolo no início
da Igreja' (Crisóstomo, Or. 8,3 Adv. Jud.; citado por Fausto Salvoni
in op. cit., pag. 95). |
||
Agostinho (354-430) não considerava de modo nenhum como coisa certa que Pedro
fosse a pedra sobre a qual foi edificada a Igreja de Cristo como antes afirma
a igreja papista. Ele teve com efeito a dizer: 'Num certo lugar do livro,
falando do Apóstolo Pedro, disse que a Igreja está fundada nele como sobre a
pedra, como é cantado também por muitos, nos versos do beatíssimo Ambrósio,
onde diz do galo: Com o canto deste a própria pedra da Igreja chorou a sua
culpa. Mas a seguir porém expus muitíssimas vezes as palavras ditas pelo
Senhor: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; como
se por, sobre esta pedra, se devesse entender o que Pedro afirmou
quando exclamou: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo; e que Pedro
recebeu nome desta pedra, porque representa a pessoa da Igreja edificada
sobre esta pedra, e recebeu as chaves do reino dos céus. Não lhe foi dito de
facto: Tu és pedra, mas Tu és Pedro; pedra era o Cristo, e Simão que o tinha
reconhecido como o reconhece toda a Igreja, foi por isso chamado de Pedro. O
leitor escolha qual é a mais provável das duas sentenças' (Agostino, I due
libri delle ritrattazioni [ Os dois
livros das retratações] , Firenze
1949, Livro primeiro, cap. XXI, pag. 117-118). Como se pode bem ver Agostinho
primeiro tinha afirmado que a pedra era o apóstolo Pedro e depois tinha
mudado de opinião dizendo que a pedra era a confissão feita por Pedro, e
deixa ao leitor a escolha entre as duas interpretações por ele sugeridas.
Agostinho era contra a transubstanciação: parafraseando as palavras de Jesus
afirmou: 'Compreendei em sentido espiritual o que vos disse: Não comereis
este corpo que vedes, e não bebereis este sangue que será derramado por
aqueles que me crucificarão. Vos recomendei um sacramento que vos dará a
vida, se o entenderdes espiritualmente, e ainda que seja necessário
celebrá-lo de modo visível, importa todavia entendê-lo espiritualmente'
(Agostinho, Enarrationes in Psalmos 98, 9: citado por Roberto Nisbet
in op. cit., pag. 79). Agostinho era também contra o permitir um novo
matrimónio ao marido ou à mulher enquanto ambos ainda eram vivos porque para
ele o vínculo matrimonial só se quebrava com a morte de um dos dois. Ele
escreveu: '... à mulher não é permitido casar com um outro homem enquanto for
vivo o marido do qual se separou,...' (Agostino, Il sermone del Monte [ O sermão do Monte] , Firenze 1928, cap. XIV; pag. 48), e ainda: '...o homem
está ligado enquanto a mulher está na vida corporal (...) se uma mulher se
separa de um adúltero, não se una a um outro: na verdade continua ligada ao
marido, enquanto ele vive, e não se liberta da lei do marido senão quando ele
morrer; então não se tornará adúltera, se se liga com um outro' (Agostinho, Os
Conúbios adulterinos , 2, 5). Pelo que ele, também no caso de um dos dois
cônjuges se tornar um cristão e o infiel deixasse o fiel por causa da sua fé,
não permitia que o cristão passasse a novas núpcias. '..o recasar depois de
ter deixado o seu cônjuge, não é lícito, nem ao homem nem à mulher, nem
sequer por qualquer forma de fornicação, seja da carne, seja do espírito, e
nesta última importa entender também a falta de fé. Com efeito, o Senhor sem fazer
nenhuma excepção diz: Se a mulher deixa o seu marido e toma um outro, é
adúltera, e: Todo o homem que repudia a sua mulher e toma uma outra, é
adúltero' (Agostinho, Os Conúbios adulterinos, 1, 31). A igreja
católica romana o contradiz abertamente porque, como vimos, o seu chefe
considera podê-lo dissolver e dar a autorização para um novo matrimónio em
diversos casos, entre os quais está também o do privilégio da fé (chamado
erradamente privilégio paulino) [8]. |
||
Gelásio I (foi papa de 492 a 496), que é contado também entre os papas,
afirmou contra os Maniqueus que é errado comungar-se sob uma única espécie:
'Descobrimos que alguns tomam somente o sagrado corpo e se abstêm do sangue
sagrado, é necessário que estes ou recebam ambas as partes ou sejam privados
de ambas, pois a divisão de um só e mesmo sacramento não pode fazer-se sem um
grande sacrilégio' (citado por Teofilo Gay in op. cit., pag. 39).
Portanto a doutrina que priva os leigos do cálice, doutrina que foi
promulgada pelo concílio de Constança em 1415, era considerada por Gelásio um
sacrilégio. Ainda Gelásio não aceitava a transubstanciação, com efeito,
escreveu: 'O sacramento do corpo e do sangue de Cristo é verdadeiramente
coisa divina; mas o pão e o vinho permanecem na sua substância e natureza de
pão e vinho' (Gelásio, Das duas naturezas). |
||
Gregório de Nissa (335 ca. - 394 ca.) denunciou com força, numa das suas
epístolas, a vaidade e loucura das peregrinações aos lugares santos (Gregório
de Nissa, Epist. II, De euntibus Hieros, Opera, III, 1010, ed. Migne). |
||
Jerónimo (347 ca. - 419-20 ca.) não considerava a peregrinação a Jerusalém um
acto meritório: numa sua carta a Paulino afirma com efeito: 'Não é um título
de honra o facto de ter estado em Jerusalém (...) Os crentes são apreciados,
pessoalmente, não com base no diferente lugar em que residem, mas com base no
mérito da sua fé. Os verdadeiros adoradores não adoram o Pai nem em Jerusalém
nem no monte Garizim, porque Deus é Espírito, e é necessário que os seus
adoradores o adorem em espírito e verdade' (Girolamo, Le lettere [ As cartas]
, Roma 1962, vol. 2, Carta a Paulino, pag. 94,95). |
||
Arnóbio (que viveu no século IV) era contra o oferecer incenso: 'Resta dizer
algo, sem alongar demasiado, do incenso e do vinho que são ungidos e fazem
parte das cerimónias e são muito usados para o culto. Antes de mais,
precisamente a respeito do incenso, vos perguntamos onde e em que tempo
pudestes conhecê-lo para considerar com razão que se deve oferecê-lo aos
deuses e que é muito agradável aos seus gostos' (Arnobio, I sette libri
contro i pagani [Os sete livros
contra os pagãos] , Torino 1962,
Livro VII, 26, pag. 227). |
||
Leão I (foi papa de 440 a 461) era contra a imaculada conceição de Maria: 'Só
Cristo entre os homens foi inocente, porque só Ele foi concebido sem a
imundícia e a cobiça carnal' (Citado por Teofilo Gay in op. cit., pag.
130). |
||
Gregório Magno (foi papa desde 590 a 604) não aceitava como canónico o livro
dos Macabeus, com efeito, citando uma passagem dos Macabeus, adverte que ele
cita 'um livro não canónico, mas escrito somente para a edificação dos
fiéis'. Ele era também contra a assunção do título de bispo universal por
parte de um qualquer bispo, com efeito, afirmou: 'Aquele que quer fazer-se
chamar pontífice universal torna-se pelo seu orgulho o precursor do
anticristo; nenhum cristão deve tomar este nome de blasfémia...' (Greg. Ep.
Liv. VI, 80: citado por Puaux em Anatomia del papismo, Firenze 1872,
pag. 65); e escrevendo a João, patriarca de Constantinopola, que se tinha
proclamado bispo universal, lhe disse: '..que dirás tu João a Cristo que é
cabeça da Igreja universal no prestar de contas no dia do juízo final? Tu que
te esforças de te antepor a todos os teus irmãos bispos da Igreja universal e
que com um título soberbo queres pôr debaixo dos teus pés o seu nome em
comparação do teu? Que vais tu fazendo com isso, senão repetir com Satanás:
Subirei ao céu e exaltarei o meu trono acima dos astros do céu de Deus? Vossa
fraternidade quando despreza (os outros bispos) e faz todos os esforços
possíveis para os subjugar, não faz senão repetir quanto já disse o velho
inimigo: Me exaltarei acima das nuvens mais excelsas (...) Possa pois tua
Santidade reconhecer quanto é grande o teu orgulho pretendendo um título que
nenhum outro homem verdadeiramente pio jamais se arrogou' (Gregório,
Epistolarum V, Ep. 18, PL 77, pag. 739-740; citado por Fausto Salvoni in op.
cit., pag. 330). |
||
Teodoreto, bispo de Ciro (393-458), era contra a transubstanciação, com
efeito, afirmou: 'Os símbolos místicos (o pão e o vinho) não abandonam a sua
natureza depois da consagração, mas conservam a substância e a forma em tudo
como antes' (Teodoreto, Dialogus, Liber II; citado por Roberto Nisbet
in op. cit., pag. 79). |
||
Vigílio (foi papa de 537 a 555), era contra a transubstanciação, com efeito,
afirmou: 'Quando a carne de Jesus Cristo estava na terra, ela certamente não
estava no Céu; e agora que ela está no Céu, não está seguramente na terra'
(Vigílio, Cont. Eutich. Liv. IV: citado por Luigi Desanctis em La
tradizione, pag. 55). |
||
Eis
pois as provas que estes chamados pais supracitados eram contrários a algumas
das doutrinas que a igreja católica romana ensina hoje. Alguém perguntará
então: Mas então qual é o critério que usa a igreja católica romana no
aceitar algumas tradições e no rejeitar outras dos seus chamados pais? Como
faz pois para definir tradições apostólicas coisas a que eram contrários até
seus chamados pais? Por que é que nestes casos não considera autorizados
estes seus pais como faz em outros casos? As respostas se podem resumir nesta
frase: quando os chamados pais afirmam coisas agradáveis à igreja romana
então são dignos de confiança mas quando se afastam da sua linha e vão
abertamente contra ela então não devem ser ouvidos mas rejeitados. Nestes
casos é preciso dizer que a igreja romana por vezes procura esconder estas
contradições dos seus pais, e outras vezes dá-lhes explicações estranhas,
aduzindo outras passagens suas em que parece que disseram uma outra coisa. Isto
se pode bem constatar lendo os seus livros de controvérsia. É por isso que
quando se tem que confutar as heresias da igreja católica romana não é de
modo nenhum aconselhável citar contra eles os seus próprios pais porque eles
por sua vez tomam - em alguns casos - outras passagens suas em que fazem ver
que eles não queriam dizer o que disseram. E importa dizer que por vezes
tem-se realmente que reconhecer que estes seus pais eram ambíguos no falar. A
Escritura, só a Escritura se tome para destruir os seus vãos raciocínios;
porque ela não é ambígua, não se contradiz sobre nenhum ponto, e não pode ser
por eles tomada para sustento das suas heresias. |
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Para
concluir esta parte dizemos isto: uma das fontes de que a igreja romana tirou
a sua tradição, vale dizer os seus chamados pais, não pode por ela ser toda
citada para sustento de todas as suas doutrinas porque alguns deles eram
nitidamente contrários a algumas delas. Por isso quando se ouve dizer à
igreja romana que a sua tradição se funda sobre os pais não se pense de modo
nenhum que todos aqueles escritores estavam de acordo com tudo o que ela hoje
diz a respeito de Maria, da eucaristia, do batismo, do purgatório, do primado
de Pedro, do primado do bispo de Roma, da confissão, das orações pelos
mortos, do culto das imagens e de muitas outras coisas, porque com efeito
sobre diversas destas doutrinas alguns deles falaram rectamente confutando-as
e não são de modo nenhum repreensíveis mas antes imitáveis. |
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Casos em que os chamados pais ensinaram doutrinas
falsas não aceites pela igreja católica romana hoje |
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Acenámos várias vezes ao facto de os chamados
pais da igreja terem ensinado também doutrinas falsas. Estes exemplos o
confirmam: |
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Ireneu ensinava que os santos não vão logo para o céu imediatamente após a
morte porque só entrarão nele depois da ressurreição: 'Porque o Senhor 'foi à
sombra da morte', onde estavam as almas dos mortos, depois ressuscitou
corporalmente e depois da ressurreição foi elevado ao céu, é claro que também
as almas dos seus discípulos, pelos quais o Senhor fez estas coisas, irão para
a região invísivel, lhes atribuída por Deus, e ali estarão até à
ressurreição, esperando a ressurreição; depois retomarão os seus corpos e
ressuscitarão integralmente, isto é corporalmente, como ressuscitou o Senhor,
e assim irão à presença de Deus. (...) Como pois o nosso Mestre para lá não
foi logo que se ausentou do corpo, mas foi elevado ao céu depois de ter
esperado o tempo da sua ressurreição estabelecido pelo Pai, o tempo indicado
anteriormente por meio de Jonas, e ser ressuscitado depois de três dias,
assim também nós devemos esperar o tempo da nossa ressurreição estabelecido
por Deus e dantes anunciado pelos Profetas para depois ressuscitar e ser
elevados ao céu, os que o Senhor julgar dignos disso' (Ireneu, Contra as
heresias, Livro V, 31,2). A igreja católica não aceita esta doutrina de
Ireneu, porque para ela para o céu vão logo (isto é sem passar pelo
purgatório) aqueles que estão puros de toda a culpa, que não têm nenhuma pena
temporal a pagar no purgatório; e depois de um certo tempo as almas que foram
purificar-se no purgatório, e por isso ambas as categorias de almas, para
ela, vão para o céu antes da ressurreição corporal.. |
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João Damasceno (VII - VIII sec.) contava os chamados Cânones apostólicos (uma
colecção de 85 cânones, a maior parte deles disciplinares e tomados de
concílios locais Orientais do quarto século) entre os livros inspirados do
Novo Testamento (cfr. John of Damascus, Writings - Orthodox Faith,
Liv. IV, cap. 17, New York 1958, pag. 376). |
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Orígenes afirmou a preexistência das almas, isto é, que a alma do homem não
foi criada juntamente com o corpo mas antes do corpo e depois foi inserida no
corpo pelo exterior. Ele portanto sustentava que os homens na terra eram
premiados ou punidos por Deus com base nos seus méritos ou deméritos da sua
vida anterior. Nos Princípios afirmou a respeito de Jacó e Esaú:
'Então, depois de ter examinado mais a fundo as escrituras a respeito de Jacó
e Esaù, achamos que não depende da injustiça de Deus que antes de ter nascido
e de ter feito algum bem ou mal - isto é nesta vida -, tenha sido dito que o
maior serviria o menor; e achamos que não é injusto que no ventre da mãe Jacó
tenha suplantado seu irmão (...), se crermos que pelos méritos da vida
anterior com razão ele tenha sido amado por Deus por merecer ser preferido ao
irmão..' (Origene, I Principi, Torino 1968, Livro II, 9, 7). Orígenes
ensinava também que todos os pecadores, o diabo e os demónios um dia serão
salvos, com efeito, falando do facto de que um dia todos os inimigos de
Cristo serão postos debaixo dos seus pés disse: 'De que modo os inimigos do
salvador são postos pelo pai como escabelo dos seus pés, convém entendê-lo
dignamente, segundo a bondade de Deus (...) Com efeito, não devemos crer que
Deus ponha os inimigos de Cristo como escabelo dos seus pés do mesmo modo em
que os inimigos são postos debaixo dos pés dos reis terrenos que os
exterminam (...) Pelo contrário, Deus põe os inimigos de Cristo como escabelo
dos seus pés não para a destruição deles mas para a salvação deles (...) Vede
por isso que para todos estes sujeição significa salvação dos submetidos' (Ser.
Mat., 8; in op. cit., pag. 201). Esta doutrina é denominada
apocatástase [9]. E ainda Orígenes
sustentava que as penas para os malvados não são eternas. Para ele no fim também
os pecadores, após um período de purificação, serão salvos. |
||
Gregório de Nissa ensinava a apocatástase como Orígenes; eis quanto ele disse
comentando as palavras de Paulo: "Para que ao nome de Jesus se dobre
todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra"
(Fil. 2:10): 'A meu parecer o Apóstolo divino, tendo presente na sua profunda
sabedoria estas três condições que se notam nas almas, quis aludir ao acordo
no bem que um dia se estabelecerá entre todas as naturezas racionais (...) Com
estas suas palavras ele alude ao facto que, uma vez destruído o mal depois de
um longuíssimo período de tempo, não ficará mais do que o bem. Também estas
naturezas, de facto, reconhecerão concordemente o senhorio de Cristo'
(Gregorio di Nissa, L'anima e la risurrezione [ A alma e a ressurreição]
, Roma 1981, pag. 77), e num outro lugar diz: 'O propósito de Deus é um só:
tornar possível a todos a participação nos bens que se encontram nele logo o
número natural de nós homens alcançará a sua plenitude - falo seja dos homens
que se purificaram do vício já nesta vida, como daqueles que, depois desta
vida, foram curados pelo fogo por um período de tempo conveniente, como
daqueles que nesta vida não conheceram nem o bem nem o mal' (Gregorio di
Nissa, op. cit., pag. 132). |
||
Hilário de Poitiers (nascido entre 310 e 320 e morto em 367) afirmou que
Jesus Cristo na cruz não sentiu dor: 'Sobre esta sua humanidade, embora
caíssem os golpes ou chegassem as feridas ou se envolvessem os nódulos ou o
corpo fosse pendurado, todas estas coisas mostravam a violência da paixão,
todavia não produziam a dor da paixão (..) o corpo de Cristo, por sua
virtude, sofreu a violência dos maus tratos que lhe eram infligidos sem
sentir a dor' (Ilario, La Trinità [
A Trindade] , Torino 1971, Liv.
10,23, pag. 539,540). |
||
Arnóbio ensinava que Deus não era o criador das almas: 'E depois? Só nós
ignoramos, só nós não conhecemos quem criou as almas, quem as formou...?
(Arnobio, op. cit., Livro II, 58; pag. 79)' e dizia que as almas dos
pecadores eram mortais: 'E na verdade são precipitadas em baixo e, reduzidas
a nada, desaparecem pela acção inutilizante de uma destruição irremediável.
São, com efeito, de média qualidade como se sabe pelo ensinamento de Cristo,
de tal forma que podem morrer se não conhecem a Deus (..) a alma, ignorando
Deus, será consumida mediante tormentos de longuíssima duração pelo fogo
tremendo... Não há motivo, portanto, que nos engane, não há motivo que nos
faça conceber esperanças infundadas aquele que se diz por alguns pensadores
recentes e fanáticos pela excessiva estima de si mesmos que, as almas são
imortais...' (ibid., Liv. II, 14-15; pag. 51). |
||
Justino Mártir ensinava que as almas dos crentes na morte não vão logo para o
céu: 'Se vós vos deparais com supostos Cristãos que não façam esta confissão,
mas ousem também vituperar o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de
Jacó, e neguem a ressurreição dos mortos, sustentando antes, que no acto de
morrer, as suas almas são elevadas ao céu, não os considereis Cristãos' (Diálogo
com Trifão, LXXX) [10]. Justino
Mártir ensinava também que as penas para os condenados não serão eternas,
porque depois de um certo período de tempo serão aniquilados. |
||
Taciano (II sec.) ensinou um geral dissolvimento de todo o homem entre a
morte e a ressurreição; |
||
Clemente de Alexandria (II-III sec.) disse que a filosofia conduzia ao
conhecimento de Deus, com efeito, depois de ter citado algumas declarações de
alguns filósofos disse: 'Bastam também estas afirmações escritas por pagãos
por inspiração de Deus e por nós escolhidas, para conduzir ao conhecimento de
Deus quem é capaz mesmo em pequena medida de descobrir a verdade' (Clemente
Alessandrino, Il protrettico [
O protréptico] , Torino 1971, Cap VI,
72,5; pag. 142). Ainda ele afirmou que Jesus não teve nem fome nem sede
porque se ele comeu e bebeu o fez apenas para demonstrar a sua natureza
humana e não por necessidade, eis o que diz de facto no seu livro Stromata:
'O 'gnóstico' é tal que sujeita-se só às paixões que são em função do
mantimento do corpo, como fome, sede e semelhantes. Quanto ao Salvador, pelo
contrário, seria ridículo pensar que o corpo, enquanto corpo, exigisse os
necessários serviços para o mantimento; não é que Ele comesse por causa do
corpo, que era mantido vivo por um santo poder, mas para que em quem o
frequentava não se insinuassem falsos pensamentos acerca dele, como com
efeito alguns depois creram que Ele se tivesse manifestado apenas em
aparência. Na realidade Ele era absolutamente imune a paixões; nenhum movimento
de paixão penetrava a sua pessoa, nem prazer nem dor' (Clemente Alessandrino,
Stromata, Torino 1985, Livro VI, cap. 9; pag. 706). Clemente dizia
também que os apóstolos na sua morte evangelizaram as almas no Hades: '..os
apóstolos, seguindo o Senhor, evangelizaram também aqueles que se encontravam
no Hades; evidentemente era necessário que os melhores discípulos se
tornassem imitadores do Mestre também lá..' (Clemente Alessandrino, op.
cit., Livro VI, 45,5: pag. 688-689). Uma outra estranha doutrina de
Clemente era a de sustentar que o pecado que cometeram os nossos progenitores
no jardim do Éden, foi de natureza sexual. |
||
Tertuliano ensinava o traducianismo materialista, ou seja, a teoria segundo a
qual as almas são transfundidas aos filhos pelos genitores mediante a semente
material. Eis a sua declaração: 'De que modo pois foi concebido o ser vivo?
Tendo-se formado simultaneamente a substância tanto do corpo como da alma ou
formando-se primeiro uma destas duas? Nós afirmamos que ambas estas
substâncias são concebidas, feitas e acabadas no mesmo momento, como no mesmo
momento são também feitas nascer, e dizemos também que não há algum momento
no acto da concepção em que venha estabelecida uma ordem de precedência (...)
A alma inseminada no útero junto com a carne recebe junto com ela também o
sexo..' (Tertulliano, L'anima [
A alma] , Venezia 1988,
27,1; 36,2; pag. 125,157). A igreja católica romana rejeita esta doutrina,
com efeito, afirma: '..um católico não pode sustentar nenhuma espécie de
traducianismo: o materialista porque é herético (ele nega de facto a
espiritualidade da alma)...' (Enciclopédia Católica, vol. 12, 415).
Ainda Tertuliano ensinava que só as almas dos fiéis mortos mártires iam logo
para o céu, as almas dos outros, ao contrário, desciam aos infernos mais
precisamente ao seio de Abraão. Eis o que ele disse: 'Enquanto a terra
estiver intacta, para não dizer fechada, ela não abre a ninguém o céu. O
reino dos céus de facto será aberto com o fim do mundo (...) Quantos
experimentam esta nova morte em nome de Deus, violenta exactamente como a de
Cristo, são recebidos num lugar diferente e particular (...) A única chave do
paraíso é o teu sangue. Há também um livro meu sobre o paraíso, em que
mostrei que todas as outras almas ficam nos infernos até ao dia da segunda
vinda do Senhor' (Tertulliano, op. cit., 55:3,5; pag. 207). Tertuliano
afirmava que para os crentes o homicídio, a idolatria, a fraude, o adultério
e a fornicação e qualquer outra profanação do templo de Deus são pecados
imperdoáveis (cfr. Tertullien, La Pudicité, Paris 1993, XIX 25,26;
pag. 261). Tertuliano afirmava que todos aqueles que não se tinham ainda
casado deviam adiar o batismo: 'Por motivos não menos sérios deveriam adiar o
seu batismo todos aqueles que ainda não se casaram; muitos perigos e muitas
provas estão diante deles, trata-se de gente ainda virgem que está crescendo
nos anos ou de gente viúva que não sabe ainda que peixes apanhar..; estes
deveriam adiar o batismo enquanto não se decidirem ou a casar ou a se
empenharem com coragem na castidade' (Tertulliano, Il battesimo [ O batismo]
, Roma 1979, pag. 163). |
||
Agostinho afirmou que as crianças que não comungavam sob as duas espécies não
podiam ser salvas; 'Ninguém sem o Batismo e o sangue do Senhor pode esperar a
salvação e a vida eterna; em vão, sem estes sacramentos, a vida eterna é
prometida às crianças' (Agostinho, De pec. mer. et remiss. 1,24,34:
citado por Bernardo Bartmann, Teologia Dogmatica, vol. III. pag. 193.
Recordo que esta doutrina foi condenada pelo concílio de Trento). Agostinho
sustentava o traducianismo espiritualista, que se diferenciava do
materialista de Tertuliano visto que segundo ele a alma do filho derivava da
alma do pai. Eis como se exprimiu: 'Como um facho acende um outro sem que a
chama comunicante nada perca da sua luz, assim a alma se transmite do pai
para o filho' (Agostinho, Ep., 190, 15: citado na Enciclopédia
Católica, vol. 12, 415). Também este tipo de traducianismo é rejeitado
pela igreja católica romana: '..um católico não pode sustentar nenhuma
espécie de traducianismo... o espiritualista (seja que faça derivar a alma do
filho de uma semente espiritual, seja que atribua à acção dos genitores uma
actividade criadora) porque é erróneo' (Enciclopédia Católica, vol.
12, 415). Agostinho ensinava que as relações carnais no âmbito matrimonial só
eram legítimas se tinham o fim de procriar doutra forma constituíam pecados.
Ele, com efeito, teve a dizer: 'Quanto ao facto de os cônjuges cederem à
concupiscência usando a sua relação matrimonial além daquilo que é necessário
para a procriação dos filhos, também isso o ponho entre as coisas pelas quais
todos os dias nós oramos: Perdoa as nossas ofensas como nós perdoamos a quem
nos tem ofendido' (Agostino, Discorsi [
Discursos] , Roma 1989, Discorso
354/A), e também: '...pagar a dívida conjugal não é de modo nenhum uma culpa,
exigi-la além da necessidade de procriar é um pecado venial' (Agostino, La
Dignità del matrimonio [ A
Dignidade do matrimónio] , Roma 1982:
pag. 100) [11]. A igreja papista
actualmente contradiz o seu pai Agostinho porque não considera pecado as
relações carnais que não têm como fim a procriação (enquanto Agostinho como
vimos as considerava pecados) e é a favor do controle dos nascimentos (a que Agostinho
se opunha porque era pela procriação a todos os custos). Porém de um controle
dos nascimentos que não se baseia em meios como o aborto, a interrupção do
acto, esterilização e contraceptivos químicos e mecânicos (estes meios são
declarados por ela ilícitos), mas em outros meios como a abstenção do acto
conjugal para sempre (continência absoluta) ou por um tempo determinado
(continência temporária) ou somente periodicamente nas presumíveis épocas de
fecundidade. Estes meios, quando são acompanhados por 'motivos morais
suficientes e seguros, fazem lícita uma regulação da prole' (Pio XII, Discurso
às parteiras de 29 de outubro de 1951, em Civ. Catt. 1951, IV, p.
53; citado na Enciclopédia Católica na palavra 'nascimentos controle'
(vol. VIII, 1663). cfr. Jean-Marie Aubert, Compendio della morale
cattolica, Cinisello Balsamo (MI) 1989, pag. 354-355). |
||
Atenágoras definiu adultério as segundas núpcias: 'A norma da nossa vida não
consiste no exercício das palavras mas em demonstrar e ensinar com as obras:
se permaneça como se nasceu ou não se contraia mais do que um matrimónio. As
segundas núpcias não são mais do que um decoroso adultério (...) E quem se
separa da primeira mulher, mesmo se esta já morreu, é um adúltero dissimulado
e age contra a mão de Deus porque Deus ao princípio formou um só homem e uma
só mulher, transgride de tal modo a comunhão de carne com carne, segundo a
unidade que se realiza na união das pessoas' (Atenagora, Le opere [ As obras]
, Siena 1974, XXXIII, pag. 64) [12]. |
||
Lactâncio negou a divindade de Cristo. No seu livro Instituições divinas fez
as seguintes afirmações: 'Deus, que é o Modelador e o Fundador das coisas,
como dissemos no segundo livro, antes de empreender esta obra do mundo, gerou
o santo e incorruptível espírito que Ele chamou Seu Filho. E embora Ele
depois tenha criado inumeráveis outros seres, que nós chamamos anjos, só este
é o Seu Primogénito Filho, digno do apelativo do Divino Nome, isto é, Ele
possui o poder e a majestade do Pai' (Lactantius, The Divine Institutes,
Washington 1964, Livro 4, cap. 6: pag. 255); 'Em primeiro lugar nós
testificamos que Ele nasceu duas vezes; primeiro, no espírito, mais tarde, na
carne' (Lactantius, op. cit., Livro 4, cap. 8: pag. 258-259); 'Porque
no primeiro nascimento espiritual Ele foi sem uma mãe dado que foi gerado por
Deus o Pai somente, sem a função de uma mãe. No segundo, o segundo a carne,
Ele foi sem um pai, dado que foi formado num ventre virgem sem a função de um
pai...' (ibid., Livro 4, cap. 13: pag. 273). Lactâncio ensinava também
que depois da morte todas as almas 'são retidas numa custódia comum, até
chegar o tempo em que o Grande Juiz fará o exame dos méritos' (ibid.,
Livro 7, cap. 21: pag. 526). |
||
Jerónimo para desencorajar uma viúva de nome Furia de voltar a casar lhe
escreveu: 'Quantos espinhos traz consigo o matrimónio, o constataste às tuas
custas durante a vida matrimonial. Te saciaste deles até à náusea, como os
Hebreus da carne de codorniz. O teu paladar provou a amargura infinita do
fel, vomitaste alimentos ácidos e malsãos, mitigaste o ardor do estômago; por
que queres outra vez ingerir coisas que te prejudicaram? Como um cão que volta aos alimentos vomitados,
ou um porco ao lamaçal onde se revolveu? Até os animais que não têm razão,
incluindo as aves migratórias, não vão recair nas mesmas armadilhas e redes! (...)
O homem que uma mãe leva em casa aos filhos não é um padrinho mas um inimigo;
é tudo menos um pai; é um tirano (....) Confessa abertamente os teus
desejos pouco limpos! Nenhuma mulher, justamente, se casa para depois não
dormir com o marido' (Girolamo, Le lettere [ As cartas] , Roma
1962, vol. 2, pag. 37,50). Eis com que termos depreciativos se
exprimia Jerónimo acerca do matrimónio que uma viúva queria contrair. Ainda
Jerónimo no comentário aos Gálatas disse que Paulo quando reprovou Pedro
dizendo-lhe: "Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como o
judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?" (Gal. 2:14)
usou uma mentira estratégica. Para confirmar isto citamos uma afirmação do
próprio Jerónimo tomada de uma sua carta escrita a Agostinho: 'Em segundo
lugar me perguntas por que nos Comentários sobre a carta aos Gálatas disse
que Paulo não pôde repreender Pedro por um facto praticado também por ele
mesmo, isto é, repreender um outro por dissimulação, de que ele mesmo era
culpado. Tu, pelo contrário, susténs que a repreensão do Apóstolo não foi
fingida, mas autêntica e que por isso eu não deverei ensinar que ali se trata
de mentira, mas que tudo o que está escrito na Bíblia deve ser entendido como
está escrito' (Le Opere di sant'Agostino. Le Lettere, 1969,
75, 3,4, pag. 601). Mas Jerónimo, para defender a conduta de Pedro em
Antioquia, se incita a acusar Paulo de ter dissimulado também ele, em outras
palavras de ter agido em algumas circunstâncias também ele como Pedro, e por
isso ele não devia reprovar Pedro como fez, com efeito, depois de ter citado
as passagens da Escritura onde Lucas conta que Paulo voltando a Jerusalém,
após conselho dos irmãos, tomou quatro irmãos que tinham feito um voto e,
depois de se ter purificado, entrou no templo anunciando querer cumprir os
dias da purificação, até à apresentação da oferta por cada um deles, Jerónimo
afirma: 'Oh, Paulo! Também a propósito deste facto te pergunto: 'Por que é
que rapaste a cabeça? Por que é que fizeste a procissão descalço segundo o
rito judaico? Por que é que ofereceste sacrifícios e por ti foram imoladas
vítimas prescritas pela Lei mosaica?' Certamente responderás: 'Para que não
se escandalizassem os Judeus convertidos'. Te fingiste pois Judeu para salvar
os Judeus. E esta dissimulação te foi ensinada por Tiago e pelos outros
seniores: mas não conseguiste evitá-la (...) Vimos que Pedro e Paulo fingiram
tanto um como outro observar os preceitos da Lei por medo dos Judeus. Com que
cara, então, com que moral pôde Paulo condenar o outro por uma falta cometida
também por ele mesmo?' (op. cit., 75, 3,10-11; pag. 613) [13]. Em outras palavras, para Jerónimo, Pedro
em Antioquia apenas fingiu observar a lei para não fazer afastar os Judeus da
fé em Cristo (e portanto se comportou bem), e Paulo usou uma mentira
estratégica para acalmar os ânimos porque também ele outras vezes fingia que
observava a lei para não escandalizar os Judeus crentes. |
||
Ora, estas estranhas doutrinas aqui
supracitadas nem a igreja católica romana as aceita, mas fica o facto que
elas eram proclamadas por aquelas mesmas pessoas que ela toma para sustentar
a sua tradição. Portanto a tradição dos seus pais, segundo ela, se subdivide
numa parte boa e numa má; numa parte verdadeira e numa outra mentirosa; a
primeira é aceitável a segunda não. Portanto nem ela venera a sua tradição a
par das Escrituras, porque não aceita tudo quanto o que os seus pais
disseram. E isso naturalmente ela é obrigada a fazê-lo porque reconhece as
contradições que daí derivariam se tivesse que aceitar tudo aquilo que eles
disseram. Decidiu por isso aceitar só aqueles seus ensinamentos que agradam a
ela e que lhe servem para confirmar as suas presentes tradições. O facto é
porém que também aqueles ensinamentos dos chamados pais que ela tomou para
sustentar a sua tradição são mentirosos e são de rejeitar, mas ela os
professa e os venera porque são para ela uma fonte de ganho. |
||
Pelo que nos respeita, as heresias dos chamados
pais supracitadas mostram-nos como aqueles homens não se podem citar de modo
nenhum como autoridades, como é feito pela igreja romana, e não são de modo
algum dignos de confiança como, pelo contrário, são os profetas e os apóstolos.
Certo, é verdade que nem tudo aquilo que eles disseram é falso mas permanece
o facto de que ninguém de modo algum se deve apoiar neles para a compreensão
das Escrituras se não quiser ser enganado pelos seus erros tão difundidos nos
seus escritos. Recordai-vos que os Católicos romanos foram enganados não
pelas Escrituras, porque elas não enganam ninguém, mas pelas interpretações
arbitrárias dadas às Escrituras dos seus chamados pais. Por isso vos exorto a ser muito prudentes no
caso de terdes que ler os escritos de Agostinho, de Jerónimo, de Tertuliano,
de Clemente de Alexandria, de Orígenes e dos outros chamados pais da igreja. |
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Casos em que as doutrinas falsas dos chamados pais são
aceites pela igreja católica romana hoje |
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Façamos
agora alguns exemplos de falsas doutrinas ensinadas pelos chamados pais que a
igreja romana aceita. |
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Ireneu. |
||
A superioridade da igreja de Roma. Ele
disse: 'Mas porque seria demasiado longo nesta obra enumerar as sucessões de
todas as Igrejas, tomaremos a Igreja grandíssima e antiquíssima e a todos
conhecida, a Igreja fundada e estabelecida em Roma pelos dois gloriosíssimos
apóstolos Pedro e Paulo. Mostrando a tradição recebida dos Apóstolos e a fé
anunciada aos homens que chegou até nós através das sucessões dos bispos confundamos
todos aqueles que de alguma maneira, ou por enfatuação ou por vanglória ou
por cegueira e por erro de pensamento, se reúnem além do que é justo. De
facto com esta Igreja, em razão da sua origem mais excelente, deve
necessariamente estar de acordo toda a Igreja, isto é, os fiéis que são de
toda a parte - ela na qual por todos os homens sempre foi conservada a
tradição que vem dos Apóstolos' (Ireneu, Contra as heresias, Livro
III, pag. 218). |
||
Tertuliano. |
||
A tradição. Depois de ter dito que aos
seus dias por costume se batizava por tríplice imersão, que depois do batismo
os crentes comiam uma mistura de leite e mel e que a partir daquele dia não
tomavam banho por toda a semana sucessiva, que as oblações pelos defuntos
eram feitas no aniversário da sua morte e que jejuar ou adorar a Deus de
joelhos ao domingo era considerado uma impiedade e que 'todas as vezes que
iniciamos ou terminamos alguma coisa, todas as vezes que entramos ou saímos
de casa, quando nos vestimos, nos calçamos, vamos tomar banho, nos pomos à
mesa, acendemos as luzernas, vamos para a cama, nos sentamos, qualquer que
seja a ocupação para a qual nos preparamos, façamos frequentemente na nossa
testa um pequeno sinal da cruz', ele diz: 'Para estas e outras semelhantes
praxes da disciplina cristã, se tu pretendes normas bíblicas, não encontrarás
nenhuma. Sobre a sua fonte te será antes mostrado a tradição que causou a
origem delas, o costume que motivou a continuidade delas e a fidelidade que
leva a observá-las' (Tertulliano, La Corona [ De Corona] , Roma
1980, 3-4; pag. 153,155.) [14]. Estas
palavras de Tertuliano (que como podeis ver contradizem as suas próprias
palavras citadas antes) são tomadas pela cúria romana para sustento da
tradição não escrita. Para eles naturalmente são uma confirmação que uma
coisa para ser aceite pelos crentes não necessita estar forçosamente escrita
na Bíblia. Para nós elas confirmam antes que já nos tempos de Tertuliano
muitos crentes se tinham posto a fazer certas coisas por tradição sem se
preocuparem com o facto de elas serem práticas não escriturais, e a elas
naturalmente se acrescentaram muitas e muitas outras com os séculos que
acabaram por anular o Evangelho. É necessário fazer notar porém a propósito
destas chamadas tradições apostólicas referidas por Tertuliano nos seus
escritos que a igreja católica romana muitas hoje não as aceita, o que
significa desmentir um dos seus pais e cair na enésima contradição. De facto
ela diz que a tradição apostólica é Palavra de Deus a se respeitar como a
Escritura e ela rejeita algumas partes dela! |
||
Agostinho. |
||
Perpétua virgindade de Maria. Ele disse:
'Virgem concebeu, virgem deu à luz, virgem permaneceu' (Agostinho, Serm.
51, 18; citado em La vergine Maria, de Michele Pellegrino, Alba 1954,
pag. 21) e: 'Quando portanto ouvirdes falar de irmãos do Senhor, pensai em
consanguíneos de Maria , não imagineis uma prole vinda de um posterior parto
dela. Como, de facto, no sepulcro onde foi posto o corpo do Senhor, não
esteve nem antes nem depois algum morto, assim o seio de Maria nem antes nem
depois concebeu algum ser mortal' (Agostinho, Tract. in Io. 28, 3;
citado in op. cit., pag. 71). |
||
A missa como repetição do sacrifício de
Cristo. Ele disse: 'Cristo porventura não se imolou a si mesmo uma só
vez? Contudo no mistério litúrgico se imola pelos fiéis não só em cada
recorrência pascal, mas todos os dias. E não mente de certo quem, interrogado
se Cristo verdadeiramente se imola, responde que sim' (Agostinho, As
Cartas, 98,9: pag. 927). |
||
O jejum eucarístico. 'Disso se pode
compreender que foi ele (Paulo) a estabelecer o jejum eucarístico que não é
modificado por alguma diversidade de costumes' (ibid., 54, 6,8: pag.
447). |
||
A tradição. 'Quanto às prescrições não
escritas mas que nós conservamos transmitidas por via da tradição e são
observadas em todo o mundo, nos é fácil perceber que são mantidas enquanto
estabelecidas e recomendadas pelos próprios Apóstolos ou pelos Concílios
plenários, cuja autoridade é utilíssima para a salvação da Igreja; de tal
género são as festas celebradas na recorrência aniversária da Paixão,
Ressurreição e Ascensão do Senhor, a descida do Espírito Santo, e outras
recorrências similares que se observam pela Igreja Católica por toda a parte
onde ela está difundida' (ibid., 54,1,1: pag. 437) [15]. |
||
Negação que a primeira ressurreição no
apocalipse é a ressurreição dos justos e negação do reino milenário de Cristo
sobre a terra na sua vinda. 'Há duas ressurreições: a primeira, que
acontece agora e é a ressurreição das almas, que não permite cair na segunda,
que não acontece agora mas acontecerá no fim do mundo, e que não diz respeito
às almas, mas aos corpos (...) O evangelista João falou destas duas
ressurreições no livro do Apocalipse de modo que a primeira das duas, não
compreendida por alguns dos nossos, foi trocada por uma ridícula fábula (...)
Aqueles que na base das palavras deste livro hipotizaram que a primeira
ressurreição será a ressurreição do corpo, foram sobretudo influenciados pelo
número de mil anos (...) ele falou de mil anos para indicar precisamente
todos os anos deste mundo, querendo evidenciar com um número perfeito a
própria plenitude do tempo (...) por isso o número mil indica a totalidade,
pois é o quadrado de dez que se converte num sólido' (Agostinho, A cidade
de Deus, Livro XX, cap. 6,2; 7,1,2). Em outras palavras, a primeira
ressurreição de que fala João no Apocalipse é a ressurreição espiritual que
segundo Agostinho se experimenta com o batismo; os mil anos são o período de
tempo que decorre entre a primeira vinda de Cristo e a sua volta, e a segunda
ressurreição é a ressurreição corporal. |
||
Negação do facto que nem todos morrerão. '..consideramos
que também quantos o Senhor encontrar vivos naquele breve espaço de tempo
sofrerão a morte e adquirirão a imortalidade...' (Agostinho, op. cit., Livro
XX, cap. 20,2). |
||
Negação da destruição deste céu e desta
terra. 'Uma vez feito este julgamento, então este céu e esta terra
cessarão de existir e começarão a existir um céu novo e uma terra nova; de
facto este mundo passará por uma transformação das coisas, não por um total
aniquilamento' (ibid., Livro XX, cap. 14); 'Quanto depois às palavras:
O mar já não existia (....) Então de facto não existirá este mundo
agitado e borrascoso, que é a vida dos mortais, indicado com o nome de mar' (ibid.,
Livro XX, cap. 16). |
||
O batismo dos infantes. 'A criança
portanto é feita fiel não por um acto voluntário da fé semelhante aos dos
fiéis adultos, mas pelo sacramento da própria fé. Porque, do mesmo modo que o
padrinho responde que ele crê, assim também se chama fiel não por dar o
consentimento pessoal da sua inteligência, mas por receber o sacramento da
própria fé. Quando depois ele começar a perceber, não necessitará de um novo
batismo, mas compreenderá o sacramento recebido e se conformará, com o
consenso da vontade, à realidade espiritual por ele representada' (Agostinho,
As Cartas, 98, 10: pag. 927, 929). |
||
O batismo cancela os pecados. 'O
sacramento do Batismo, instituído contra o pecado original, a fim de
cancelar, pela regeneração espiritual, a mancha da geração carnal, cancela
também os pecados actuais que encontra em nós e que poderemos cometer com
pensamentos, com palavras e com obras' (Agostino, Enchiridion, Firenze
1951, cap. LXIII, pag. 86). |
||
O poder de perdoar os pecados do batismo de
sangue em ausência do com água. 'Mesmo se não se recebeu o lavacro de
regeneração, a morte devida à profissão de fé em Cristo tem o mesmo poder de
perdoar os pecados que a água do santo batismo' (Agostinho, A cidade de
Deus, Livro XIII, cap. 7). |
||
O purgatório. 'Se o menino recebeu os
sacramentos do Mediador, isto é, se tiver sido transferido do poder das
trevas para o reino de Cristo, mesmo se morrer nessa idade, não só evitará as
penas eternas, mas não sofrerá sequer as penas do purgatório' (Agostinho,
op. cit., Livro XXI, cap. 16) [16];
'Segundo esta opinião, no intervalo de tempo que corre da morte deste corpo
até chegar o dia em que acontecerá a ressurreição dos corpos - dia do extremo
juízo no qual se pronunciará a sentença do prémio ou do castigo - as almas
dos defuntos que, durante a sua vida terrena, não tenham tido costumes e
afectos tais a merecer ser consumidos como madeira, feno e palha, não
sofrerão o fogo que queimará aquelas almas que não viveram de tal modo. Estas
serão afligidas pelo fogo de uma tribulação passageira que queimará as
construções de madeira, feno e palha, não merecedoras de eterna condenação; e
as queimará ou sobre esta terra, ou aqui em baixo e no além, ou só na outra
vida. A esta opinião não me oponho porque possivelmente é uma opinião
verdadeira' (ibid., Livro XXI, cap. 26) [17]. |
||
As orações pelos mortos. 'A própria
oração da Igreja ou de algum homem piedoso a favor de alguns defuntos é
ouvida, mas somente para os que, regenerados em Cristo, não conduziram no seu
corpo uma vida tão má de forma a ser julgados indignos desta misericórdia,
mas nem uma vida tão boa de forma a não ter necessidade dessa misericórdia' (ibid.,,
Livro XXI, cap. 24, 2). |
||
O sufrágio em favor dos mortos. 'Devemos
admitir que as almas dos traspassados podem receber algum alívio pela piedade
dos parentes, quando por elas oferecem o santo Sacrifício do Mediador, ou
distribuem esmolas aos pobres. Mas
estes sufrágios aproveitarão somente aos que, durante a sua vida, mereceram
que estas boas obras possam lhes ser aplicadas. Há homens cuja vida não foi
nem suficientemente boa para não ter necessidade de sufrágios, nem
suficientemente má para não poder receber algum alívio. Há outros tão santos
que não necessitam deles, ou tão maus que não podem tirar nenhum proveito
deles' (...) Para os que podem ser proveitosos, eles tiram esta vantagem
deles: ou recebem plena e inteira remissão das suas culpas, ou certamente
algum alívio no rigor das suas penas' (Agostinho, Enchiridion, cap. CIX.
Se note que destas últimas palavras transparece o purgatório). |
||
Os
santos mártires que estão no céu fazem milagres. 'Aqueles mártires, pois, que agora podem
alcançar tais graças do Senhor por cujo nome foram mortos, morreram pela fé
na ressurreição; por ela sofreram com admirável paciência, e agora podem
manifestar um semelhante poder em obter milagres (...) Cremos pois que eles
dizem a verdade e que fazem muitos milagres, porque os mártires morreram
proclamando a verdade e é por isso que podem fazer os milagres que nós vemos'
(Agostinho de Hipona, A Cidade de Deus, Livro XXII, cap. IX,
X). |
||
O reconhecimento da canonicidade dos livros
apócrifos. No seu livro A Instrução Cristã Agostinho enumerando os livros canónicos do Antigo Pacto
inclui lá também Tobias, Judite, os dois livros dos Macabeus e o Eclesiástico
e a Sabedoria (cfr. Agostino, L'Istruzione cristiana [ A Instrução cristã] , Verona 1994, Livro II, VIII 13; pag. 89, 91) [18]. Portanto quando se ouve dizer que
Agostinho dizia submeter-se aos livros canónicos deve-se ter presente que
entre eles para ele - à diferença de Jerónimo - estavam também os livros
apócrifos. |
||
A autoridade da igreja. 'Não creria no
Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica'
(Agostinho, Contra Epist. Man.). |
||
João Damasceno. |
||
A adoração das imagens. 'Sucede
certamente frequentemente que algumas vezes quando não temos a Paixão do
Senhor na mente nós podemos ver a imagem da sua crucificação e,
recordando-nos assim a sua Paixão redentora, nos prostramos e adoramos. Mas
não é o material que nós adoramos, mas o que é representado (...) Esta é a
tradição escrita, como é o adorar virado para oriente, adorar a cruz, e assim
muitas outras coisas semelhantes' (John of Damascus, op. cit., Liv.
IV, cap. 16; pag. 372); 'Esta madeira deveras preciosa e digna de veneração,
por isso, sobre a qual Cristo se sacrificou por nós, deve justamente
tornar-se objecto da nossa adoração, já que foi como que santificada pelo
contacto com o santíssimo corpo e sangue do Senhor' (João Damasceno,
Exposição da fé ortodoxa, 4, 11: citado em La teologia dei padri [ A teologia dos pais] , Roma 1974, vol. II; pag. 144). |
||
A assunção ao céu de Maria. 'Os anjos
junto com os arcanjos te transportaram (...) As potências celestes se te
fazem ao encontro com sacros cânticos e um festivo ritual, dizendo: Quem é
esta que avança como a aurora, bela como a lua, eleita como o sol? (...) O
rei te fez entrar no seu aposento, onde as potestades velam por ti, os
principados te bendizem, os tronos te fazem festa, os querubins ficam
pasmados pela alegria e o espanto, os serafins cantam louvores por ti, que
fostes realmente a mãe do Senhor (...) O teu corpo, imaculado e isento de
qualquer contaminação, não foi deixado na terra, mas tu, ó rainha, senhora e
patroa, verdadeira mãe de Deus, foste assunta à real morada celeste. O céu
atraiu a si aquela cuja grandeza era superior à dos céus' (João Damasceno, Homilia
sobre o trânsito de Maria: citada em La teologia dei padri, vol.
II, pag. 171-172). |
||
Jerónimo. |
||
Perpétua virgindade de Maria. Na sua
carta contra Elvídio ele sustenta que Maria depois de ter dado à luz Jesus
permaneceu virgem e que aqueles que a Escritura chama irmãos e irmãs de Jesus
não eram filhos dados à luz por Maria. |
||
Celibato sacerdotal. Numa carta a Joviniano
o qual criticava a vida monástica e o celibato sacerdotal, Jerónimo falou do
matrimónio com desprezo. Ele citou, para defender o celibato sacerdotal, uma
passagem de Teofrasto que dizia entre outras coisas: 'O homem sábio nunca
casará...É de insensatos casar para procriar filhos para que o nosso nome
sobreviva no mundo, a nossa velhice tenha amparos...'. É necessário dizer que
nos seus escritos frequentemente se verifica esta sua aversão ao matrimónio;
não que o proíba (no seu escrito Virgindade e matrimónio afirmou que
ele não condena as núpcias), mas certamente fala com desprezo dele mais de
uma vez a fim de induzir os homens e as mulheres a não se casarem e a se
darem à vida monástica à qual se tinha dado ele próprio. Por esta razão
Jerónimo é contado entre aqueles que contribuíram com os seus escritos,
exaltantes ao inverosímil do celibato, para proibir o matrimónio aos
sacerdotes católicos. E de facto a igreja católica romana o toma para
sustentar o seu celibato sacerdotal e a vida monástica. |
||
Veneração das relíquias. Numa sua carta
a Ripário lhe diz a propósito de um certo Vigilâncio que era contra a
veneração das relíquias: 'Me dizes que Vigilâncio (...) reabriu a sua boca
nojenta, que está vomitando uma lixeira de podridão contra as relíquias dos
santos mártires, e que nós - que admitimos o culto delas - nos chama cinerários
e idólatras, porque - diz - veneramos os ossos de homens que morreram. Que
homem desgraçado! Seria necessário dar desafogo a todas as fontes de lágrimas
para chorá-lo! Mas é possível que
não perceba que, dizendo estas coisas, é tal e qual um samaritano ou um
judeu? São pessoas, estas, que consideram imundos os cadáveres humanos, e até
suspeitam de contaminação os objectos que se encontram na sua casa. Mas
sim! Vão atrás da letra que mata, e não do espírito que vivifica! (...) As
relíquias dos mártires as honramos por adorar o Deus pelo qual eles se
fizeram mártires! (...) Se as relíquias dos mártires não importa honrá-las,
como é que lemos: É preciosa aos olhos do Senhor, a morte dos seus santos?'
(Jerónimo, As Cartas, vol. 3, pag. 328, 329, 330). |
||
O bispo de Roma é o sucessor de Pedro.
Numa carta a Dámaso, bispo de Roma, lhe diz: 'Por isso decidi consultar a
Cátedra de Pedro, onde se encontra a fé que a boca de um Apóstolo exaltou;
venho agora pedir um alimento para a minha alma ali, onde um tempo recebeste
o vestido de Cristo (...) A tua grandeza, para dizer a verdade, me põe em
sujeição, mas a tua bondade me atrai (...) Põe de parte o que é invejável,
subtrai-te um momento ao fasto da altíssima dignidade romana; é com o sucessor
do pescador e com um discípulo da cruz que desejo falar. Eu não sigo outro
primado senão o de Cristo; por isso me ponho em comunhão com a tua
Bem-aventurança, isto é, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra
está edificada a Igreja' (Jerónimo, As cartas, vol. 1, pag. 97, 98). |
||
Cipriano. |
||
O batismo regenera. 'A água deve ser
primeiro purificada e santificada pelo sacerdote, para que possa cancelar com
o batismo os pecados de quem é batizado' (Opere di San Cipriano [ Obras de São Cipriano] , Torino 1980, Carta 70; pag. 687). |
||
Crisóstomo. |
||
As orações pelos mortos. 'Choremos os
nossos defuntos, que partiram nos pecados, ajudemo-los com todas as forças.
Como e de que modo? Orando nós próprios por eles e rogando a outros para orar
por eles, e doando incessantemente por eles aos pobres' (Crisóstomo, In
ep. ad Philip 3,4). |
||
|
||
Os chamados pais uns contra os outros |
||
|
||
Ora, da forma como falam os teólogos católicos
romanos da sua tradição os seus pais são dignos de confiança e portanto são
árbitros da fé dos homens. Muitos portanto, na sua ignorância, fazem a ideia
que eles eram todos unânimes. Nós agora demonstraremos, pelo contrário, que
os amados pais da igreja romana não andavam de acordo nem sequer entre eles
sobre diversas coisas (algumas destas divergências que citaremos se deduzem
das suas citações até aqui vistas) e escreveram uns contra os outros. |
||
Policarpo (70 ca. - 155) afirmava que a Páscoa
devia ser celebrada no décimo quarto dia do mês de Nisan não importa que dia
da semana fosse, enquanto Aniceto (II sec.) bispo de Roma afirmava que a
Páscoa devia ser celebrada no domingo mais próximo do catorze do mês de
Nisan. |
||
Cipriano afirmava que o batismo dos heréticos
não era válido, com efeito, disse: 'Decretámos que o batismo estabelecido na
Igreja católica deve permanecer único. Por este motivo nós não rebatizamos,
mas batizamos aqueles que provêm de uma água adúltera e profana, porque estes
devem ser lavados e santificados pela água verdadeira que doa a salvação' (Opere
di San Cipriano, Lettera 73, pag. 697), mas Agostinho não estava de
acordo com Cipriano sobre rebatizar os heréticos: '..rebatizar um herético
que tenha recebido aquele carácter de santidade que foi transmitido pela
doutrina cristã, é sem dúvida uma culpa...' (Opere di Sant'Agostino. Le
lettere 23,2: pag. 121), e afirma que Cipriano estava no erro, com
efeito, disse: 'Mas que Cipriano tivesse tido do batismo uma opinião
contrária à norma e à prática da Igreja, se verifica não já nas Escrituras
canónicas, mas nas obras escritas por ele e numa sua carta dirigida a um
concílio' (ibid., 93, 10;38: pag. 857), e ainda: '...entre o batismo
de Cristo conferido pelo Apóstolo e o batismo de Cristo conferido por um
herético não há diferença de tipo porque, por maior que possa ser a diferença
daqueles que os administram, a essência dos Sacramentos é sempre a mesma' (ibid.,
93, 11;48: pag. 871). E com Cipriano não estava de acordo também Estevão (que
era bispo de Roma) o qual não queria que os heréticos fossem rebatizados, com
efeito, dizia: 'Se portanto heréticos vierem a nós, de qualquer seita, não se
faça alguma inovação, mas somente se siga a tradição, impondo-lhes as mãos
para recebê-los em penitência, visto que os própios heréticos, de uma seita
para outra, não batizam segundo o seu rito particular os que passam para a
sua parte, mas os admitem simplesmente na comunhão'. |
||
Vejamos
as discórdias entre Jerónimo e Agostinho. Jerónimo afirmava que Paulo quando
repreendeu Pedro em Antioquia usou uma mentira estratégica enquanto Agostinho
afirmava que Paulo não fez uso de nenhum tipo de mentira mas reprovou
justamente Pedro pelo seu comportamento, com efeito, numa carta a Jerónimo
lhe diz: 'No teu Comentário à Epístola do apóstolo Paulo aos Gálatas
encontrei um particular que me desconcertou bastante. Se, de facto, na
Sagrada Escritura se admitissem mentiras por assim dizer oficiosas, que
autoridade poderia ela ainda ter? (...) aplica-te com ardor e corrigir aquele
teu trabalho e emenda-o dos erros e depois - como costuma dizer-se - canta a
palinódia (retratação)' (ibid., 40, 3,3; 4,7: pag. 305, 309), e numa
outra ainda: 'Eis por que diz a verdade quando diz se ter apercebido que
Pedro não procedia retamente conforme a verdade do Evangelho e se lhe ter por
isso oposto abertamente, porque obrigava os pagãos a observar os ritos
judaicos' (ibid., 82, 2,22: pag. 701). Ora, nós estamos de acordo com
Agostinho ao dizer que Paulo não usou uma mentira estratégica ao repreender
Pedro, porque Pedro errou e foi por ele repreendido justamente, porque esta é
a verdade. Mas como pode um Católico romano, a quem é dito para interpretar a
Escritura apoiando-se no parecer destes dois eminentes pais, conseguir
interpretar rectamente as palavras de Paulo? Será impossível porque as
interpretações são contrastantes! Não é esta a demonstração que não é coisa
nada segura alguém apoiar-se na guia dos chamados pais para compreender as
Escrituras? Uma outra coisa em que Agostinho e Jerónimo não se
encontravam de acordo era sobre a tradução da Bíblia feita por Jerónimo em
Latim (chamada a Vulgata). A Agostinho não agradava, com efeito, lhe
disse: 'Quantos depois pensam que eu tenha ciúmes dos teus úteis trabalhos,
percebam uma boa vez (se contudo for possível) por que não quero que seja
lida nas igrejas a tua versão do hebraico: não quero que ela seja introduzida
como uma novidade contra a autoridade dos Setenta e se venham de tal modo a
perturbar com um grande escândalo os fiéis Cristãos' (ibid., 82, 5,
35; pag. 717). Deve ser dito depois a tal propósito que o concílio de Trento
se alinhou contra o seu pai Agostinho neste caso porque declarou: 'Além
disso, considerando que poderá resultar em não pequena utilidade para a
Igreja de Deus, dando-se a conhecer qual de entre todas as edições latinas
que correm dos Livros Sagrados, deva ser considerada autêntica, esse mesmo
sacrossanto Concílio estabelece e declara que esta mesma antiga edição da
Vulgata, aprovada na Igreja pelo grande uso de tantos séculos, se deve
considerar como autêntica nas leituras públicas, nas discussões, pregações e
exposições e que ninguém, sob qualquer pretexto, se atreva ou presuma
rejeitá-la' (Concílio de Trento, Sess. IV, Decreto 2). Em quem deve crer pois
o Católico romano, em Agostinho ou no concílio de Trento que têm ideias
opostas sobre a Vulgata? Uma outra divergência entre estes dois 'pais' é
esta. Jerónimo não considerava canónicos o livro de Tobias, o de Judite, dos
Macabeus, da Sabedoria e do Eclesiástico (cfr. Jerónimo, Prólogo a
Graciano) enquanto Agostinho os enumerava entre os livros canónicos do
Antigo Pacto (cfr. Agostinho, A instrução cristã, Livro II, VIII 13;
pag. 89,91). |
||
Tertuliano dizia que Maria não tinha
permanecido virgem depois do parto enquanto Agostinho e Jerónimo diziam o
contrário. |
||
Papias, Ireneu, Tertuliano, Justino Mártir e
Lactâncio criam no reino milenário de Cristo sobre a terra enquanto Agostinho
não, porque, como vimos, ele interpretou o milénio alegoricamente. Também
Orígenes não cria no milénio, de facto o combateu. |
||
Ireneu dizia que as almas dos Cristãos na morte
não sobem logo ao céu porque só irão para o céu na ressurreição dos corpos
(cfr. Ireneu, Contra as heresias, Livro V, 31,1-2), enquanto
Tertuliano afirmava que o céu se abria logo só para as almas dos Cristãos
mortos mártires (cfr. Tertulliano, L'anima [ A alma] , pag. 207). |
||
Orígenes e Gregório de Nissa sustentavam que no
fim serão salvos todos os homens, o diabo e os demónios, enquanto Agostinho
condenava esta doutrina (cfr. Agostinho, A cidade de Deus. Livro XXI,
cap. 17 e cap. 23). |
||
Ireneu e Lactâncio eram contra o culto das
imagens enquanto João Damasceno o sustentava com força. |
||
Epifánio era contra o culto a Maria enquanto
João Damasceno o pregava com força. |
||
Lactâncio negava a divindade de Cristo enquanto
Atanásio, Agostinho e outros chamados pais a defendiam. |
||
Tertuliano, Lactâncio, Teodoreto de Ciro e
Cirilo de Alexandria afirmavam que o adultério era causa de divórcio e
permitiam um outro matrimónio; enquanto Jerónimo, Clemente Alexandrino,
Orígenes e Agostinho eram contra o novo matrimónio em caso de adultério (cfr.
Bernardo Bartmann, Teologia dogmatica, vol. III, pag. 391). |
||
Atenágoras considerava as segundas núpcias (dos
viúvos) um adultério (também Tertuliano, quando se tornou montanista,
condenou as segundas núpcias daqueles que tinham ficado viúvos), enquanto
Clemente Alexandrino, Orígenes e Agostinho as defendiam. |
||
Lactâncio era contrário a recorrer ao uso da
força para defender a doutrina cristã, com efeito, escreveu: 'É necessário
defender a religião não matando mas morrendo por ela, não com a crueldade mas
com a paciência, não com o delito, mas com a fé (...) Porque se tu queres
defender a religião com o sangue, com os tormentos e com a dor, isso não será
defendê-la, mas emporcalhá-la e ultrajá-la' (Lactâncio, Epitome divinarum
institutionum, Livro V, cap. 20, no Corpus script. eccles. latin,
(nuova serie) vol. IV, Milano 1890, pag. 620; citado por Italo Mereu em Storia
dell'intolleranza in Europa, Milano 1979, pag. 67); e assim também
Tertuliano que afirmou: 'Todavia é um direito humano e uma exigência natural
que cada um venere a Divindade de que está convencido; as convicções
religiosas de alguém não trazem a outros nem prejuízos nem vantagens. Além
disso a religião exige de per si a recusa de toda a coacção em matéria
religiosa, a religião deve ser aceite com espontaneidade e não pela violênca,
desde o momento que se pretenda que também as vítimas a oferecer em
sacrifício sejam apresentadas com sinceridade e de bom grado' (Tertulliano, A
Scapula, Roma 1980, II, 2; pag. 169). Mas Agostinho de Hipona era
favorável ao uso da força para obrigar os pagãos a aceitar o Evangelho e os
heréticos a voltar ao seio da Igreja, e para defender a Igreja contra os seus
inimigos: ele teve a afirmar de facto: 'Primeiramente era do parecer que
ninguém devia ser conduzido pela força à unidade de Cristo, mas que se devia
agir só com a palavra, combater com a discussão, convencer com a razão, para
evitar ter entre nós como fingidos católicos aqueles que tinhamos já
conhecido entre nós como críticos declarados. Esta minha opinião porém teve
que ceder perante a daqueles que me contradiziam já não em palavras, mas que
me traziam as provas dos factos. Antes de tudo se me aduzia em contrário o
exemplo da minha cidade natal que, enquanto primeiro pertencia inteiramente
ao partido donatista, tinha-se depois convertido à Igreja católica por medo
das sanções imperiais' (Agostino, Le lettere, [carta a Vicente],
93, 5.17; pag. 829-831; citarei outras palavras suas a tal propósito em
seguida). |
||
Agostinho dizia que se podia jurar, com efeito,
afirmou: 'O Senhor, pois, não mandou não jurar, como coisa completamente
ilícita, mas, para que não apeteça a alguém jurar, como se fosse por si mesmo
bom, e para que ninguém jure facilmente sem necessidade, e caia em perjúrio
pelo hábito de jurar. Não devemos olhar o juramento em si mesmo como um bem,
mas como uma coisa que se pode usar por necessidade e da qual nos devemos
servir somente quando se vê que os homens são relutantes a crer o que lhes é
útil crer, se não for confirmado pelo juramento' (Agostino, Il sermone del
Monte, Firenze 1928, cap. XVII; pag. 63), enquanto Crisóstomo ensinava
abertamente que nunca se deve jurar porque o juramento é algo de malvado:
'Mas como, - vós direis, - que mal há em jurar? Certamente que é mau jurar,
desde que reina a perfeição evangélica; mas antes não o era' (Giovanni
Crisostomo, Commento al Vangelo di Matteo [ Comentário ao Evangelho de Mateus] , Roma 1966, Discurso XVII, 6; pag. 285). |
||
Eis
alguns dos muitos exemplos de contradições entre pais que se podem citar. Nós
perguntamos a este ponto: Como se podem pôr as palavras destes chamados pais
ao mesmo nível das palavras de Cristo e dos apóstolos quando eles não eram
concordes entre si? Como pode ser digna de ser escutada como Palavra de Deus
uma tradição que no seu interior tem semelhantes contradições? A teologia
romana faz passar os pais por guardas da tradição apostólica, mas como se
explica que eles se desencontrem uns com os outros afirmando de ambos os
lados basear-se na tradição? |
||
Portanto,
para concluir este discurso, o facto de a Escritura não se contradizer sobre
nenhum ponto enquanto esta chamada tradição apostólica dos chamados pais se
contradizer no seu interior em muitíssimos pontos demonstra que a Escritura é
a Palavra de Deus plenamente fiável e digna de absoluta confiança, enquanto a
tradição não é mais que um conjunto de doutrinas que, excepto quando são
escriturais, estão em contradição entre si e trazem confusão na mente
daqueles que as seguem. Portanto, enquanto da Palavra de Deus temos que dizer
que a soma dela é verdade, da tradição (o ensinamento dos chamados pais)
temos que dizer que é uma mistura de verdade e de mentira; a verdade é
constituída por todas as afirmações verazes de Tertuliano, de Agostinho, de
Ambrósio, de Jerónimo, de Gregório Magno e de todos os outros, a mentira, ao
contrário, por todas as doutrinas e afirmações que não têm nada a ver com a
verdade sendo só doutrinas de homens que se desviam da verdade. A regra pois
a seguir quando se lêem os escritos destes chamados pais - como também os
escritos de qualquer outro - é esta: examinar cuidadosamente o que eles
disseram pelas Escrituras e descartar sem hesitação o que não tem fundamento
na Escritura. Seguindo-a não nos podemos perder atrás de doutrinas de homens. |
||
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Os concílios:
as suas heresias e as suas contradições |
||
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||
Segundo os teólogos papistas os concílios são
parte da sua tradição, e de facto para eles constituem continuamente pontos
de referência no que diz respeito à doutrina da igreja romana. Eles atribuem
aos decretos dos concílios igual importância que à Palavra de Deus, porque
consideram que os seus concílios se reuniram no Espírito Santo. Para eles são
infalíveis porque o concílio Vaticano II decretou quanto segue: 'A
infalibilidade prometida à igreja reside também no corpo episcopal, quando
este exerce o supremo magistério com o sucessor de Pedro' (Concílio Vaticano
II, Sess. V. cap. III). Agora, demonstraremos com alguns exemplos como os
concílios decretaram coisas contrárias à Palavra de Deus ou decretaram coisas
que antes ou depois foram condenadas por outros concílios ou por chamados
pais ou por papas mesmo. Fazemos isto para que quem lê compreenda como os
concílios não podem ser postos sobre o mesmo plano nem da assembleia de
Jerusalém nem da Escritura como querem antes os Católicos porque ensinaram
também eles (como fizeram os seus pais) heresias (assim não fez a assembleia
de Jerusalém e assim não faz a Escritura) e se contradisseram uns aos outros
da maneira mais descarada (enquanto a Palavra de Deus não se contradiz sobre
nenhum ponto). |
||
Heresias ensinadas pelos concílios. |
||
Os concílios de Tiro (335), Antioquia (340), de
Milão (355) e de Rimini (359) aprovaram a heresia de Ário que negava a
divindade de Cristo. |
||
O concílio de Éfeso (431) declarou Maria 'mãe
de Deus'. |
||
O terceiro concílio de Constantinopola ordenou
que os matrimónios contraídos com os heréticos se deviam dissolver. |
||
O quarto concílio de Latrão (1215) decretou a
transubstanciação e a confissão ao padre de todos os pecados a fazer-se ao
menos uma vez por ano e que os heréticos deviam ser exterminados. |
||
O concílio de Constança (1415) decretou a
supressão do cálice e que era lícito não manter o juramento feito aos
heréticos. |
||
O concílio de Florença (1439-1443) proclamou
oficialmente a existência do purgatório. |
||
O concílio de Trento (1545-1563) acrescentou
aos livros canónicos os livros apócrifos, declarou que a tradição deve ser
reverenciada a par da sagrada Escritura, e definiu a instituição de todos os
sacramentos por parte de Cristo e o seu número septenário. |
||
O concílio Vaticano de 1870 decretou a
infalibilidade do papa. |
||
Contradições entre os próprios
concílios e com os chamados pais e papas. |
||
O
concílio de Elvira (306) impôs o celibato aos padres (ou pelo menos a
completa abstenção de relações conjugais), enquanto o de Constantinopola de
692 (que tem o nome de Quinisextus in Trullo ou simplesmente Trulano)
decretou que os padres podem continuar a viver no matrimónio celebrado antes
da sua ordenação, abstendo-se das relações conjugais apenas no dia do seu
serviço sagrado, enquanto nos outros dias podem conviver como marido e mulher
com a sua esposa. |
||
O
concílio de Nicéia de 325 condenou a heresia de Ário, mas dez anos depois o
concílio de Tiro, que se transferiu para Jerusalém, decretou contra a decisão
de Nicéia e restabeleceu Ário e proclamou doutrina da Igreja a heresia
condenada pelo concílio niceno. O concílio de Antioquia (340) reconfirmou a
decisão de Tiro, enquanto o de Sárdica de 343 condenou de novo a doutrina de
Ário. A seguir o concílio de Milão (355) e o de Rimini (359)
decretaram de novo a favor da heresia de Ário. |
||
O concílio de Éfeso de 431 condenou a doutrina
de Eutiques mas o de 449 a aprovou, e depois o de Calcedónia (451) a condenou
de novo. |
||
O terceiro concílio Constantinopolitano
ordenou, no segundo cânon, que se rebatizassem os que tinham sido batizados
pelos heréticos; enquanto o seu pai Agostinho e o seu papa Estevão tinham
declarado que não se devia rebatizá-los. |
||
O concílio de Constantinopola (754) condenou
expressamente o culto das imagens que figuravam Cristo, Maria e os santos. No
documento final deste concílio estão escritas estas palavras: 'Nós podemos
além disso demonstrar o nosso sentimento por meio das santas Escrituras e dos
pais. De facto lê-se na Escritura: "Deus é Espírito, e importa que os
que o adoram o adorem em espírito e em verdade"; e: "Não farás para
ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo
na terra"; também Deus falou aos Israelitas do meio do fogo e do cume da
montanha e não lhes mostrou nenhuma imagem; numa outra passagem:
"Mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível.. e adoraram e serviram a criatura em vez do Criador" (...)
Nós portanto nos apoiando na santa Escritura e nos Pais, declaramos unanimemente,
em nome da santa Trindade, que nós condenamos, rejeitamos e afastamos com
todas as nossas forças da Igreja cristã qualquer imagem de qualquer maneira
que seja feita com a arte da pintura'. Mas o concílio de Nicéia de 787 negou
a ecumenicidade do concílio de 754 e aprovou uma definição de fé sobre a
legitimidade das imagens e a natureza do culto relativo que se concluia com
quatro condenações dos iconoclastas. No documento final se lêem as seguintes
palavras: ' Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da
preciosa e vivificante Cruz, assim as venerandas e sagradas imagens pintadas
quer em mosaico quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas
nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas
paredes e mesas, nas casas e ruas; sejam elas a imagem do Senhor Deus e
Salvador nosso, Jesus Cristo, ou a da Imaculada Senhora nossa, a Santa Mãe de
Deus, dos anjos dignos de honra, de todos os santos e piedosos homens. Com
efeito, quanto mais continuamente eles sejam vistos nas imagens, tanto mais
os que as vêem são levados à recordação e ao desejo daqueles que elas
representam e a tributar a eles respeito e veneração'. Não acabou aqui,
porque no concílio de Frankfurt de 794 vem condenado de novo o culto das
imagens que tinha sido aprovado no concílio de Nicéia de 787. Por fim este
culto das imagens vem aprovado pelo concílio de Trento (cfr. Concílio de
Trento, Sess. XXV). |
||
O concílio de Constantinopola (754) negou a
presença real e a transubstanciação porque chamou o pão e o vinho da santa
ceia 'a imagem do corpo vivificante de Cristo', enquanto o concílio Latrão IV
e o de Trento declararam a presença real e a transubstanciação. |
||
O concílio de Constança em 1415 declarou o
concílio superior ao papa, com efeito, disse: 'Qualquer um, de qualquer
condição e dignidade, incluída a papal, é obrigado a obedecer-lhe...'
(Concílio de Constança, Sess. IV. Recordamos que este concílio depôs três
papas, a saber, João XXIII, Gregório XII e Bento XIII), enquanto o concílio Lateranense
V (1512-1517) afirmou o contrário dizendo: 'O romano pontífice, enquanto tem
uma autoridade superior a todos os concílios, tem pleno direito e poder de
convocar, transferir, dissolver os concílios' (Concílio Lateranense V, Sess.
XI). Ainda o concílio de Constança decretou a supressão do cálice mas o de
Basiléia decretou a restituição dele aos Boémios (restituição abolida a
seguir por Pio V). |
||
O concílio de Trento em 1546 declarou canónicos
os livros apócrifos incluindo-os no cânon; com esta decisão o concílio de
Trento anulou a decisão que o concílio de Laodicéia, realizado na segunda
metade do século IV, tinha tomado a respeito do livro de Judite, do de
Tobias, da Sabedoria, do Eclesiástico, e dos livros I e II Macabeus, que
tinha sido a de não declará-los canónicos. Em outras palavras o concílio de
Trento declarou nula a decisão de não incluir estes livros no cânon tomada
pelo concílio de Laodicéia. A prova que estes livros apócrifos por aquele
concílio de Laodicéia não foram reconhecidos inspirados por Deus a se
encontra no cânon n° 60 onde é enumerado o catálogo dos livros do Antigo
Pacto que é privado do livro de Judite, do de Tobias, da Sabedoria, do
Eclesiástico e dos Macabeus. |
||
Julgamos que estes exemplos são suficientes
para fazer compreender quais heresias os concílios introduziram na igreja
católica romana e em quais contradições caíram também os concílios no curso
do tempo [19]. Come se pode portanto
reputar também a tradição derivada dos concílios Palavra de Deus quando ela
contradiz em muitos pontos a Sagrada Escritura e se contradiz ela mesma? Dos
exemplos dos concílios supracitados pareceria que Deus tenha renegado a sua
palavra várias vezes, e primeiro dizia uma coisa e depois dizia uma outra
totalmente diferente sobre o mesmo assunto e depois repensava voltando a
dizer a coisa por ele declarada interdita. É evidente pois que as decisões
dos concílios não podem ser aceites como Palavra de Deus porque muitas delas
contrastam abertamente a Palavra de Deus e porque os próprios concílios se
anulam uns aos outros. É muito melhor confiar totalmente na Escritura que é a
Palavra de Deus que não se contradiz sobre nenhum ponto, apesar de ser
formada por livros escritos no arco de mais de mil anos por autores diversos,
e que em todos estes séculos se revelou infalível e imutável. A Escritura é
infalível e autorizada Palavra de Deus capaz de guiar os homens no caminho
santo sem fazê-los tropeçar! A Escritura é a Palavra de Deus que pode salvar
os homens das trevas onde se encontram e levá-los para a luz. Mas por quanto
respeita a muitos decretos dos concílios que se realizaram no curso dos
séculos eles são preceitos humanos que contribuem para manter na escuridão da
superstição e da incredulidade as pessoas que os aceitam e que mantêm as
pessoas num estado de aberta rebelião a Deus. |
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Algumas considerações finais sobre os chamados pais e
sobre os concílios |
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Vimos
algumas das heresias de alguns daqueles que a igreja católica romana chama
pais da igreja e de alguns dos muitos concílios realizados no curso dos
séculos, e algumas das contradições existentes entre eles; mas como também
pudemos ver no meio de muitas heresias e contradições também existem
afirmações justas. E como só citei uma parte das heresias e contradições
assim só citei uma parte das afirmações justas feitas pelos chamados pais e
pelos concílios. Quero dizer portanto isto: ninguém pense ou se ponha a dizer
que nada de justo ou verdadeiro se encontra nos escritos dos escritores
eclesiásticos antigos ou nos concílios antigos porque isso não é de modo
nenhum verdade. Aduzimos mais provas - além das já citadas aqui e ali no
livro - para confirmar que aqueles antigos escritores eclesiásticos não
fizeram só afirmações erradas introduzindo ou confirmando doutrinas ou
práticas pagãs, mas também defenderam alguns pontos doutrinais fundamentais. |
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Pelo
que diz respeito aos chamados pais, estes poucos exemplos. |
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Inácio
pôs de sobreaviso os crentes das doutrinas gnósticas e docetistas; um exemplo
disso o temos na sua epístola a Esmirna onde escreve aos crentes daquela
cidade para se guardarem da heresia dos Docetas. Ireneu se opôs aos
Gnósticos; o seu livro Adversus Haereses (Contra as heresias) contém a
confutação das doutrinas dos Gnósticos (os Gnósticos negavam, entre outras
coisas, que Jesus era o Cristo); mas nele existem algumas
afirmações suas erradas. Atanásio se opôs à doutrina de Ário que negava a
eternidade e divindade de Cristo (dando porém algumas interpretações erradas
a algumas passagens da Escritura). Tertuliano se opôs ao gnóstico
Marcião e aos seus seguidores escrevendo contra eles (também ele porém ao
defender a verdade disse coisas erradas). Agostinho se opôs com os seus
escritos aos Pelagianos que negavam a doutrina do pecado original (mas ao
confutá-los atribuiu ao batismo o poder de cancelar os pecados). |
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Também por quanto respeita aos concílios, é
necessário dizer que determinadas deliberações de alguns deles foram
nitidamente em defesa do Evangelho; também aqui queremos citar alguns
exemplos para confirmá-lo. |
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O concílio de Nicéia de 325 condenou a heresia
de Ário que afirmava que Cristo não era co-eterno com o Pai porque também ele
foi criado do nada. O concílio de Constantinopola de 381 condenou a heresia
de Macedônio que afirmava que o Espírito Santo era uma criatura subordinada
ao Pai e ao Filho: o mesmo concílio condenou a heresia de Apolinário que
sustentava que Cristo tinha sido dotado de um verdadeiro corpo e de uma
verdadeira alma, mas que o seu espírito tinha sido substituído pelo Logos (a
Palavra). O concílio de Éfeso de 431 condenou a doutrina de Nestório (que
dizia que Cristo era com efeito só um homem moralmente perfeito ligado à
divindade); este mesmo concílio condenou as ideias de Pelágio que sustentava
que o homem nasce não contaminado pelo pecado. |
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Nos pareceu justo e necessário fazer este
discurso para evitar que alguém se ponha erradamente a pensar que nenhum dos
antigos escritores por nós mencionados e dos concílios se levantaram em favor
da verdade sobre nenhuma parte do conselho de Deus. É verdade que a igreja
católica romana cita os seus pais e os concílios como se eles tivessem estado
de acordo com tudo o que ela ensina hoje, mas isso não é de modo nenhum
verdade porque como pudemos ver no curso da nossa exposição eles disseram
também coisas justas que se opõem a ela própria; e de facto ela se acha em
grande embaraço ao constatar isto, e está impossibilitada de demonstrar o
contrário. |
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CONCLUSÃO |
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Para concluir nós dizemos que nos queremos ater
à autoridade da sagrada Escritura - autoridade que ela possui já em si mesma
e que não recebe da Igreja - que sabemos ser uma guia infalível e segura. Os
escritos de Tertuliano, Justino Mártir, Agostinho, Ambrósio e outros, pelo
contrário, não se podem citar da mesma maneira que os Escritos sagrados
porque são imperfeitos, estão cheios de erros e de contradições. Aceitamos as
coisas justas que eles disseram porque são conformes à Escritura, e nos
regozijamos em lê-las, mas rejeitamos decisivamente tudo o que de falso eles
disseram porque constitui mau fermento. Que pois ninguém se deixe enganar
pelo facto de eles serem honrados - injustamente - com o título de pais da
igreja e se ponha a aceitar tudo o que eles disseram porque se poria contra a
verdade e ficaria confundido porque eles próprios se contradizem a eles
mesmos e entre eles. Um discurso similar - mesmo se um pouco diferente - se
poderia fazer também sobre os 'reformadores', Lutero e Calvino, para citar só
alguns; também os seus escritos contêm afirmações e doutrinas erradas que nós
crentes não podemos aceitar porque contrastam a verdade. Lutero por exemplo
ensinava o batismo dos meninos contradizendo-se [20],
e ensinava também a presença real no pão e no vinho (consubstanciação) [21] mas negava a transubstanciação dos
elementos, e definiu a epístola de Tiago uma epístola de palha, para citar só
algumas suas erradas afirmações. Por quanto respeita a Calvino, ele ensinava
o batismo dos infantes, sustentava que um crente não pode de nenhuma maneira
perder a graça sendo dele a doutrina 'uma vez salvo, salvo para sempre', que
Deus tinha cessado de operar milagres através dos seus servos, com efeito,
disse que Deus 'não manifesta mais o poder nem os milagres que se faziam por
mão dos apóstolos visto que aquele dom foi limitado no tempo e desapareceu em
parte também por causa da ingratidão dos homens' (João Calvino,
Instituições da Religião Cristã, Livro IV, cap. XIX), e que era lícito à
Igreja fazer recurso às autoridades civis para punir os heréticos ou os
desordenados e de facto foi o Consistório de Genebra, com ele à cabeça, que
sentenciou a morte de Serveto que era antitrinitário, e além disso ele
permitia em caso de adultério que o cônjuge inocente passasse a novas
núpcias. |
||
No entanto apesar disso, nós reconhecemos que
Deus se usou daqueles homens para sacudir a igreja católica romana e para
levar o Evangelho da graça a muitas almas. E nós estamos gratos a Deus pelo que de justo e de verdadeiro aqueles
homens disseram aos seus dias. E da sua obra nós ainda vemos os frutos após
mais de quatro séculos. Fique firme porém que o que de falso e injusto
disseram ou fizeram Lutero ou Calvino nós o rejeitamos a par daquilo que de
falso e de injusto disseram ou fizeram Agostinho, Jerónimo ou Ambrósio e
outros. Longe de nós o fazer acepção de pessoas em relação a eles. |
||
Pessoalmente
cheguei a esta conclusão depois de ter lido alguns escritos destes chamados
pais e as actas de diversos concílios da antiguidade (me refiro em particular
aos chamados pais e aos concílios dos primeiros seis-sete séculos); que o
Senhor também durante aqueles séculos durante os quais surgiram muitos falsos
doutores no seio da sua Igreja que introduziram muitas falsas doutrinas e
práticas supersticiosas continuou a ter em todo o lugar aqueles que o amavam
e o adoravam em espírito e verdade e se opunham às heresias que despontavam
uma atrás da outra. O facto porém é que alguns daqueles que se opuseram a
certas heresias se opuseram fazendo uso também de erradas doutrinas. Em
outras palavras, nem sempre os escritores eclesiásticos antigos se opuseram
às heresias como convinha, isto é, com uma doutrina pura de toda a escória. |
||
Uma
outra coisa que se pode verificar nos discursos daqueles escritores é que há
algumas partes integras, isto é, puras, por cuja leitura se fica edificado
mas há outras que estão contaminadas pela mentira, pela superstição que se
fica maravilhado em ter que constatar como da mesma fonte saíram verdade e
mentira. Um exemplo para todos, Gregório Magno; disse também coisas
verdadeiras, mas nos seus Diálogos existem histórias profanas e de
velhas que ele conta para sustentar o purgatório. Foi ele de facto um
dos pais do purgatório. Não se pode deixar de ficar triste e indignado ao ler
aquelas fábulas. Além disso fez um mau uso da alegoria dando interpretações
fantasiosas a muitas passagens da Escritura. Esta coisa a se pode verificar
ainda hoje no âmbito do catolicismo; há escritores católicos romanos que
conseguem demonstrar com as Escrituras que os Testemunhas de Jeová - tomo
eles como exemplo - dizem o falso quando afirmam que Jesus não é Deus ou que
não existe o inferno ou que o homem não tem uma alma, ou que o Espírito Santo
não é uma pessoa; e o fazem bastante eficazmente, e estamos de acordo com
estes seus discursos, mas ao mesmo tempo os seus livros de controvérsia estão
cheios de discursos em favor da salvação por méritos, do purgatório, do culto
a Maria e por aí fora. Em suma contêm o trigo e a palha; a verdade e a
mentira. Uma parte deles estão a favor da verdade, uma outra parte contra a
verdade. Não se podem portanto rejeitar totalmente, mas nem aceitar
totalmente. As coisas se repetem à distância de muitos séculos. O que se
aprende de tudo isto? Que a igreja católica romana, embora tenha no curso dos
séculos introduzido toda a sorte de mentiras e superstições - que formam a
sua tradição - que anularam a graça, todavia continuou a afirmar a Trindade,
que Cristo é Deus, (excluindo alguns períodos remotos em que tinha aprovado a
heresia ariana) que ele levou os nossos pecados, que ressuscitou ao terceiro
dia, que apareceu e foi elevado ao céu, que a Escritura é inspirada por Deus.
E Deus continuou a vigiar sobre esta parte sã da sua mensagem (ou seja sobre
a sua palavra assim como está escrita na Bíblia) fazendo perceber a muitos
seus membros que o Cristo de que tinham ouvido falar tinha já feito todas as coisas
para a sua salvação e que não ficaram obras meritórias por fazer para obtê-la
mas que só tinham que arrepender-se e crer nele. E portanto que a maneira
para obter a justificação, a salvação e a vida eterna de que falavam os seus
guias era falsa. Isto efectivamente foi o que sucedeu a muitos Católicos
romanos no curso dos séculos; iluminados por Deus sobre o significado de
algumas palavras da Boa Nova que liam ou ouviam dos seus próprios superiores
se arrependeram e creram em Cristo obtendo gratuitamente de Deus a salvação
da sua alma. Nisto vemos a demonstração do poder e da sabedoria de Deus que
no meio de uma igreja idólatra como é a igreja católica romana conseguiu até
a este dia iluminar muitas almas e salvá-las dos seus pecados. Podemos dizer
que a igreja católica romana surgiu por querer de Deus porque Deus tinha
decidido mostrar à humanidade que não importa quanto os homens corruptos e
reprovados quanto à fé procurem obscurecer a luz do Evangelho, não importa
quanto os homens procurem proibir a leitura do Evangelho ou a sua escuta, Ele
continuará a reinar sobre o seu trono, e as sortes do homem estão nas suas
mãos e não nas mãos dos homens, e quando decidiu salvar uma alma o fará como
e quando quer sem que alguém lhe o possa impedir. Lancem os anátemas os
concílios, lancem as suas excomunhões os papas, Deus reina! Diga-se entre as
nações: O nosso Deus governa o universo, dele dependem os caminhos dos papas,
dos cardeais, dos bispos e dos padres e de todos os Católicos romanos. Ele
continuará a arrancar do poder das trevas muitos católicos romanos, aqueles
que ele dantes conheceu e predestinou. Estes crerão na verdade do Evangelho
assim como está escrita; mesmo se por um certo tempo - mais ou menos longo -
permanecerão ligados à superstição e à mentira, vem o dia em que Deus fará
ver a todos quem ele é e que as suas ovelhas não permanecerão para sempre nas
mãos destes homens maus. |
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NOTAS |
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[1] O concílio
de Trento afirmou que as tradições não escritas ' recebidas pelos Apóstolos
da boca do próprio Cristo e dos próprios Apóstolos, sob a inspiração do
Espírito Santo, chegaram até nós como que entregues de mão em mão' (Sess. IV,
primeiro decreto). |
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[2] Por
concílio se entende uma assembleia dos prelados da igreja católica,
convocados para definir questões de fé, moral e disciplina eclesiástica.
Antigamente era chamado também 'sínodo', e segundo o direito canónico pode
ser de três tipos: provincial, se contempla a reunião dos bispos ordinários
de uma única província eclesiástica; plenário, se acolhe bispos de diversas
províncias; ecuménico (o termo deriva de uma palavra grega que significa
'terra habitada') ou universal, quando a assembleia é constituída pelos
'bispos de toda a igreja que, convocados pelo papa e por ele presididos (ou
por um seu legado) deliberam acerca de assuntos que interessam à inteira
comunidade'. A propósito destes últimos deve ser dito que os primeiros sete
concílios 'ecuménicos' ou seja os de Nicéia I (325), Constantinopola I (381),
Éfeso (431), Calcedónia (451), Constantinopola II (553), Constantinopola III
(680-681) e Nicéia II (787), foram convocados pelo imperador e não pelo bispo
de Roma e os bispos de Roma não ocupavam neles nenhuma posição de
preeminência em relação aos outros bispos. Estes concílios são reconhecidos
'ecuménicos' tanto pela igreja católica romana como pela igreja ortodoxa. Os
outros concílios 'ecuménicos' são os de Constantinopola IV (869-870),
Lateranense I (1123), II (1139), III (1179), IV (1215), Lião I (1245) e II
(1274), Viena de França (1311-1312), Constança (1414-1418),
Basiléia-Ferrara-Florença (1431-1443), Lateranense V (1512-1517), Trento
(1545-1563), Vaticano I (1869-1870), Vaticano II (1962-1965). Estes não são
porém reconhecidos como ecuménicos pela igreja ortodoxa mas somente pela
latina. Há porém historiadores e
teólogos papistas que não partilham a ecumenicidade de alguns destes. |
||
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||
[3] Se tenha
presente que a tradição para a igreja católica romana é necessária para a
salvação porque como vimos para ela a Bíblia não contém tudo o que é
necessário para a salvação. Mas se
tenha também bem presente que os escritos dos chamados pais, as actas dos
concílios, as bulas dos papas formam uma série de centenas de grossos livros,
o que significa que alguém para ser salvo deveria ir ler toda esta série de
grossos livros para conhecer a tradição. Mas o facto é que admitindo ainda
assim que alguém vá ler todos esses grossos livros para certificar-se da
tradição no fim se encontrará diante de obstáculos intransponíveis porque
encontrará, como já vimos em parte quando falamos dos papas e como veremos
dentro em pouco, um montão de contradições entre os papas, os chamados pais e
os concílios, provas estas que a tradição não se pode pôr ao mesmo nível da
sagrada Escritura. |
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||
[4] Nos factos
porém a tradição é considerada superior à sagrada Escritura. Eis por exemplo
o que disse o cardeal Barônio: 'Ora a tradição, sendo a base das Escrituras,
se isso se perturba, todo o edifício se precipita. Quem não se apercebe
disso? Permaneça então firme, e válido, que a Igreja de Deus, logo que
fundada, começou a acalentar-se e a propagar-se, não tanto com os escritos,
quanto com as tradições apostólicas; e os próprios fiéis estão obrigados
tanto a estas, quanto o estão àqueles, mas estas, as tradições, superam os
escritos, de modo que os escritos não podem subsistir sem as tradições,
enquanto as tradições têm firmeza, mesmo se não houvessem os escritos'
(Baronio, Ann. Eccl. Ann. Chr. 53, n° 11). Além disso deve ser dito
que na igreja católica romana, segundo uma bula de Pio IV, aqueles que devem
ser promovidos a alguma dignidade eclesiástica têm que fazer uma profissão de
fé em que está contido este artigo: 'Creio firmemente e professo as tradições
apostólicas e eclesiásticas, como também todas as determinações e
constituições da santa madre Igreja...'. |
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|
||
[5] Alguns exemplos de notas desviantes são estas
presentes na Bíblia Ed. Paulinas de 1990 (sexta edição.). Numa nota à
passagem: "Mas não se chegou a ela, até ao nascimento do filho que ele
chamou Jesus" (Mat. 1:25) se lê: 'A expressão de Mt - pretende
demonstrar a concepção virginal de Jesus - não implica, na linguagem
semítica, que a situação 'depois' tenha mudado'. Numa nota (Gal. 1:19)
que explica quem é Tiago, o irmão do Senhor, se lê: 'Tiago, o irmão,
isto é parente, primo do Senhor, deve-se distinguir de Tiago de
Zebedeu...'. Numa nota que explica
as palavras de Jesus "Bem-aventurado és tu, Simão filho de
Jonas...." (Mat. 16:17-19) se lê: 'Com linguagem de forte sabor semítico
- carne-sangue, Cefas-Pedro, portas dos infernos , ligar-desligar - que dela
assegura a mais alta antiguidade, Jesus prometeu a Pedro que ele será a rocha
sobre quem apoiará a sua Igreja, a qual será inexpugnável pelas forças
adversas. Pedro é assim constituído, como vigário de Jesus, fundamento
e cabeça da Igreja, com o poder legislativo e judiciário. O seu operado será
convalidado por Deus. A exegese católica considera que estas promessas valem
também para os sucessores de Pedro, baseando-se na intenção de Jesus de
prover ao futuro do Reino fundado por ele, que devia sobreviver a Pedro e
tornar-se eterno e universal'. Numa nota que tenciona explicar as palavras de
Paulo aos Coríntios "será salvo, todavia como que pelo fogo" (1
Cor. 3:15) se lê: 'A salvação como que pelo fogo denota uma obtenção
difícil. Orígenes reconheceu primeiramente aqui a indicação do purgatório; a
seguir dele não poucos católicos utilizaram esta passagem para confirmação de
tal ensinamento da Igreja'. A propósito do discurso de Pedro na assembleia de
Jerusalém (Actos 15:7-11) se lê em nota: 'Fala Pedro, como cabeça da
Igreja...'. Numa nota sobre a ceia do Senhor (Mat. 26:26-29) se lê: 'A
Eucaristia é sacrifício e sacramento'. Numa nota que comenta as palavras de
Maria ao anjo: "Como acontecerá isso, pois não conheço homem?"
(Lucas 1:34) se lê: 'A pergunta de Maria ao anjo não teria sentido se não
tivesse no coração o propósito de perpétua virgindade..'. Para explicar as
palavras de Lucas: "Deu à luz o seu filho primogénito" (Lucas 2:7)
a nota diz: 'Lc diz Jesus primogénito e não unigénito, para preparar a
cena da apresentação ao templo...'. Para explicar a purificação que Maria fez
após ter dado à luz Jesus (cfr. Lucas 2:22) na nota se lê: 'À purificação
estava obrigada só a mãe, Lv 12,2-8, e não estava obrigada Maria, puríssima:
todavia o evangelista quer sublinhar a fidelidade à observância da lei por
parte dos pais de Jesus e indicar a Cidade santa como ponto de partida da
salvação trazida por ele'. Sobre
as palavras de Jesus aos seus discípulos "a quem perdoardes os pecados,
ser-lhes-ão perdoados..." (João 20:22) se lê em nota: 'O sopro de Jesus
simboliza o dom do Espírito Santo e com ele a participação no poder de Jesus
de perdoar os pecados ou de retê-los, isto é, de perdoá-los ou não'. Para
explicar com as Escrituras que Pedro pastoreou a Igreja de Roma se lê na nota
de 1 Ped. 5:13: 'Babilónia indica certamente Roma...'. Para explicar
como foi na Igreja primitiva que começou o processo que levou à adopção do
celibato sacerdotal se lê na nota de 1 Timóteo 3:2 que comenta o facto de o
bispo dever ser marido de uma só mulher: 'A passagem pode portanto documentar
o início de um processo que levará rapidamente à exigência do celibato
sacerdotal'. |
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||
[6] A Enciclopédia
Católica a tal respeito afirma: 'Tertuliano foi o único que, conduzido
pelo seu exagerado realismo e por teses preconcebidas, cedeu acerca da
virgindade de Maria no parto e depois do parto' (vol. 12, 1271). |
||
|
||
[7] De qualquer
modo deve ser dito que Cipriano nos seus escritos fala da sucessão apostólica
e atribui à sede episcopal de Roma uma certa preeminência na Igreja, daqui o
facto de ele ter contribuído notavelmente para a formulação do primado do
bispo de Roma na Igreja universal. |
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|
||
[8] Na
Introdução a Os Conúbios adulterinos se lê que a afirmação de
Agostinho segundo a qual a separação de que Paulo fala (1 Cor. 7:15) não
permite um novo matrimónio 'embora sendo conforme à tradição anterior, é
contrária à praxe posterior da Igreja ocidental que viu e vê concedida em 1
Cor. 7,15 a faculdade de passar a novas núpcias, o 'privilégio paulino' precisamente'
(em Matrimonio e Verginità [
Matrimónio e Virgindade] , Roma 1978,
pag. 225) e numa nota no interior do livro sobre a afirmação acima citada de
Agostinho (1,31) lê-se: 'Ao contrário a Igreja, aplicando o privilégio
paulino, considera o matrimónio dissolvido para todos os efeitos e consente
uma nova união, desde que com um crente' (in op. cit., pag. 273).
Agostinho portanto, neste caso, para a igreja católica não tem nenhuma
autoridade. |
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[9] Termo grego
que etimologicamente significa 'repor uma coisa no seu lugar primitivo', e
que na Escritura é usado uma só vez, quando Pedro diz: ".. convém que o
céu receba (Jesus) até os tempos da restauração de todas as coisas... (apokatastasis)"
(Actos 3:21). Supérfluo dizer que Pedro quando falou da apocatástase não quis
dizer que um dia também os pecadores, o diabo, os anjos rebeldes e os
demónios, serão salvos. |
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[10] É verdade
que a igreja papista diz que os justos que morrem não vão logo para o céu,
mas a doutrina é diferente da de Justino porque segundo ela as almas dos
justos vão primeiro para o purgatório expiar as suas culpas para depois ir
para o céu antes da ressurreição corporal. |
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[11] À luz das
Escrituras esta doutrina é falsa porque, apesar de marido e mulher não
deverem fazer nada para impedir a concepção porque isso é um acto de rebelião
a Deus, faz-se passar a relação carnal no âmbito do casal que não pode ter ou
não pode mais ter filhos ou durante o período de infertilidade como pecado
quando a Escritura não a define tal porque diz: "O marido pague à mulher
o que lhe é devido, e do mesmo modo a mulher ao marido" (1 Cor. 7:3). |
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[12] Fazemos
notar a tal respeito que aos olhos de Deus as segundas núpcias enquanto um
dos cônjuges está ainda em vida são adultério, mas as segundas núpcias depois
da morte do cônjuge não constituem de modo nenhum adultério como antes
afirmava Atenágoras. |
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[13] Confutamos as asserções de Jerónimo. Antes de
mais Paulo não mentiu porque ainda aos Gálatas disse pouco antes: "Ora,
acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não
minto" (Gal. 1:20). E depois lembramos que entre o comportamente
tido por Paulo com os Judeus em algumas circunstâncias da sua vida e o tido
por Pedro em Antioquia há uma grande diferença. O de Paulo não era condenável
porque ele se fazia Judeu com os Judeus para ganhá-los para Cristo, e com os
crentes que vinham do Judaísmo se fazia Judeu para que eles percebessem que
ele não desprezava a lei de Moisés; enquanto o de Pedro em Antioquia era
condenável porque ele por medo dos Judeus se retirou dos Gentios, com os
quais dantes comia, e começou a impor aos Gentios a observância da lei de
Moisés para que fossem justificados. Na substância enquanto Paulo, quando se
fazia observador da lei com os Judeus, o fazia para não se tornar causa de
tropeço, e não lhes impunha - como nem aos Gentios - a observância da lei
para a sua justificação porque ele pregava que se é justificado só mediante a
fé e não pelas obras da lei; Pedro em Antioquia era condenável porque ele
obrigava os Gentios a observar a lei para serem justificados pela lei. As
coisas são pois completamente diferentes. Portanto Pedro se pôs a dissimular
e com ele outros; mas quando Paulo viu que não procediam direitamente
conforme o evangelho, então repreendeu Pedro. Com justa razão, de cabeça
alta, sem temer ser envergonhado por alguém porque ele embora fosse Judeu não
obrigava os Gentios (e nem os Judeus) a observar a lei para serem
justificados, como pelo contrário fez Pedro em Antioquia. |
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[14] O batismo por tríplice imersão, o comer leite e
mel depois do batismo, o não tomar banho pelos sucessivos sete dias, o fazer
oblações pelos mortos no aniversário da sua morte, e o fazer o sinal da cruz
na testa todas as vezes que se faz qualquer coisa durante o dia, ou o considerar
o jejum ou a adoração em joelhos ao domingo uma impiedade, são tudo coisas
que dado que não se podem confirmar com as sagradas Escrituras devem ser
rejeitadas. Considerai, pelo contrário, se nós as admitíssemos só
porque as diz Tertuliano; seríamos obrigados a ter que as defender, isto é, a
dizer o porquê de ser justo fazer essas coisas mesmo se não estão escritas. E
de que maneira seríamos arrastados a fazê-lo? Com vãos raciocínios, dos quais
brotariam a pouco e pouco doutrinas perversas. Isto é o que acontece, com efeito, todas as
vezes que se procura justificar mediante as Escrituras tradições humanas que
se opõem à verdade. |
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[15] Agostinho aqui cai numa contradição porque num
seu livro afirma que ele se submete só à autoridade dos livros canónicos e que
tudo o que é necessário à fé e à conduta da vida se encontra nas declarações
claras da Escritura, enquanto aqui diz que é necessário professar todas as
coisas não escritas recebidas por tradição e que são observadas pelo mundo. |
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[16] Se tenha
presente porém que agora para a igreja católica romana o bebé para ir para o
paraíso necessita apenas do batismo: e que no caso de morrer sem o ter
recebido não irá para o inferno e nem para o purgatório mas para um lugar
chamado limbo. |
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[17] Certamente
Agostinho contribuiu com os seus escritos para a formação da doutrina do
purgatório ainda que seja necessário dizer que nalgumas ocasiões se mostra
incerto e duvidoso como nesta citação em que diz que possivelmente aquela
opinião é verdadeira. Numa outra ocasião parece mesmo que desminta a doutrina
do purgatório que ensina a igreja papista, com efeito, diz: 'As almas dos
justos, separadas do seu corpo, estão em repouso, enquanto as dos ímpios
pagam as suas penas, até que os corpos dos justos ressuscitem para a vida eterna
e os dos ímpios para a morte eterna, que se chama segunda morte' (A cidade
de Deus, Livro XIII, cap. 8). |
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[18] Isto
explica também por que razão ele sustentava que se podia orar pelos defuntos
e que os santos mártires podiam interceder pelos vivos; porque nos livros
apócrifos, como vimos, existem passagens que sustentam tais práticas. |
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[19] Faço além disso notar que alguns escritores
católicos reconheceram que não se pode confiar nas actas dos concílios. Bellarmino
por exemplo afirma que por terem sido guardadas com negligência, as actas dos
concílios abundam de erros (cfr. Bellarmino, De Concil. lib. 3, cap.
2). E o teólogo Richer na sua História dos concílios é obrigado a
confessar, com sua grande dor, ele diz, que não há livros nos quais se achem
tantas falsidades, tantos escritos supostos quantos se acham nas actas dos
concílios (cfr. Richer, Hist. Concilior. lib. 1, cap. 2). Até das
actas de um concílio como o de Nicéia que é definido ecuménico não se pode
estar seguro. Barônio (An. 325) baseando-se em diversos escritores antigos
diz que muitos cânones deste concílio foram perdidos: e Gregório de Valência
é da mesma opinião (cfr. De fide quaest, I, p. 7, § 37). E depois os
Orientais admitem 80 cânones deste concílio, enquanto os Ocidentais admitem
apenas 20. Juntando todas estas coisas resulta pois um quadro dos
concílios que é absolutamente incerto e inconfiável. |
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[20] Para ele o
batismo não pressupõe a fé, antes a suscita. Ele disse que 'uma criança
torna-se um crente se no batismo Cristo lhe falar pela boca daquele que a
batiza, pois se trata da Sua Palavra, do Seu mandamento, e a Sua Palavra não
pode ficar sem fruto'. Como podeis ver por vós mesmos Lutero neste caso disse
algo que é anulado pela Escritura. Com efeito, em nenhuma parte é dito que o
batismo suscita a fé em quem o recebe. Antes se deve dizer que é a fé surgida
no coração do homem após ter ouvido e entendido a Palavra de Deus que suscita
nele o desejo de se batizar. O que não pode acontecer num bebé. |
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[21] Por esta posição a respeito do pão e do vinho ele se desencontrou com Zwingli (reformador suíço) que, ao contrário, sustentava que quando Jesus disse: "Isto é o meu corpo" quis dizer que aquele pão significava ou representava o seu corpo. |
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